quarta-feira, 1 de março de 2017

Antonio Brás Constante (O Céu e o Inferno por Telefone – Parte Dois)

Alguns assuntos não se esgotam em um único texto, principalmente se o tema for telemarketing, pois suas ligações também não se encerram após o nosso primeiro “não”, com seus atendentes invadindo nossa privacidade através de nossos ouvidos.

Para alguns, essas ligações podem vir a caracterizar certo “status social”. Por exemplo: Fulano com jeito esnobe em meio a sua seleta roda de amigos, vestindo um smoking impecável e degustando um pequeno pedaço de bombom “Ferrero Roche”, olha para todos em sua volta e lhes diz com um leve sorriso irônico que recebe cerca de cinco ligações por dia das tais operadoras. Deixando seus conhecidos cheios de inveja, por receberem no máximo duas.

Outra teoria que ganha força, graças à insistência desse pessoal que nos atormenta com seus telefonemas, é que talvez as ligações do telemarketing não tenham tão somente o intuito de querer vender algo, mas que se trataria na verdade de uma rede de apostas internacional. Onde quanto mais difícil fosse o “cliente”, menores seriam as chances entre os apostadores.

Os supostos “atendentes” seriam homens e mulheres treinados na arte da persuasão. Artistas do telefone. Tratados como verdadeiros “astros” pelos apostadores. Recebendo cachês milionários por suas atuações. Alguns seriam políticos desempregados, que descobririam no telemarketing um novo jeito de enganar as pessoas, disfarçados como persistentes e irritantes vendedores.

As apostas girariam tanto na parte da compra, quanto na parte das reclamações, reafirmando a idéia de “céu” (compras), ou “inferno” (reclamações) por telefone. No segundo caso se analisaria a paciência do cliente, ou mesmo sua memória. Isso explicaria os números cheios de letras que recebemos por parte do suporte técnico, cada vez que tentamos abrir uma reclamação, onde nos fornecem um código gigantesco e complexo denominado “protocolo”, nos fazendo crer que pelo tamanho daquele código, deve existir uma infinidade de pessoas reclamando.

Ao se tentar verificar o andamento da reclamação, o atendente que finalmente lhe atendesse diria que você anotou o número errado, e que deverá refazer o chamado. Para cada nova reclamação lhe perguntam de tudo, até a cor dos pêlos de seu cachorro (mesmo que você não tenha cachorros).

Voltando a teoria das apostas, nelas nada seria desperdiçado. Jogariam entre outras coisas: quanto à pessoa gastou, se ela é convencida de forma rápida, quantos produtos comprou, se suportou com calma toda sabatina de espera na hora de reclamar, Etc.

Enfim, às vendas por telefone vem cada vez mais se alastrando em nosso meio, parecendo uma epidemia que procura se incubar em nossa conta corrente (via debito em conta), atacando através de nosso cartão de crédito. Invadindo nossos lares e atormentando nossa paz. Tudo isto ao custo de uma ligação.

Fonte: O Autor

Trovadores de Curitiba e suas Trovas

No clarão da velha chama,
de ritmos e de valores,
curitibano conclama:
rimai por nós, trovadores!
Andrea Motta
-
Vou cantar uma canção
que externe a minha alegria,
por tê-la em meu coração
todas as horas do dia.
Ângelo Batista
-
Curitiba é chão de amores,
toda feita de candura.
O seu perfume é de flores...
Deus namora lá da altura.
 Apollo Taborda França
-
Chega de pranto, sorria
das coisas que vê na vida.
Faça uma trova por dia,
que é saúde garantida.
Ceciliano Ennes
-
Foi minha melhor colheita,
a colheita abençoada,
foi a colheita perfeita,
colheita da minha amada.
César Augusto Ribas Sovinski
-
Para um futuro de paz
flores nós vamos plantando,
neste momento fugaz
por onde vamos passando.
Cyroba Ritzman
-
Toda beleza do mundo
cabe na rosa ,no entanto,
pode o vento em um segundo,
desfazer tão belo encanto!
Eliane Queiróz Gabardo
-
Preparei-me longamente
quanto pude me enfeitar,
e saí toda contente...
Mas ninguém me viu passar.
Janske N. Schlenker
-
Das sementes que plantou,
você terá o resultado,
quando  a terra que lavrou,
 for plantada com cuidado!
José Arildo Vieira
-
Inda que seja utopia
penso não ser sonho vão:
quero ver pão e alegria
na mesa de cada irmão.
Lilia Souza
-
Qual filho mais querido
aquele que a mãe mais gosta?
Se existe algum preferido,
nem ela sabe a resposta.
Luiz Hélio Friedrich
-
Lançando versos ao vento,
ali bem perto do mar,
delirando no relento,
jogo trovinhas ao ar!
Lygia Lopes dos Santos
-
Com um semblante inocente,
dorme criança na praça.
Baixinho chora carente,
numa noite que não passa.
Madalena Ferrante Pizzatto
-
Nós nascemos detentores
de um enredo e trama urdida,
para sermos os atores
no grande palco da vida.
Mamed Zauit
-
Se Curitiba entrelaça
arte, vida e ecologia...
o  pinheiro cede a taça,
brinda toda essa magia.
        Maria Conceição Fagundes
-
Na Olimpíada da trova
Curitiba dá o tesouro
com a UBT que se inova
em seu Jubileu de Ouro!
Maria da Graça Stinglin
-
Diferente do perfume
daquele jardim florido,
peço que nunca se esfume,
nosso amor, ora vivido. 
Marlene Friedrich
-
Teve um infarto na cama,
a noiva, toda frajola,
ao ver que, em vez de pijama,
o noivo pôs camisola!
Maurício N. Friedrich
-
Na Bienal, sem faixa etária,
entre as letras do “á-bê-cê”,
Curitiba Literária
só depende de você!
Nei Garcez
-
Olhando ao longe o passado...
É com imenso prazer
que hoje vejo, deslumbrado,
a nossa UBT crescer.
Orlando Woczikoski
-
Quanta inocência perdida
na atualidade doente;
por ela, a luta renhida,
nos salva, o ser persistente.
Osíris Haddad
-
Entidade centenária
tudo faz com alegria,
Curitiba Literária
encontra-se na poesia.
Paulo Walbach
-
Naquela mulher me intriga
o seu corpo em desacordo:
faz a lipo da barriga...
Mas não faz a do olho gordo!
     Roza de Oliveira
-
Sou Ubirajara, ou Bira.
Por maluco, não me tome.
Amo trovas e Bartira,
“Trovadoido” é codinome!
Silvio Fergon
-
As orquídeas e as rosas,
aos amantes ofereço,
por serem flores cheirosas,
motivo de grande apreço.
Syomara Torres Guerra
-
Dobrem-se todos os sinos
aclamando o menestrel.
Transformou trovas em hinos,
revigorou seu papel.
Valterlei Salmazzo
-
Na vida vivo tentando
tramar meu mundo risonho
pois a tristeza vem quando
existe a ausência de um sonho.
Vanda Alves
-
Da vida o imenso valor
pode estar num... quase nada!
Como ver brotar a flor
entre as fendas da calçada.
Vanda F. Queiroz
-
As melhores gargalhadas
chegam sempre de repente
em cenas abobalhadas
e tomam conta da gente.
Vânia Ennes
-
Já não sei se dói mais,
na estrada de tantos trilhos,
soltar-se da mão dos pais...
ou soltar da mão dos filhos.
      Wandira F. Queiroz
-
Silêncio minha alma dorme,
sonhando seus devaneios...
sonha mil sonhos conforme,
a musa dos meus anseios.
Wellesley Nascimento
-
No grande jogo da vida
sorvi belo amor, profundo!
Viver vida bem vivida
é o melhor bingo do mundo!
Yaramara de Castro Araújo

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Contos do Oriente (O Amestrador de Tigres)

Um dos melhores amestradores da China chamava-se Liang Yang. Ele treinava qualquer tipo de animal, de lobos a tigres, de águias a serpentes. Mas Liang Yang estava envelhecendo e, caso morresse, não haveria ninguém para substituí-lo. O rei Xuan ordenou então que Mao Qiuyuan aprendesse com ele suas habilidades de amestrador.

— Eu não tenho nada para lhe ensinar — disse Liang Yang — Acontece que se você disser isso ao rei, ele vai achar que estou de má vontade.

Mao Qiuyuan escutou em silêncio o que lhe dizia Liang Yang. Começou então a observar como o amestrador entrava na jaula do leão, acariciava sua juba durante algum tempo e saía logo depois. Nesse momento, a pantera negra urrou debaixo de uma figueira. Liang Yang aproximou-se dela, os dois observaram-se durante algum tempo, até que Liang Yang pareceu lembrar-se de que Mao Qiyuan ainda o esperava.

— E então? — Quis saber Mao Qiyuan.

— Eu vou te falar um pouco sobre cuidados que você tem de ter. Alguns animais ficam muito bravos quando são desobedecidos. Cuidado com eles! Um amestrador, por exemplo, não ousa dar ao tigre animais vivos para comer, pois logo eles ficam bravos e impacientes. Não se pode também dar aos tigres um animal inteiro. Os tigres não gostam. Preferem a comida dada aos poucos. Além disso, um amestrador tem de saber quando o animal está faminto e o que pode irritá-lo. Embora tigres e homens sejam de espécies diferentes, os tigres vivem muito bem com seus criadores porque esses amestradores conhecem bem a vontade dos tigres e nunca os desobedecem.

´Eu nunca desobedeci meus tigres, deixando-os furiosos ou agradei-os, com obediência em demasia. Freqüentes alegrias são seguidas de repetidas fúrias e repetidas fúrias de alegrias: nenhuma dessas situações pode ser boa. Sendo assim, fico calmo e tranqüilo e nunca sou obediente ou irritante em excesso. Nos olhos dos animais e dos pássaros, somos da mesma espécie. Eles vivem no meu pátio como se ele fosse deles, nunca sentindo saudade da floresta, do mar, da montanha ou do vale.


Euclides da Cunha (Poemas Escolhidos)


DEDICATÓRIA

Se acaso uma alma se fotografasse
De sorte que, nos mesmos negativos,
A mesma luz pusesse em traços vivos
O nosso coração e a nossa face;

E os nossos ideais, e os mais cativos
De nossos sonhos... Se a emoção que nasce
Em nós, também nas chapas se gravasse
Mesmo em ligeiros traços fugitivos;

Amigo! tu terias com certeza
A mais completa e insólita surpresa
Notando — deste grupo bem no meio —

Que o mais belo, o mais forte, o mais ardente
Destes sujeitos é precisamente
O mais triste, o mais pálido, o mais feio.
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DANTON

Parece-me que o vejo iluminado.
Erguendo delirante a grande fronte
— De um povo inteiro o fúlgido horizonte
Cheio de luz, de idéias constelado!

De seu crânio vulcão — a rubra lava
Foi que gerou essa sublime aurora
— Noventa e três — e a levantou sonora
Na fronte audaz da populaça brava!

Olhando para a história — um século e a lente
Que mostra-me o seu crânio resplandente
Do passado através o véu profundo...

Há muito que tombou, mas inquebrável
De sua voz o eco formidável
Estruge ainda na razão do mundo!
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MARAT

Foi a alma cruel das barricadas!...
Misto de luz e lama!... se ele ria,
As púrpuras gelavam-se e rangia
Mais de um trono, se dava gargalhadas!...

Fanático da luz... porém seguia
Do crime as torvas, lívidas pisadas.
Armava, à noite, aos corações ciladas,
Batia o despotismo à luz do dia.

No seu cérebro tremente negrejavam
Os planos mais cruéis e cintilavam
As idéias mais bravas e brilhantes.

Há muito que um punhal gelou-lhe o seio.
Passou... deixou na história um rastro cheio
De lágrimas e luzes ofuscantes.
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ROBESPIERRE

Alma inquebrável — bravo sonhador
De um fim brilhante, de um poder ingente,
De seu cérebro audaz, a luz ardente
É que gerava a treva do Terror!

Embuçado num lívido fulgor
Su'alma colossal, cruel, potente,
Rompe as idades, lúgubre, tremente,
Cheia de glórias, maldições e dor!

Há muito que, soberba, ess'alma ardida
Afogou-se cruenta e destemida
— Num dilúvio de luz: Noventa e três...

Há muito já que emudeceu na história
Mas ainda hoje a sua atroz memória
É o pesadelo mais cruel dos reis!...
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COMPARAÇÃO

"Eu sou fraca e pequena..."
Tu me disseste um dia.
E em teu lábio sorria
Uma dor tão serena,

Que em mim se refletia
Amargamente amena,
A encantadora pena
Que em teus olhos fulgia.

Mas esta mágoa, o tê-la
É um engano profundo.
Faze por esquecê-la:

Dos céus azuis ao fundo
É bem pequena a estrela...
E no entretanto — é um mundo!
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AMOR ALGÉBRICO

Acabo de estudar — da ciência fria e vã,
O gelo, o gelo atroz me gela ainda a mente,
Acabo de arrancar a fronte minha ardente
Das páginas cruéis de um livro de Bertrand.

Bem triste e bem cruel decerto foi o ente
Que este Saara atroz — sem aura, sem manhã,
A Álgebra criou — a mente, a alma mais sã
Nela vacila e cai, sem um sonho virente.

Acabo de estudar e pálido, cansado,
Dumas dez equações os véus hei arrancado,
Estou cheio de spleen, cheio de tédio e giz.

É tempo, é tempo pois de, trêmulo e amoroso,
Ir dela descansar no seio venturoso
E achar do seu olhar o luminoso X.
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SAINT-JUST

Quando à tribuna ele se ergueu, rugindo,
— Ao forte impulso das paixões audazes
Ardente o lábio de terríveis frases
E a luz do gênio em seu olhar fulgindo,

A tirania estremeceu nas bases,
De um rei na fronte ressumou, pungindo,
Um suor de morte e um terror infindo
Gelou o seio aos cortesãos sequazes -

Uma alma nova ergueu-se em cada peito,
Brotou em cada peito uma esperança,
De um sono acordou, firme, o Direito -

E a Europa - o mundo -  mais que o mundo, a França -
Sentiu numa hora sob o verbo seu
As comoções que em séculos não sofreu!
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A FLOR DO CÁRCERE

Nascera ali — no limo viridente
Dos muros da prisão — como uma esmola
Da natureza a um coração que estiola —
Aquela flor imaculada e olente...

E ele que fôra um bruto, e vil descrente,
Quanta vez, numa prece, ungido, cola
O lábio seco, na úmida corola
Daquela flor alvíssima e silente!...

E — ele — que sofre e para a dor existe —
Quantas vezes no peito o pranto estanca!..
Quantas vezes na veia a febre acalma,

Fitando aquela flor tão pura e triste!...
— Aquela estrela perfumada e branca,
Que cintila na noite de sua alma...
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RIMAS

Ontem — quando, soberba, escarnecias
Dessa minha paixão — louca — suprema
E no teu lábio, essa rósea algema,
A minha vida — gélida — prendias...

Eu meditava em loucas utopias,
Tentava resolver grave problema...
Como engastar tua alma num poema?
E eu não chorava quando tu te rias...

Hoje, que vivo desse amor ansioso
E és minha — és minha, extraordinária sorte,
Hoje eu sou triste sendo tão ditoso!

E tremo e choro — pressentindo — forte,
Vibrar, dentro em meu peito, fervoroso,
Esse excesso de vida — que é a morte...
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D. QUIXOTE

Assim à aldeia volta o da "triste figura"
Ao tardo caminhar do Rocinante lento:
No arcabouço dobrado — um grande desalento,
No entristecido olhar — uns laivos de loucura...

Sonhos, a glória, o amor, a alcantilada altura
Do ideal e da Fé, tudo isto num momento
A rolar, a rolar, num desmoronamento,
Entre os risos boçais do Bacharel e o Cura.

Mas, certo, ó D. Quixote, ainda foi clemente
Contigo a sorte, ao pôr nesse teu cérebro oco
O brilho da Ilusão do espírito doente;

Porque há cousa pior: é o ir-se a pouco e pouco
Perdendo, qual perdeste, um ideal ardente
E ardentes ilusões — e não se ficar louco!
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PÁGINA VAZIA

Quem volta da região assustadora
De onde eu venho, revendo, inda na mente,
Muitas cenas do drama comovente
De guerra despiedada e aterradora.

Certo não pode ter uma sonora
Estrofe ou canto ou ditirambo ardente
Que possa figurar dignamente
Em vosso álbum gentil, minha senhora.

E quando, com fidalga gentileza
Cedestes-me esta página, a nobreza
De vossa alma iludiu-vos, não previstes

Que quem mais tarde, nesta folha lesse
Perguntaria: "Que autor é esse
De uns versos tão mal feitos e tão tristes?”

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Antonio Brás Constante (O Céu e o Inferno por Telefone)

No decorrer da história, o homem conseguiu desenvolver ideias maravilhosas, em contrapartida também concebeu outras horríveis. Entre a lista das coisas existentes que odiamos podemos citar: as propagandas políticas, as musiquinhas que os caminhões de gás tocam pelas ruas, a broca do dentista, e é claro: o telemarketing.

O telemarketing é um conceito de comerciais por telefone. Onde ligam para nós geralmente nos momentos em que tudo o que não gostaríamos de fazer era atendê-los. Testando nossa paciência. Pondo em cheque a nossa educação para com o próximo.

Acredito que existam pessoas que já estejam tão influenciadas pelas ligações diárias que vivem recebendo, que caso houvesse uma greve das operadoras de telemarketing, elas acabariam sofrendo uma espécie de crise de abstinência pela falta de suas ligações.

No primeiro dia estranhariam um pouco a calma em seu lar. No segundo dia, começariam a pensar no que teria ocorrido para não ligarem mais. Afinal, eles sempre lhes diziam que eram clientes especiais e de muita sorte, por terem sido escolhidos em meio a milhares de outras pessoas para possuir aquele produto.

Começariam a desconfiar que talvez seu poder econômico tivesse finalmente descido abaixo da linha que separa os possíveis clientes viáveis dos inviáveis. Ou pior, talvez eles soubessem de algo que a pessoa ainda não sabia sobre si mesma. A partir daí, passaria a imaginar teorias da conspiração. A desejar que o telefone tocasse para se desculpar por todos os “não” que já dissera. O telefone enfim toca, a pessoa corre para atendê-lo, e para seu desespero, a ligação era apenas a sua mãe dizendo que estava com saudades.

Pensa em ligar para alguma operadora de cartões e ver o que acontece. Para não parecer que está interessada em adquirir algo, quando atenderem pedirá uma pizza, como se tivesse ligado para o número errado.

Ao se ligar para uma operadora de telemarketing tem-se que ter em mente que ao lhe atenderem, farão uma pergunta que determinará se você será encaminhado ao céu ou ao inferno por telefone. Ou seja, vão lhe perguntar se quer comprar algo ou fazer alguma reclamação.

Caso escolha “comprar”, imediatamente cairá em um grupo de atendentes com vozes melodiosas e sensuais, que irão brigar entre si pela chance de poder atendê-lo. Elas sussurrarão palavras quase hipnóticas em seu ouvido. Para completar, um som de fundo cheio de mensagens subliminares, fará você se sentir à vontade para gastar todo seu dinheiro ali.

Porém, se resolver ir pelos caminhos das almas torturadas que buscam reclamar de algo, caíra em um calvário sem fim. Será jogado de um atendente para outro, todos parecendo o nosso presidente, dizendo que não sabem nada daquele assunto, e que irão encaminhá-lo para outro setor. Possivelmente você sofrerá longos minutos até a ligação cair, sem que seja atendido. Mas o mais provável é que acabe se irritando e desistindo da reclamação.

Enfim o telemarketing existe, para provar que o homem ainda pode ser o pior inimigo do próprio homem, mesmo que lhe diga por telefone que você é um cliente especial.

Fonte: O Autor

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Olivaldo Júnior (Pierrô)

Começaria o Carnaval sexta-feira, à noite, e só o daria por encerrado ao meio-dia da Quarta-Feira de Cinzas. 

Não tinha como dar errado. Moço ainda, pintou sua cara, vestiu-se à caráter e se fez um Pierrô. Aquela lágrima triste pintada em relevo. "Não, não sei se devo...". Deve. Pinta sua cara, amigo, e que a Colombina o queira! Colombina? Onde estaria ela? Num baile qualquer (no que ele estaria), num filme bem velho, nas ruas antigas, no tempo remoto da delicadeza. Onde o Chico para nos cantar uma marchinha? Não sei. Só sei que o moço sairia logo em busca da flor, da única rosa que o quer bem: a dele. Haveria mesmo essa tal de tampa da panela de que os mais velhos falavam? Hoje há mais tampa que panela, né? 

Bem, ele estava decidido. Vestiu-se todo para isso. Ei! A marchinha ao longe não me deixa mentir! Vai, "menino", vai para o seu sonho! Colombina está na esquina! Arlequim? Sai já de mim! Pega o seu lugar no bloco, desbloqueia a mente e tenha fé. "Quem é você / Adivinha se gosta de mim"... É o Chico, rapaz, vai lá! Que os mascarados sejam por você! Eu, daqui de cima, o vejo ir. Está bonito. Quisera eu ter seu porte alegre, seu compromisso com o próximo beijo, com a próxima lua em seus braços! Palhaço, não achei minha "mina", a Colombina, minha alma, e voo só. Boa sorte, amigo! A noite não é mais uma criança. É uma rua de esperança sob os pés de quem não dança: ama.

Fonte:
O Autor