sábado, 2 de fevereiro de 2008

Mario de Andrade (1893 - 1945)

Eu sou um escritor difícil
Que a muita gente enquisila,
Porém essa culpa é fácil
De se acabar de uma vez:
E só tirar a cortina
Que entra luz nesta escuridez.
(A Costela de Grão Cão)


1893: Nasce Mário Raul de Moraes Andrade, no dia 9 de outubro, filho de Carlos Augusto de Moraes Andrade e Maria Luísa Leite Moraes Andrade; na Rua Aurora, 320, em São Paulo - SP.
  • 1904: Escreve o primeiro poema, cantado com palavras inventadas. "O estalo veio num desastre da Central durante um piquenique de subúrbio. Me deu de repente vontade de fazer um poema herói-cômico sobre o sucedido, e fiz. Gostei, gostaram. Então continuei. Mas isso foi o estralo apenas. Apenas já fizera algumas estrofes soltas, assim de dois em três anos; e aos dez, mais ou menos, uma poesia cantada, de espírito digamos super realista, que desgostou muito minha mãe. "— Que bobagem é essa, meu filho?" — ela vinha. Mas eu não conseguia me conter. Cantava muito aquilo. Até hoje sei essa poesia de cor, e a música também. Mas na verdade ninguém se faz escritor. Tenho a certeza de que fui escritor desde que concebido. Ou antes... Meu avô materno foi escritor de ficção. Meu pai também. Tenho uma desconfiança vaga de que refinei a raça..." Este o depoimento do escritor a Homero Senna, publicado no livro "República das Letras", Editora Civilização Brasileira - Rio de Janeiro, 1996, 3a. edição, sobre como havia começado a escrever.
  • 1905: Ingressa no Ginásio N. Sra. do Carmo dos Irmãos Maristas.
  • 1909: Forma-se bacharel em Ciências e Letras. Terminado o curso multiplica leituras e freqüenta concertos e conferências.
  • 1910: Cursa o primeiro ano da faculdade de Filosofia e Letras de São Paulo.
  • 1911: Inicia estudos no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo.
  • 1913: Morre seu irmão Renato, aos 14 anos, devido a complicações decorrentes de uma cabeçada em jogo de futebol. Abalado pelo fato e trabalhando em excesso, Mário tem uma profunda crise emocional. Passa um tempo em Araraquara, na fazenda da família. Quando retorna desiste da carreira de concertista devido a suas mãos terem se tornado trêmulas. Dedica-se, então a carreira de professor de música.
  • 1915: Conclui curso de canto no Conservatório.
  • 1916: Conclui, como voluntário, o Serviço Militar.
  • 1917: Diploma-se em piano pelo Conservatório. Morre seu pai. Publica Há uma gota de sangue em cada poema, poesia, sob o pseudônimo de Mário Sobral. Primeiro contato com a modernidade na Exposição de Anita Malfatti. Primeira viagem a Minas: encontra o barroco mineiro, visita Alphonsus de Guimarães. Já iniciou sua Marginália.
  • 1918: Recebe Diploma de Membro da Congregação Mariana de N. Sra. da Conceição da Igreja de Santa Ifigênia. Noviciado na Ordem Terceira do Carmo. Nomeado professor no Conservatório. Escreve contos e poemas. Colabora ocasionalmente em jornais e revistas como crítico de arte e cronista; em A Gazeta e O Echo (São Paulo).
  • 1919: Profissão na Ordem Terceira do Carmo a 19 de março. É colaborador de A Cigarra, O Echo e A Gazeta. Viagem a Minas Gerais, visitando as cidades históricas.
  • 1920: Lê obras Index . Faz parte do grupo modernista de São Paulo. Colabora em Papel e Tinta (São Paulo), na Revista do Brasil (Rio de Janeiro - até 1926) e na Illustração Brasileira (Rio de Janeiro - até - 1921).
  • 1921: É professor de História da Arte no Conservatório. Pertence à Sociedade de Cultura Artística. Está presente no lançamento do Modernismo no banquete do Trianon. É apresentado ao público por Oswald de Andrade através do artigo "Meu poeta futurista" (Jornal do Commércio São Paulo). Escreve "Mestres do passado" para o citado jornal.
  • 1922: Professor catedrático de História da Música e Estética no Conservatório. Participa da Semana de Arte Moderna em São Paulo, de 13 a 18 de fevereiro, no Teatro Municipal de São Paulo. Faz parte do grupo da revista Klaxon, publicando poemas e críticas de literatura, artes plásticas, música e cinema. Escreve Losango Cáqui, poesia experimental. Inicia a correspondência com Manuel Bandeira, que dura até o final de sua vida. Publica Paulicéia desvairada, poesia.
  • 1923: Estuda alemão com Kaethe Meichen-Bosen, de quem se enamora. Faz parte da revista Ariel, de São Paulo. Escreve A escrava que não é Isaura, poética modernista. Continua a colaborar na Revista do Brasil (Rio de Janeiro).
  • 1924: Realiza a histórica "Viagem da Descoberta do Brasil", Semana Santa dos modernistas e seus amigos, visitando as cidades históricas em Minas. Colabora em América Brasileira (contos de Belazarte), Estética e Revista do Brasil (Rio de Janeiro).
  • 1925: Colabora n'A Revista Nova de Belo Horizonte. Publica A Escrava que não é Isaura: discurso sobre algumas tendências da poesia modernista. Adquire a tela de André Lhote, Futebol, através de Tarsila.
  • 1926: Férias em Araraquara, escrevendo Macunaíma. Publica Primeiro andar, contos, e Losango Cáqui (ou Afetos Militares de Mistura com os Porquês de eu Saber Alemão), poesia. Escreve poemas de Clã do Jaboti. Colabora na Revista de Antropofagia, na Revista do Brasil e em Terra Roxa e Outras Terras.
  • 1927: Colabora no Diário Nacional de São Paulo: crítico de arte e cronista (até 1932, quando o jornal é fechado). Estréia como romancista, publicando Amar, verbo intransitivo, que choca a burguesia paulistana com a história de Carlos, um adolescente de família tradicional iniciado nos prazeres do sexo pela sua Fraülein, contratada por seu pai exatamente para essa tarefa. Lança, também, o livro Clã do Jaboti, de poesias. Realiza a primeira "viagem etnográfica": percorrendo o Amazonas e o Peru, da qual resulta o diário O Turista Aprendiz.
  • 1928: Membro do Partido Democrático. Realiza sua segunda "viagem etnográfica": ao Nordeste do Brasil (dez. 1928 - mar. 1929). Colabora na Revista de Antropofagia e em Verde. Publica Ensaio sobre a Música Brasileira e Macunaíma - o Herói sem nenhum caráter, onde inova com audácia e rebela-se contra a mesmice das normas vigentes. Com enorme sucesso a obre repercutiu em todo o país por seus enfoques inéditos. Sob um fundo romanesco e satírico, aí se mesclavam numa narrativa exemplar a epopéia e o lirismo, a mitologia e o folclore, a história e o linguajar popular. O personagem-título, um "herói sem nenhum caráter", viria a ser uma síntese, o resumo das virtudes e defeitos do brasileiro comum.
  • 1929: Inicia coluna de crônicas "Táxi", no Diário Nacional. "Viagem etnográfica" ao Nordeste, colhendo documentos: música popular e danças dramáticas. Rompimento da amizade com Oswald de Andrade. Publica Compêndio de História da Música.
  • 1930: Apóia a Revolução de 30. Defende o Nacionalismo Musical. Publica Modinhas Imperiais, crítica e antologia, e Remate de Males, poesia.
  • 1933: Completa 40 anos. Faz crítica para o Diário de São Paulo (até 1935).
  • 1934: Diplomado Professor honorário do Instituto de Música da Bahia. Cria e passa a dirigir a Coleção Cultural Musical (Edições Cultura Brasileira - São Paulo). Colabora em Festa (Rio de Janeiro), Boletim de Ariel. Publica Belazarte, contos, e Música, Doce Música, crítica.
  • 1935: É nomeado chefe da Divisão de Expansão Cultural e Diretor do Departamento de Cultura. Publica O Aleijadinho e Álvares de Azevedo.
  • 1936: Deixa de lecionar no Conservatório. Nomeado Chefe do Departamento de Cultura da Prefeitura.
  • 1937: É contra o Estado Novo.
  • 1938: Transfere-se para o Rio de Janeiro (27 jun.), demitindo-se do Departamento de Cultura (12 mai.). É nomeado professor-catedrático de Filosofia e História da Arte na Universidade do Distrito Federal e colabora no Diário de Notícias daquela cidade. Publica Namoros com a Medicina, estudos de folclore.
  • 1939: Cria a Sociedade de Etnologia e Folclore de São Paulo, sendo seu primeiro presidente. Organiza o 1o. Congresso da Língua Nacional Cantada (jul.). Projeta a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, SPHAN. É nomeado encarregado do Setor de São Paulo e Mato Grosso. Escreve poemas de A Costela do Grão Cão. Publica Samba Rural Paulista, estudo de folclore. É crítico do Diário de Notícias (até 1944) e colabora na Revista Acadêmica (Rio de Janeiro) e em O Estado de S. Paulo. Publica A Expressão Musical nos Estados Unidos.
  • 1941: Volta a viver em São Paulo, à Rua Lopes Chaves 546. Está comissionado no SPHAN. Colabora em Clima (SP).
  • 1942: Sócio-fundador da Sociedade dos Escritores Brasileiros. Colabora no Diário de S. Paulo e na Folha de S. Paulo. Publica Pequena História da Música.
  • 1943: Publica Aspectos da Literatura Brasileira, O Baile das Quatro Artes, crítica, e Os Filhos de Candinha, crônicas.
  • 1944: Escreve Lira Paulistana, poesia.
  • 1945: Coberto de reconhecimento pelo papel de vanguarda que desempenhou em três décadas, Mário de Andrade morreu em São Paulo - SP em 25 de fevereiro de 1945, vitimado por um enfarte do miocárdio, em sua casa. Foi enterrado no Cemitério da Consolação. Publicação de Lira Paulistana e Poesias completas.
Um capítulo à parte em sua produção literária sem fronteiras é constituído pela correspondência do autor, volumosa e cheia de interesse, ininterruptamente mantida com colegas como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Fernando Sabino, Augusto Meyer e outros. Suas cartas conservaram, de regra, a mesma prosa saborosa de suas criações com palavras — um lirismo que, como ele disse, "nascido no subconsciente, acrisolado num pensamento claro ou confuso, cria frases que são versos inteiros, sem prejuízo de medir tantas sílabas, com acentuação determinada". Coberto de reconhecimento pelo papel de vanguarda que desempenhou em três décadas, Mário de Andrade morreu em São Paulo SP em 25 de fevereiro de 1945.

Mario de Andrade e o Socialismo
Continua crescendo a literatura sobre Mário de Andrade, numa clara demonstração de que a importância atribuída à sua obra está aumentando com o tempo.
No final do ano passado (1989), saiu um magnífico ensaio de Moacir Werneck de Castro (Mário de Andrade – Exílio no Rio, Ed. Rocco), que não só reconstituía um período crucial da vida do grande escritor paulista como divulgava documentos essenciais para a reconstituição da sua trajetória em geral.
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Entre os campeões do movimento modernista no Brasil, Mário se destacava pela amplitude de sua cultura, pela vastidão dos seus conhecimentos. Tinha uma visão panorâmica abrangente. Dispunha de um quadro de referências muito mais rico do que todos os outros.

Se o velho Hegel tinha razão quando escreveu que “a verdade é o todo”, Mário pode ser considerado, no meio dos modernistas, aquele que mais se aproximou da verdade. Ou, se concluirmos que a verdade é sempre plural, aquele que conseguiu chegar mais perto de um número maior de verdades.

Mário lia muito; e lia sobre todas as coisas. Tinha uma curiosidade insaciável. E essa curiosidade levava o tímido que ele era a vencer a timidez para conversar com seus próximos. Tratava-se – dizem – de um mestre da conversa: sabia sintonizar na onda do interlocutor e se empenhava em ouvi-lo e compreendê-lo.

Esse movimento da conversa, da abertura para o outro, na permanente disposição para cotejar sua opinião com as convicções alheias, só seria possível numa personalidade vocacionalmente reflexiva. E Mário era, de fato, um ser naturalmente inclinado à reflexão. Etimologicamente, um ser possuído pela necessidade de se debruçar outra vez (re+flectere) sobre a mesma coisa, a fim de enriquecer a primeira impressão, eventualmente corrigindo-a e superando-a.

Curiosamente, essa vocação reflexiva coexistia com um temperamento impetuoso, rebelde, que a timidez nem sempre conseguia controlar. E – é claro! – a reflexão precisou de mais tempo para se afirmar do que a rebeldia. Nos primeiros anos, prevalece uma inquietação que se manifesta com maior desenvoltura; e nos últimos anos, o ímpeto questionador (que jamais diminuiu) passa a se combinar, cada vez mais, com uma visão crítica (e auto-crítica) elaborado com maior solidez teórica.

Mário era mesmo um ser “plural”, como se lê no título do livro de Elisa Angotti Kossovitch. No começo dos anos vinte, quando se insurgia, desassombradamente, contra o conservadorismo que dominava a nossa linguagem literária, o moço ousado que demolia preconceitos ficou seriamente preocupado ao ser chamado de “futurista” num artigo de Oswald de Andrade, porque teve medo de, com o escândalo, perder os alunos das aulas de piano que ministrava (e que lhe assegurava seu sustento). Por outro lado, no último decênio da sua vida, sofrido e amadurecido, submetendo sua trajetória a uma prudente revisão, o escritor continuava a manifestar arroubos da juventude, a audácia e a coragem intelectual dos primeiros tempos.

Devemos reconhecer, entretanto, que a continuidade não excluía a mudança. A persistência das características essenciais (e contraditórias) de uma personalidade rica (e surpreendente) não deve obscurecer a significação das modificações que vão ocorrendo, ao longo da vida, na visão que Mário tinha das coisas.

As preocupações de Mário em relação à política, por exemplo, vão se tornando mais definidas; e ele vai assumindo posições mais concretamente críticas. A atitude assumida em face do comunismo também sofre alterações interessantes (e revela, igualmente, constâncias sintomáticas).

No clima de efervescência que caracterizava a vida política brasileira em torno de 1930, Mário andou lendo coisas sobre o marxismo e a União Soviética. Não chegou (parece) a ler Marx diretamente: leu Bukhárin. E fez questão de sublinhar sua distância em relação à Rússia. Numa carta ao jovem amigo Carlos Drummond de Andrade, admitia que a sua sensibilidade era receptiva a “apelos vagos porque sempre líricos, sociais, porventura comunistas (sem Rússia)” (carta de 1-7-1930, constante do livre A lição do amigo, Ed. José Olympio). Vale a pena sublinhar as palavras “sem Rússia”, colocadas entre parênteses.

Num artigo intitulado “Comunismo”, publicado no Diário Nacional (de São Paulo) em 30-11-1930, Mário se referia ironicamente à imagem do comunismo russo como “uma espécie de assombração medonha” e, de passagem, através do advérbio “verbalmente”, sugeria certa desconfiança em relação à identificação do comunismo com a União Soviética, “a primeira e a única nação que o aplicou verbalmente até agora”. Observava que a propaganda anticomunista havia exagerado as “mazelas” da URSS e os dirigentes russos reagiam, se defendendo, negando os problemas que tinham e sustentando que o regime por eles implantado assegurava a felicidade dos cidadãos. Mas havia uma “confusão pueril” na questão. Porque – como dizia Mário – “um sistema de governo jamais dará felicidade pra ninguém não. A felicidade é uma aquisição puramente individual”.

Em 6 de novembro de 1932, Mário escreveu a Drummond se queixando da posição assumida pelos comunistas brasileiros, que desqualificavam a revolta paulista de 1932 considerando-a um movimento exclusivamente burguês. E acusava, irritado: eles “mentem por pragmatismo, no seu já famoso pragmatismo que no Brasil se transformou notoriamente em licença pra todas as safadezas”.

Independentemente de todos os oportunismos que lhe causavam consternação e de todas as simplificações rudemente pragmáticas (ou dogmáticas?) dos comunistas, Mário não deixava de alimentar robustas esperanças no socialismo como idéia. Respondendo em 1933 a um questionário que lhe foi encaminhado pela Editora Macauley and Company, declarou: “Minha maior esperança é que se consiga um dia realizar no mundo o verdadeiro e ainda ignorado Socialismo. Só então o homem terá o direito de pronunciar a palavra civilização” (citado por Drummond em A lição do amigo).

O marxismo lhe parecia uma teoria um tanto tosca. Os comunistas eram, às vezes, bisonhos. Mas a ideologia que os animava e as verdades temporárias em que se apoiavam eram elementos imprescindíveis no encaminhamento da revolta ética dos intelectuais. “O intelectual pode bem – escrevia Mário – e deverá sempre se pôr a serviço duma dessas ideologias, duma dessas verdades temporárias. Mas por isso mesmo que é um cultivado, e um ser livre, por mais que minta em proveito da verdade temporária que defende, nada no mundo o impedirá de ver, de recolher e reconhecer a verdade da miséria do mundo. Da miséria dos homens. O intelectual verdadeiro, por tudo isso, sempre há de ser um homem revoltado e um revolucionário, pessimista, cético e cínico: fora da lei” (Táxi, ed. cit., p. 516).

Existia em Mário, como notou Telê Porto Ancona Lopez, “um desejo de opção política” (a expressão se encontra em Mário de Andrade: ramais e caminho, Ed. Duas Cidades). No entanto, a ética que cobrava o engajamento era a mesma ética que incitava à desconfiança em relação a todas as possibilidades concretas da militância.

Em 1938, entristecido com o fracasso de um projeto a que se dedicara durante três anos na Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo, Mário resolveu se “exilar” no Rio de Janeiro, onde viveu por dois anos e oito meses. O “exílio” lhe proporcionou uma ampliação no seu círculo de amizades: conviveu com jovens intelectuais combativos, dispostos a enfrentar a política e, eventualmente, a ir para a prisão. Com sua habitual sinceridade, confessou-lhes que tinha medo de ser preso. Viveu mal, no Rio, angustiado com o Brasil e o mundo, naqueles anos de Estado Novo getuliano e de ascensão do fascismo na Europa.
Moacir Werneck de Castro conta: “A experiência que Carlos Lacerda e eu trazíamos de nossas militâncias de esquerda o deixava assombrado.” Não abria mão de suas exigências mais íntimas de ser sempre senhor do seu engajamento, mantendo-o sob controle, porém, queria incorporar algo do pensamento novo mais combativo. Moacir explica: “Mário jamais pretendeu assimilar o marxismo, mas utilizava conceitos marxistas como instrumentos de análise e de conhecimento da realidade.” Essa atitude se manifesta em diversos trabalhos que abordam a relação da música com a história e a sociedade. E se manifesta também nos conselhos que dá a Oneida Alvarenga (que mais tarde viria a escrever o livro Mário de Andrade, um pouco, lançado pela Editora José Olympio): “Você sabe que pessoalmente não admito integralmente o marxismo e sinto na vida humana uma porção de causas e de imponderáveis que produziriam os efeitos. Mas incontestavelmente o marxismo contém uma enorme parte de verdade que hoje nem é marxista mais porque incorporada ao conhecimento geral, à verdade humana. Coisas que ninguém discute mais.”
De volta a São Paulo, em 1941, Mário se mostrava inclinado a aprofundar sua reflexão, num movimento tanto crítico como autocrítico, que o levou a assinalar com surpreendente vigor polêmico as limitações que passara a enxergar no movimento modernista. O artista, ameaçado como homem pelo nazismo, precisa se unir à luta dos outros homens; precisa “marchar com as multidões”. Ninguém tem o direito de permanecer à margem de um esforço imprescindível para enfrentar um grave perigo que ameaça toda a humanidade.
O artista, o escritor, o intelectual não devem “servir aos donos da vida”. Devem ser solidários em relação às aspirações dos homens da sociedade em que vivem. Devem, no entanto, preservar sua autonomia individual. O próprio Mário se sente pressionado por essa dupla exigência e reflete sobre ela com intensa dramaticidade em seus últimos anos de vida. Gilda de Mello e Souza providenciou a edição de um volume que reúne um longo e fascinante diálogo que o autor de Macunaíma estava publicando na Folha da Manhã quando a morte o levou, em 1945. Nessa obra – intitulada O banquete – Mário mostra cinco personagens imaginários discutindo sobre arte e sociedade. E se serve das criaturas de ficção para expressar suas inquietações, a diversidade dos pontos de vista que correspondiam à multiplicidade das suas preocupações, de seus “valores”.
A União Soviética, na guerra que estava travando contra Hitler, nas vitórias que obtinha sobre a barbárie nazista, empolgava o coração do escritor. Seu último texto terminado foi uma apresentação de um livro de Victor Serof a respeito do compositor russo Dmitri Chostacóvich; e, naquele momento, Mário chegou a admitir que a comunidade tivesse o direito de cobrar do compositor, como indivíduo, que ele, na sua arte, atendesse à demanda coletiva, renunciando às formas mais exasperadas do seu individualismo.
As discussões que podem ser lidas em O banquete, contudo, refletiam de maneira mais completo a complexa gama das questões éticas e estéticas com que o escritor se defrontava. De um lado, os personagens Janjão e Pastor Fido expressam a disposição de Mário para assumir o compromisso da arte com a afirmação do caráter nacional e com a crítica social. De outro, a cantora Siomara Ponga traduz a convicção (partilhada por Mário) de que a arte, de algum modo, se justifica por si mesma, por sua qualidade, por sua capacidade de durar.
As contradições irresolvidas da estética remetem às tensões e conflitos do movimento da sociedade. A cultura não pode resolver questões que a vida não resolveu: o que ela pode (e precisa) fazer é nos proporcionar maior familiaridade com elas.

Bibliografia:
- Há uma gota de sangue em cada poema, 1917
- Paulicéia desvairada, 1922
- A escrava que não é Isaura, 1925
- Losango cáqui, 1926
- Primeiro andar, 1926
- A clã do jabuti, 1927
- Amar, verbo intransitivo, 1927
- Ensaios sobra a música brasileira, 1928
- Macunaíma, 1928
- Compêndio da história da música, 1929 (reescrito como Pequena história da música brasileira, 1942)
- Modinhas imperiais, 1930
- Remate de males, 1930
- Música, doce música, 1933
- Belasarte, 1934
- O Aleijadinho de Álvares de Azevedo, 1935
- Lasar Segall, 1935
- Música do Brasil, 1941
- Poesias, 1941
- O movimento modernista, 1942
- O baile das quatro artes, 1943
- Os filhos da Candinha, 1943
- Aspectos da literatura brasileira 1943 (alguns dos seus mais férteis estudos literários estão aqui reunidos)
- O empalhador de passarinhos, 1944
- Lira paulistana, 1945
- O carro da miséria, 1947
- Contos novos, 1947
- O banquete, 1978
- Será o Benedito!, 1992
Antologias:
- Obras completas, publicação iniciada em 1944, pela Livraria Martins Editora, de São Paulo, compreendendo 20 volumes.
- Poesias completas, 1955
- Poesias completas, editora Martins - São Paulo, 1972
- Homenagens:
- Foi escolhido como Patrono da Cadeira n. 40 da Academia Brasileira de Música.

Fontes:
KONDER, Leandro. Intelectuais Brasileiros e Marxismo. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1991, pp. 35-41. In: Revista Espaço Acadêmico, Ano VII. no. 79 – Dezembro de 2007. Maringá: UEM.
http://www.espacoacademico.com.br/079/79konder.htm

NOGUEIRA JR., Arnaldo. Mário de Andrade. Disponível em http://www.releituras.com/marioandrade_bio.asp

SANTOS, Eberth. MOURA, Josana de. Literatura e Filosofia (Palavra em Ação). 2.ed. Uberlândia: Ed. Claranto, 2004.

Mário de Andrade (Resumo: Amar, Verbo Intransitivo)

Este romance é definido pelo autor como Idílio (s. m. Pequena composição poética, campestre ou pastoril; amor simples e terno; sonho; devaneio.) e abusa das técnicas modernas, usando uma linguagem coloquial, perto do falar brasileiro (por exemplo, começando frases por pronomes oblíquos), sem capítulos definidos, prosa telegráfica, expressionismo, construído através de flashes, resgatando o passado ou fixando o presente. Publicado em 1927, o Idílio causou impacto. Desafiou preconceitos, inovou na técnica narrativa.
Sem nenhum prêambulo, Souza Costa e Elza surgem no livro. Souza Costa é o pai de uma típica família burguesa paulista do início do século. Elza, uma alemã que tinha por profissão iniciar sexualmente os jovens. Professora de amor. Souza Costa contrata os "serviços" de Elza (que por todo o livro é tratada por Fräulein - senhora em alemão) com o intuito de que seu filho inicie sua vida sexual de forma limpa, asséptica, sem se "sujar" com prostitutas e aproveitadoras. Ela afirma naturalmente que é uma profissional, séria, e que não gostaria de ser tomada como aventureira. Oficialmente, Fräulein seria a professora de alemão e piano da família Souza Costa. Carlos aparece brincando com as irmã, ainda muito "menino".

Fräulein se ressente por não prender a atenção de Carlos no início, ele era muito disperso, mas gradualmente vai envolvendo-o na sua sedução. Eles tinham todas as tardes aulas de alemão e cada vez mais Carlos se esforçava para aprender (o alemão?!) e aguardava ansioso as aulas. Fräulein, em momentos de devaneios, criticava os modos dos latinos, se sentia uma raça superior, admirava e lia incessantemente os clássicos alemães, Goethe, Schiller e Wagner. Compreendia o expressionismo mas voltava à Goethe e Schiller.

A esposa de Souza Costa, vendo as intimidades do filho para com ela, resolve falar com Elza e pedir para que deixem a família. Fräulein esclarece seu propósito de forma incrivelmente natural, e após uma conversa com o marido, a mãe decide que é melhor para seu filho que ela continuasse com suas lições. O livro é permeado de digressões. Mário de Andrade freqüentemente justifica alguns pontos (antes que o critiquem), analisa fatos, alude à psicologia, à música e até mesmo à Castro Alves e Gonçalves Dias. Mário compara a vida dos extrangeiros nos trópicos, entre Fräulein e um copeiro japonês. Mostra a dicotomia de pensamento de Fräulein entre o homem-da-vida (prático, interessado no dinheiro do serviço) simbolizado por Bismarck - responsável pela unificação da Alemanha em 1870 à ferro e fogo e Wagner, retratando o homem-do-sonho. O homem-do-sonho representa seus desejos, suas vontades, voltar a terra natal, casar e levar uma vida normal. Mas quem vence em Fräulein é o homem-da-vida, que permite que ela continue o serviço sem se questionar. Carlos após ter tido "a"aula mestra, começa a viciar-se em "estudar".

Certamente a didática de Fräulein era muito boa. Era tempo para Fräulein se despedir, tendo este trabalho concluído. Ela sabia que os afastamentos eram sempre seguidos de muitos protestos e gritos. Souza Costa surpreende Carlos com Fräulein (tudo já armado) e utiliza-se deste pretexto para separá-los. Carlos reage defende Fräulein, mas mesmo ele fica aturdido diante do argumento do pai: e se ele tivesse um filho? Ainda relutante, ele deixa-a ir. Depois de algumas semanas apático, Carlos volta a viver normal. O livro acaba, mas continua. Escreve Mário de Andrade - "E o idílio de Fräulein realmente acaba aqui. O idílio dos dois. O livro está acabado. Fim. (...) O idílio acabou. Porém se quiserem seguir Carlos mais um poucadinho, voltemos para a avenida Higienópolis. Eu volto." Após se recuperar, Carlos avista acidentalmente Fräulein, já em um novo trabalho, e apenas saudou-a com a cabeça. A vida continua para Carlos. Fräulein ainda iria seguir com 2 ou mais trabalhos para voltar à sua terra.

Fonte:
http://www.coladaweb.com/resumos/intransitivo.htm

Dias Gomes (1922 - 1999)

Novelista, escritor e dramaturgo baiano (19/10/1922-18/5/1999). Um dos mais consagrados teatrólogos e autores de telenovelas do Brasil. Alfredo de Freitas Dias Gomes nasce em Salvador e escreve aos 15 anos sua primeira peça, A Comédia dos Moralistas, jamais levada aos palcos, porém premiada no Concurso do Serviço Nacional de Teatro em 1939.

Sua primeira obra encenada, Pé de Cabra, de 1942, é montada por Procópio Ferreira e censurada pelo Estado Novo. Na década de 50 escreve radionovelas. Abandona o rádio em 1964, quando os militares invadem a Rádio Nacional com uma lista de subversivos que inclui seu nome.

Entre suas peças teatrais, a mais célebre é O Pagador de Promessas (1959), com versão em 12 idiomas. Adaptada para o cinema em 1962, por Anselmo Duarte, ganha a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Participa do Partido Comunista Brasileiro por 30 anos. Em 1965, a peça O Berço do Herói, mais tarde transformada em Roque Santeiro, é proibida no dia da primeira apresentação. Estréia na Globo em 1969, com a novela A Ponte dos Suspiros. Entre seus sucessos na TV estão a novela O Bem Amado (1973) , que virou seriado entre 1980 e 1985, Roque Santeiro (1985/1986), Bandeira 2 (1971), O Espigão (1974) e Saramandaia (1976).

Em 1983 perde a mulher, Janete Clair, também novelista, que sofria de câncer. Em 1991 é eleito membro da Academia Brasileira de Letras (ABL). Em 1995 passa por uma cirurgia para implantar pontes de safena. Morre em um acidente automobilístico em São Paulo.
Fonte:

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Irani Alves Genaro

Nasceu em Sorocaba/SP

É Poetisa, Escritora, Artista Plástica, Compositora, Regente, Professora, Detentora da cadeira n.º 28 da Academia Sorocabana de Letras, cujo patrono é José Lins do Rego.

Rádio:
Trabalhou na Radio Clube de Sorocaba, (atual Cruzeiro Do Sul)
- Como cantora do Programa Clube Skay
- Como cantora efetiva do Programa “A Eletro Luz Aponta O Sucesso”
- Como intérprete em várias rádio novelas
- Acompanhou a Rádio Clube em seus programas caritativos aos asilos e shows culturais.

Teatro:
- Ganhou papel de destaque da crítica Sorocabana ao interpretar Lavínia na peça intitulada “A Feia”
- Autora das peças: “O sonho” e “Uma oferta para o Templo”.

Artes Plásticas:
-“Menção Honrosa” ao participar do Salão Nacional do Artista, realizado na Galeria Prestes Maia, em São Paulo, com o quadro: “Paisagem do Interior”.

Música:
- Regente do Coral da Estaca Sorocaba Brasil

Ensino:
- Ensinou crianças de 03 a 11 anos.
- Atuou como professora no Sistema Educacional para jovens de 12 a 18 anos.
- Ensinou “ Gafes e Etiquetas” no Centro de Treinamento Missionário em São Paulo.

Missão:
- Serviu na Missão São Paulo Sul ao lado de seu esposo Pres. Nelson de Genaro, com treinamento na Univ. Brighan Young -USA.

Academia :
Eleita para a cadeira n.º 28 da Academia Sorocabana de Letras, cujo Patrono é o escritor José Lins do Rego. (Foi empossada em 25/09/99)

- Indicada e nomeada pela Prefeitura Municipal de Sorocaba como titular nas áreas : Artes, Livros, Biblioteca, Letras e Ciências Humanas.

Obras Literárias publicadas:
- Livro de poesia “Murmúrios”;
- Livros Infantis da Coleção História em Rima: "O Casamento da Pombinha Rosada", "Tetê o Relógio Sem Tempo", "Kacáu o Periquitinho Bagunceiro", "O Sonho do Ratinho Fofucho", "Chinelos Encantados" e "Zé Sapeca".
- Estigmas

Livro Virtual:
No dia 18 de Abril/2000 - Lançou o livro infantil : Tetê o Relógio sem Tempo, no Clube Virtual com site na Internet.

Fonte:
http://sorocult.com/el/talentos/bio_irani.htm

Irani Alves Genaro (Conto: Aconteceu no Reveyllon)

Seus pensamentos eram como lufadas no cérebro!
Se ao menos fossem como os indesejáveis e-mails invadindo sua caixa de correio, seria fácil livrar-se deles. Bastaria selecionar, depois um simples curvar do indicador na tecla e pronto! Estariam todos excluídos.

E assim ficava ele, horas sentado em sua poltrona, de frente para a porta de entrada de seu luxuoso apartamento, pensando... e pensando. . .

Seu coração parecia saltar pela garganta cada vez que ouvia o interfone; seria ela? Ou eles? Ou todos juntos?
Será que algum dia, ao menos um deles poderia compreender e perdoar seu deslize?

A esperança aquecia-lhe o coração, paralelo ao gelo da consciência, lembrando-o de que a culpa era toda sua.
Esteve casado por vinte e cinco anos, com Eliza, a mulher que lhe dera três belos filhos; Silvio, o mais velho, agora com vinte e três anos, Sergio com vinte e dois e a caçula, Suely, com vinte e um.

Por três anos consecutivos seu lar fora enriquecido com a chegada dos três lindos bebês, presentes que recebera de Deus, através de Eliza.

Ah! Eliza! Quanto daria para poder "elizá-la" agora! Como sofre seu corpo sem o calor do dela!

Naquela noite o prédio em que morava estava quase que vazio, pois era véspera de Ano Novo e a maioria dos moradores, ou já haviam saído de férias ou estavam visitando os parentes com os quais comemorariam a entrada do Ano Bom!

Quantas vezes, nessa data especial, seu próprio apartamento esteve magnificamente decorado por Eliza à espera de seus convidados!

Eliza fazia o melhor ponche de frutas que ele já provara. Sempre havia alguém desejando a receita.

Ah! O que daria por um pouco daquele ponche, agora!

Em suas mãos trêmulas, apertava nervosamente um lenço de seda que havia recebido dela, em seu aniversário de casamento. Ele sempre ouvira dizer que lenços não são um bom presente, pois dizem os supersticiosos que é o tipo de presente que, uma vez ofertado, corre-se o risco de se cortar os laços do relacionamento. Lenço é símbolo de despedida!

Não posso crer nessas baboseiras, pensou!

Desalentado e triste, olha para o relógio que marcava 23 horas, a mesma hora em que foi flagrado um ano atrás quando, na festa de reveyllon, levou ate seu quarto uma morena escultural que lhe fora apresentada por um membro da família, ali mesmo em sua casa, na última festa preparada por Eliza.

Ele era charmoso, bem falante, elegante e muito atraente, qualidades que num instante foram notadas pela bela morena.

Como fazia todos os anos, nesse dia ele não adotava restrições com bebidas alcoólicas. Dizia ele que festa é atividade para se divertir e, já que estava acontecendo em sua própria casa, queria mesmo era aproveitar.

Porém, nessa sua última festa, ele começou a beber desde a hora do almoço, um gesto extremado que lhe custou caro demais.

A casa estava cheia de convidados espalhados por toda parte.

O som da orquestra lá fora, no canto da piscina, transmitia muita sensualidade.

Sem se dar conta do que estava fazendo, Osvaldo pega na mão da bela morena e começam a dançar, afinal, Eliza estava ocupada demais para dançar com ele.

Osvaldo sentiu o perfume embriagador da moça. Ela, por sua vez ,não perdeu tempo em provocá-lo.

Dominado pela bebida, ele se deixa levar pelos instintos carnais, conduz a moça até seu quarto e deita-se com ela ali na mesma cama onde, com Eliza, vivera os melhores momentos de sua vida.

Estavam se beijando quando a porta se abriu e, de repente, bem ali na sua frente, um rosto amado os surpreende.

Jamais poderá esquecer a expressão de dor, amargor e espanto refletidos nos olhos de Eliza!

Ela não disse uma palavra... apenas dirigiu-se ao armário, pegou sua valise de viagem, colocou dentro, rapidamente, o suficiente para uma emergência e saiu. Saiu... para uma viagem sem volta.

A festa acabou naquele momento, aliás, tudo se acabou naquele momento.

Fonte:
http://sorocult.com/el/colunistas/irani/reveyllon.htm

Celso "Marvadão" Ribeiro

Celso Ribeiro nasceu em Santa Catarina, na cidade de Caçador, e foi para Sorocaba em 1965, onde reside até hoje. Tem dois filhos, Eduardo e Vanessa, legítimos sorocabanos.

Estudou no “Estadão”, fez o curso de Letras na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Sorocaba, lecionou Língua Portuguesa e Literatura na rede estadual, como professor efetivo.

Em razão de seu trabalho literário publicado ao longo dos anos na imprensa sorocabana (produzindo poemas, contos, crônicas, comentários e textos humorísticos), o autor é membro da Academia Sorocabana de Letras .

É jornalista e publicitário, proprietário da agência “Marvadão Criações”. Trabalhou nos jornais Folha Popular, Diário de Sorocaba e foi um dos proprietários da Folha de Votorantim. Também é radialista, com passagens pela Rádio Cruzeiro do Sul, Rádio 10 e Jovem Pan, são Paulo.

Há mais de 20 escreve humor para o Jornal O Cruzeiro do Sul (coluna “Tiro e Queda” e hoje “Sapo N’água”) , no qual prestou assessoria de marketing. Foi também assessor de imprensa da Prefeitura de Sorocaba e assessor político.

Escreveu por algum tempo a página de humor “Virado Paulista” no tablóide “Pasquim”, edição de São Paulo.

Celso já foi ator e diretor no Teatro Amador de Sorocaba.

Há poucos anos recebeu da Câmara Municipal de Sorocaba o título de Cidadão Sorocabano.

Editou através da Linc-Sorocaba o livro “Sorocaba Bem te vi- Sorocrônicas “.

Sua agência de publicidade é hoje uma das mais conceituadas da cidade de Sorocaba.

Fonte:

Celso "Marvadão" Ribeiro (Conto: O Sapo e o Escorpião)

(Reconto a história ao estilo de Millôr Fernandes, segundo a ótica do sapo).

E aí, desesperado no meio da tempestade e da inundação, o escorpião pediu socorro ao sapo:

_ Ó amigão anfíbio, sapo-rei da natureza, me acuda, me leve para o outro lado do rio.

O sapo olhou meio desconfiado, mas não iria deixar o pobre vivente morrer ali daquele jeito:

_ Tudo bem, vamos lá, suba aí na minha garupa e se agarre bem.

E lá foram ambos na travessia daquele quase dilúvio ( ou seria Delúbio?). O escorpião não se cansava de elogiar o benfeitor:

_ Sabe, observando bem, até que esse rajado lhe cai muito bem.

_ Croac, deixa disso, escorpião.

_ É verdade. E essa boca, então, combina perfeitamente com o formato do corpo...

_ Agradecido, croac, agradecido, mas preste atenção na correnteza, não vá se soltar.

_ Mais do que isso, amigo do peito e das costas. Nunca tinha observado direito, mas até a sua voz é maviosa e musical.

_ Jura? Depois da minha sapa, você é o primeiro que me diz isso.

_ Tá vendo? Falta aos demais espírito crítico, senso estético e bom gosto.

_ Puxa, mas que surpresa mais agradável. Você é mesmo gente fina. Eu sempre tive uma impressão não muito favorável sobre os escorpiões, a fama não é boa.

_ Que bobagem, é tudo lenda, fofoca.

_ Ó dileto aracnídeo, nada como uma situação crítica como essa para a gente descobrir as virtudes dos seres vivos, quem é mesmo de confiança.

_ Verdade verdadeira, meu bom-samaritano, minha versão caridosa da barca de Caronte. Você até parece o São Cristóvão, ajudando o semelhante a atravessar a correnteza.

O sapo ficou ainda mais inflado de orgulho. Emocionado, confidenciou:

_ Olha, escorpião, você, bacana assim, se for passear na praia, vão pensar que se trata de um siri ou caranguejo com um toque diferente. Nem perceberão o seu ferrão que, aliás, diga-se de passagem, é muito estiloso.

_ Obrigado, ó, batráquio anuro, quanta gentileza de sua parte. Eternamente grato por ter me salvado.

Já chegando a outra margem, o sapo teve uma súbita curiosidade:

_ Me diga aí, escorpião, posso saber qual é o seu signo?

Antes mesmo de responder e de apear do salvador, o escorpião finca o seu ferrão nas costas do sapo, que tomba e olha desesperado para ele:

_ Seu maldito, serpente do mal, tomara que caia numa CPI... Eu salvo a tua vida, te trato como um ser respeitável, e você me envenena, me mata...

E o escorpião, sem qualquer complexo de culpa:

_ Me desculpe, querido sapo, eu sei de tudo isso, mas não posso fazer nada. Essa é a minha natureza.

Já agonizante, o sapo ainda pediu para que o escorpião se aproximasse porque queria fazer um último pedido. O escorpião inocentemente chegou perto e recebeu um jato de mijo nos olhos, ficando cego na hora.

O sapo então sorriu e morreu.

(Moral. Fazer o bem sem olhar a quem é algo divino. Mas uma vingancinha na hora certa também traz felicidade).
Fonte:

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Miguel de Cervantes (Resenha: Dom Quixote)

Candido Portinari (Dom Quixote e Sancho Pança)
A questão fundamental que se coloca quando nos encontramos frente a frente com a figura de D. Quixote é se estamos diante de um homem sensato ou de um louco. Da nossa resposta dependerá todo o relacionamento que, a partir de então, teremos com a imortal obra de Cervantes.

Cervantes dará sua resposta ao longo de duas Partes, a primeira com 52 capítulos e a segunda, com 74. Entre uma e outra, o próprio autor se encarrega de avisar que já anda correndo "pelo orbe" uma Segunda Parte que não foi escrita por ele. De fato, há muitas formas de ler o Quixote...

Logo no Cap. I ficamos sabendo o que aconteceu com o famoso fidalgo que "afinal, rematado já de todo juízo, deu no mais estranho pensamento em que nunca jamais caiu louco algum do mundo, e foi: parecer-lhe conveniente e necessário, assim para aumento de sua honra própria, como para proveito da república, fazer-se cavaleiro andante, e ir-se por todo o mundo, com as suas armas e cavalo, à cata de aventuras(...) desfazendo todo o gênero de agravos, e pondo-se em ocasiões e perigos, donde, levando-os a cabo, cobrasse perpétuo nome e fama" (p. 30).

Daí, e do que já conhecemos do Quixote, sem precisar sequer dar-nos ao trabalho de lê-lo, podemos concluir que possivelmente se trata de um louco, manso, mas louco. Porém, procuremos analisar essa conclusão com algo mais de vagar. Há muitas formas de se encarar a vida e a realidade. Há aqueles que olham para a vida e não vêem nada além do que seus olhos retém. Homens como os descritos por Dickens em "Tempos Difíceis", que não querem decorar a casa com um papel de parede com desenhos floridos pura e simplesmente porque nunca ninguém viu flores nas paredes. Nada mais lógico: as flores encontram-se no campo ou nos vasos, mas nunca num papel de parede.

Homens assim estão feitos para serem práticos, pragmáticos. Sua vida se resolve numa única pergunta: isso serve para quê? Talvez o melhor representante desse tipo de pessoa seja a própria sobrinha de D. Quixote, Antonia Quijana, que no começo da II Parte (Cap. VI) aconselha o tio para que se deixe de bobagens e tenha em conta a idade que tem e não caia no ridículo de andar por aí "endireitando a vida de todos"...

Para esses homens e mulheres, D. Quixote só pode ser um louco. Aliás, o próprio D. Quixote sabe muito bem disso e explica claramente que há duas formas de entender e duas formas de olhar para o mundo. Há uma forma chã, terra a terra, e há uma outra forma, a forma daqueles que estão possuídos por um projeto.

O capítulo XXXI, Parte I é a chave para entender quem é D. Quixote. Sancho fora levar ao Toboso, terra da "sem par Dulcinéia" a carta que D. Quixote escrevera em Sierra Morena para a sua amada. Como Sancho era um homem prático e via que tudo não passava de uma bobagem, nem se preocupou em entregar a carta. Deu uma olhada em Dulcinéia, comprovou que, de fato, era mesmo uma loucura do seu amo, e voltou disposto a fazer ver a D. Quixote que Dulcinéia não era Dulcinéia, mas simplesmente Aldonza Lorenzo.

Sancho diz que Aldonza não leu a carta porque estava atarefada moendo o trigo...

- Discreta senhora -responde D. Quixote-. Isso deve ser para poder lê-la depois mais devagar e saboreá-la melhor.

Sancho não entende como seu amo pode estar tão cego e dá um sinal contundente: Dulcinéia cheira mal. Pior, tem cheiro de homem, e de homem suado...

- Não é bem assim. Deve ser que você mesmo estava ......, ou então, que você se cheirou a si próprio, porque bem sei eu como cheira aquela rosa entre espinhos, aquele lírio do campo, aquele âmbar precioso.

Mesmo assim, Sancho insiste e diz a D. Quixote que sua amada não lhe deu sequer uma jóia de lembrança; que o único que lhe deu foi um pedaço de queijo e outro de pão. D. Quixote sabe ver a grandeza.

- Generosa é em extremo. E se não te deu uma jóia de ouro, é sem dúvida porque não a tinha à mão... (p. 182).

Quem está louco? Quem tem razão o cavaleiro ou o escudeiro? Não se pode esquecer que D. Quixote é um homem com um projeto a realizar, enquanto Sancho não tem projeto algum. E só o homem com projetos é que consegue captar que a realidade é sempre muito maior do que se vê.

Depende do sentido que a vida tiver. E só o homem com projetos é capaz de descobrir e atualizar o sentido e significado da vida.

Escrever é, do começo ao fim, reproduzir a vida ao meu redor através do meu interior, o qual o absorve tudo, o combina tudo, o recria de novo, o amassa e o reproduz em formas e matérias próprias. A criação não é criar e descobrir do nada, mas infundir o entusiasmo do espírito na matéria. (Thomas Mann).

Esse texto de Mann diz tudo: trata-se de infundir entusiasmo em toda a realidade. A realidade não é um bloco monolítico, isolado, à margem da minha vida. Pelo contrário, a realidade está à espera de que nos relacionemos com ela. E essa relação é que é a vida ou, pelo menos, a trama da minha vida. Como muito bem explica Marina, citando a Husserl e Zubiri, é falso afirmar que "vejo o que vejo", como diria Sancho enfaticamente, pensando estar afirmando a verdade mais óbvia do mundo.

Todos temos as mesmas sensações, mas percebemos de acordo com nossos conhecimentos, planos e intenções. Enganamo-nos se pensamos que olhamos para a realidade como se fôssemos um espelho; como se, de certa forma, nossos sentidos e nossa inteligência se comportassem como uma máquina fotográfica, que refletiria a realidade: vejo o que vejo.

Não deveríamos esquecer que o que observamos não é a própria natureza, mas a natureza determinada pelo teor das nossas questões (Heisenberg).

A realidade é colocada em xeque; é submetida a intervenções; é analisada, entrevistada, recortada por nós e, dessa forma, é que é transformada em vida nossa. A minha vida real é a vida que sou capaz de viver dentro da realidade assim trabalhada. E, nesse sentido, D. Quixote não é louco, é apenas um homem apaixonado, um homem disposto a viver a vida com um projeto.

Por isso, quando depois de ter sofrido vilipêndios e desgraças, se encaminham pela Mancha à procura de um lugar de repouso e as suas coisas iam encaminhando de bem a melhor, [porque]ainda não tinham andado uma pequena légua, quando lhes deparou o caminho e nele descobriram uma venda que, a pesar seu [de Sancho], e a contento de D. Quixote, devia ser um castelo. Sancho porfiava que era venda e seu amo que não, porém castelo...(Parte I, Cap. XV, p. 88).

Enquanto que todos olhavam para a Maritornes -que era o nome da moça que "atendia" à venda- como "moça para se refocilar juntos", D. Quixote enxergava uma princesa, que veio ver o malferido cavaleiro, vencido de amores, com todos os adornos que aqui se declaram. Tamanha era a cegueira do pobre fidalgo, que nem o tato, nem o cheiro, nem outras coisas, que em si trazia a boa donzela, o desenganavam, com serem tais, que fariam vomitar a quem quer que não fosse arrieiro; antes lhe parecia que tinha nos braços a deusa da formosura...(Idem, p. 90).

D. Quixote não está louco, simplesmente passou a ser visto como louco ou visionário por todos aqueles que, sensata e racionalmente, acham que a vida é para ser apenas vivida. D. Quixote pertence à categoria de homens que não aceitam curvar-se à facticidade do acontecer humano. Há uma irrealidade, extremamente poderosa, que não é ficcional nem fantástica. É a irrealidade do projeto, do sonho, da utopia, que envolve e entusiasma o homem, extraindo dele o máximo de si e carregando-o de felicidade. É por isso que o Quixote vê o famoso elmo de Mambrino, enquanto Sancho vê apenas uma bacia carregada por um barbeiro:

Como no caminho lhe começou a chover, receoso [o barbeiro] de que lhe estragasse o chapéu, que naturalmente seria novo, pôs-lhe por cima a bacia, que, por estar areada de pouco tempo, resplandecia a meia légua de distância. Vinha montado num asno pardo, como Sancho dissera, e esse é que ao fidalgo se figurou cavalo ruço rodado; o mestre, cavaleiro; e a bacia elmo de ouro (Parte I, Cap. XXI, p. 115).

Cervantes é consciente de que a decisão do Quixote de tornar-se um "cavaleiro andante" -o seu projeto: é mister andar pelo mundo buscando as aventuras como escola prática, para que, saindo algum grande monarca, já o cavaleiro seja conhecido pelas suas obras...(Parte I, Cap. XXI, p. 118).- configura a sua forma de ver as coisas. Por isso afirma, a continuação da história do elmo de Mambrino: "Tinha isso de si: quantas coisas via, logo pelo ar as acomodava às suas desvairadas cavalarias e descaminhados sonhos" (Idem).

O projeto é algo pensado, escolhido, deliberado, "ao qual entrego o controle da minha conduta. É precisamente essa característica projetiva -Marías dirá futuriça - que amplia e enriquece o campo de ação do homem e lhe permite sair dos estreitos limites do mundo racional e formal. Passa-se a viver criativamente. O enamorado de um ideal é muito mais normal do que todos aqueles que não são capazes de compreendê-lo. O projeto, ao colocar-se como meta a ser realizada, consegue ampliar o campo de liberdade do homem. A partir desse momento a sua vida dá-se além da estatística e da lógica. A lógica formal, o método matemático são tentativas de apreender a realidade, mas a realidade é muito mais do que o método compreensivo e vai muito mais além do que um simples modelo explicativo. Pode acontecer que o homem, quando completamente entusiasmado pelo seu projeto, não saiba bem para onde está indo, como acontecia com D. Quixote. Pode até não resolver muitos problemas que irão surgindo na sua frente, como também acontecia com D. Quixote, mas é sem dúvida alguma a melhor maneira de viver criativamente. Tudo o que hoje é permanente na história foi, nos seus começos, puro quixotismo.

É evidente que esta forma de viver está em rota de colisão com o padrão racionalizado, funcional e tecnologizado da sociedade contemporânea, mais preocupada com os "meios" do que com os "fins". A técnica tem em si a sua própria razão de ser: não importa o para quê; não se discute se os meios tecnológicos serão bem ou mal utilizados. A eficácia é o único critério de verificação. Pode-se criticar D. Quixote de não preocupar-se se os seus esforços davam ou não davam resultados. E, de fato, nunca se preocupou da eficácia das suas ações. Não era esse o padrão comportamental do cavaleiro da Mancha. A sua eficácia consistia na sua entrega entusiasmada ao seu projeto. Num mundo dominado pela razão técnica, o homem é obrigado a pautar-se pela eficácia e pela produção. Tudo o mais é sonho, utopia inútil. Parece-me oportuno lembrar aqui umas palavras de Marías:

Quando o trabalho é demasiado impessoal, quando se realiza por acumulação de materiais e informações, quando interessa mais o resultado e o sucesso do que a própria realização da tarefa, a ilusión desaparece; acredito que isso afeta decisivamente à qualidade, e ainda mais à personalidade da obra, que acaba por ser em muitos casos intercambiável, em lugar de estar ligada à mais profunda realidade do autor.

Quando D. Quixote realiza qualquer aventura está olhando para a própria tarefa a ser realizada. Tem uma dimensão imanente, ou seja, sabe que a perfeição da ação não está propriamente na eficácia do agir, mas na qualidade da própria ação. O homem aperfeiçoa-se no ato, através do agir.

Esse é o ensinamento da tradição clássica grega: o agir segue o ser. Por isso, enquanto o fidalgo liberta os presos no capítulo XXII da Parte I, vai dizendo ao mesmo tempo:se bem vos castigaram por vossas culpas, as penas que ides padecer nem por isso vos dão muito gosto, e que ides para elas muito a vosso pesar e contra a vontade, e que bem poderia ser que o pouco ânimo daquele nos tratos, a falta de dinheiro neste, os poucos padrinhos daqueloutro, e finalmente que o juízo torto do magistrado fossem causa de vossa perdição, e de se vos não ter feito a justiça que vos era devida. Tudo isto se me representa agora no ânimo, de maneira que me está dizendo, persuadindo e até forçando, que mostre em favor de vós outros o para que o céu me arrojou ao mundo, e me fez nele professar a ordem de cavalaria que professo, e o voto que nela fiz de favorecer os necessitados, e aos oprimidos pelos maiores que eles...(Parte I, Cap. XXII, p. 125).

O Quixote age conforme ao seu projeto, mesmo que depois os próprios libertados nem lhe agradeçam e mesmo que acabem por apredejá-lo. O Quixote age de acordo com a sua utopia: realizar a justiça e ganhar a fama; quanto ao resto...que cada um se veja com o seu pecado: há Deus nos céus, que não descura de castigar o mau e premiar o bom. (Idem).

A utopia cria um espaço entre as possibilidades e a realidade. E dentro desse espaço é que o homem age e se realiza. De certa forma, o homem começa a ver diferente a partir da utopia e do projeto que o entusiasmam.

As coisas não se apresentam da mesma forma para um espectador, para um lavrador ou para um compositor. O projeto altera o significado das coisas: as coisas mais singelas e insignificantes podem passar a ter um enorme significado ou, então, podem continuar carecendo dele.

Era isso que acontecia com o cura e o barbeiro e a sobrinha. Para eles, o que realizava D. Quixote carecia de sentido e é por isso que vão à sua procura e conseguem fazê-lo voltar para sua casa, começando a Segunda Parte com um D. Quixote convalescente na cama, repondo-se do "mal da cavalaria" e tendo uma conversa com a sua sobrinha que Cervantes intitula "Capítulo dos mais importantes desta história toda" (Parte II, Cap. VI, p. 334) onde deixa transparecer uma outra forma de olhar para os mesmos fatos, um olhar sem projetos:

- Ah! Senhor meu -acudiu a sobrinha- repare Vossa Mercê que tudo isso que diz dos cavaleiros andantes é fábula e mentira, e as suas histórias, a não serem queimadas, mereciam que se lhe pusesse a cada uma um sambenito, ou algum outro sinal, para que fosse conhecida por infame e destruidora dos bons costumes (...) Valha-me Deus! Saber Vossa Mercê tanto, que, se fosse mister, podia numa urgência subir ao púlpito ou ir a pregar por essas ruas, e com tudo isso cair numa insensatez tão óbvia, que dê a entender que é valente, sendo velho, que tem forças, estando enfermo, e que endireita tortos, estando derreado pela idade, e sobretudo que é cavaleiro, não o sendo, porque, ainda que o possam ser os fidalgos, nunca o são os pobres!

Quando D. Quixote volta a sair da sua cidade, ainda carrega o "desencanto" do olhar da sobrinha e, por isso, quando, de repente, na entrada de El Toboso se encontram com Dulcinéia e duas aldeãs amigas, o próprio D. Quixote vê apenas, como ele mesmo diz: "três lavradeiras montadas em três burricos(...) é tão verdade o serem burricos ou burricas como ser eu Dom Quixote e tu Sancho Pança. Pelo menos assim me parecem". Como Sancho quisesse divertir-se, fingiu que Dulcinéia fosse uma princesa e passou a ajoelhar-se perante ela e a tratá-la como tal. D. Quixote, então, voltou a ser o que era e, mesmo continuando a ver três aldeãs, pensou de maneira diferente e disse dirigindo-se à sua Dulcinéia:

E tu, extremo de perfeição, último termo da gentileza humana, remédio único deste aflito coração que te adora. Já que um maligno nigromante pôs nuvens e cataratas nos meus olhos, e só para eles e não para outros mudou e transformou o teu rosto formoso no de uma pobre lavradeira.... (Parte II, Cap. X, p. 350).

Volta dessa maneira D. Quixote a olhar para o mundo desde a sua utopia. E vão transcorrendo os capítulos e o próprio Sancho, feito governador de uma ilha, vai compartilhando da utopia de D. Quixote. A estratégia para trazer D. Quixote de volta é transfigurar-se de cavaleiro da Branca Lua e desafiá-lo em combate. Mesmo derrotado, o fidalgo não deixa de expressar sua devoção por Dulcinéia:

Dulcinéia de El Toboso é a mais formosa mulher do mundo e eu o mais infeliz cavaleiro da terra, e não estaria certo que a minha fraqueza defraudasse esta verdade; aperta, cavaleiro, a tua lança e tira-me a vida, já que me tiraste a honra (Parte II, Cap. LXIV, p. 572).

Era loucura? Parece mais um sonho descontrolado. O projeto a ser realizado, quando é bom, sempre coloca o homem além dos seus próprios limites. O homem entrega-se à tarefa sem ter tudo definido previamente, sem saber exaustivamente o que vai acontecer e, então, sem que estivesse previsto, consegue-se o fruto que nos ultrapassa.

Quando D. Quixote está à beira da morte mostra-se completamente lúcido. Não tomara nenhum remédio. Está querendo que todos escutem suas últimas palavras. Dá a impressão de estar respondendo a Maquiavel e a todos os renacentistas que tanto acreditaram no papel da deusa fortuna.

O que te posso dizer é que não há fortuna no mundo, nem as coisas que sucedem, boas ou más, sucedem por acaso, mas sim por especial providência dos céus

Qual foi o erro de D. Quixote? Por isso costuma-se dizer que cada um é artífice da sua ventura, e eu o fui da minha, mas não com a prudência necessária (...) Atrevi-me, fiz o que pude, derribaram-me, e, ainda que perdi a honra, não perdi nem posso perder a virtude de cumprir a minha palavra (Parte II, Cap. LXVI, p. 576).

O sonho realiza-se além dos nossos sonhos. É só nessa altura que conseguimos ousar, atrever-nos, correr o risco do fracasso. Mas é só assim que o homem tem a possibilidade de entusiasmar-se. O entusiasmo é exatamente o oposto do auto-controle e do auto-domínio.

Etimologicamente, significa estar no controle e nas mãos de Deus, estar fora de si, absorvido no que se está realizando. Mas isso não é a condição dos loucos e, sim, dos apaixonados.

O que mais pode descobrir aos nossos próprios olhos quem somos de verdade, isto é, quem pretendemos ser, é o balanço insubornável do nosso entusiasmo. Onde estão colocados nossos sonhos, e com que força? Que empresa ou trabalho preenche a nossa vida e nos faz sentir que, por um momento, somos nós próprios? Que presença orienta a nossa expectativa, que antecipação nos polariza, estende o arco do nosso projeto e se converte no alvo involuntário e irremediável do mesmo?

Fontes:
RUIZ, Rafael. Resenha do livro Dom Quixote. Disponível em
http://www.portrasdasletras.com.br
Pintura =
http://www.proa.org/

Érico Veríssimo (Resumo: Olhai os Lírios do Campo)

Olhai os lírios do campo é um dos romances mais famosos de Érico Veríssimo. Um verdadeiro best-seller que resultou até em novela na Argentina. A narrativa da primeira parte é feita em flashback. Eugênio vai lembrando de momentos da sua vida enquanto se dirige ao hospital onde está Olívia.

Eugênio era um menino tímido e medroso. Teve uma infância pobre, era ridicularizado na escola e tinha como objetivo máximo a ascensão social, faria de tudo para um dia vencer na vida. Achava que o que tinha era feio e sem graça, das roupas até o seu próprio corpo. Não se entrosava com os demais colegas de classe e por isso devotava todo o seu tempo aos estudos. Sonhava em deixar de ser simplesmente o Genoca para ser o Dr. Eugênio Fontes.

Tinha pena do pai, o alfaiate Ângelo, com quem não conseguia se comunicar facilmente. O seu irmão, Ernesto, não esmerava-se na educação e acabou perdido na vida. Com muito esforço, Eugênio consegue cursar Medicina. Na Faculdade conhece Olívia - única mulher da turma. Na festa de formatura os dois se aproximam e fazem sonhos e confissões juntos, sobre o futuro. Tornam-se grandes amigos.

Durante a revolução de 30, após uma operação mal sucedida no hospital militar, Olívia convida Eugênio a sua casa e passam uma noite de amor. Dias depois, Olívia recebe uma proposta para trabalhar em Nova Itália, e novamente se entrega aos braços de Eugênio.

Durante um atendimento médico, Eugênio conhece Eunice Cintra - filha de um riquíssimo proprietário. Eugênio casa-se com Eunice com objetivo único de ascender socialmente. O sogro trata de arranjar um emprego de fachada ("assinar documentos") numa de suas fábricas. Eugênio começa a freqüentar a alta sociedade, mas não se sente parte dela. O seu complexo de inferioridade aumenta ao ver os contrastes desse outro mundo, de emoções contidas, de meias-palavras. Conhece pessoas como Filipe Lobo, construtor obstinado a construir o "Megatério", um arranha-céu, mas não se importava com a família. Infeliz e perturbado, Eugênio reencontra Olívia que lhe apresenta a sua filha, fruto do último encontro dos dois, Anamaria. Ao chegar no Hospital onde estava Olívia, recebe a notícias de sua morte.

A segunda parte passa-se após a morte de Olívia e é intercalada com a leitura das cartas que ela escreveu para Eugênio sem nunca ter enviado. Eugênio toma coragem e separa-se de Eunice - apesar de todos os incovenientes sociais. Vai além, passa a ser um médico popular, com idéias de socializar a medicina. Trabalha com o Dr Seixas, um velho médico que sempre atendeu aos pobres. A memória de Olívia, nas cartas, nas fotos ou no olhar de Anamaria, o fortalece quando pensa nas dificuldades.

O original da obra, com correções a mão feitas por Érico Veríssimo, encontra-se hoje na gigantesca biblioteca de José Midlin.

Fonte:
Renato Lima, in Digerati. CEC 0004 (CD Rom)

José de Alencar (Resumo: A Pata da Gazela)

O romance “A Pata da Gazela” foi escrito baseado no conto “A Cinderela”. O autor aproveita-se do enredo, no qual uma jovem, ao entrar apressada dentro de uma carruagem, perde um par de seu sapato, que é encontrado por um rapaz. Inquietado pelo calçado, ele sai à procura da dona do objeto, não desistindo até encontrá-la. À partir daí, o romancista desenvolve seu enredo, um texto irônico e crítico sobre a sociedade brasileira do século XIX.

Em resumo, a história se passa na cidade do Rio de Janeiro, em pleno século "burguês". Após o descuido de um lacaio ao carregar um pacote, um dos sapatos que estava dentro do embrulho, pertencentes a duas jovens (Amélia e Laura) que esperavam em um carro pelo servo, caiu no chão. Horácio, um vistoso rapaz que andava por ali naquele momento, percebeu a cena e apoderou-se do sapatinho que outrora caíra. Ao mesmo tempo, outro rapaz, Leopoldo, foi atraído pela confusão causada pelas moças, apressadas, e se deslumbrou com o vulto de uma "deusa", na verdade, o de Amélia. Porém, não consegue identificar um rosto.

A partir desta situação, os dois apaixonados iniciam uma busca pelas suas donzelas, contada comicamente, por José de Alencar.

Érico Veríssimo (Resumo: Clarissa)

Modernismo de segunda fase.
Clarissa é uma jovem de 13 anos que mora na pensão da tia enquanto estuda em Porto Alegre. Ela é uma jovem curiosa, descobrindo o mundo, a adolescência e a vida. Não gosta muito de escola, sente saudades da fazenda em sua cidade natal, Jacarecanga e observa as pessoas que moram na pensão da tia e na vizinhança: Ondina, a infiel esposa de Barata; Amaro, o músico triste e contemplativo; o distraído major; a conservadora tia e seu desempregado marido; a família rica que mora ao lado e a viúva com o filho mutilado. Este último, Tonico, perdeu as duas pernas num acidente de bonde e sonha em marchar com exércitos. Frágil, acaba morrendo. Quanto a Amaro, este sempre contempla Clarissa, sua juventude, sua inocência, sua beleza aflorando da menina que vai se tornando moça. Clarissa faz 14 anos (e ganha permissão para usar salto alto) e passa na escola. O livro acaba com Clarissa voltando para Jacarecanga (e encontrar o primo Vasco) enquanto Amaro fica triste na pensão a pensar nela. O primeiro romance de Érico Veríssimo, Clarissa apresenta um panorama da vida de uma jovem na Porto Alegre de 1932 e começa a história que se estenderá por seus romances da primeira fase.
Fonte:
Digerati. CEC 0004. (CD Rom)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Textos Infantis: Modalidades (Cristiane Madanelo de Oliveira)

Estudo das diversas modalidades de textos infantis

Fábulas (do latim- fari - falar e do grego - Phao - contar algo)

Narrativa alegórica de uma situação vivida por animais, que referencia uma situação humana e tem por objetivo transmitir moralidade. A exemplaridade desses textos espelha a moralidade social da época e o caráter pedagógico que encerram. É oferecido, então, um modelo de comportamento maniqueísta; em que o "certo" deve ser copiado e o "errado", evitado. A importância dada à moralidade era tanta que os copistas da Idade Média escreviam as lições finais das fábulas com letras vermelhas ou douradas para destacar.

A presença dos animais deve-se, sobretudo, ao convívio mais efetivo entre homens e animais naquela época. O uso constante da natureza e dos animais para a alegorização da existência humana aproximam o público das "moralidades". Assim apresentam similaridade com a proposta das parábolas bíblicas.

Algumas associações entre animais e características humanas, feitas pelas fábulas, mantiveram-se fixas em várias histórias e permanecem até os dias de hoje.
leão - poder real lobo - dominação do mais forte
raposa - astúcia e esperteza cordeiro - ingenuidade

A proposta principal da fábula é a fusão de dois elementos: o lúdico e o pedagógico. As histórias, ao mesmo tempo que distraem o leitor, apresentam as virtudes e os defeitos humanos através de animais. Acreditavam que a moral, para ser assimilada, precisava da alegria e distração contida na história dos animais que possuem características humanas. Desta maneira, a aparência de entretenimento camufla a proposta didática presente.

A fabulação ou afabulação é a lição moral apresentada através da narrativa. O epitímio constitui o texto que explicita a moral da fábula, sendo o cerne da transmissão dos valores ideológicos sociais.
Acredita-se que esse tipo de texto tenha nascido no século XVIII a.C., na Suméria. Há registros de fábulas egípsias e hindus, mas atribui-se à Grécia a criação efetiva desse gênero narrativo. Nascido no Oriente, vai ser reinventado no Ocidente por Esopo (Séc. V a.C.) e aperfeiçoado, séculos mais tarde, pelo escravo romano Fedro (Séc. I a.C.) que o enriqueceu estilisticamente. Entretanto, somente no século X, começaram a ser conhecidas as fábulas latinas de Fedro.

Ao francês Jean La Fontaine (1621/1692) coube o mérito de dar a forma definitiva a uma das espécies literárias mais resistentes ao desgaste dos tempos: a fábula, introduzindo-a definitivamente na literatura ocidental. Embora tenha escrito originalmente para adultos, La Fontaine tem sido leitura obrigatória para crianças de todo mundo.

Podem-se citar algumas fábulas imortalizadas por La Fontaine: "O lobo e o cordeiro", "A raposa e o esquilo", "Animais enfermos da peste", "A corte do leão", "O leão e o rato", "O pastor e o rei", "O leão, o lobo e a raposa", "A cigarra e a formiga", "O leão doente e a raposa", "A corte e o leão", "Os funerais da leoa", "A leiteira e o pote de leite".

O brasileiro Monteiro Lobato dedica um volume de sua produção literária para crianças às fábulas, muitas delas adaptadas de Fontaine. Dessa coletânea, destacam-se os seguintes textos: "A cigarra e a formiga", "A coruja e a águia", "O lobo e o cordeiro", "A galinha dos ovos de ouro" e "A raposa e as uvas".

Contos de Fadas

Quem lê "Cinderela" não imagina que há registros de que essa história já era contada na China, durante o século IX d. C.. E, assim como tantas outras, tem-se perpetuado há milênios, atravessando toda a força e a perenidade do folclore dos povos, sobretudo, através da tradição oral.

Pode-se dizer que os contos de fadas, na versão literária, atualizam ou reinterpretam, em suas variantes questões universais, como os conflitos do poder e a formação dos valores, misturando realidade e fantasia, no clima do "Era uma vez...".

Por lidarem com conteúdos da sabedoria popular, com conteúdos essenciais da condição humana, é que esses contos de fadas são importantes, perpetuando-se até hoje. Neles encontramos o amor, os medos, as dificuldades de ser criança, as carências (materiais e afetivas), as auto-descobertas, as perdas, as buscas, a solidão e o encontro.

Os contos de fadas caracterizam-se pela presença do elemento "fada". Etimologicamente, a palavra fada vem do latim fatum (destino, fatalidade, oráculo).

Tornaram-se conhecidas como seres fantásticos ou imaginários, de grande beleza, que se apresentavam sob forma de mulher. Dotadas de virtudes e poderes sobrenaturais, interferem na vida dos homens, para auxiliá-los em situações-limite, quando já nenhuma solução natural seria possível.

Podem, ainda, encarnar o Mal e apresentarem-se como o avesso da imagem anterior, isto é, como bruxas. Vulgarmente, se diz que fada e bruxa são formas simbólicas da eterna dualidade da mulher, ou da condição feminina.

O enredo básico dos contos de fadas expressa os obstáculos, ou provas, que precisam ser vencidas, como um verdadeiro ritual iniciático, para que o herói alcance sua auto-realização existencial, seja pelo encontro de seu verdadeiro "eu", seja pelo encontro da princesa, que encarna o ideal a ser alcançado.

Estrutura básica dos contos de fadas
Início - nele aparece o herói (ou heroína) e sua dificuldade ou restrição. Problemas vinculados à realidade, como estados de carência, penúria, conflitos, etc., que desequilibram a tranqüilidade inicial;
Ruptura - é quando o herói se desliga de sua vida concreta, sai da proteção e mergulha no completo desconhecido;
Confronto e superação de obstáculos e perigos - busca de soluções no plano da fantasia com a introdução de elementos imaginários;
Restauração - início do processo de descobrir o novo, possibilidades, potencialidades e polaridades opostas;
Desfecho - volta à realidade. União dos opostos, germinação, florescimento, colheita e transcendência.

Lendas (do latim legenda/legen - ler)

Nas primeiras idades do mundo, os seres humanos não escreviam, mas conservavam suas lembranças na tradição oral. Onde a memória falhava, entrava a imaginação para suprir-lhe a falta. Assim, esse tipo de texto constitui o resumo do assombro e do temor dos seres humanos diante do mundo e uma explicação necessária das coisas da vida.

A lenda é uma narrativa baseada na tradição oral e de caráter maravilhoso, cujo argumento é tirado da tradição de um dado lugar. Sendo assim, relata os acontecimentos numa mistura entre referenciais históricos e imaginários. Um sistema de lendas que tratem de um mesmo tema central constiruem um mito (mais abrangente geograficamente e sem fixação no tempo e no espaço).

A respeito das lendas, registra o folclorista brasileiro Câmara Cascudo no livro Literatura Oral no Brasil:

Iguais em várias partes do mundo, semelhantes há dezenas de séculos, diferem em pormenores, e essa diferenciação caracteriza, sinalando o típico, imobilizando-a num ponto certo da terra. Sem que o documento histórico garanta veracidade, o povo ressuscita o passado, indicando as passagens, mostrando, como referências indiscutíveis para a verificação racionalista, os lugares onde o fato ocorreu. (CASCUDO, 1978 , p. 51)

A lenda tem caráter anônimo e, geralmente, está marcada por um profundo sentimento de fatalidade. Tal sentimento é importante, porque fixa a presença do Destino, aquilo contra o que não se pode lutar e demonstra o pensamento humano dominado pela força do desconhecido.

O folclore brasileiro é rico em lendas regionais. Destacam-se entre as lendas brasileiras os seguintes títulos: "Boitatá", "Boto cor-de-rosa", "Caipora ou Curupira", "Iara", "Lobisomem", "Mula-sem-cabeça", "Negrinho do Pastoreio", "Saci Pererê" e "Vitória Régia".

Nas primeiras idades do mundo, os homens não escreviam. Conservavam suas lembranças na tradição oral. Onde a memória falhava, entrava a imaginação para supri-la e a imaginação era o que povoava de seres o seu mundo.

Todas as formas expressivas nasceram, certamente, a partir do momento em que o homem sentiu necessidade de procurar uma explicação qualquer para os fatos que aconteciam a seu redor: os sucessos de sua luta contra a natureza, os animais e as inclemências do meio ambiente, uma espécie de exorcismo para espantar os espíritos do mal e trazer para sua vida os atos dos espíritos do bem.

A lenda, em especial as mitológicas, constitui o resumo do assombro e do temor do homem diante do mundo e uma explicação necessária das coisas. A lenda, assim, não é mais do que o pensamento infantil da humanidade, em sua primeira etapa, refletindo o drama humano ante o outro, em que atuam os astros e meteoros, forças desencadeadas e ocultas.

A lenda é uma forma de narrativa antiqüíssima, cujo argumento é tirado da tradição. Relato de acontecimentos, onde o maravilhoso e o imaginário superam o histórico e o verdadeiro.

Geralmente, a lenda está marcada por um profundo sentimento de fatalidade. Este sentimento é importante, porque fixa a presença do Destino, aquilo contra o que não se pode lutar e demonstra, irrecusavelmente, o pensamento do homem dominado pela força do desconhecido.

De origem muitas vezes anônima, a lenda é transmitida e conservada pela tradição oral.

Poesia

O gênero poético tem uma configuração distinta dos demais gêneros literários. Sua brevidade, aliada ao potencial simbólico apresentado, transforma a poesia em uma atraente e lúdica forma de contato com o texto literário.

Há poetas que quase brincam com as palavras, de modo a cativar as crianças que ouvem, ou lêem esse tipo de texto. Lidam com toda uma ludicidade verbal, sonora e musical, no jeito como vão juntando as palavras e acabam por tornar a leitura algo muito divertido.

Como recursos para despertar o interesse do pequeno leitor, os autores utilizam-se de rimas bem simples e que usem palavras do cotidiano infantil; um ritmo que apresente certa musicalidade ao texto; repetição, para fixação da idéias, e melhor compreensão dentre outros.

Pode-se refletir, acerca da receptividade das crianças à poesia, lendo as considerações de Jesualdo:
"(...) a criança tem uma alma poética. E é essencialmente criadora. Assim, as palavras do poeta, as que procuraram chegar até ela pelos caminhos mais naturais, mesmo sendo os mais profundos em sua síntese, não importa, nunca serão melhor recebidas em lugar algum do que em sua alma, por ser mais nova, mais virgem (...)"
Fonte:
OLIVEIRA, Cristiane Madanêlo de. Estudo das diversas modalidades de textos infantis. Disponível em http://www.graudez.com.br/litinf/textos.htm#Fabulas

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Camões

Fonte:

Sobre o Ler e o Reler (Raymundo Silveira)

Pela primeira frase de um texto o leitor costuma decidir se continua ou não a lê-lo. É o que está acontecendo com este precisamente agora. Por que estou tão certo disto? Simplesmente porque leio todos os dias desde os nove ou dez anos de idade, encontro-me na faixa de leitores considerada média que engloba a maioria de quem se interessa por leitura, e ajo exatamente assim.

Obviamente, logo mais tarde ele voltará a decidir se quer ou não prosseguir, mas se as primeiras palavras não o interessarem e supondo que se trata de uma leitura por prazer, e não por obrigação, como sucede com quem estuda uma disciplina que detesta, simplesmente porque quer entrar numa faculdade e por isso tem de passar no vestibular, pelo menos o primeiro parágrafo será decisivo para a sua leitura integral.

Ocorre quanto à escrita algo muito semelhante ao que sucede quanto ao cinema. Dizem que certa vez um repórter perguntou a Billy Wilder qual seria a principal razão do seu sucesso como diretor cinematográfico, haja vista que a maioria dos seus filmes se baseia em roteiros aparentemente triviais, e ele respondeu com uma frase de seis palavras: "É simples: basta não ser chato!"

O que me motivou esta escrevinhação foram as palavras de um escritor amigo meu quando amigos comuns o solicitaram a postar os seus textos em mais de um dos sites da Internet e ele se saiu assim: "Não gosto de reprises; de reprises só gosto dos gols do Pelé!" Não concordo absolutamente com isto, a menos que se trate dos textos de um escritor pra lá de chato, o que certamente não é o caso dele, pois tenho o costume de ler os seus escritos por mais de uma vez, do começo ao fim.

Então, a menos que a pessoa deteste ler e seja viciada em futebol, não há como trocar, releituras sucessivas de bons autores pela chatice de ver por diversas vezes o mesmo balão cheio de ar entrando entre três paus, por mais habilidoso que seja o jogador, e por mais espetacular que tenha sido a sua jogada. Se, somente a intensidade do prazer não dispensasse maiores comentários, acrescentaria tantas vantagens da repetição de boas leituras em relação à de lindos gols que, aí sim, me tornaria superchato apenas pela obviedade.

Um tempero a mais a fim de tornar palatável uma escrevinhação é uma pitada de humor. Há textos, aparentemente ocos, mas o autor conhece um macete; uma espécie de erva irresistível, que atrai a atenção de qualquer leitor. Não pretendo ter a audácia de dizer que conheço este tempero, mas todas as vezes que começo a escrevinhar me lembro da frase de Billy e me ponho na situação de alguém que iria ler aquilo que pretendo pôr no papel. Certa ocasião redigi um escrito sobre o tema: "Como Escrever Sobre Um Assunto Que Consiste Em Não ter Assunto Para Escrever". Como se pode aparentemente deduzir, tinha tudo para não ser lido. Pois recebi inúmeros e-mails favoráveis e o mais sóbrio deles dizia que quem o escreveu conseguiria tirar leite de pedras. Mas como tirar leite de pedras e este ser bebível, ao mesmo tempo? Em outras palavras, o que é ser ou não ser chato? Falar simplesmente que um texto chato é aquele que não atrai o leitor é o mesmo que dizer que as trevas são indesejáveis porque nelas não se podem enxergar os objetos e nem as pessoas.

Então, como evitar a chatice? Simplesmente tentando ser original, criativo e evitando obviedades, linguagem rebuscada e repetitiva. Se eu tivesse começado o presente texto por um período como este, por exemplo, dificilmente alguém o teria lido até aqui: "Toda leitura, para ser prazerosa e eficaz, deve ser feita num ambiente confortável, calmo, silencioso e isolado das demais pessoas, do contrário ela não surtirá o efeito que se pretende adquirir, pois daquelas quatro características dependerá o desiderato que alguém almejará alcançar". Acho que fui por demais complacente; certamente o leitor não teria passado daí, ou sequer o tivesse lido todo. E, se acaso caísse agora na tentação de querer mostrar onde está a carência de originalidade e criatividade, bem como, a sua obviedade e a linguagem rebuscada e repetitiva, me tornaria mais chato ainda do que ele.
Fonte:

Sir Arthur Conan Doyle (1859 - 1930)

Sir Arthur Conan Doyle, criador do mais famoso detetive do mundo, Sherlock Holmes, e autor de suas sessenta histórias, nasceu em Edimburgo no dia 22 de Maio de 1859. Filho de Charles Doyle, pintor casual de descendência Irlandesa, e Mary Foley Doyle, também de parentesco Irlandês.

Em Outubro de 1876, Conan Doyle ingressou na Universidade de Edimburgo a fim de formar-se em medicina. Foi lá que conheceu o Dr. Joseph Bell, cirurgião do Hospital de Edimburgo e professor na Universidade, cujos surpreendentes métodos de dedução e análise serviram de grande inspiração na futura criação de seu detetive. De maneira similar a Holmes, o Dr. Bell explicava os sintomas de seus pacientes, até mesmo contava-lhes detalhes de suas vidas, antes que eles pronunciassem uma palavra sequer.

Incentivado pelos conselhos de um amigo, que mencionara como suas cartas eram expressivas, Conan Doyle percebeu que algum dinheiro poderia ser efeito fora do campo medicinal. Foi então que ele escreveu sua primeira história, "O Mistério de Sassassa Valley", publicada, anonimamente, por míseros três guinéus no Chamber's Journal, em 1879. O conto revela sua precoce idéia da aparição de uma "besta demoníaca", tema que ele mais tarde explorou na mais famosa história de Sherlock Holmes, "O Cão dos Baskervilles".

Foi nas horas de ócio em seu consultório médico que Doyle começou a esboçar o que mais tarde seria seu detetive. Inspirado em Gaboriau, no detetive Dupin, de Poe, e logicamente, no seu tutor Joseph Bell, Conan Doyle criou a primeira versão do que seria o detetive que conhecemos hoje - um tal de Sherringford Holmes, posteriormente Sherlock Holmes.

Depois de muitas tentativas e frustrações, Doyle conseguiu que sua primeira história estrelando o detetive e seu escudeiro Watson fosse publicada. "Um Estudo em Vermelho" apareceu na Beeton's Christmas Annual, em 1887. A boa aceitação do público levou-o a escrever sua segunda história de Holmes, o "Signo dos Quatro". O detetive começava a chamar a atenção, atraindo aos poucos o que se tornariam mais tarde fiéis leitores.

Nos intervalos das histórias do detetive, Doyle dedicou-se a obras "mais sérias", mais apreciadas pelo escritor, como "A Companhia Branca", "As Façanhas do Brigadeiro Gerard" e "Micah Clarke". Esse último, um grande sucesso. Doyle acabou, assim, abandonando a medicina para seguir definitivamente a carreira literária.

As histórias de Sherlock Holmes tornavam-se mais e mais populares, obrigando Conan Doyle a continuar criando casos para seu detetive. E quanto mais vezes o detetive expunha suas habilidades para o público estupefato, mais as outras obras de Doyle tornavam-se obscurecidas. Em 1891, escreveu à sua mãe: "Tenho pensado em matar Holmes... e livrar-me dele para sempre. Ele mantém minha mente afastada de coisas melhores".

A idéia de acabar com Holmes permanecera com Doyle, e durante sua visita à Suíça, em 1893, conheceu as cataratas Reichenbach, local que escolheu como palco para o encontro fatal entre Holmes e o Professor Moriarty. Pretendia, assim, pôr um fim às histórias de Holmes e dar espaço às suas obras mais clássicas.

Para a grande surpresa de Doyle, a morte de Sherlock Holmes, publicada em 1893 no caso "O Problema Final", chocou milhares de pessoas de todos os cantos do mundo. Muitos marcharam em luto pelas ruas de Londres, em protesto. O público não se conformava e clamava pela volta do detetive.

Assim, em meio a um turbilhão de protestos e insultos, Doyle foi obrigado a ressuscitar seu detetive no caso "A Casa Vazia", em 1903. Era a prova de que a criatura tornara-se mais forte do que o criador. Sherlock Holmes tinha tornado-se imortal.

No final de 1899, o conflito iminente entre a Inglaterra e a África do Sul deu a Doyle, um fervoroso patriota, a possibilidade de auxiliar seu país. Conseguiu a supervisão de um hospital estabelecido na África, onde tomou posto em 1900.

Juntamente com a guerra, veio de todo o mundo um surto de críticas contra a conduta do Império Britânico. Coube a Doyle defender os interesses de sua pátria, no panfleto amplamente traduzido "A Guerra na África do Sul: Suas Causas e Conduta".

Pelos seus esforços na defesa dos interesses de seu país, Conan Doyle recebeu, em 1902, o título de nobreza do Império. Passou, então, a portar o soberbo título Sir antecedendo seu nome.

Em 1912, Doyle introduziu ao mundo da literatura o célebre Professor Challenger, de "O Mundo Perdido", um conto sobre o renascimento da pré-história num lugar remoto da América do Sul.

Em seus últimos anos de vida, Conan Doyle dedicou-se ao estudo aprofundado do espiritismo, assunto sobre o qual escreveu exaustivamente. O espiritismo tornou-se uma religião para ele, e o levou a promover palestras em vários países, como a Austrália e África do Sul.

O mágico Harry Houdini, um showman continuamente alerta a oportunidades para auto-promoção, expôs publicamente os truques mediunísticos em seus shows de palco e escreveu folhetos se opondo a médiuns fraudulentos. Mesmo assim alguns espiritualistas afirmaram que Houdini possuía poderes espiritualistas genuínos, recusando-se a aceitar as próprias declarações de Houdini de que só enganação estava envolvida em suas ilusões de palco.

Arthur Conan Doyle dedicou um capítulo inteiro de seu livro The Edge of the Unknown para argumentar em detalhe que Houdini tinha poder psíquico genuíno, mas não admitia. Curiosamente, Doyle e Houdini permaneceram amigos, apesar dos confrontos públicos a respeito do espiritualismo. Talvez eles compartilhassem uma apreciação do valor da auto-promoção pública.


Doyle era um crédulo ingênuo em vários tipos de tolice. Ele não só acreditou no espiritualismo e todos os fenômenos de sessões espíritas, mas também acreditou em fadas.

Em 1917, duas meninas adolescentes em Yorkshire produziram fotos que tinham tirado de fadas em seu jardim. Elsie Wright (6) e sua prima Frances Griffiths (10) usaram uma máquina fotográfica simples e dizia-se que não possuíam qualquer conhecimento de fotografia ou truques fotográficos.

Arthur Conan Doyle não apenas aceitou estas fotografias como genuínas, ele até escreveu dois panfletos e um livro que atestavam a autenticidade destas fotografias, incluindo muito folclore de fadas adicional. O livro dele, A Vinda das Fadas [The Coming of the Fairies], ainda é publicado, e algumas pessoas ainda acreditam que as fotografias são autênticas. Os livros de Doyle são leitura muito interessante até mesmo hoje. A convicção de Doyle no espiritualismo convenceu muitas pessoas de que o criador de Sherlock Holmes não era tão brilhante quanto a criação fictícia dele.

Alguns pensaram que Conan Doyle estava louco, mas ele defendeu a realidade de fadas com toda a evidência que pôde encontrar. Ele se opôs aos argumentos dos descrentes. Na realidade, os argumentos dele soam surpreendentemente semelhantes sob todos os aspectos a livros atuais promovendo a idéia de que seres alienígenas nos visitam em OVNIs. Robert Sheaffer escreveu um artigo inteligente traçando estes paralelos de forma maravlihosa.

Com o passar dos anos persistiu o mistério. Só alguns fanáticos acreditaram que as fotografias eram de fadas reais, mas o mistério dos detalhes de como (e por que) elas foram feitas continuou fascinando os estudantes sérios de brincadeiras, fraudes e enganações. Quando as meninas (já adultas) foram entrevistadas, suas respostas eram evasivas. Em uma entrevista da BBC em 1975 Elsie disse: "Eu lhe contei que elas são fotografias de invenções de nossa imaginação e é nisso que vou insistir". Em 1977 Fred Gettings tropeçou em evidência importante enquanto trabalhava em um estudo de ilustrações de livro do começo do século XIX. Ele achou desenhos por Claude A. Shepperson no livro infantil de 1915 que as meninas poderiam ter facilmente possuído, e que eram, sem dúvida, os modelos para as fadas que apareceram nas fotografias.

Morreu em 7 de Julho de 1930, debilitado por um ataque cardíaco que o afligira meses atrás.

OBRAS

Romances sobre Sherlock Holmes:
1887 - Um Estudo em Vermelho
1890 - O signo doa quatro
1902 - O Cão dos Baskervilles
1915 - O Vale do Medo

Sherlock Holmes coletânea de contos:
1892 - As Aventuras de Sherlock Holmes
1894 - As Memórias de Sherlock Holmes
1905 - A Volta de Sherlock Holmes
1917 - Seu Último Adeus
1927 - O livro de casos de Sherlock Holmes
1928 - Coleção completa de histórias de Sherlock Holmes

Histórias do Professor Challenger:
1912 - The Lost World
1913 - The Poison Belt
1926 - The Land of Mist
1927 - The Disintegration Machine
1928 - When The World Screamed
1952 - The Professor Challenger Stories

Ensaios
1893 - Jane Annie or the Good Conduct prize (with J.M. Barrie)
1895 - A Question of Diplomacy
1899 - Brothers
1903 - A Duet. A Duologue
1907 - The Story of Waterloo
1909 - The Fires of Fate
1910 - Brigadier Gerard
1912 - A Pot of Caviare
1912 - The Dramatic Works of Arthur Conan Doyle
1912 - The Speckled Band
1912 - The House of Temperley
1922 - Sherlock Holmes (with William Gillette)

Panfletos:
1902 - The War in South Africa: Its Cause and Conduct
1907 - The Case of Mr. George Edalji
1912 - The Case of Oscar Slater
1914 - In Quest of Truth
1914 - To Arms!
1914 - Great Britain and the Next War
1915 - The Treatment of our Prisoners
1920 - Our Reply to the Cleric
1920 - A Debate with Dr. Joseph McCabe
1920 - Spiritualism and Rationalism
1925 - The Early Christian Church and Modern Spiritualism
1925 - Psychic Experiences (reprint)

Ficção:
1879 - The Mistery of Sasassa Valley
1885 - The Surgeon of Gaster Fell
1889 - Micah Clarke, his statement as made to his three grandchildren
1889 - The Mystery of Cloomber
1889 - Mysteries and Adventures
1890 - The Captain of the Polestar and other tales
1890 - The Firm of Girdlestone: A Romance of the Unromantic
1891 - The White Company
1892 - The Doings of Raffles Haw
1892 - The Great Shadow
1892 - Beyond the City
1893 - The Gully of Bluemansdyke (reissue of Mysteries and Adventures 1889)
1893 - The Refugees. A Tale of Two Continents
1894 - An Actor's Duel and The Winning Shot
1894 - The Parasite
1894 - Round the Red Lamp: Being Facts and Fancies of a Medical Life
1895 - The Stark Munro Letters
1896 - The Exploits of Brigadier Gerard
1896 - Rodney Stone
1896 - Uncle Bernac: A Memory of the Empire
1898 - The Tragedy of Korosko
1899 - A Duet, with an Occasional Chorus
1900 - The Croxley Master
1900 - The Green Flag and Other Stories of War and Sport
1901 - Strange Studies from Life
1903 - The Adventures of Gerard
1906 - Sir Nigel
1908 - Round the Fire Stories
1911 - The Last Galley: Impressions and Tales
1918 - Danger! and Other Stories
1922 - Tales of Long Ago
1922 - Tales of Pirates and Blue Water
1922 - Tales of Adventure and Medical Life
1922 - Tales of Terror and Mystery
1922 - Tales of Twilight and the Unseen
1922 - Tales of the Ring and Camp / The Croxley Master and Other Tales of the Ring and Camp
1928 - The Dreamers
1929 - The Maracot Deep and Other Stories
1929 - The Conan Doyle Stories
1931 - The Conan Doyle Historical Romances I (Includes:The White Company, Sir Nigel, Micah Clarke and Refugees)
1932 - The Conan Doyle Historical Romances II (Includes: Rodney Stone, Uncle Bernac, The Exploits of Gerard and The Adventures of Gerard)
1934,47 - The Field Bazaar (Private Printings)
1958 - The Crown Diamond (Private Printing)

Versos:
1898 - Songs of Action
1911 - Songs of the Road
1919 - The Guards Came Through and Other Poems
1922 - The Poems of Arthur Conan Doyle. Collected edition

Escritos sobre Guerra, Política e Espiritualismo:
1900 - The Great Boer War
1901 - The Immortal Memory
1905 - The Fiscal Question
1906 - An Incursion into Diplomacy
1907 - Through the Magic Door [Essays on books.]
1909 - The Crime of the Congo
1909 - Divorce Law Reform: An Essay
1911 - Why He is Now in Favour of Home Rule
1914 - The German War
1914 - Civilian National Reserve
1914 - The World War Conspiracy
1914 - The German War
1915 - Western Wanderings
1915 - The Outlook on the War
1916 - An Appreciation of Sir John French
1916 - A Visit to Three Fronts
1916 - The British Campaign in France and Flanders, 1914-1918
1917 - Supremacy of the British Soldier
1918 - Life After Death (A Form Letter)
1918 - The New Revelation: or, What Is Spiritualism?
1919 - The Vital Message
1922 - Spiritualism-Some Straight Questions and Direct Answers
1921 - The Wanderings of a Spiritualist
1922 - The Case for Spirit Photography (with others)
1922 - The Coming of the Fairies
1923 - Our American Adventure
1923 - Three of them. A Reminiscence
1924 - Memoirs and Adventures
1924 - Our Second American Adventure
1924 - The Spiritualists Reader (Editor)
1924 - Leon Denis: The Mystery of Joan of Arc (Translator)
1926 - The History of Spiritualism 2 vol.
1927 - Pheneas Speaks. Direct Spirit Communications
1928 - A Word of Warning
1928 - What does Spiritualism actually Teach and Stand for?
1929 - An Open Letter to those of my Generation
1929 - Our African Winter
1929 - The Roman Catholic Church. A rejoinder.
1930 - [A Form Letter]
1930 - [A Second Form Letter]
1930 - The Edge of the Unknown

Fontes:
http://www.beatrix.pro.br/
http://www.ceticismoaberto.com/