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segunda-feira, 17 de março de 2025
Figueiredo Pimentel (Os anões mágicos)
Custódio era sapateiro-remendão, vivendo exclusivamente do seu ofício.
Todavia, por mais que se esforçasse, por mais que trabalhasse, nunca recebia justa recompensa do seu insano labor. Por isso era pobre, paupérrimo.
Chegou uma ocasião em que se viu quase na miséria. Haviam-lhe encomendado um par de botas de verniz. Com o lucro desse trabalho, que ia ser muito bem pago, desde que ficasse bom e fosse entregue no dia marcado, sem falta, contava comprar mais cabedal, e, assim, aprontar alguns pares de botinas, que tencionava vender vantajosamente.
Contudo, no dia em que ia começar o serviço, adoeceu. Foi uma fatalidade, porque não podia dar as botas no dia designado, e, desse modo, ia perder o verniz, em que empatara o único dinheiro que lhe restava.
À noite deitou-se, devorado por violentíssima febre.
Pela manhã acordou ainda mais doente. Assim mesmo, febril, tiritando de frio, e com terrível enxaqueca, tentou trabalhar. Foi procurar o verniz, e soltou uma exclamação! Na véspera apenas havia cortado o couro, e, no entanto, já estava feito o par de botas de montar, um trabalho esplêndido, digno, de um hábil artista.
Foi grande a sua surpresa, e nem sabia como explicar fato tão extraordinário.
Apanhou os sapatos, examinado-os atentamente, virando-os de um lado e do outro; estavam muito bem-feitos, e não tinham nem um ponto sequer fechado, sendo obra de causar admiração.
Quando veio buscar a encomenda, o freguês pagou mais do que havia tratado, tão satisfeito ficou.
Com o dinheiro dessa venda, o sapateiro foi comprar couro para fazer dez pares de botinas.
Trouxe-o para casa, e à noite cortou-o, deixando-o para fazer a obra pela manhã.
Mas, ao outro dia, quando se dirigiu para a sua mesa de trabalho, encontrou tudo pronto, como na noite anterior.
Dessa vez também, não faltaram fregueses. Com o dinheiro que produziu a venda, ele pôde comprar couro para outros pares.
No terceiro dia as botinas estavam prontas. E assim sucedeu noites e noites seguidas, durante bastante tempo. Todo o couro que Custódio cortava de noite, aparecia pronto, transformado em pares de botinas, muito bem-feitas, de modo que o sapateiro foi melhorando, a ponto de ficar quase rico.
II
Uma noite, na véspera de Natal, quando acabava de cortar couro, indo deitar-se, voltou-se para Adelina, sua mulher, e disse-lhe:
– E se nós passássemos a noite em claro, para ver quem nos ajuda dessa maneira?
Adelina concordou no que lhe propunha o marido. Deixando uma lamparina acesa, ocultaram-se os dois dentro de um guarda-roupas, por trás da roupa, e esperaram.
Quando o relógio bateu meia-noite, dois anõezinhos, completamente nus, sentaram-se na mesa do sapateiro, e apanhando o couro cortado, com as suas mãozinhas começaram a coser, furar e bater com tanta ligeireza e cuidado que não se ouvia barulho algum.
Trabalharam sem cessar, até que a obra ficou pronta, desaparecendo então subitamente.
No dia seguinte, Adelina disse:
– Aqueles anõezinhos nos têm enriquecido: é preciso que nos mostremos reconhecidos. Eles devem sentir muito frio, andando assim nus, sem nada sobre o corpo. Sabes? Vou coser uma camisa para cada um, um paletó, uma calça e um colete, e lhes fazer um par de meias de tricô, e tu fazes para cada um, um par de botinas.
Custódio aprovou a ideia da mulher e, à noite, quando tudo estava pronto, colocaram os objetos sobre a mesa em vez do couro cortado para os sapatos, e ocultaram-se de novo, para ver de que modo os anões recebiam os presentes.
À meia-noite, os anões chegaram, e iam começar o trabalho, quando em lugar do couro encontraram as roupas. A princípio mostraram grande espanto, que depressa se transformou em grande alegria.
Vestiram imediatamente a roupinha, e começaram a cantar e saltar:
– Nós somos uns lindos rapazes!... Adeus, couro, sapatos e botinas!...
Depois começaram a dançar e saltar por cima das cadeiras e bancos, e sempre dançando, ganharam a porta e desapareceram.
Desde aquele momento ninguém tornou a vê-los. Custódio, porém, continuou a ser feliz o resto de seus dias, e tudo quanto empreendia saía conforme os seus desejos.
III
Havia numa casa uma pobre criada muito trabalhadora, chamada Isabel. Todos os dias ela varria a casa, e depois juntava o cisco, que colocava em frente à porta da rua.
Uma manhã, quando começava o trabalho, achou uma carta no chão. Como não sabia ler, pôs o caixão de cisco no chão, e foi levá-la aos patrões.
Era um convite da parte dos anões mágicos que lhe pediam para ser madrinha de um dos seus filhos.
Isabel não sabia que resolver, mas depois de muitas hesitações, como lhe disseram que era muito perigoso recusar, aceitou.
No dia marcado, três anões vieram buscá-la, e levaram-na para uma caverna, na montanha onde moravam.
A mãe do anãozinho que nascera, estava num leito de ébano incrustado de pérolas, com colchas bordadas a prata. O berço do recém-nascido era de marfim, e a bacia de banho, de ouro maciço.
Depois do batismo, a criada quis voltar imediatamente para casa. Os anões, porém, pediram-lhe muito para ficar mais três dias com eles. Ela anuiu ao pedido, e passou esse tempo em festas, porque os anõezinhos lhe faziam o mais agradável acolhimento.
No fim de três dias, como quisesse absolutamente regressar, os anões encheram-lhe os bolsos de ouro, e conduziram-na até à saída do subterrâneo.
Chegando à casa dos patrões, Isabel recomeçou o trabalho de todo dia, e apanhou o caixão do cisco, o qual ainda estava no mesmo lugar em que deixara, o que a admirou sobremaneira. Estava varrendo, quando saíram da casa uns homens desconhecidos para ela, que lhe perguntaram quem era e o que queria.
Foi só então que a criada soube que não estivera com os anõezinhos apenas três dias, como julgara, mas sete anos inteiros, e que durante esse tempo, seus patrões haviam morrido.
IV
Um dia os anões roubaram de uma mulher o filhinho, que estava no berço, e puseram em seu lugar um pequeno monstro, que tinha uma cabeça muito grande e dois grandes olhos fixos, e era insaciável, esfomeado, querendo comer e beber a todo o momento.
A pobre mãe foi pedir conselho a uma vizinha.
Esta aconselhou-a a levar o monstrengo para a cozinha, e colocá-lo em cima do fogão, acender o fogo ao lado dele, e ferver água em duas cascas de ovo. Isso faria rir o monstro, e se ele se risse uma vez, seria obrigado a partir.
A mulher fez o que a vizinha lhe tinha ensinado. Assim que viu as cascas de ovo cheias de água, sobre o fogo, o monstro exclamou:
– Nunca vi, se bem que não seja novo, ferver água em casca de ovo!
E soltou uma gargalhada.
Apareceu imediatamente, um bando de anões, que trouxeram o verdadeiro filho, colocando-o no berço, e levando o monstrengo em sua companhia.
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ALBERTO FIGUEIREDO PIMENTEL nasceu e morreu em Macaé/RJ, 1869 — 1914 foi além de poeta, contista, cronista, autor de literatura infantil e tradutor. Manteve por muitos anos, desde 1907, uma seção chamada Binóculo na Gazeta de Notícias. Publicou novelas, poesia, histórias infantis e contos. Um de seus grandes êxitos foi o romance O Aborto, estudo naturalista, publicado em 1893, e por mais de um século completamente esgotado. Como poeta, participou da primeira geração simbolista chegando a se corresponder com os franceses. Era amigo de Aluísio Azevedo, com quem trocou cartas, enquanto o autor de O Cortiço estava fora do país como diplomata. Poeta, romancista, escritor de literatura infantil, ganhou destaque e se perpetuou nos compêndios da literatura brasileira. A coluna Binóculo, assinada pelo autor na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, de 1907 até 1914, obteve grande sucesso entre leitores e leitoras, ditando moda, o que faz de Figueiredo Pimentel o primeiro cronista social da capital. Era ele quem tratava das novidades da moda, do bom gosto, do chique em voga em Paris e que deveria ser aqui aclimatado. Obras: Fototipias, poesia, 1893; Histórias da avozinha, conto - somente em 1952; Histórias da Carochinha; Livro mau, poesia, 1895; O aborto, 1893; O terror dos maridos, romance e novela, 1897; Suicida, romance e novela, 1895; Um canalha, romance e novela, 1895.
Fontes:
Alberto Figueiredo Pimentel. Histórias da Avozinha. Publicado originalmente em 1896.
Disponível em Domínio Público.
Imagem criada por Feldman com Microsoft Bing
Baú de Trovas “19”
A ciência hoje é um colosso,
com tudo fora de centro:
– faz laranja sem caroço,
gravidez sem filho dentro…
A. A. DE ASSIS
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902
A empregada de hoje em dia
quando vai para o fogão,
cozinha em banho-maria
as "cantadas" do patrão.
ADELIR COELHO MACHADO
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903
Todo rio na corrente
busca um lago, um rio, um mar.
Mas o destino da gente
quem sabe onde vai parar?
ADELMAR TAVARES
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904
Tem cão que mora no morro,
outro morando em mansão;
porque nem todo cachorro
leva uma vida de cão.
ADEMAR MACEDO
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905
Realejo, lembrança forte
que a memória não embaça,
você passa, e a minha sorte
nunca mais deixou a praça!
ALBA CRISTINA CAMPOS NETO
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906
O tolo sempre se engana,
ao julgar o seu saber;
o sábio nunca se ufana
e passa a vida a aprender.
ALBA HELENA CORRÊA
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907
Uma batalha perdida
jamais nos deve abater;
cada experiência vivida
é uma fonte de saber.
ALMERINDA LIPORAGE
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908
Na velha praça, embalado
por lindo sonho vadio,
apalpo o banco ao meu lado
mas meu lado está vazio.
AMÁLIA MAX
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909
“Cara-de-pau!” E o grã-fino
não se abala, não se afoba;
e no rosto, enfim, ladino,
passa um óleo de peroba…
ANTONIO COLAVITE FILHO
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910
Viver fiado em quimera
é coisa que não convém
porque de onde não se espera...
de lá mesmo é que não vem!
ANTÔNIO JURACI SIQUEIRA
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911
Onde a esperança?... Eu explico:
- Ela está no fiapinho
que as aves levam no bico,
quando estão fazendo ninho!...
ARCHIMIMO LAPAGESSE
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912
Olhos tristes ou risonhos
vejo entre a gente do povo
dos restos dos velhos sonhos
fabricando um sonho novo…
BASTOS TIGRE
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913
Bondade não tem medida,
mas tem a grandeza e o porte,
de quem agrada na vida,
os deserdados da sorte!...
CAMPOS SALES
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914
Melhor o mundo seria,
se no horizonte se lesse
a palavra AMOR... E, um dia,
nesse AMOR ... o mundo cresse!
CAROLINA RAMOS
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915
O que me intriga e fascina,
nesse mundo do saber,
é a vida, escola que ensina
a quem não quer aprender!...
CLENIR NEVES RIBEIRO
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916
Aposentados na praça
jogam as cartas, sem pressas,
matando o tempo que passa,
ladrão de tantas promessas...
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
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917
"Voltarei" dizes depressa
num agrado à despedida;
fica comigo, a promessa
e em tuas mãos, minha vida!
DOMITILLA BORGES BELTRAME
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918
Que bela seria a vida
se acima de ódios mortais,
uma ponte fosse erguida
unindo margens rivais!
DOROTHY JANSSON MORETTI
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919
Naqueles tempos de antanho,
de escribas e fariseus,
um Homem do meu tamanho
tinha o tamanho de Deus!
DURVAL MENDONÇA
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920
A esperança é o quem-me-dera,
o Deus-te-ouça, a oração;
une a vida ao que se espera,
como um traço de união.
EDGAR BARCELOS CERQUEIRA
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921
Revela sabedoria
quem, ante a ofensa do irmão,
acende a luz da harmonia
e, humilde, lhe estende a mão!
EDMAR JAPIASSÚ MAIA
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922
Quando penso que o cenário
da fome é o pior na Terra,
a morte mostra o contrário
nos tristes campos de guerra!
EDY SOARES
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923
Na praça dos desalentos,
pobres meninos de rua
que só têm por aposentos
os frios quartos da lua.
F. LUZIA NETTO
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924
Não permito, a quem me agride,
que os meus ideais distorça:
– a força da Paz reside
em jamais usar a força!
GÉRSON CÉSAR SOUZA
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925
Seja cobrado... ou de graça,
num parodoxo profundo,
por melhor que algo se faça,
não se agrada a todo mundo!
HELOÍSA ZANCONATO PINTO
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926
As flores, na primavera,
desabrocham sem pudor,
se eu pudesse, quem me dera
desabrochar sem temor.
HENRIETTE EFFENBERGER
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927
Somente para agradar-te
e não ficares sozinha,
a minha alma se reparte
e é mais tua do que minha!
HÉRON PATRÍCIO
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928
Enquanto faz uma jarra,
canta, o oleiro, uma cantiga
que lhe agrada ser cigarra,
sem deixar de ser formiga!
IZO GOLDMAN
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929
Sobre opiniões e crenças,
a sensatez nos diria
que o respeito às diferenças
tece teias de harmonia.
JERSON LIMA DE BRITO
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930
Avisto já no horizonte,
em pleno declínio, o sol;
mas não me abato, ergo a fronte
e aguardo um novo arrebol.
JESSÉ FERNANDES DO NASCIMENTO
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931
Quantas pedras removidas
e quantas por remover.
Provações em nossas vidas
que só nos fazem crescer!
JOÃO BATISTA XAVIER DE OLIVEIRA
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932
Sei da magia e poder
do amor que edifica impérios,
mas não sei de algum saber
que lhe decifre os mistérios!
JOÃO FREIRE FILHO
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933
Bate o relógio sisudo,
mede a vida com rigor,
e o tempo, que vence tudo,
não vence a força do amor.
JOSÉ LUCAS DE BARROS
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934
Parece imenso, e é restrito
o SABER que o Homem cultua:
quer conquistar o infinito
e, apenas, pousou na Lua,
JOSÉ MARIA MACHADO DE ARAÚJO
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935
Não falar de coisa triste
com muito agrado eu queria...
Porém, depois que partiste,
como falar de alegria?...
JOSÉ TAVARES DE LIMA
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936
Coração desconsolado,
não podeis esmorecer.
Se viver é complicado,
muito mais é não viver!
LUIZ ANTONIO CARDOSO
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937
Quem não se importa onde pisa,
na escalada desta vida,
sobe muito mas desliza
e escorrega na descida.
LUIZ HÉLIO FRIEDRICH
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938
Somando as horas de espera,
à falta dos teus agrados,
meus dias de primavera
são invernos.., prolongados!
MARIA LÚCIA DALOCE
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939
A noite desfez, em contas,
o seu colar de cristal
e fez agrados nas pontas
da grama do meu quintal!...
MARINA BRUNA
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940
Há de rir quem encontrar
a luz da felicidade.
Mas quem não sabe chorar,
nunca vai rir de verdade.
NAIKER DÀLMASO
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941
Por muito amar-te perdi
metade de minha vida;
e agora perco, esperando,
a outra metade, querida...
OLÍMPIO DA CRUZ S. COUTINHO
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942
Minha razão distraída
por teus agrados sem fim
deixa outra vez iludida
que a emoção fale por mim!
RITA MARCIANO MOURÃO
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943
Quando minha alma sentida
nesta vida nada alcança,
inda me resta na vida
- graças a Deus ! - a esperança!
RODOLFO COELHO CAVALCANTI
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944
Ao vento não lances praga,
pensa, repensa e medita,
pois a boca sempre paga
pela frase que foi dita!
VANDA ALVES DA SILVA
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Praça limpa... Todo dia.
Há tanta gente que passa
e quase nem vê Maria
que varre o lixo da praça...
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
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946
Ai, do pobre, sem carinhos,
cuja dor se vê na face,
se no meio dos espinhos,
a esperança não brilhasse...
VIRGILIO GUERREIRO
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947
Se eu perdesse, de repente,
tudo o que a vida me deu,
tendo a Esperança, somente,
- bem pouco perdera eu!...
WALDEMAR SOARES CARNEIRO
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948
Muito saber que deslumbra,
e cujo brilho norteia,
vem do estudo na penumbra,
à luz frouxa da candeia...
WALDIR NEVES
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949
Não me agrada o teu costume,
que revela insegurança:
chamar de amor teu ciúme
e o meu, de desconfiança.
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
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950
Depois do amor, sem censura,
nossos agrados sutis
dizem coisas de ternura,
que a nossa boca não diz!
ZAÉ JÚNIOR
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José Feldman (A Colisão da Balbúrdia)
Era um dia com muitas nuvens na cidade, e dois idosos José e Marlene estavam a caminho do mercado. José dirigia seu velho fusquinha, enquanto Marlene estava atrás do volante de seu karmann guia, um carro pequeno e brilhante. Ambos estavam ansiosos para comprar os ingredientes do almoço.
Enquanto se aproximavam de um cruzamento, José, distraído, tentava se lembrar de uma velha receita.
— Ah, eu preciso de batatas! — gritou ele para si mesmo, sem perceber que o semáforo estava vermelho.
Marlene, que estava prestes a virar à direita, viu José avançar. Ela tentou buzinar, mas o som do seu carro era mais como um "bipe" tímido.
— Olha o sinal! — gritou Marlene, mas era tarde demais.
BAM!
Os carros colidiram com um estrondo, e os dois motoristas ficaram paralisados por um momento, olhando um para o outro.
— José! O que foi que você fez? — exclamou Marlene, saindo do carro.
— Eu? Você que não olhou para os lados! — respondeu José, já saindo do fusquinha.
— Eu olhei, seu apressado! Você é que avançou o sinal! — Marlene bateu o pé, enquanto ajeitava o cabelo.
Os dois idosos começaram a discutir, levantando os braços e gesticulando como se estivessem no meio de uma apresentação teatral.
— Você deveria usar menos os ouvidos e mais o cérebro! — gritou José, apontando para Marlene.
— E você deveria usar mais os olhos e menos a boca! — retrucou ela, cruzando os braços.
As pessoas que passavam, começaram a parar para assistir à cena, algumas rindo, outras torcendo para que a discussão não terminasse em algo mais sério.
— Olha, gente! Um show de comédia grátis! — gritou um jovem, fazendo todos rirem.
— Calma, pessoal! Isso não é uma competição de quem grita mais alto! — comentou uma mulher idosa que passava.
Nesse momento, o guarda de trânsito Antunes, apareceu, com um ar de autoridade.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou, olhando para os dois motoristas.
— Esse senhor avançou o sinal! — disse Marlene, apontando para José.
— Eu não avancei nada! A senhora é que estava distraída! — José respondeu, indignado.
O guarda olhou de um para o outro, tentando entender a situação.
— Então, vamos lá, quem estava certo aqui? — indagou o guarda Antunes, tentando apaziguar a situação com um sorriso.
— Eu estava certa! — gritou Marlene.
— E eu também! — José respondeu, cruzando os braços.
A confusão só aumentava. Os transeuntes começaram a opinar.
— Eu vi tudo! A Dona Marlene estava certa! — disse um homem que estava vendendo frutas.
— Não, não! O José é um bom motorista! — defendeu uma mulher.
— Eu estava lá! A Dona Marlene estava tão distraída com a maquiagem que nem viu o sinal! — gritou um adolescente.
— A maquiagem é essencial para a segurança no trânsito! — Marlene protestou, dando uma piscadela para o guarda.
— Isso é verdade! Um bom batom pode salvar vidas! — disse uma idosa que estava assistindo a cena.
— Espera aí! — disse o guarda, levantando as mãos. — Vamos esclarecer isso. Quem se machucou?
— Ninguém! — disseram os dois em uníssono.
— Então, por que tanta confusão? — perguntou o guarda.
— Porque ele não sabe dirigir! — apontou Marlene novamente.
— E porque ela não sabe parar de falar! — José retrucou.
A situação estava tão engraçada que as pessoas começaram a aplaudir, como se estivessem assistindo a uma peça de teatro.
— Olha, gente! A disputa dos campeões de trânsito! — gritou o vendedor de frutas, fazendo todo mundo rir mais.
O guarda, percebendo que a situação havia tomado um rumo cômico, decidiu intervir para encerrar a confusão.
— Vamos lá, pessoal. Que tal um acordo? — sugeriu. — Vocês dois vão para o mercado, compram suas comidas e depois se encontram para um café. Assim, resolvem tudo de forma civilizada.
Marlene e José se olharam, ainda um pouco irritados, mas a ideia começou a fazer sentido.
— O que você acha, José? — perguntou Marlene, suavizando o tom.
— Eu acho que um café não seria tão ruim assim... desde que você não fique falando do meu jeito de dirigir! — disse José, já se rendendo.
— E eu prometo não olhar para o lado enquanto você toma café! — riu Marlene.
Assim, os dois motoristas se dirigiram para seus carros, deixando o guarda e os espectadores aliviados e felizes com a resolução da confusão.
— Até a próxima trombada, amigos! — gritou um jovem, enquanto todos riam novamente.
E assim, José e Dona partiram, prometendo que a próxima vez que se encontrassem, seria em um lugar onde não houvesse semáforos, apenas café e boas risadas.
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JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Formado em técnico de patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas, fez curso superior de psicologia mas não concluiu. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais; trovador da UBT São Paulo e membro da Casa do Poeta “Lampião de Gás”. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, e outros. Casado com a escritora, poetisa, tradutora e atualmente professora pós-doutorada da UEM, mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, radicou-se definitivamente em Maringá/PR em 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras e de trovas, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Academia de Letras de Teófilo Otoni, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia Virtual Brasileira de Trovadores, etc, possui o blog Singrando Horizontes desde 2007, O Voo da Gralha Azul dedicado exclusivamente às trovas e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria. Assina seus escritos por Campo Mourão/PR. Publicou mais de 500 e-books. Dezenas de premiações em trovas e poesias no Brasil e exterior.
Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
domingo, 16 de março de 2025
Coelho Netto ( O “Rato”)
Vivia de esmolas num estreito e úmido quarto de estalagem, onde mal cabiam os móveis: a cama onde jazia prostrada a moléstia, uma pequena mesa, duas velhas cadeiras e uma arca. Acompanhava-a o filho, um rapazola de nove anos, sadio e robusto, de uma tal vivacidade que todos na estalagem não o conheciam senão pela alcunha: o Rato.
Era um dos primeiros que acordavam e, ainda escuro, fazia toda a limpeza do aposento, mudava a água nas bilhas, deixava ao alcance da mão da paralítica a cafeteira e o pão, e saía cantarolando. Saía, porque a mãe, julgando-o ainda tenro e fraco para o trabalho e não dispondo de recursos para manter-se, pedira um atestado ao médico que, por misericórdia a tratava e, entregando-o ao pequeno, dissera: — Vai e fica à porta das igrejas: e aos que passarem mostra esse papel e pede uma esmola para tua mãe.
O pequeno saiu, e, à noite, tornando à casa com algumas moedas, entregou-as à mãe; mas, no mesmo momento, rompeu em pranto, atirando-se, soluçante, sobre a velha arca.
A paralítica, atribuindo a angústia da criança à quantia escassa que trouxera, procurou palavras de consolo: — Não chores, meu filho. Hás de ser mais feliz amanhã; o que trouxeste basta para passarmos o dia. Deus velará por nós. Não chores.
O pequeno, porém, longe de consolar-se, afligiu-se ainda mais e, à noite, a paralítica que velava ouviu ainda durante algum tempo os soluços do filho. De manhã, porém, cedo, como de costume, levantou-se, e, depois do serviço, foi beijar a mão à velha enferma, e partiu.
Era tarde, quase dez horas da noite, quando o Rato apareceu na estalagem cantarolando. A mãe, que passara o dia cheia de cuidados, mal o viu entrar falou com certa severidade:
— Ah! Meu filho, a que horas vens? Muito deves ter esmolado para que só às dez horas da noite voltes a casa!
O Rato, porém, risonho, beijou a mão da enferma, e logo, metendo as mãos nos bolsos, pôs-se a tirar moedas e notas atirando tudo para cima da cama. A paralítica, sorrindo, disse:
— Então, bem te disse eu que hoje havias de ser mais feliz, meu filho...
— Sim, minha mãe, fui muito mais feliz, principalmente porque ninguém me injuriou.
— Como? Pois houve alguém que te injuriasse, filho?
— Sim, minha mãe, ontem. Como a senhora me havia ordenado, fui ficar à porta da igreja. Quando cheguei, já havia lá muitos pobres, uns cegos, outros aleijados; meti-me entre eles e logo começaram as injúrias, porque eu era uma criança sadia e forte que ia para ali vadiar, quando podia estar empregando o meu tempo em alguma coisa útil. Uns mandavam-me para a escola, outros para a oficina e, se aparecia alguém, vendo-me avançar com o papel na mão para pedir, empurravam-me, davam-me beliscões, e um atirou-me uma bordoada às pernas com a muleta.
“Tudo isso, porém, fazia-me rir; o que me fez chorar foi o que me disse um velho que levava um pequeno pela mão, um pequeno do meu tamanho.”
“Quando eu lhe pedi esmola, ele olhou-me carrancudo, meteu os dedos no bolso do paletó, tirou um níquel e ficou algum tempo a olhar-me; depois vagarosamente guardou a moeda e, puxando o menino, disse baixinho: — Verás, vai daqui direto para a taverna... — O pequeno, mamãe, olhou-me de tal modo, que eu senti o sangue subir-me ao rosto e as lágrimas saltarem-me dos olhos. Vendo-me chorar, o pequeno teve pena de mim e falou ao pai. Pararam, e eu enxugava os olhos, quando ouvi a voz do menino: — Toma! — Olhei, e vi que ele me estendia a moeda. Estive para recusar, mas olhava-me com tanta meiguice que não tive ânimo. Recebi-a, agradeci e guardei. Logo, porém, que os vi entrar na igreja, tirei-a do bolso, dei-a a um velho cego que estava sentado perto de mim, e desci. Desci os degraus, disposto a voltar para casa, mamãe, mas lembrei-me de ti, lembrei-me que nada havia em casa e pensei em pedir trabalho em algum lugar...”
“Foi então que encontrei o Vicente com um maço de jornais, apregoando. Pedi-lhe alguns e, fazendo como ele, fui vendendo, e com tanta facilidade, que não me ficou um só. Ele, então, ficou de arranjar-me maior quantidade para hoje e não mentiu.”
“Passei o dia todo vendendo jornais, primeiro os da manhã, depois os da tarde; e à noite o Vicente convidou-me para acompanhá-lo até a porta do Liceu, onde aprende, e onde quero que mamãe me faça entrar, para que eu não ande a pedir aos outros que me ensinem a apregoar as notícias dos jornais. Hoje ganhei mais do que ontem: e estou contente, mamãe, porque ninguém me tomou por vadio.” “Quando eu for mais forte, irei para uma fábrica, e tu não terás necessidades, nem ninguém me falará mais com o desprezo com que me falou o velho que me julgou tão mal...”
A paralítica, com os olhos rasos d’água, tomou a cabecinha loura do filho junto ao colo, e, beijando-a, disse comovidamente:
— Fizeste bem, meu filho; fizeste bem: a humilhação é a pior das afrontas. Fizeste bem, meu filho, e eu te abençoo.
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Biografia do autor = https://www.ebiografia.com/coelho_neto/
Fontes:
Olavo Bilac e Coelho Netto. Contos pátrios para crianças. Publicado originalmente em 1931. Disponível em Domínio Público.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
Vereda da Poesia = 227
EDY SOARES
Vila Velha/ES
FILHOS DA GUERRA
É noite e aquelas pobres mãos, vazias,
que esmolaram em busca de migalhas
seguram contra o peito, em meio às tralhas,
faminta e escaveirada, uma das crias...
Enquanto o mundo, envolto em tantas falhas,
serve banquete e brinda às regalias
há tantas mães chorando as noites frias
e as procissões cruentas das cangalhas.
Quem há de retirar a cruz dos ombros
daqueles que palmilham sobre escombros,
dos miseráveis de um país em guerra?...
Quem há de controlar mentes insanas
e ideologias torpes soberanas
que há tanto tempo fazem mal a Terra?...
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Trova de
JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN
Vou brincar com pirilampos
e beijar as flores nuas
pra ver se encontro nos campos
a paz que fugiu das ruas!
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Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/ Portugal
Escrevo-me
nesta vontade de existir para além de mim
de acrescentar rascunhos ao discorrer dos dias
um começo sem um fim em si
devorando instantes na turbulência do caos
Sentado no sofá da minha inquietação
saboreio tragos do vinho iluminado
aguçando o paladar dos sentidos
ébrios momentos de vacilante deambular
Pairo numa nuvem letárgica
o tic-tac dos segundos comprime-me a pele
belisca-me o sentido das coisas
neste pensar desligado de tudo
Escrevo-me
para justificar a minha existência
burilando constantemente o frio gume
do poema da minha irrealidade.
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Trova de
COLBERT RANGEL COELHO
Pitangui/MG, 1925 - 1975, Rio de Janeiro/RJ
Enquanto a gente recorda
os males que a guerra traz,
fraldas branquinhas na corda
lembram bandeiras de paz.
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
DORMIRÁ NAS BERMAS DAS ESTRADAS
(Manuel Lima Monteiro Andrade in "Mãos abertas" p. 42)
Dormirá pelas bermas das estradas
O sonho a que ninguém abrir o peito
Definhando ao pó sujo e tão desfeito
Onde passam pessoas apressadas.
Bastavam três palavras conversadas
Num olhar de amizade e de respeito
Pão e sopa na mesa e morno leito
Para o salvar de tão frias facadas.
Um sonho é uma riqueza sem dinheiro
Um impulso tão forte e tão inteiro
Que a vida se converte em "quero e posso!"
Num mundo tão ingrato e tão padrasto
Por vezes, quando tudo já foi gasto
O sonho é o sumo bem que ainda é nosso.
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Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP
Que bela seria a vida
se, acima de ódios mortais,
uma ponte fosse erguida
unindo margens rivais!
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Poema de
ANDRÉ GRANJA CARNEIRO
Atibaia/SP, 1922 – 2014 , Curitiba/PR
ARQUEOLOGIA
0 agora é estrela cadente
na subterrânea memória.
Com pincéis delicados
limpo restos à procura da história.
Homem de Piltdown, quero avós primatas.
Arqueólogo amador,
em elos antigos
acrescento asas.
No retrato falta
a ruga deste instante,
o verso vive atrás
sua melhor face.
0 imediato relâmpago submerge em cinzas cinzentas.
A mão com a caneta reinventa no branco do caderno.
Faíscas atrás da testa são
fósseis do amanhã,
neurônios incendeiam
as melhores sinapses
e o poema desaparece
nas placas tectônicas
das bibliotecas.
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Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN
Revendo entulhos e tacos,
na tapera dos meus sonhos,
chorei por ver tantos cacos
dos meus dias mais risonhos!
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Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP
O ANDARILHO
“Não me fale de amor”, alguém me disse,
“o amor morreu, já não existe mais”.
E eu retruquei que aquilo era tolice,
– será pecado alguém amar demais?
Ficou parado ali, talvez me ouvisse
que o amor perdoa e espera, sem jamais
querer em troca o favo da meiguice
que perpetua a vida entre os casais.
O tempo foi passando e pela rua
eu vi aquele vulto olhando a lua
perambulando como um peregrino.
E percebi, então, que aquele rosto
marcado pela dor, pelo desgosto,
nunca teve um Amor em seu destino!
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Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ
Liberdade, em ti se encerra
o ideal do poeta aflito
que tem os pés sobre a Terra
e o coração no Infinito!
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Soneto de
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS
ENTARDECER
A paz do entardecer... Fascinação...
Com mil beijos de cor sobre o universo!
Eu sinto, bem no fundo, o coração
querer cantar essa beleza em verso.
Fazendo, dessa paz, sublimação,
inunda-se no belo, submerso,
vivendo, assim, total transmutação,
esquecendo que o mundo é tão perverso.
Vai sonhando mil sonhos coloridos,
cantando mil canções, só de alegria,
e esquece a solidão dos tempos idos.
Realizando assim sua utopia,
de posse, então, de sétimos sentidos,
contempla o pôr-do-sol em poesia!
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Trova de
LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1977, Santos/SP
Haveria paz na terra,
não seria a vida inquieta,
se a criança, em vez de guerra,
brincasse de ser poeta!
= = = = = = = = =
Soneto de
MIGUEL RUSSOWSKY
Santa Maria/RS (1923 – 2009) Joaçaba/SC
ARREPENDIMENTO
Um por um, os meus sonhos, nesta vida,
Despi no andar do tempo modorrento
Qual árvore esfolhada pelo vento
Numa tarde outonal, entristecida.
Quebrei-me um pouco, assim, a cada ida
À procura não sei de qual intento.
Deixei amor, amigos e, ao relento,
Destroços de minha alma enrijecida.
E hoje, velho, ao voltar da caminhada,
Tropeço em meus pedaços pela estrada
Com saudosa visão aqui e ali.
Não mais me iludo, e essa descrença atesta
Que passarei o tempo que me resta
Recolhendo os pedaços que perdi.
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Trova de
ORLANDO BRITO
Niterói/RJ, 1927 – 2010, São Luís/MA
Pratique o bem, ore e peça
por seus irmãos em vigília,
que a paz do mundo começa
em nós, no lar, na família.
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Soneto de
ALMA WELT
Novo Hamburgo/RS (1972 – 2007)
O INTERDITO
Este senso de beleza que ganhamos
De Deus, em nossa própria natureza,
É o melhor de nós, que desfrutamos
Do paraíso, não perdido, com certeza,
Se jaz em nossa alma assimilado
E posso recompô-lo a cada passo
Quando estou a vagar pelo meu prado,
Diária romaria que ainda faço...
E vejo que está completa a vida,
Não perdemos nada, isso me intriga,
A expulsão nos foi só advertida
Como falsa reprimenda, só um pito
Diante do mistério do interdito
Contra o qual Deus mesmo nos instiga...
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Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO
Não opino, nem me meto,
em brigas de namorados;
vocês hoje estão brigando
e amanhã estão abraçados.
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Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR
Fui ali
Emprestar um pouco
De pó das estrelas
Pra que
Com meu abraço,
Teus olhos
Voltem
A
Brilhar.
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