sábado, 23 de abril de 2016

Cecy Barbosa Campos (Aldravias Infantis)

1
girafa
altaneira
olha
por
cima

2
cachorrinho
alegre
balança
rabinho
latindo:
au-au

3
na
estrada
cascavel
arrasta
chocalho:
tim-tim

4
pulando
cercas
berra
a
cabrita:
béé-béé

5
comendo
bananas
macaco
diverte
crianças
nhóc-nhóc

6
elefante
bebe
água
na
lagoa:
tchoc-tchoc

7
coelhinho
branquinho
procura
cenoura
dando
pulinhos

8
gatinho
travesso
entrou
no
buraco
miau-miau

9
ratinho
esperto
se
escondera
do
gato

10
preguiça
sonolenta
boceja
deitada
no
galho

11
tamanduá
faz
banquete
almoçando
as
formigas

12
cavalo
marchador
levando
o
cavaleiro
pocotó-pocotó

13
cachorro
não
falando
entende
como
gente

14
raposa
azedou
uvas
que
não
alcançou

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Contos Populares Portugueses (Candeeiro de Cem Luzes)

Houve um rapaz que era muito pobre e foi servir para a casa de um conde. O rapaz andava sempre a suspirar. O conde, um dia, perguntou-lhe:

- Ó Fulano, porque suspiras tanto?

- Ah, senhor, a casa de meu pai! A casa de meu pai! Candeeiro de cem luzes! Mesa de dobradiças! Quando ele passava, todos se apartavam!

Então o conde perguntou-lhe:

- Teu pai é tão rico e andas a servir?

- Então o senhor não me compreende?! Candeeiro de cem luzes é um fardo de palha; mesa de dobradiças é uma mesa toda carunchosa, que quando se lhe deitavam os pratos em cima vergava toda; e quando o meu pai passava, todos se arredavam, porque ele vinha a cavalo e as pessoas que o viam apartavam-se para ele passar.

Fonte:
Viale Moutinho (org.) . Contos Populares Portugueses. 2.ed. Portugal: Publicações Europa-América.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Celito Medeiros (Poemas Escolhidos)

Ah... teus momentos!

Teus são todos os momentos
como teus os pensamentos
que vagam na pura dança
na memória que não cansa!

Viver em terno momento
e a vida em doce alegria
de ternos os sentimentos
que mais alguém quereria?

Um verso manso fazer
doce poesia no encanto
o afago bem em dizer
sentir também o canto!

Perceberíamos as diferenças
do que pintamos para a vida
da diferença toda contida
à doce e ternas lembranças.

Acordes para um tempo novo
dos acordes de um novo tempo
faça você mesmo a própria vida
da vida própria sem uma ferida!

A garota do poetinha

Olha que coisa mais linda
deve ainda pensar o poeta
Vinicius, que coisa concreta
você nos deixou na berlinda!

A garota continua passando
talvez mais linda como no Rio
você no céu deve estar olhando
cheio de graça, daquele desafio!

Passa o tempo para nós mortais
Para ela apenas um segundo
É, não somos todos iguais
Ela, a mais bela do mundo!

Não tenho alma

Dizem que eu tenho uma alma
Eu não, não tenho... Eu sou a própria!
O que tenho é um corpo
Mudam as coisas... confundem.

Se tenho um, soube tê-lo!
Posso tê-los mais,
No momento já o tenho.
No futuro, quem sabe... depois,

Talvez fique um pouco em férias
Vá olhar tudo por aí
Ver como estão as coisas
Lugares por onde passei
Lugares que quero passar.

Almas que já vi
Almas que quero ver
É, é assim – lugares onde já vivi
lugares onde desejaria viver.

Tenho saudades, sabe, aquela saudade
De outros tempos, outros lugares
Agora não posso, nem preciso
Escolhi exatamente estar por aqui
É com isto que devo me ocupar.

Claro, devo ter passado “as minhas”
Todo este tempo passado
Devo ter muito mudado
Quero de novo mudar
Voltar a ser o que era.
O começo de tudo ...

A alma básica, que já fui
As habilidades que tinha
O amor - que compreendia!

O que somos e o que queremos

Somos Deuses, desde o princípio de tudo
Somos espíritos, como todos os humanos
Somos a existencialidade, somos a base.

Fomos traídos, mas isto não é novidade
Fomos catequizados na boa intenção
Falhamos por termos bom coração.

E agora José, uma pedra no caminho
E não sobrou pedra sobre pedra
E nos deixaram aqui sozinhos ...

Onde estariam os outros Deuses?
Onde estaria o líder de todos?
Onde estariam nossos amigos?

Tantas tentativas em vão
Tantos vãos e tentativas
Tantos ainda aqui estão.

Uns tantos são mestres
Uns outros discípulos
Uns pouco são.

Queremos a saída
Queremos a vida
Queremos viver.

Religar
Voltar
Amar.

A vida não é uma só...

Vivemos esta vida de diversas maneiras
Uns se dão bem, outros nem tanto assim
Mas por favor, parem de falar besteiras
Eu não consigo viver pensando só em mim

Não importa alguém rezar ou ter intenção
Se viver dentro das armadilhas impostas
Sabemos muito bem que um bom coração
Não consegue ver o mal nestas propostas

Acreditar em Deus ou ser o próprio divino
É apenas uma questão de posição assumida
São ensinamentos colhidos em algum ensino
Mas o que está em jogo é nossa própria vida

Então alguns acreditam em ter uma vida só
Nem querem pensar sobre vidas já passadas
Mantidas em cativeiro por uma fé que dá dó
Acabam em medos, fobias e doenças danadas

Não lembram bem nem destes dias passados
Mal conseguem fazer uso de suas inteligências
Apreciam magias, mistérios e não são esforçados
Para o estudo que mostraria suas competências

Pregam mudanças, liberdade e amor fraternal
Calejam seus joelhos e gritam pela humildade
No entanto vivem em uma realidade infernal
Sem conhecer de fato a sua espiritualidade

A vida não é uma só e independe de acreditar
Grandes mentiras encobrir grandes verdades
Surgiram exatamente na tentativa de elucidar
O desconhecido dos que não tinham realidades

Ao menos pense um pouco e seja mais responsável
Tendo agora neste jogo da vida a sua participação
Deste modo será muito importante e até louvável
Conseguirmos saber o que de fato é a salvação!

A Liberdade é para Todos

Somos de fato ainda muito poucos
Neste planeta com alguns insanos
Assim podem nos considerar loucos
Ao lidarmos direto com os profanos

A população entre pessoas dementes
Lançadas no meio de sadias e puras
Urge a ação em sanear as sementes
Para preservar as gerações futuras

São os joios no meio dos trigais
Espalhados por toda a sociedade
Possuindo o instinto dos animais

Impedem toda a solidariedade
Daqueles com missões especais

Indicarem a plena liberdade

Contos Populares Portugueses (O Caldo de Pedra)

Um frade andava no peditório. Em determinada altura, cheio de fome, chegou à porta de um lavrador e aí nada lhe quiseram dar. E ele disse aos da casa:

- Vou ver se faço um caldinho de pedra.

Apanhou uma pedra do chão, sacudiu-lhe a terra e pôs-se a olhar para ela a ver se era boa para fazer um caldo. A gente da casa pôs-se a rir do frade e da sua lembrança. Perguntou o viandante:

-Então nunca comeram caldo de pedra? Só lhes digo que é uma coisa muito boa!

Responderam-lhe:

- Sempre queremos ver isso.

Foi o que o frade quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra, falou assim:

- Se me emprestassem aí uma panelinha... Deram-lhe uma panela de barro. Ele encheu-a de água e meteu a pedra dentro.

- Agora, se me deixassem estar a panelinha aí ao pé das brasas...

Deixaram. Assim que a panela começou a chiar, disse ele:

- Com um bocadinho de unto é que o caldo ficava um primor!

Foram-lhe buscar um pedaço de unto. Ferveu, ferveu, e a gente da casa pasmada do que via. Provando o caldo, exclamou o frade:

- Esta um bocadinho ensosso, bem precisava de uma pedrinha de sal.

Também lhe deram o sal. Temperou, provou, e:

- Agora é que uns olhinhos de couve caíam bem aqui! Até os anjos comeriam!

A dona da casa foi à horta e trouxe-lhe duas couves tenras. O frade limpou-as, ripou-as com os dedos, deitando as folhas na panela.

Quando os olhos já estavam cozidos, comentou o frade:

- Ai, um naquinho de chouriço é que lhe dava graça! Trouxeram-lhe um pedaço de chouriço e ele deitou-o na panela. E enquanto tudo aquilo cozia, tirou pão do alforge e arranjou-se para comer com vagar. O caldo cheirava que era um regalo. Comeu e lambeu o beiço. iDepois, despejada a panela, ficou a pedra no fundo.

A gente da casa, que estava com os olhos no frade, perguntou-lhe:

- Ó Irmão, então a pedra? Respondeu-lhes o frade:

- A pedra lavo-a e levo-a comigo para outra vez!

E assim comeu o frade em casa de quem nada lhe queria dar.

Fonte:
Viale Moutinho (org.) . Contos Populares Portugueses. 2.ed. Portugal: Publicações Europa-América.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Trovas sobre o Mar



Quando a terra em seu girar
o dia em trevas reduz,
a lua emerge do mar,
pingando gotas de luz!
Annibal Vitral Monteiro - RJ

Barqueiro dos mil pesares,
acostumado entre escolhos,
tenho a tristeza dos mares
na tristeza dos meus olhos.
Antonieta Borges Alves - SP

Eu penso que nem o mar,
revolto, imenso e profundo,
conseguiria lavar
toda miséria do mundo!
Aparício Fernandes - RJ

Lembra o mar a mão incerta,
que oferece e quer negar:
– avança fazendo oferta,
recua para não dar!
Archimino Lapagesse - RJ

Rendeiras de toda parte,
tecelãs de fina teia,
vinde à praia ver com que arte
o mar faz rendas na areia.
Carlos Guimarães - RJ

Barco perdido entre escolhos,
posso, agora, desvendar,
nos mistérios dos teus olhos,
todo o mistério do mar.
Colbert Rangel Coelho -RJ

No mastro ao longe oscilando,
a vela branca, a passar,
parece um lírio boiando
na superfície do mar.
Dolores Almeida - RJ

Nas incertezas do mar
a velha jangada avança
e a esperança de voltar
fica, às vezes, na esperança.
Durval Mendonça - RJ

Caracóis, conchas redondas,
que o mar guarda, com desvelo,
são roubados, como as ondas,
das ondas do teu cabelo...
Edgard Barcellos Cerqueira - RJ

Beija as areias do mundo
o mar, com as rendas de um véu:
– volúpia que vem do fundo
ou amor que vem do céu?
Eduardo Luiz Gomes Filho - RJ

Que o mundo melhor se faça,
ante o símbolo profundo,
do mar que, eterno, entrelaça
os mil caminhos do mundo.
Fernando Burlamaqui - PE

O mar, que é poeta, em rondas
de amor pela Lua-cheia,
escreve versos com as ondas
no livro branco da areia.
Geralda Ferreira de A. Marques - MG

Mar, mistério, poesia...
Se te pudesse cantar,
quantas coisas eu diria
nestas trovas a rimar...
Hesiodo de Castro Alves - RJ
Velas brancas se afastando,
jangadas, ao sol nascente,
parecem cisnes boiando
num lago fosforescente.
Iraci do Nascimento E Silva - RJ

Fui Ulisses, naveguei
sem temer tufão e escolhos,
mas, ao te ver, naufraguei
no verde mar dos teus olhos!
Isimbardo Peixoto - RJ

A vida é mar inclemente,
amargo, cheio de mágoas,
que põe nos olhos da gente
o gosto das suas águas.
João Rangel Coelho - RJ

A verdade nunca escondas,
planta, na vida, só o Bem.
O mar, que faz tantas ondas,
não faz onda com ninguém!
José Maria Machado de Araújo – RJ

Meus versos - estro de monge -
querem ser luz de luar
e rios que vêm de longe
na trova que faço ao mar.
José Valeriano Rodrigues - MG
Tesouros guarda, avarento,
o mar de vagas inquietas.
Os meus, com vaidade, ostento!
- Mostro ao mundo minhas netas.
Lilinha Fernandes - RJ

Luta sempre e desde cedo,
sem nunca desanimar,
pois o mais duro rochedo
cede à constância do mar...
Luiz Otávio – RJ

As tristezas que te sobram,
crê que as podes suportar...
As águas que o céu transborda
cabem todinhas no mar.
Manita - RJ

Enfrenta o mundo, sem medo -
mas à ofensa não respondas:
– morre de encontro ao rochedo
a fúria insana das ondas!...
Maria de Lourdes Loretti Motta - RJ

As caravelas do sonho
navegam dentro de mim,
- querendo um porto risonho,
- lutando num mar sem fim...
Nilza Castro - RS
O mar, gigante, sereno,
tem a força das marés;
e eu, sendo assim tão pequeno,
o tenho sempre a meus pés.
Nydia Iaggi Martins - RJ

Ao regato pequenino
diz, chorando, o velho mar:
  Quem me dera o teu destino,
sempre a correr e a cantar...
Orlando Brito – MA

Ah! Como é doce escutar,
quando a luz no céu desmaia,
o canto triste do mar,
ninando a areia da praia!
Paulo Emílio Pinto - MG

Sou triste como este mar,
que, num lamento profundo,
parece até represar
todas as mágoas do mundo.
P. de Petrus - RJ

Meu barco da fantasia
naufragou no mar da vida,
pois a carga que trazia
ultrapassava a medida...
Renato Vieira da Silva – RJ
O mar tem alma... Costuma,
em noites de Lua-cheia,
cobrir de rendas de espuma
seus alvos leitos de areia...
Vasco de Castro Lima - RJ

Duas coisas há no mundo,
de grandeza incomparável:
– o amor - mistério profundo,
e o mar - abismo insondável.
Vera Milward de Carvalho - MG

No mar do amor, quando avista
das gaivotas os sinais,
meu peito diz: "terra à vista!"
mas nunca divisa o cais
Walter Gomes Da Silva - RJ

Minha alma - branca jandaia -
que não tem onde pousar,
é como as aves da praia
que morrem sempre no mar.
Zalkind Piatigorsky - RJ

As trovas acima são dos Jogos Florais de Niterói/RJ, 1964