sábado, 25 de outubro de 2008

Débora Tavares (Santuário da Poesia)



Líbano

ainda se esses olhos baixos se curvassem
ao excesso de sol

mas eles miram os pés a lamentar
o excesso de sombra
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Calmaria

Guarda a tua voz
quando o silêncio grita.

Mareja nos teus olhos
uma ilha.

Descansa o teu barco,
recolhe a vela

Espera
que o ondular das águas
e algum vento
te devolvam a
terra
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Polvo

Liberta tua tinta nanquim
Esfumaça a água
Acende uma coragem qualquer
Alivia teu corpo
Protege-te dele
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Âmago

Render-se à simplicidade das horas.
Apanhar um punhado de areia,
ampulheta viva, esvaindo sais e pedras.
Diluir o gozo da posse
para que restem
apenas as curvas da mão.

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Long, long play

Billy Holiday no vinil,
livros usados e
eu
neste teatro.
Hoje não quero palco.

Avisto olhares cegos.
Rodo invisível e escuro.
Roda escuro e lento o long play.
A paciência da agulha,
o risco,
o pó.

As faixas definidas.
O tempo de atravessar.

Um Rolling Stones agora
I'm "waiting on a friend".
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Serena

Esqueçamos o crepúsculo tristonho
E qualquer longitude
Estejamos rentes
Onde os dedos se enlaçam
Onde os olhos se adentram

Acolhamos nossas raízes
Entendamos que delas depende
O sol da longevidade
Onde os dedos se enlaçam
Onde os olhos se adentram
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Cerrada

Quero

o murmúrio do ouvido na água

o estado de minério
a quietude da rocha

o mergulho da retina no escuro
a densidade da mata

a fundura de um leito de rio
para uma raiz alimentada

e então a voz.
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Anzol

Meu pai não teve filho.
Meu pai aos quatro anos não teve mais pai.
Meu filho de quatro anos senta a seu lado.
Eles pescam a companhia que faltava.
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Sobre a autora
Débora Tavares mora em São Paulo (SP). É graduada em letras. Tem poemas publicados em sites e revistas literárias: www.bestiario.com.br; www.revistazunai.com.br; revista Cigarra; revista Puçanga 2; jornal Casulo 3, entre outros. Está reunindo material para a publicação de seu primeiro livro.
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Fonte:
Jornal de Literatura "O Rascunho" - Curitiba/PR
http://rascunho.rpc.com.br/

Antonio Carlos Olivieri (Uma História Esquisita)

Sabe um dia daqueles? Foi um dia daqueles, relembrou José Carlos, desmilingüido. Para começar, acordou atrasado. Tinha esquecido de botar o despertador. Na garagem, o motor do carro não pegava de jeito nenhum. Depois, nos primeiros quarteirões, a caminho do trabalho, trânsito arrastado, moroso, muito mais lento que o de costume. Para ganhar tempo, recorreu a um atalho pela contramão. Aquela era uma rua tranqüila, quase deserta. Nunca tinha visto um guarda ali. Naquele dia, porém...

O guarda, escondido atrás do poste, mal avistou a infração, mandou o motorista parar.

José Carlos estacionou e aproximou-se dele, que lavrava a multa no talão.

- Não viu a placa? - perguntou o PM, com ironia (autoritária, no topo de uma estaca amarela, pairava o círculo vermelho com a seta preta cortada pela barra transversal).

- Na verdade, não vi o senhor - respondeu José Carlos, querendo fazer graça, para ganhar a simpatia do policial.

Não adiantou. O guarda, bélico, continuou a canetar. José Carlos fez um ar reservado, mas descontraído. Explicou a urgência de bater o cartão de ponto e ofereceu uma cervejinha, pela vista grossa. O olhar do outro, afiado, deixou claro que ele incorrera num agravante. Um guarda honesto! José Carlos desesperou-se. Questionou a gravidade do delito e começou uma discussão. Resultado: teve a carta de motorista apreendida. Quanto ao automóvel, só poderia sair dali se alguém devidamente habilitado viesse retirá-lo. Ponto final.

De resto, o guarda deu-lhe as costas e voltou para trás do poste, em prontidão. Num rádio longínquo, nesse momento, o vozeirão grave de Nelson Gonçalves cantava "Vitrines", de Chico Buarque:

- Eu te vejo sumir por aí, te avisei que a cidade é um vão, dá tua mão, olha pra mim, não faz assim, não vai lá não...

José Carlos deixou o local do incidente como que arrancado a fórceps, pela necessidade. Não podia faltar ao serviço. O chefe andava na sua cola havia meses. Afastou-se do carrinho, humilhado por abandoná-lo ali, estacionado numa rua anônima, sozinho. A quem poderia pedir auxílio? Que amigo se disporia a ajudá-lo naquela hora, quando todo mundo começava a trabalhar? E, falando sério, quantos amigos de verdade tinha mesmo?

Chegou à conclusão de que só poderia retirar seu automóvel dali com os préstimos de um despachante, que resgatasse sua habilitação. De alguém que se incumbisse de vencer os trâmites legais. Era isso, sim, com certeza. Ainda bem que trabalhava nas redondezas da praça da República, onde funcionavam centenas de despachantes. Não seria difícil encontrar um para socorrê-lo.

José Carlos desceu de ônibus do bairro até o Centro. De pé, espremido entre os outros passageiros, arrasado, mas decidido a entregar seu problema a alguém do ramo. Depois, rumar o quanto antes para a firma. Respirou fundo, quase relaxado. O fantasma do atraso desapareceu do seu peito, mas deu lugar ao pavor com essa despesa extra, a do despachante, inesperada, com um preço que aumentava gradativamente em sua preocupação. Fatalmente, o orçamento do mês já estava comprometido. Ganhava tão pouco!

Na verdade, não foi pequena a quantia que lhe pediu o profissional, um sujeitinho pernóstico, que a todo o momento ajeitava o nó da gravata na folga do colarinho. Demonstrava, porém, inabalável segurança na sua perícia, através de um sorriso displicente, sob o risco grisalho do bigode. Com certeza, podia ser considerado um doutor em burocracia, embora só um diploma de torcedor corintiano enfeitasse as paredes desbotadas de seu gabinete.

- Até as cinco horas, o mais tardar, eu lhe trago para o senhor a sua habilitação de volta - garantiu a José Carlos. - É líquido e certo. Vá tranqüilo que eu lhe telefono para o seu escritório logo em breve. Falo consigo quando tudo estiver pronto e terminado.

O cliente agradeceu, entregou dois pré-datados e deixou a saleta entulhada de arquivos de aço, entreabertos, entupidos de pastas suspensas, abarrotadas de formulários e boletos. Mas francamente, não conseguia se sentir tranqüilo, seguro, despreocupado... Ao contrário, como uma pedra no sapato, a insegurança passou a cutucá-lo a cada passo, tão logo se afastou do homem que havia contratado. Alguma coisa o incomodava no tipo. A certeza de ser enganado ou traído apoderou-se de José Carlos, nesse momento, mesmo sem um motivo claro. Afinal, seu despachante não era em nada diferente de outra centena de despachantes estabelecidos na região.

A carta apreendida, o atraso ao trabalho, o despachante suspeito, o chefe intransigente... Aos poucos, o dia adquiria a consistência gelatinosa de um pesadelo. José Carlos sufocava. Todavia, agüentou firme, sabe lá como. Só não podia atrasar mais um minuto para o serviço. Então, marchou para a firma, acelerado, nas brechas da multidão que atulhava a rua Barão de Itapetininga. Interrompeu-se apenas por uma fração de segundos, na esquina da rua Marconi, onde um menino distribuía filipetas sobre a inauguração de um vegetariano na Xavier de Toledo. José Carlos não tinha tempo para o almoço: passavam vinte e cinco do meio-dia.

No escritório, procurou entrar sem ser notado, acreditando que isso não seria impossível, no ambiente labiríntico do seu andar, loteado por duas dúzias de divisórias de eucatex. Aumentando deliberadamente o itinerário até seu cubículo, evitou passar em frente à sala do gerente, seu chefe, o doutor Camargo. Caminhava devagar, na defensiva, os ombros contraídos, como se temesse deparar, a qualquer momento, com um monstro mitológico.

Afinal, quando estava quase chegando, tropeçou no gerente, que avançava em sentido contrário, voltando provavelmente da sala do cafezinho. Tão logo botou os olhos em José Carlos, o homem disparou:

- É o seu terceiro atraso este ano, não sabe?

- Eu...

- Não posso transigir com uma coisa dessas, posso?

- Não... eu...

- Como é que eu posso confiar em quem não consegue cumprir nem sua obrigação com o relógio, não é verdade?

- É... eu...

- Olha que hoje em dia está cada vez mais difícil de arranjar emprego, concorda?

- Sim... eu...

- Ainda mais para quem não tem grande qualificação como o senhor, não é mesmo?

A essa altura, em cada uma das pontas do corredor onde os dois se espremiam, apareceram as caras curiosas de um punhado de colegas de José Carlos. Nem por isso o doutor Camargo interrompeu o sermão. Antes, tornou-se ainda mais veemente, acentuando as questões retóricas do final de cada frase. Do fundo do labirinto de divisórias, para escutar melhor, alguém desligou o sistema de música ambiente, encerrando abruptamente uma versão pasteurizada de "O calhambeque".

Ao dar a bronca por encerrada, o chefe olhou feio para os espectadores nas pontas do corredor. Como um enxame de moscas, que se esgarça a uma palmada, a platéia desapareceu. José Carlos achou melhor segui-la, rapidinho. Resmungando uma hesitante promessa de pontualidade, retrocedeu sobre seus passos, caminhando para trás, de modo a não dar as costas ao doutor Camargo. Este, com a empáfia de um monumento, não arredou um pé de onde tinha se postado até vê-lo sumir. Em seu cubículo, José Carlos sentou-se e ligou seu terminal de computador, ruminando as ameaças do chefe e a vergonha diante dos colegas.

Na parede do escritório, o relógio resolveu fazer cera todo o resto da tarde, uma tarde esparsa, esgarçada, interminável. Cada minuto se arrastava vagarosamente no mostrador sem a mínima pressa. Para piorar, José Carlos não conseguia alinhavar as palavras no monitor, por mais que se esforçasse: não encontrava os termos adequados, confundia-se com os pontos e acentos, dedilhava frases desconcatenadas que nunca chegavam ao final.

Na única ocasião em que um parágrafo parecia encaminhar-se, um colega veio lhe contar uma piada:

- Conhece a do português que comprou uma coruja pensando que fosse um papagaio...

Além disso, antes do fim do expediente, o telefone o assaltou três vezes. Ao toque da campainha, estremecia sempre, como se atravessado por um choque elétrico. Atendia numa espécie de transe atrapalhado, mas em nenhuma delas escutou a voz do despachante do outro lado da linha. Mesmo assim, as três ligações foram de cunho pessoal e as duas últimas - ambas da namorada - aconteceram justamente quando o chefe tinha ido lhe cobrar o relatório. José Carlos, embaraçado, foi tão evasivo com a namorada, que ela se irritou e bateu o telefone na sua cara. Isso, porém, não contribuiu para acalmar o doutor Camargo, que se afastou brandindo os braços.

O gerente, enigmático, não lhe dirigiu mais uma palavra até o final do dia, mas fez questão de acompanhá-lo com o olhar, na fila do relógio de ponto, na hora da saída. Nos olhos do chefe, o funcionário acreditava decifrar o alívio de quem vai se livrar de um trambolho. No entanto, para José Carlos, agora, o doutor Camargo e até mesmo a namorada, enraivecida, tinham passado a habitar um distantíssimo segundo plano, em outro planeta. Só queria saber do despachante e descobrir: por que ele não tinha dado notícia?

No escritório do tipo, apenas a porta fechada esperava por José Carlos, com uma tabuleta a informar que o expediente acabava às 18h. Eram 17h45. Atordoado, José Carlos desceu pelas escadas os quatro andares até o térreo e se colocou de sentinela na entrada do prédio, onde permaneceu até as 19h30, em vão. Noventa minutos de puro sofrimento, em especial devido à batucada que jorrava do botequim na esquina da rua dos Timbiras. Quatro gaiatos, cada vez mais bêbados, executavam interminavelmente "Aquarela Brasileira", recomeçando novamente sempre que chegavam ao final:

- Vejam, essa maravilha de cenário, é o episódio, o relicário, que o artista, num sonho genial, escolheu...

José Carlos cuspiu na calçada e se deu por vencido. Foi mastigar um sanduíche no bar e aceitou deixar o despachante para o dia seguinte. Aliás, não havia alternativa: o que mais poderia fazer? Voltaria pela manhã, na primeira hora. Exigiria uma boa explicação. Mas não podia deixar seu carro dormir ao relento, sob risco de roubo ou vandalismo. Não, isso não. Resolveu que, mesmo sem a carta, iria buscá-lo e conduzi-lo ao aconchego de seu lar. Seu azar não podia ser tanto que a polícia resolvesse implicar novamente com ele naquele dia (dessa vez por dirigir sem a habilitação).

Realmente, conseguiu pegar o carro e chegar em casa sem problemas. A essa altura, tanta facilidade começava a lhe parecer uma coisa suspeita. Deixou o veículo na garagem e subiu para o apartamento, onde entrou sem acender as luzes. Caminhou até a janela e, pela fresta da cortina, olhou para a rua lá embaixo, à espreita de um policial imaginário, de um agente secreto que talvez o tivesse seguido.

Alguns momentos depois, foi abatido pela granada de um cansaço estarrecedor. Desmoronou no sofá, apoplético, desmilingüido. Tinha sido um dia daqueles...

Ali, enquanto a noite avançava, deixou-se consumir, sem resistência, pela premente sensação de ser o culpado por um crime que jamais havia cometido.

Em algum momento, lá pelas nove e meia, uma lembrança retirou José Carlos desse estupor. Recordou-se de um oficial de justiça que um conhecido lhe apresentou, num final de tarde, no Bar do Léo. O homem tinha simpatizado com ele, após conversarem sobre a pena de morte, da qual eram a favor.

Depois daquela ocasião, voltaram a tomar umas Brahmas juntos, pelo menos duas vezes, conforme se lembrava. Como era mesmo o nome dele? Não tinha idéia, mas havia guardado seu cartão de visita, pois sempre considerou conveniente manter uma boa relação com autoridades. Talvez pudesse conversar com o oficial e pedir que ele fizesse uma pressãozinha no despachante, por que não?... A maioria das pessoas só trabalha mesmo sob pressão.

No fundo do armário do quarto, por trás dos ternos pendurados nos cabides, buscou a caixa de sapatos onde arquivava seus documentos e as garantias dos eletrodomésticos. Não achou o cartão que queria, mas descobriu um livro que tinha ganhado havia muito tempo, sabe lá de quem. Não era de ler nada além de uma gazeta esportiva. Não deu maior atenção ao volume nem no dia em que o ganhou. O livro - uma brochura de trezentas páginas - tinha rolado por todos os cantos do apartamento, da sacada à cozinha, até ser depositado ali, sabe Deus quando.

Sem pensar no motivo do gesto, enfiou o volume debaixo do sovaco e voltou para a sala. Esparramou-se no sofá e começou a imaginar que o livrinho poderia distraí-lo e ajudá-lo a relaxar, pois a televisão estava quebrada. Encarou a capa da brochura, intrigado, para matar a charada da abstração que a ilustrava. Leu e releu o título da obra, a marca da editora, o nome estrangeiro do autor, que lhe era totalmente desconhecido.

Então, com a ponta do polegar e do indicador, sentiu a textura da folha de papel. Por fim, abriu o livro e patinou as retinas nas primeiras linhas do parágrafo inicial:

"Alguém certamente havia caluniado Josef K. pois uma manhã ele foi detido sem ter feito mal algum. A cozinheira da senhora Grubach, sua locadora, era a pessoa que lhe trazia o café todos os dias por volta de oito horas, mas desta vez ela não veio. Isso nunca tinha acontecido antes. K. esperou mais um pouquinho, olhou de seu travesseiro a velha senhora que morava em frente e que o observava com uma curiosidade nela inteiramente incomum, mas depois, sentindo estranheza e fome ao mesmo tempo, tocou a campainha."

Supondo que se tratava de uma história policial, José Carlos seguiu adiante, mas o inesperado desdobramento do enredo começou a perturbá-lo. Sentia-se confuso, desorientado, perplexo. Como é que alguém poderia ser processado sem saber qual o motivo? Por que diabo K. não conseguia obter com ninguém nenhuma informação? Que país poderia ter um sistema judicial tão arbitrário? Como um autor se atrevia a escrever assim, de maneira tão surpreendente, de modo a desatinar o leitor?

Cinco dezenas de páginas à frente, desnorteado, cogitou interromper a leitura. Porém, como lhe tornassem à mente a figura do despachante, do chefe, da namorada, retornou às absurdas peregrinações do tal Josef K., até sua inexplicável execução - a facadas! - no décimo capítulo.

Então, José Carlos fechou o volume, atônito. Ficou a observar um ponto inexistente acima da luminária do teto e até do globo terrestre no exato lugar onde as paralelas se encontram. Assim permaneceu, imóvel, durante muito tempo, reflexivo, absorto, concentrado, como se, a partir do que leu, algo fermentasse em sua imaginação e o fizesse descobrir uma verdade pungente, que o atingia em seu âmago. Às três da madrugada, espreguiçando, jogou o livro de lado e se rendeu: aquela história esquisita não lhe dizia absolutamente nada.
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ANTONIO CARLOS OLIVIERI, 51 anos, nasceu no Rio de Janeiro (RJ), mas mora em São Paulo desde a infância. É formado em Letras pela USP e em jornalismo por exercício da profissão. É autor de livros paradidáticos e ficção infanto-juvenil.
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Fonte:
Jornal de Literatura "O Rascunho" - Curitiba/PR
http://rascunho.rpc.com.br/

Carlos Ribeiro (O Conto: Arte do Efeito Único)


Gênero de difícil definição, o conto tem sofrido grandes transformações, mas mantém o vigor neste início do século 21

Não poucos autores dedicaram-se, com competência, mas também com alguma temeridade, à ingrata tarefa de definir o conto, esse gênero ardiloso, capaz de adotar, com familiaridade, os disfarces da crônica, da novela, da fábula, da poesia, das memórias e até do romance. Sherwood Anderson disse, de forma perspicaz, que o mais importante, no conto, não é o que as personagens estão a dizer (ou a fazer, acrescenta Hélio Pólvora), senão o que estão a pensar - o que aponta para a introspecção que se aguçou a partir dos primeiros 25 anos do século passado. O uruguaio Horacio Quiroga contribuiu para a definição do gênero com seu Decálogo do perfeito contista, no qual destaca o ardor (jamais a emoção) necessário ao contista para o sucesso nesta arte, vista como um cume inacessível. Machado de Assis, não menos genial contista do que romancista, assinalou, com habitual ironia, a principal vantagem de um conto medíocre sobre um romance medíocre: sua brevidade.

Para Hélio Pólvora, autor de Itinerários do conto: interfaces críticas e teóricas da moderna short-story, do qual tirei as citações acima, um conto "Pode ter meia página, uma página ou trinta mil palavras, como em Henry James". "Grande Sertão: Veredas não será, em realidade, um conto longo?", provoca. E, se o leitor é desses que entendem o conto "como uma narrativa que não pode ultrapassar 20 ou 25 páginas", peço um pouco de paciência e convoco, em minha defesa, Mário de Andrade, para quem "conto é tudo aquilo que o autor quiser chamar de conto". É verdade que a frase, retórica e provocativa, não ajuda muito a elucidar o gênero, mas deve-se lhe reconhecer o mérito de salvá-lo de definições esquemáticas. Mesmo porque, nas listas pessoais de melhores contos, pode-se incluir, sem escândalo, desde crônicas de Rubem Braga a poemas em prosa de Baudelaire.

Julio Cortázar, no ensaio Alguns aspectos do conto, diz que este parte da noção de limite, "a ponto de passar a receber na França, quando passa de vinte páginas, o nome de nouvelle, gênero equilibrado entre o conto e o romance propriamente dito". O que não o impede de incluir, em sua coleção de preferidos, A morte de Ivan Ilitch, de Tolstói, na nossa modesta opinião, mais precisamente uma novela, aliás, uma das grandes da literatura ocidental, ao lado, por exemplo, de Bartleby, o escrivão, de Melville, e A metamorfose, de Kafka. Tenho em mãos uma edição da editora Alhambra, de 1981, com 77 páginas, 55 a mais do que comporta o gênero, segundo consideravam os franceses, na época em que o autor de Bestiário escreveu seu ensaio.

Daí se vê que o tamanho do texto, em número de caracteres e páginas, embora possa ser tomado como referência importante, não é suficiente para definir o gênero. Se o leitor bater pé firme que Dr. Jekyll and Mr. Hyde, de Robert Louis Stevenson, é um grande conto e não uma novela como querem alguns, não será crucificado por isso. Podemos dizer o mesmo de Enfermaria número 6? De O alienista? De Noites brancas? De O estrangeiro? De A pérola? De A volta do parafuso...?

Noção de limite

Mais do que o tamanho do texto, embora inevitavelmente associado a este, as duas marcas principais do gênero são a intensidade e a densidade. Linguagem que prima pela concisão. A idéia de "tomada" da realidade converge para o conceito cortazariano do conto como fotografia, em relação ao do romance como filme. O romance e o conto, diz Cortázar, "podem ser comparados analogicamente com o cinema e a fotografia, posto que um filme é em princípio uma ‘ordem aberta', romanesca, ao passo que uma fotografia bem-sucedida pressupõe uma rígida limitação prévia, imposta em parte pelo reduzido campo que a câmara abarca e pela maneira como o fotógrafo utiliza esteticamente tal limitação".

Moldado pela "noção de limite", o conto, tal como a fotografia, cede a esse limite para encontrar, adiante, a síntese que possibilita uma transcendência e, portanto, a expressão de uma realidade muito mais ampla do que a captada pela câmera ou pela cena refletida no texto. Um bom conto não se esgota em si mesmo, como simples registro factual ou naturalista de um acontecimento. Ou como mera conceituação da realidade. Antes, ilumina a realidade, como síntese desta. Diz Cortázar:

É preciso chegar à idéia viva do que é o conto, e isso é sempre difícil na medida em que as idéias tendem ao abstrato, a desvitalizar seu conteúdo, ao passo que a vida rejeita angustiada o laço que a conceituação quer lhe colocar para fixá-la e categorizá-la. Mas, se não possuirmos uma idéia viva do que é o conto, teremos perdido nosso tempo, pois um conto, em última instância, se desloca no plano humano em que a vida e a expressão escrita dessa vida travam uma batalha fraternal, se me permitem o termo; e o resultado desta batalha é o próprio conto, uma síntese viva e ao mesmo tempo uma vida sintetizada, algo como o tremor de água dentro de um cristal, a fugacidade numa permanência. Somente com imagens pode-se transmitir a alquimia secreta que explica a ressonância profunda que um grande conto tem em nós, assim como explica por que existem muito poucos contos verdadeiramente grandes.

A definição do gênero, portanto, está intimamente associada à sua excelência. Para entendê-lo há de se procurar suas características definidoras nos textos que se destacam entre os melhores. Para se compreender bem as noções de densidade e de intensidade, que lhe fazem jus, há de se ler um Bábel, um Hoffman, um Borges, um Bradbury, um Tolstói, um Kafka, um Machado, um Borges, um Cortázar, um Graciliano, um Kipling, um Hesse, um Guimarães, um London, uma Clarice, um Merimée. Além, é claro, do próprio Cortázar, e dos grandes mestres definidores do gênero: Edgar Allan Poe e Anton Tchekhov.

Mas podemos também encontrar essas características em nomes que, embora consagrados, ainda permanecem vivos ou com memória recente entre nós, portanto, mais sensíveis às oscilações do gosto e dos critérios valorativos da crítica. De cabeça, posso citar meia-dúzia de obras modelares do gênero, tais como Os cavalinhos de Platiplanto, de José J. Veiga; Venha ver o pôr-do-sol, de Lygia Fagundes Telles; Mar de Azov, de Hélio Pólvora; A maior ponte do mundo, de Domingos Pellegrini; Cação da areia, de Vasconcelos Maia; Fazendo a barba, de Luiz Vilela. Ou, mesmo, tomando como referência a idéia do anticonto, construído sobre a perspectiva da falta de assunto, mas que, mesmo assim, mantém, paradoxalmente, a intensidade necessária, o excelente Conto (não-conto), de Sérgio Sant'Anna.

Tensão e unidade

Vale lembrar, aqui, o conceito poundiano de literatura como "linguagem carregada de significado", e de grande literatura como "linguagem carregada de significado até o máximo grau possível". Neste caso, mais próxima da poesia, sobretudo da poesia lírica, por suas características metafóricas polivalentes. Mas que pode alcançar, também, na prosa, amplitudes memoráveis. O contista, diz Alfredo Bosi, "é um pescador de momentos singulares cheios de significação".

Para Cortázar, um conto é tanto mais significativo quanto mantenha a tensão necessária à história curta - tensão esta que resulta do tratamento que é dado ao tema. Um conto, diz ele, "Não é ruim pelo tema, porque em literatura não há temas bons ou temas ruins, há apenas um tratamento bom ou ruim do tema. Tampouco é ruim porque os personagens careçam de interesse, já que até uma pedra é interessante quando dela se ocupam um Henry James ou um Franz Kafka. Um conto é ruim quando é escrito sem a tensão que deve se manifestar desde as primeiras palavras ou as primeiras cenas. E assim podemos adiantar que as noções de significado, de intensidade e de tensão irão nos permitir [...] abordar melhor a estrutura mesma do conto".

Aqui se encontra a noção de tensão com a nem sempre considerada, como vimos anteriormente, necessidade de um reduzido número de páginas. Vamos convir que seja mais fácil manter a tensão numa história (ou não-história) de meia, dez ou vinte páginas, do que num calhamaço de oitocentas; que a mantenha com três ou quatro personagens, num determinado espaço, do que com as centenas que povoam, por exemplo, os romances de Balzac, com diversos núcleos de conflito, que se desdobram em outros e outros, em numerosos cenários (exteriores ou interiores; reais ou imaginários). Daí decorre, portanto, a definição de Edgar Allan Poe, do efeito único proporcionado pela história curta, que deve ser lida de uma só sentada; e a de Cortázar, na conhecida analogia do conto com o boxe:

Um escritor argentino muito amigo do boxe me diz que, no combate que se dá entre um texto apaixonante e seu leitor, o romance sempre ganha por pontos, ao passo que o conto precisa ganhar por nocaute. Isto é verdade, pois o romance acumula progressivamente seus efeitos no leitor, enquanto um bom conto é incisivo, mordaz, sem quartel desde as primeiras frases.

Mas, adverte o autor, não se deve entender isso demasiado literalmente, "porque o bom contista é um boxeador muito astuto e vários dos seus golpes iniciais podem parecer pouco eficazes quando, na realidade, já estão minando as resistências mais sólidas do adversário".

Daí se infere outra característica marcante do gênero, sua pedra de toque: a introdução. Introdução esta que já condiciona o desfecho. De onde nasce a concepção tchekhoviana do conto como um sistema "fechado", tal como um soneto. A isto se aliando uma total economia de meios e uma rigorosa necessidade funcional de todos os seus elementos. Diz Tchekhov, não sem algum exagero, que "Se, no primeiro capítulo, se disser que da parede pende uma espingarda, no capítulo segundo ou terceiro alguém terá que dispará-la".

Tal unidade é também destacada por Poe:

Um escritor hábil construiu um conto. Se foi sábio, não afeiçoou os seus pensamentos para acomodar os seus incidentes, mas, tendo concebido com zelo deliberado um certo efeito único ou singular para manifestá-lo, ele inventará incidentes tais e combinará eventos tais que melhor o ajudem a estabelecer esse efeito preconcebido. Se a sua primeira frase não tender à exposição desse efeito, ele já falhou no primeiro passo. Na composição toda, não deve estar escrita nenhuma palavra cuja tendência, direta ou indireta, não se ponha em função de um desígnio preestabelecido. (Graham's Magazine, maio de 1842. Citação retirada do livro O conto brasileiro contemporâneo, organizado por Alfredo Bosi.)

Para Ricardo Piglia, que também se debruçou sobre o gênero, para analisá-lo, o conto conta sempre duas histórias: a visível e uma outra, secreta, narrada sempre de um modo elíptico e fragmentário. "O efeito de surpresa se produz quando a história secreta aparece na superfície".

Relativização

Mesmo considerando todas essas definições, há de se abrir espaço para o insight, para uma execução do conto menos condicionada a regras e amarras racionalistas. É óbvio que, por limitações de tamanho e por exigência de uma maior intensidade, o gênero é menos afeito, que o romance, ao fluxo da consciência tão ao gosto dos surrealistas. Mas Virgínia Woolf e Clarice Lispector, James Joyce e Katherine Mansfield descortinaram, também no conto, novas paisagens e atmosferas poéticas, operando um deslocamento que, desde o século 19, vem ocorrendo do realismo, com a descrição pretensamente objetiva de fatos que acontecem lá fora, no mundo externo, material, testemunhados por um observador imparcial, para o mundo interior, de acontecimentos que ocorrem ou se refletem na consciência - e, mais além, no inconsciente: no universo rarefeito dos sonhos, dos delírios, das alucinações, da fragmentação da personalidade.

Tomando como balizas a contística de Maupassant (linear, anedótica e episódica) e de Tchekhov (de atmosfera, na qual o silêncio, o que não é dito, tem função essencial no efeito pretendido), o conto moderno ganhou, no século 20, um tom intimista, um encantamento verbal, também devedor da prosa poética de Rimbaud. Dessas vertentes, muitas vezes cruzadas e amalgamadas, desenvolveram-se estilos diversos, aos quais se agregam nomes como os de Hemingway, Juan Julfo, Raymond Carver, O. Henry, Rubem Fonseca, Dalton Trevisan e Lygia Fagundes Telles.

À relativização da história e da realidade, a partir de múltiplos pontos de vista, soma-se o desenraizamento transcendental, a perda da busca de um sentido e de uma utopia, o que se reflete no tom de paródia, na negação de grandes projetos políticos, sociais e estéticos do modernismo; na preferência por pequenas questões do cotidiano; na aproximação com outras linguagens, a exemplo do cinema, dos quadrinhos, da publicidade. A supervalorização da linguagem leva, nos extremos do pós-estruturalismo, à quebra da ligação original entre o signo e seu objeto, dando-se as costas, segundo Jacques Derrida, "ao exterior referencial da linguagem": ao mundo das coisas. É quando a linguagem se posiciona como realidade autônoma, e as possibilidades de interpretação se multiplicam no vazio criado pela ausência da autoridade - inclusive a do próprio autor em relação à sua obra.

A conseqüência disso é um distanciamento ainda maior do conto episódico, segundo o modelo maupassantiano, da história com começo, meio e fim, com tensão crescente, estrutura fechada e final inusitado. Hoje, é ainda evidente, entre muitos escritores contemporâneos, sobretudo no âmbito universitário, um desdém pela narrativa linear e pela construção de uma história. O que vale é, sobretudo, a linguagem - sendo Clarice Lispector e Guimarães Rosa as principais referências.

Este fenômeno tem provocado um empobrecimento do gênero, considerando: 1) Que existem grandes contos em qualquer vertente, não havendo, necessariamente, a superioridade de uma em relação à outra. O que importa realmente é o talento do escritor; 2) A inexistência, por exemplo, da noção tão valorizada por Rosa, da literatura como fábula, como transcendência - em suma: de uma visão filosófica da vida, hoje na contramão de um olhar voltado, como diz Alfredo Bosi, para o "dia-a-dia normal e socializado", ou seja, para tudo que é anti-Guimarães. Resultado: a produção enfadonha de rococós lingüísticos sem transcendência, sem epifania, sem raízes, sem verticalidade, que compõem quase sempre uma escrita anêmica, narcisista, um cinismo pseudotransgressor, um experimentalismo verbal inconsistente, voltado para o próprio umbigo.

O mesmo ocorre, de certa forma, com outra vertente: a da literatura urbana neonaturalista, limitada pelo registro factual, documental e jornalístico, mas carente das raízes profundas que possibilitaram, num passado não muito distante, a representação de uma realidade humana densa e profunda. Falta, hoje, não apenas no Brasil, haja vista a valorização de autores como o francês Michel Houellebecq e de seus similares nacionais, "o subsolo humano comum onde a criação artística mergulha suas raízes à procura do alimento vitalizante", como escreveu Aníbal Machado a respeito do conto russo do século 19.

Mas o conto resiste e mostra vigor, conforme demonstram as inúmeras coletâneas e antologias que vêm sendo editadas. Embora ainda não se possa vislumbrar grandeza, no que é feito atualmente, já se pode enumerar uma dezena de bons contistas, dentre autores surgidos nas últimas duas décadas, de norte a sul do país, conforme têm demonstrado antologias organizadas por Nelson de Oliveira, Luiz Ruffato e Rinaldo de Fernandes.

Numa época de extremo relativismo, talvez seja anacrônico esperar grandeza nas artes e na literatura, quando os próprios parâmetros de avaliação são desconstruídos, irremediavelmente. Talvez estejamos caminhando para critérios individuais do que é efetivamente o melhor. Com o desenvolvimento das tecnologias digitais, cada leitor poderá editar suas próprias antologias. Se me for possibilitado tal privilégio, não deixarei de reverenciar títulos que marcaram profundamente a minha formação, como leitor, a exemplo de O duelo, de Tchekhov; O escaravelho de ouro, de Poe; O homem da areia, de Hoffmann; O sinaleiro, de Dickens; Terra de cego, de H. G. Wells; A vênus de Ille, de Prósper Merimée; Os construtores de pontes, de Kipling; A morte do leão, de Henry James; Um artista da fome, de Kafka; As ruínas circulares, de Borges; A ilha ao meio-dia, de Julio Cortazar; O planalto em chamas, de Juan Julfo; Chuva, de Somerset Maughan; A sirene no nevoeiro, de Ray Bradbury...

No Brasil, limitando-me a autores já mortos, não poderia esquecer títulos como: A missa do galo, de Machado de Assis; Vestida de preto, de Mário de Andrade; Acudiram três cavalheiros, de Marques Rebelo; Cheia grande, de D. Martins de Oliveira; A hora e a vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa; Flor, telefone, moça, de Carlos Drummond de Andrade; Viagem aos seios de Duília, de Alcântara Machado"; Baleia, de Graciliano Ramos; O pirotécnico Zacarias, de Murilo Rubião; Laços de família, de Clarice Lispector; Amado cavaleiro o audaz motoqueiro, de Herberto Sales; Sargento Garcia, de Caio Fernando Abreu...

A lista se estenderia muito mais, se não tomássemos aqui o modelo de conto como gênero autônomo, formado a partir do século 19. Nesse caso, não deixaria de citar, sob a rubrica de apólogos, fábulas, novelas e alegorias, as histórias das Mil e uma noites, das Novelas exemplares, de Cervantes, dos Irmãos Grimm, de Voltaire (Zadig, Micrômegas) e tantos outros textos que enobrecem a arte de contar. "Façamos sempre contos", escreveu Diderot. Pois, "O tempo passa e o conto da vida se completa sem disso darmos conta".

Decálogo do perfeito contista
Horácio Quiroga (1878-1937)

I. Crê num mestre - Poe, Maupassant, Kipling, Tchekhov - como na própria divindade.

II. Crê que tua arte é um cume inacessível. Não sonhes dominá-la. Quando puderes fazê-lo, conseguirás sem que tu mesmo o saibas.

III. Resiste quanto possível à imitação, mas imita se o impulso for muito forte. Mais do que qualquer coisa, o desenvolvimento da personalidade é uma longa paciência.

IV. Nutre uma fé cega não na tua capacidade para o triunfo, mas no ardor com que o desejas. Ama tua arte como amas tua amada, dando-lhe todo o coração.

V. Não começa a escrever sem saber, desde a primeira palavra, aonde vais. Num conto bem-feito, as três primeiras linhas têm quase a mesma importância das três últimas.

VI. Se queres expressar com exatidão essa circunstância - "Desde o rio soprava um vento frio" -, não há na língua dos homens mais palavras do que estas para expressá-la. Uma vez senhor de tuas palavras, não te preocupes em avaliar se são consoantes ou dissonantes.

VII. Não adjetives sem necessidade, pois serão inúteis as rendas coloridas que venhas a pendurar num substantivo débil. Se dizes o que é preciso, o substantivo, sozinho, terá uma cor incomparável. Mas é preciso achá-lo.

VIII. Toma teus personagens pela mão e leva-os firmemente até o final, sem atentar senão para o caminho que traçaste. Não te distraias vendo o que eles não podem ver ou o que não lhes importa. Não abuses do leitor. Um conto é uma novela depurada de excessos. Considera isto uma verdade absoluta, ainda que não o seja.

IX. Não escrevas sob o império da emoção. Deixa-a morrer, depois a revive. Se és capaz de revivê-la tal como a viveste, chegaste, na arte, à metade do caminho.

X. Ao escrever, não penses em teus amigos, nem na impressão que tua história causará. Conta, como se teu relato não tivesse interesse senão para o pequeno mundo de teus personagens e como se tu fosses um deles, pois somente assim obterás a vida num conto.

Fonte:
Jornal de Literatura "O Rascunho" - Curitiba/PR
http://rascunho.rpc.com.br/

Henry James (1843 - 1916)

Segundo filho do casal Henry James e Mary Robertson James, Henry James nasceu em 15 de abril de 1843 em Nova York, perto de Washington Square, onde passou a infância.

Em julho de 1855 a família partiu para a Europa. Durante os cinco anos seguintes, entre várias idas e vindas, as crianças freqüentaram alternadamente, escolas européias e americanas. Em 1860 voltaram a morar nos Estados Unidos.

Em 1861 começou a estudar na Faculdade de Direito de Harvard, mas conferências do escritor James Russel Lowell sobre literatura faziam-no esquecer as leis. Em 1863 escreveu seu primeiro conto – A Tragedy of Error - publicado sem assinatura na revista Continental Monthly em fevereiro de 1864, mesmo ano em que junto com a família, muda-se para Boston. Pouco tempo depois redigiu uma nota crítica para The North American Review. No ano seguinte se tornou colaborador da revista The Nation e publicou na revista Atlantic Monthly seu primeiro conto assinado: The Story of a Year.

Em 1866 a família transfere-se para Cambridge, Estados Unidos.

Em fevereiro de 1969 partiu para a Europa. Levava consigo o pequeno lastro de suas experiências literárias, os primeiros contos em que já aparecem alguns dos temas que seriam constantes em sua obra – os artistas, o sobrenatural, o americano viajado. Esteve na Inglaterra, França, Suíça e Itália.

Em março de 1870 recebe a notícia da morte de sua prima Minny Temple, da qual gostava muito e em quem se inspiraria anos mais tarde para criar vários personagens.

Em abril voltou para os Estados Unidos e tornou-se crítico de arte do periódico The Atlantic, no qual publicou, em 1871, sua primeira novela: Watch and Ward.

Em 1875 publicou o romance Roderick Hudson e o livro de contos A Passionate Pilgrim. Em novembro do mesmo ano mudou-se para Paris, onde trabalhou como correspondente do jornal Tribune. Um ano depois James chegou à conclusão de que não tinha talento para repórter e partiu para Londres. Antes de arrumar as malas, fez um balanço dos aspectos positivos de sua estada em Paris. Em termos de criação literária, a melhor obra desse período foi O Americano, publicado pela revista The Atlantic em 1877. Além disso, teve oportunidade de conhecer escritores como Turguêniev, Flaubert, Zola, Maupassant, Edmond Goncourt. Entre eles, quem mais o impressionou foi Turguêniev, sobretudo por sua maneira de concentrar-se nos personagens, dando pouca importância ao enredo.

Em dezembro de 1876, fixou-se em Londres, na esperança de conquistar seu público também na Inglaterra – o que só aconteceria em 1879, com a edição inglesa de Rocerick Hudson e O Americano. Dos três romances escritos até então, apenas Watch and Ward não foi publicado, pois o próprio escritor julgava-o imaturo.

Não foi preciso esperar o lançamento desses dois romances para James firmar-se perante a crítica britânica. A consagração veio em 1878, com a publicação dos ensaios literários French Poets and Novelists, do romance Os Europeus e de mais de trinta contos, entre os quais Daisy Miller e An International Episode.

Em 1880 foi publicado na Inglaterra e nos Estados Unidos A Herdeira, um de seus melhores livros. E em outubro desse ano aparecia a primeira parte de O Retrato de uma Dama, sua obra mais extensa e popular e que encerraria a primeira fase da produção de James. Fase de aprendizado, de sucesso, de descoberta e de uso de temas cosmopolitas.

Em outubro de 1881, Henry James recebe a notícia de que sua mãe está doente. Arruma as malas e viaja para os Estados Unidos. Instala-se em um hotel em Boston, onde escreve à vontade e aproveita horas livres para visitar Nova York e Washington. Em janeiro de 1882 sua mãe morre. Em dezembro está de volta à Europa, e logo recebe outra notícia que o faz arrumar as malas novamente: agora é seu pai. Viaja apressadamente, mas não chega a tempo de encontrar seu pai vivo. Corre ao cemitério e junto ao túmulo, depara com uma carta de seu irmão William: “Boa noite, adorado pai. Se eu não te vir de novo, então adeus, um feliz adeus”.

Henry ficou na América até agosto do ano seguinte. Depois retornou novamente à Inglaterra. Sua produção não sofreu abalos. Ao contrário: durante a década de 1880 escreveu vários contos, a novela The Reverberator e os três romances considerados naturalistas: Os Bostonianos, Princesa Casamassina e A Musa Trágica.

Os Bostonianos trata dos reformadores da Nova Inglaterra. Princesa Casamassina fala dos anarquistas europeus. Nos dois romances as cenas da vida urbana mostram uma visão bastante ampla das cidades de Boston e Londres. Os leitores, porém, esperavam mais contos dos americanos na Europa ou de viajantes estrangeiros na América. Por isso, as duas publicações foram um fracasso.

Henry James não se deixou abalar. Continuou a compor seus contos, nos quais se percebe uma constante evolução de técnica aliada a temas mais ricos e variados. Os escritos desse período podem se agrupados por assuntos: internacionais – alguns na América, outros na Europa – sobre o casamento e sobre artistas. Ao primeiro grupo pertence Lady Barberina, publicado em 1884, história de uma jovem inglesa que se casa com um rico médico americano. Entre os contos do segundo grupo destaca-se A London Life, uma análise da corrupção do casamento. Por fim, dos contos sobre artistas, distinguem-se The Author of Beltraffic, cujo tema é a incompatibilidade de gênio entre um artista e sua esposa, e , que trata do casamento de um escritor e dos efeitos dessa união sobre seu trabalho.

O romance The Reverberator, de 1888, é uma produção menor, que pode ser utilizado como argumento contra as opiniões de que James era sério demais: seu tema é o jornalismo mexeriqueiro, o colunismo social. Em 1889 o escritor fez nova tentativa naturalista no romance com A Musa Trágica, mas que também não alcançou êxito com o público. No fim da década de 1880 o escritor era considerado um artista de extraordinária habilidade artesanal e havia recebido o reconhecimento da crítica. Mas o sucesso não se traduzia em dinheiro. Por isso, em 1890 resolveu tentar o teatro, muito mais rendoso na época. Assim, de 1890 a 1895 escreveu sete peças, das quais apenas duas foram encenadas. Na primavera de 1890 terminou a dramatização de O Americano, que embora bem recebida pela crítica, não alcançou sucesso com o público.

Em 1892 fez a versão teatral de Daisy Miller, recusada pelo empresário, que a considerou literária demais. James, contudo, não desistia de conquistar o palco. Em 1893 escreveu mais quatro peças, que também não chegaram a ser montadas. No ano seguinte, publicou-as em forma de livro, sob o título de Theatricals.

Em 1895, o popular ator e produtor George Alexander encenou a peça Guy Domville. A estréia foi um desastre. No segundo ato quando a Sra. Domville apareceu com um alto chapéu preto, alguém gritou: “Onde foi que você arranjou esse chapéu?”. E no final, quando Guy exclama: “Sou, meu senhor, o último dos Domville”, uma voz respondeu: “E já não é sem tempo”. Até esse instante James não estava no teatro; chegou ao cair do pano e apresentou-se à platéia. Foi uma tempestade de vaias. Em uma carta, o autor referiu-se ao episódio como um “dos mais detestáveis incidentes da minha vida”.

Antes de Guy Domville James havia escrito a peça The Other House, publicada em 1896 e jamais encenada. Depois de Guy Domville, ainda tentou conquistar o público teatral com Summersoft, representada, com algum êxito, em 1908, sob o título The High Bid.

Apesar dos fracassos, James continuou insistindo no teatro até 1909, quando escreveu sua última peça, The Outcry. A obra deveria ser representada na temporada desse ano, mas atrasos na revisão do manuscrito e no preenchimento do elenco foram adiando a estréia, que acabou cancelada.

Entristecido, James desistiu do palco. Retirou-se definitivamente de Londres e mudou-se para Lamb House, em Rye, cidade costeira do Sussex. Voltou a compor romances, novelas e contos. Até 1900 concluiu um grande número de obras de ficção, além de mais de 20 contos. São desse período suas experiências com o relato fantástico, em que se destaca A Outra Volta do Parafuso.

No entanto, mais importantes que os temas são as inovações técnicas introduzidas por Henry James. O teatro deu-lhe muitas lições: apresentação da ação por meio da cena, uso do diálogo como processo narrativo e supressão do autor onisciente como informador e comentarista. Seus escritos posteriores constituiriam a sua maior fase. Nos primeiros dez anos do século XX, Henry James trabalhou intensamente. De 1900 a 1904 escreveu seus três maiores romances: Os Embaixadores, As Asas da Pomba e A Taça de Ouro.

Em 1904 viajou para a Flórida e para a Califórnia, onde realizou algumas conferências.
Quando retornou à Inglaterra, escreveu The American Scene, um livro de observações sobre suas viagens.

Embora tenha sido publicado em 1903, Os Embaixadores foi concluído antes de As Asas da Pomba; apareceu, a princípio, na North American Review, em capítulos.

Nos dois romances analisou dramas humanos, dentro dos grandes sistemas sociais que o homem criou e dentro das idéias pelas quais edificou sua civilização, conservando-se um realista apegado às coisas visíveis e palpáveis.

Em A Taça de Ouro, James procura solução para problemas não resolvidos em trabalhos anteriores. Havia muito tempo queria escrever sobre o adultério: não podia fazê-lo, pois as familiares revistas americanas obrigavam-no a tratar o tema superficialmente. Como não havia planos para o romance ser publicado em série, sentia-se livre para abordar o assunto sem nenhuma restrição. Foi o que fez.

Na mesma época foram publicados mais três livros de contos:The Soft Side, The Better Sort e The Finer Grain.

Dessas coletâneas o conto mais popular é The Beast in the Jungle, que narra a história de um indivíduo tão egoísta que era incapaz de perceber o mundo à sua volta, de compreender e de amar. Esse conto é uma representação alegórica da insensibilidade, da cautela e da falta de ação que, segundo o autor, caracterizam o homem moderno.

Nas horas de folga dedicava-se à preparação da chamada “Edição Nova York” de suas obras. A cada romance e livro de contos, juntou um longo prefácio, no qual fez reflexões sobre os princípios de sua arte e os formula claramente. Mais tarde esses prefácios foram reunidos num volume sob o título The Art of Novel, em que três elementos se destacam: o estudo do processo de criação, a forma pela qual chegou a escrever histórias e as associações pessoais despertadas por uma nova leitura de sua própria obra. Esses trabalhos forneceram à crítica uma terminologia valiosa para a discussão do romance, que até hoje é amplamente utilizada.

Embora não tenha voltado a escrever romances, sua produção literária dos últimos anos foi extraordinária. Dedicou-se a elaboração de textos autobiográficos, críticos e de viagens. Escreveu English Hours, Italian Hours e Little Tour in France. Pouco antes do início da Primeira Guerra Mundial, publicou Notes on Novelists com estudos sobre Zola, Flaubert, Balzac, H. C. Wells e Bennet, além de dois volumes de memórias: A Small Boy and Others e Notes of a Son and Brother. Um terceiro livro sobre sua vida em Londres e Paris - The Middle Year - seria publicado somente após sua morte.

Em 1910 William James viajou à Europa para tratamento de saúde. Embora não estivesse muito bem, Henry acompanhou-o de volta à América. William piorou e faleceu no dia 26 de agosto.
Profundamente abalado, o escritor ficou na América até agosto do ano seguinte. Antes de retornar à Inglaterra foi homenageado com o grau honorário da Universidade de Harvard.

Meses depois recebeu o título de Doutor Honorário de Oxford.

Em 1913 seus setenta anos foram intensamente comemorados.

Em agosto de 1914 começou a guerra. Henry James cessou toda a sua atividade literária, lamentando “o horror de ter vivido para testemunhar tudo isso”, e ingressou num grupo de americanos que voluntariamente prestavam assistência espiritual aos feridos. Nas horas vagas redigia vários artigos sobre os refugiados de guerra.

Desejava que os Estados Unidos se aliassem à Inglaterra e à França. Irritado com a neutralidade do presidente Wilson, adotou a cidadania britânica em 26 de julho de 1915.

Em dezembro desse ano sofreu um derrame. Em 28 de fevereiro de 1916, morreu aos 73 anos. Seu corpo foi cremado e suas cinzas enviadas para a América e colocadas no jazigo da família, em Cambridge, Massachussetts.

Obras
A Volta do Parafuso
As Asas da Pomba
Lady Barberina
A Taça de Ouro
Roderick Hudson (1876)
Daisy Miller (1878)
Retrato de uma Senhora (1881)
Os bostonianos (1886)
A Fera na Selva

Adaptação de obras para o cinema
Taça de Ouro

Os inocentes - adaptação de "Turn of the screw"

As Asas Da Pomba - No Brasil conhecido como As Asas Do Amor. Sobre o triângulo romântico que se inicia quando a herdeira de uma fortuna Americana se muda para Londres a procura de ajuda medica e cai em um trama em que Kate Kroy planeja que ela se apaixone pelo seu amante e que deixa sua fortuna para ele com a chegada da sua morte.

Fonte:
http://www.sociedadedigital.com.br/artigo.php?artigo=238
http://pt.wikipedia.org

Aurora Bernardini (A dama que seduziu Dumas)

Como Marie Capelle, que lia para sobreviver na prisão, se tornou heroína de um folhetim inédito em livro até pouco tempo atrás

Em 1869, aos 67 anos de idade, Alexandre Dumas, o autor dos romances mais lidos na França da época, O conde de Monte Cristo e Os três mosqueteiros, e de um número considerável de outros livros (inclusive um de culinária!) e de 60 peças de teatro (“era uma verdadeira força da natureza!” – dizem seus biógrafos), resolve mudar de rumo. Sempre atento aos interesses de seu público, pressentiu que os leitores queriam agora algo de mais ágil que lhes desse a sensação de continuidade; nada melhor, para tanto, do que recorrer ao gênero folhetinesco.

Passa então a escrever folhetins, cada um dos quais encerra não mais do que um capítulo de sua nova narrativa que, para manter a atenção do leitor numa longa sucessão, deve ter os ingredientes necessários: suspense, ação, reação, golpes de cena, reviravoltas que redundem, no desenlace, em algo de extremamente verossímil, quando não completamente verdadeiro.

É este o caso de Senhora Lafarge e de Le chevalier de Sainte-Hermine. O primeiro acaba de ser publicado pela Martins Fontes, e o segundo (de mais de mil páginas!) está em fase de tradução. Durante quase um século e meio as duas narrativas ficaram inéditas em livro. Só em 2005 Claude Schopp, o “meticuloso guardião do corpus dumasiano” e autor de uma tese e vários livros sobre o grande escritor, reuniu os escritos que vieram a constituir o romance Senhora Lafarge e, pesquisando os periódicos da época nos Arquivos do Sena, trouxe inesperadamente à luz cento e tantos capítulos de Le chevalier de Sainte-Hermine – 70 mil exemplares impressos na França em um único mês – que prefaciou e teve de terminar, preenchendo as lacunas deixadas por Dumas que não conseguiu fazê-lo antes de sua morte, em 1870.

Senhora Lafarge narra a história de Marie Cappelle, jovem de origem aristocrática sem muita fortuna que, pelos descaminhos da vida, acaba casando-se, via agência matrimonial, com o brutamontes Lafarge, que, além de repulsivo, ainda por cima – descobre-se demasiado tarde – é desprovido de meios. As cenas da chegada da mulher à casa da sogra e o seu assédio noite afora são das mais acabrunhantes do livro. O que fazer? Um belo dia de 1840, na cidadezinha de Tulle, onde reside, o senhor Lafarge amanhece envenenado. Arsênico. O fato é verdadeiro, as personagens, também. Instaura-se o processo que irá apaixonar por anos a opinião pública francesa.

Tal como Aleksandr Púchkin, que apesar de ter tido uma vida mais breve (foi morto em duelo aos 38 anos, por um francês!) foi seu contemporâneo, Alexandre Dumas, embora escritor romântico, sabe como lidar com seus leitores de maneira realista. Entremeando referências pes¬soais sem ilações psicologizantes, leva-os a participarem, como interlocutores inteligentes, da ação, das conseqüências da ação, das digressões, das discussões de sua época. Se Púchkin, em seu famoso conto gótico A dama de espadas instrui o público sobre telepatia, alucinação, magnetismo e jogos de azar, Dumas mergulha-o em cheio na história da França.

“Minha vida daria um romance”, teve ocasião de dizer Dumas nos fascículos de suas volumosas memórias que vão desde a queda da Bastilha, o advento de Napoleão até o II Império e a III República. (Nos sebos ainda se encontram as traduzidas por Rachel de Queiroz para a José Olympio, em 1947, Memórias de Alexandre Dumas, pai. Como se sabe, Alexandre Dumas teve um filho, também escritor, que passou a firmar Alexandre Dumas, filho).

De fato ele reconta sua vida a partir do avô, marquês Davy de la Pailetterie, que, devido a intrigas da corte, deixa a França em 1760 e se estabelece na grande propriedade que compra na ilha de São Domingos, colônia francesa, onde se casa com uma escrava e tem um filho mulato que se torna um grande militar: o pai de Dumas. Morta a mulher, a quem queria muito, o avô volta à França em 1784 e, com a idade de 74 anos, torna a casar-se. O filho, Thomas-Alexandre Dumas-Davy de la Pailleterie, célebre por sua bravura e força hercúlea, faz rápida carreira, torna-se general, mas se incompatibiliza com Napoleão durante a campanha do Egito. Volta à França, perde o prestígio e a saúde e morre em Villers-Cotterêts, onde a família possuía uma propriedade, em 1806.

Alexandre Dumas, filho de Thomas-Alexandre, nascido em 1802, e sua irmã ficam portanto órfãos de pai na idade mais tenra. Acontece que o avô de Marie Cappelle, o senhor Collard, fora vizinho e amigo do general republicano e, como tal, fora designado tutor do pequeno Alexandre e de sua irmã. Isso não apenas justifica o fato de Alexandre Dumas ter mergulhado no caso judicial que envolveu Marie Cappelle como conhecedor de todos os detalhes, mas explica a autenticidade que soube imprimir a todas as passagens como protagonista que de fato foi.

O processo desenrola-se com todos os moventes e peças manipulados pelos jurisconsultos mais renomados da época. Documentos a favor e contra a senhora Lafarge são arrolados com a veemência e a meticulosidade que o caso comporta. Formam-se alas de lafargistas e antilafargistas. A comoção é nacional. Por fim, a senhora Lafarge, recolhida à prisão desde o início do processo, é condenada e transferida de Tulle para Montpellier, onde irá expiar sua culpa. Culpada ou mártir?

As várias propostas de fuga para o estrangeiro são recusadas por Marie, que clama sua inocência. O próprio Dumas, amigo da família, propusera à jovem órfã (Marie perdera os pais quando ainda menina, ficando a cargo de uma tia) que o deixasse levá-la para Paris: “Ofereci-me para raptá-la naquela mesma noite. Eu falava seriamente e o teria feito, certo de estar agindo em prol da sua felicidade e, conseqüentemente, de acordo com a Providência. Teria você se tornado cantora, atriz trágica ou literata? Não sei. (...) Com certeza teria sido algo grande, distinto, fora de série!”. Marie não foge e nada mais lhe resta senão escrever suas Reflexões e recordações, as quais, por sinal, Dumas cita várias vezes em sua narrativa. Triste é o destino das mulheres que não se adaptam a seu tempo, opina o escritor.

Enquanto espera pelo indulto que o novo imperador talvez lhe dê, instado pelos esforços do próprio Dumas e após superar os maus-tratos que lhe são infligidos na prisão à custa de sua própria saúde, Marie lê, lê “como quem tenha feito da crença na ficção a chave do funcionamento do real”, dirá Ricardo Piglia no seu O último leitor.

“É preciso ter sido privado de livros para sentir o preço dessa doce companhia, sempre variada, sempre renovada, sempre em uníssono com a corda vibrante de nosso espírito”, escreve Marie. E o que ela lê? Pascal, “o suave agrimensor da dúvida e da fé”; depois Bossuet, “o cronista inspirado dos segredos de Deus”; depois ainda Fénelon, “ a alma de apóstolo e de santo”; Madame de Sévigné, com “o inesgotável gênio de seu amor de mãe”, e enfim Corneille, Racine, Montaigne, La Fontaine, Molière. Em sua clausura vive da lembrança dos livros que carrega em sua memória.

E se ela tivesse tentado fugir?, pergunta-se o leitor, enquanto ainda tenta dirimir a dúvida que lhe ficou quanto à sua culpabilidade. Será que não teria conseguido talvez contornar a sorte que coube às suas contemporâneas literárias, Anna Kariênina e Emma Bovary? Talvez só George Sand, com suas self-made-women (quem, de sua geração, não torceu pela Pequena Fadette?), teria podido dar uma visão mais otimista do que a do romântico Dumas quanto ao destino de suas heroínas.

Fonte:
Revista EntreLivros - edição 24 - Abril 2007

Nilto Maciel (Literatura Fantástica no Brasil – Parte II)

OS SUCESSORES

A preocupação dos modernistas de 22 com o novo, o moderno, o revolucionário afastou-os do fantástico. Ora, o sobrenatural é anterior a toda literatura escrita. Não poderia mais ser motivo literário. No entanto, havia uma contradição no ideário modernista, vez que "a busca de inspiração nas fontes mais autênticas da cultura e da realidade brasileiras”, o nativismo, o verde-amarelismo, o antropofagismo etc. teriam que, necessariamente, se imbricar às lendas e mitos brasileiros. Ou seja, ao maravilhoso, ao fantástico. É o que se vê em Cobra Norato e Martim Cererê, por exemplo. Apesar disso e ainda assim, os modernistas não praticaram o fantástico, vez que nos dois casos estamos dentro dos limites da poesia, e o fantástico, segundo Todorov, não pode subsistir a não ser na ficção. E Macunaíma? Seria romance com ingredientes fantásticos? Talvez um fantástico novo, revolucionário, essencialmente brasileiro.

Em 1934 a paranaense Rachel Prado optou por ser diferente de seus contemporâneos e publicou Contos Fantásticos.

Jorge Amado não ficou imune ao fantástico, apesar do costumbrismo tão presente em sua obra. Porém e exatamente nas lendas, no anedotário que o fantástico se instala. A literatura oral de qualquer país ou região é plena de elementos fantásticos. Lembramos As Mil e Uma Noites.

Há pelo menos uma tese de interesse para estes apontamentos e que tem como objeto a obra do romancista baiano: “O fantástico, o maravilhoso e o realismo mágico na obra de Jorge Amado”, de autoria de Maria Cristina Diniz Leal.

A pioneira da ficção científica no Brasil é Dinah Silveira de Queiroz. Estreou em 1939, com o romance Floradas na Serra. No entanto, são outros seus livros que devem ser aqui lembrados: Eles Herdarão a Terra, de 1960, e Comba Malina, de 1969.

Nessa mesma linha estão Almeida Fischer, Luís Lopes Coelho e Fausto Cunha. O primeiro é autor de O Homem de Duas Cabeças, de 1950. O segundo publicou A Morte no Envelope (1957), O Homem que Matava Quadros (1961) e A Idéia de Matar Belina (1968). O terceiro é autor de As Noites Marcianas (1961) e O Dia da Nuvem (1980), ambos também dentro dos padrões da science fiction.

Voltemos, porém, a narrativa fantástica propriamente dita e sigamos rumo aos dias da hoje. No meio do caminho, no entanto, seremos forçados a abrir três atalhos ou veredas, para depois voltarmos à. grande estrada. Dedicaremos algumas palavras mais a três nomes fundamentais de nossa literatura fantástica: Murilo Rubião, José J. Veiga e Péricles Prade.

Em 1944 estreou em livro Lygia Fagundes Telles. Na apresentação da 3ª edição de Antes do Baile Verde, antologia que vai de 1949 a 1969, Fábio Lucas afirma: “Hoje, todas as literaturas consideradas amadurecidas admitem e aplaudem as obras fantásticas. Jorge Luís Borges, por exemplo, pode ser considerado um dos mais influentes propagadores da narrativa fantástica.” E mais adiante: “A fadiga de algumas formas realistas tem conduzido determinados escritores à região do fantástico e do maravilhoso. Alguns vão ter a esse terreno por natural tendência do espírito. Cremos ser o caso de Lygia Fagundes Telles...”

Que dizer do fantástico Guimarães Rosa?

Sob o título Realismo Mágico, José Hildebrando Dacanal reuniu três ensaios dedicados aos romances Grande Sertão: Veredas, O Coronel e o Lobisomem e Fogo Morto. Os dois primeiros são, para ele, “obras essenciais do ‘realismo mágico’ .“E mais: “o mágico, o maravilhoso em sua naturalidade, o mítico, ou como quer que o denominemos, somente agora, nas literaturas do Terceiro Mundo, passou a fazer parte da narração romanesca.”

Dacanal tudo faz para aproximar o romance de Guimarães Rosa do Cem Anos de Solidão ou do realismo mágico praticado por romancistas hispano-americanos. No entanto, o próprio título do ensaio – “Grande Sertão: Veredas ou A apologia do imanente” – demonstra que Dacanal se ocupou muito mais da importância literária da obra de Rosa do que de sua ligação com o realismo mágico.

Temístocles Linhares menciona a “Estória do homem do pinguelo” como um dos momentos em que Guimarães Rosa se ocupou do fantástico.

Na tese intitulada O fantástico no conto brasileiro, Maria Luísa do Amaral Soares dedica especial atenção ao autor de Sagarana.

A maioria dos estudiosos da obra de Guimarães Rosa – e são incontáveis esses estudiosos, o que o torna um dos mais estudados escritores brasileiros –, a grande maioria pouco se refere ao elemento fantástico na sua imensa obra.

Moreira Campos estreou em livro pouco depois de Guimarães Rosa. Dedicou-se quase que exclusivamente ao conto e se preocupou sempre muito mais com a qualidade do que com a quantidade. Assim, Os Doze Parafusos, publicado em 1978, ou seja, quase 30 anos após o primeiro, é apenas o seu 5º livro de contos.

Comentando esse livro, José Alcides Pinto diz: “Os Doze Parafusos abrem um novo caminho na ficção de Moreira Campos, já esboçada sob o ponto de vista prático em outras obras, mas sem a liberdade de como os assuntos são agora tratados, vistos de frente, com um realismo mágico e epidérmico...".
Para Antonio Hohlfeldt, o contista cearense e um dos cultores do que chama de “conto rural”. Temístocles Linhares em Moreira Campos um discípulo dos “velhos mestres do naturalismo”. De opinião diversa, porém, é Braga Montenegro, ao comentar Os Doze Parafusos: “Elaborando os seus temas sob a inspiração de um realismo mágico, o autor não se desnuda, não blefa, e tudo realiza no âmbito do implícito e do metafórico. Entretanto, nos seus textos nada há de sibilino ou de hermético, ou ainda de supra-realista.”

No artigo “Afinal, os cães veêm coisas?”, Linhares Filho pergunta: "Qual a razão do interesse maior do fantástico em Moreira Campos, se tal categoria não constitui uma constante do escritor?” E responde: “Justamente o fato de, sendo ele um autor neo-realista às vezes, outras vezes neo-naturalista, apresentar-se cioso da verossimilhança, adotando, nos raros contos em que abriga o fantástico, uma postura que mais se inclina para o estranho do que para o maravilhoso. De maneira que o tratamento proporcionado pelo contista ao sobrenatural nunca é gratuito, mas contrabalançado convenientemente com as possibilidades do natural, do que resultam produções cheias de legitimidade artística. “O dia de Santa Genoveva”, inserido no livro Os doze parafusos, constrói-se, na sua tensão entre o sobrenatural e o natural, como um legítimo conto fantástico.” E encerra assim: “Concluímos que, até mesmo no difícil gênero fantástico, em que se exige uma pronunciada ambigüidade, se mantém o equilíbrio artístico de Moreira Campos, confirmando-se o seu talento de ficcionista apreciado pelo leitor comum e consagrado pela mais exigente crítica, e cumprindo-se, assim, o seu papel de intelectual consciente, que usa com sensibilidade, peculiares e poderosos recursos para a expressão do humano.”

Samuel Rawet é anterior a J. J. Veiga, pois estreou em 1956. Segundo Assis Brasil, a estréia de Rawet, com o livro Contos do Imigrante, marca a renovação do conto brasileiro, assim como Doramundo e Grande Sertão: Veredas marcam a renovação do romance.

E quanto ao fantástico? Temístocles Linhares não via o fantástico como traço dominante da literatura de Rawet. No seu entender, tanto ele como Rubião “poderiam ser classificados com outros rótulos”. O fantástico de Rawet seria um “fantástico alimentado de fragmentos biográficos, que se apresenta em vários planos, num tipo de conto analítico, enxadrezado”, explicava.

Hermilo Borba Filho dedicou-se ao teatro e à literatura. Uma de suas últimas obras publicadas foi o conjunto de novelas intitulado O General Está Pintando, onde os personagens “vivem episódios que não se podem qualificar senão de fantásticos”, como está dito na orelha do livro. “São situações inusitadas – continua o observador anônimo –, que o recurso ao mágico é constante, e que dão a cada novela o seu impacto mais violento, justamente por estarem intimamente mescladas com a realidade banal do dia-a-dia. Esse realismo fantástico, que ora se manifesta puramente maravilhoso e ora chega às raias do grotesco, é a forma que o autor encontrou para apresentar um estado de coisas num mundo desencontrado, repleto de contrastes chocantes e absurdos inexplicáveis."

Hélio Pólvora publicou o primeiro livro, Os Galos da Aurora, em 1958. É considerado um dos precursores da literatura brasileira de cunho documental e fantástico.

Estreante na década de 60 é também Moacyr Scliar, que mais recentemente publicou A Balada do Falso Messias, Os Mistérios de Porto Alegre e Histórias da Terra Trêmula, todos em 1976, e O Anão no Televisor, em 1979.

Cultivando o fantástico ou para-fantástico, “os trabalhos de Moacyr Scliar não se esgotam na gratuidade dos temas: vão mais além e se situam ao nível de uma sátira de caráter universal, berço da melhor literatura”, comenta Assis Brasil.

Com relação a Caio Porfírio Carneiro, também há quem veja nele um realista que aqui e ali resvala para o fantástico. Marcos Rey chega a dizer: “ É um autor todo voltado à realidade, sem ser fanático do realismo. A realidade é seu ponto da partida, embora nem sempre da chegada.”

José Cândido de Carvalho estreou em 1939, com o romance Olha Para o Céu, Frederico. Porém somente em 1964 surgiu sua obra maior – O Coronel e o Lobisomem. José Hildebrando Dacanal escreveu um dos ensaios mais argutos sobre o realismo mágico brasileiro, sob o título “O Coronel e o lobisomem entre o Mítico e o Sacral”. Citemos um trecho dele: “A estrutura da narrativa é irracional se apreciada da perspectiva do romance do real-naturalismo ao qual O Coronel e o Lobisomem aparentemente se liga. Contudo, se for colocada dentro do esquema acima encontrarei seu pleno sentido: ela também oscila entre o plano racional, realista, e o mítico-sacral, fantástico, mágico, ou como se quiser chamá-lo. Por sua parte, também a narrativa termina no plano do fantástico ao mesmo tempo em que dissolve a dicotomia entre os dois planos ao elevá-la ao nível da “irracionalidade estrutural” (do ponto de vista técnico) com o último capítulo, no qual Ponciano narra o fim da ação, o fim do romance e sua própria destruição como personagem e, portanto, seu próprio desaparecimento como herói dilacerado entre dois mundos.”

José Alcides Pinto é autor de romances singularíssimos, como O Dragão, Os Verdes Abutres da Colina e O Criador de Demônios. Sua trilogia O Tempo dos Mortos, no dizer de Faria Guilherme, “situa-se numa linha introspectiva, de integração psicológica, num universo esotérico, sem perder da vista o fantástico...”

A melhor análise de sua obra, no entanto, é do também romancista José Lemos Monteiro, no livro O Universo Mí(s)tico de José Alcides Pinto. Diz, a certa altura, o crítico: “...o universo criado por José Alcides Pinto sintoniza com uma diretriz nova da história de nossa literatura, qual seja, a da exploração do fantástico, do estranho ou do maravilhoso.”

Assim como Hermilo Borba Filho, o romancista Ariano Suassuna iniciou-se no teatro. Seus romances constituam uma trilogia, iniciada com Romance d’A Pedra do Reino, em 1971, seguido de História d’O Rei Degolado, em 1976.

A respeito do “realismo mágico”, ele mesmo escreveu “nota” publicada junto ao O Rei Degolado: “será que o mito é uma fantasia irreal e anestesiadora, incompatível com o realismo, ou, pelo contrário, tem um sentido mais real e carregado de significados do que os personagens das novelas meramente “veristas”? Note-se que, de propósito, estou usando um nome ligado ao “verismo” naturalista, e não ao “realismo”, que é outra coisa: inclusive já escrevi uma vez – tentando desfazer certos equívocos a respeito do meu pretenso “realismo mágico” – que, na América Latina de fala espanhola, o “realismo mágico” era mais mágico do que realista, enquanto que no Brasil ele era mais realista do que mágico.”

Fonte:
http://www.vastoabismo.xpg.com.br/6.html

Armando Pompermaier (Universalismo específico: poesia como reinvenção do ser e do mundo)

"Ao contrário do que afirma implicitamente a poesia de seus contemporâneos espanhóis, para nenhum... [dos escritores hispano-americanos] há uma substância original nem um passado por resgatar: há o vazio, a orfandade, a terra do princípio não batizada, a conversação dos espelhos. Há, sobretudo, a busca da origem: a palavra como fundação".
Octávio Paz

Alguns pensadores defendem que o Brasil foi mais inventado que descoberto. Os colonizadores ao invés de tentarem entender as culturas dos nativos deste continente fizeram representações destes a partir de seus interesses e visões de mundo. Inventaram também o Brasil moldando a terra conquistada a esses interesses e visões de mundo no processo de exploração da conquista. Dificilmente se poderia recuperar a maioria da riqueza das visões de mundo contidas na grande multiplicidade de culturas nativas nas especificidades de seus vigores pré-coloniais. No vácuo de uma essência perdida a ser recuperada, o poeta mexicano Octavio Paz[1] vê a palavra poética como fundadora da essência de povos latino-americanos em construção, possível apenas através da “refutação do tempo”, em meio a “todas as eternidades que nós, os homens, fabricamos”.

Na perspectiva de uma ruptura forçada com um passado inacessível ou que lhes é estranho, os povos das ex-colônias são órfãos de culturas das quais não há nem uma substância nem um passado a resgatar. É assim que a palavra poética fundadora da essência latino-americana de Residência na Terra, de Neruda, não se refere a uma “Terra histórica”, mas sim a uma “geologia mítica”, segundo Paz. É desta forma que a criação da poesia do chamado “novo mundo” encontra condições para se tornar a poesia da criação da nova subjetividade de um novo homem, quer dizer, a poesia da reinvenção do homem e do mundo, trazendo simultaneamente “todas as eternidades” herdadas dos predecessores do “velho mundo” em si.

É extremamente interessante e fecundo o conceito de cosmópolis particulares expresso por uma literatura que, por ser órfã de uma antiguidade clássica específica sua para recuperar, além de beber água nas fontes das antiguidades culturais mais diversas ainda sente uma “nostalgia do futuro” a ser construído que supra a ausência deste passado glorioso ausente. A palavra poética, nesta perspectiva, é recriação, releitura, re-significação de todas as criações, leituras e significações; é o revigoramento; é a reinvenção do “velho mundo” em retribuição à sua invenção do “novo”; é a invenção do novo mundo pleno onde o elemento antes subjugado se afirma como parte integrante do todo sob uma nova perspectiva; é uma revolução subjetiva, uma revolução do ser que cria a si mesmo.

Penso no meu Estado, o Acre, no contexto da globalização, concebido como uma cosmópolis realmente muito particular, ligado ao mundo todo por uma revolução tecnológica e imerso em populações indígenas, algumas ainda aparentemente sem contato com a pretensiosamente auto-denominada “civilização”, outras já bem descaracterizadas de seu esplendor original; porções de florestas virgens e florestas habitadas por populações de extrativistas tradicionais em disputas de terras com agropecuaristas, serralheiros, sob interferência dissimulada, direta ou indireta, de mega-empresas globais, ONG’s, governos nacional e estrangeiros, e vários outros neo-mistérios das florestas do terceiro milênio do mundo globalizado. Características e contradições de mundos novos e antigos coexistindo nas eternidades simultâneas juntas com o sentimento de orfandade da nostalgia de um futuro a ser construído, reinventando o passado e a interpretação do presente; inventando o Acre, o Brasil, a Amazônia, o Mundo, o Passado, o Presente e o Futuro; o Eu, o Outro, o Nós e os Outros.

Não se trata mais de simples antropofagismo. Este é uma fase necessária, mas inicial. Trata-se sim de seu desenvolvimento, seu ir além. Estamos falando de todas as sínteses, do hibridismo radical, profundo, pleno; a essência de um coletivo humano transtemporal e transespacial espacializado e temporalizado: um universalismo específico, interativo, dialógico!... o artista é o escritor do gênesis; é o Simon Bolívar da subjetividade; é o Lampião da consciência oprimida; o Zumbi dos quilombos que guardam nossas esperanças livres. Sua arte pode ser nosso quilombo, nosso cangaço, nossa aldeia sideral, nosso seringal astral, nosso sorriso de carnaval. Somos um universo em expansão.
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Armando Pompermaier: Professor de História, Mestrando em Letras, poeta, compositor.
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Fontes:
http://alpinistademuta.blogspot.com/
Mapa =
http://www.henriqueafonso.com.br

Nilto Maciel (Panorama do Conto Cearense - Parte XI)

OUTROS NOVOS CONTISTAS

Seguem-se informações sucintas relativas a contistas apresentados nos últimos anos do século XX e começos do XXI em coletâneas, quase sempre oriundas de concursos literários, em periódicos e na Internet.

- Adriano Espínola (Fortaleza, 1952) é poeta e ensaísta dos mais conceituados no Brasil, com alguns livros publicados por grandes editoras. Tem também escrito contos. Professor de Literatura Brasileira.
- Aetamira Lúcia Ribeiro: 3º. lugar no I Prêmio Cidade de Fortaleza, com "A Casa".
- Ajuricaba Freitas Gaspar (Teresina, Pi, 1943) teve publicado "A Transação ou O Coronel, Sua Mula e o Cigano" na coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
- Alda Maria Cordeiro de Santana (Nova Olinda, 1961). Mostrou os primeiros seis contos no livro II Prêmio Ceará de Literatura. São eles: "Filhos da Selva", "Extraterreno", "Conversa pra Boi Dormir", "Fora da Lei", "Cem Cruzeiro ou Cem Cruzado não vale um Vintém Furado" e "Homem-Bicho ou Bicho-Homem".
- Alexandre Perazo Nunes de Carvalho: 7º com "O Almoço de Confraternização", no IV FUC, publicado em coletânea.
- Álvaro Fernando de Araújo Filho: 6º. no II FUC, com "...e o sonho fez-se verbo".
- Ângela Maria Bessa Linhares, professora universitária, dramaturga, com obra publicada, tem "A Ninguém" na coletânea 3º. Prêmio Ideal Clube de Literatura.
- Antonio Carlos Klein: 8º. no II FUC, com "No Velório do Vidal".
- Antonio Vanderley Moreira: 6º. no IV FUC, em 1996, com "Sem Verde e Sem Vida", publicado em coletânea.
- Carla Amalia Lourenço tem contos em jornais e premiados. 2º. no I Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, com "Bicha não...". 6º. com "Combinações", na quinta versão do mesmo concurso, de 1995. Ambos publicados nas coletâneas que reuniram os contos e poemas premiados.
- Carlos Alexandre Bastos Gonçalves (Belford Roxo, RJ, 1979) está presente à coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com "Residencial Vila Lobos".
- Carlos Costa obteve menção honrosa (ou 4.º lugar) no III Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, 1992, com "Como no Vietnam".
- Cecília Oliveira do Nascimento tem "O Natal de Calu" na coletânea 3º. Prêmio Ideal Clube de Literatura.
- Celina Côrte Pinheiro, paulista de nascimento, mora e clinica em Fortaleza, onde também escreve contos e os tem estampado em jornais e nas coletâneas da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores.
- Cellina Muniz participa de Antologia Literária (Prêmio Domingos Olímpio de Literatura, 1998, Sobral), com "Ambrósio".
- César Barros Leal (1950) tomou parte em antologias, como 10 Contistas Cearenses. A opinião de Nascimento, a respeito do conto incluído nesse livro, é de que o contista "conduz a linha narrativa de ‘Meu Grande Amigo’ numa linguagem reminiscente mais objetiva, centrada num episódio de sua vida. Entretanto, somente o narrador emerge dotado das funções de lembrar e reproduzir imagens e sensações".
- Clodomiro Paulino Gomes Filho: 2º. no I e no IV FUC, com "O Rubi" e "O Cardápio", respectivamente.
- Cristiano Gonçalves Ribeiro está presente na coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com "Grito na Tempestade".
- Daniel Magérbio Almino de Lucena (Crato, Ce, 1978): "Elipse", na coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
- Dimas Macedo, natural de Lavras da Mangabeira, tem se dedicado à poesia e à crítica literária, com êxito. No campo da prosa de ficção já apresentou alguns textos, como "Escritos do Dilúvio" e "Poética da Esfinge", incluídos no volume de artigos e ensaios Crítica Dispersa. Tem inéditas diversas histórias curtas e, em preparo, um romance.
- Daniel Magérbio Almino de Lucena (Crato, Ce, 1978) participou com "A Força no Sentido Horário" da coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
- Ecila Moreira de Meneses: 7º. no I FUC, com "Odisséia de Cada Dia".
- Edilson Brasil Júnior (ou Edilson Brasil de Souza) tem "As Mãos na Face" na coletânea 3º. Prêmio Ideal Clube de Literatura e "Bodas de Nunca Mais" na coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
- Emerson Freitas Braga participa do terceiro volume do Ideal, com "A Árvore do Bem e do Mal".
- Erick Leite Maia tem "A Menina que Falava Alemão" na Antologia Literária (1º. Prêmio Domingos Olímpio de Literatura, 1998, Sobral). No terceiro livro do mesmo prêmio, de 2000, compareceu com "Einstein e o luar do sertão".
- Fabiano dos Santos: 6º. no I FUC, com "UTI". Tem livros para o público infantil.
- Fayga Silveira Bedê: 8º. no I FUC, com "Daniel à Porta do Céu".
- Fernando Marcelo Probo: 5º. com "Câncer", no I FUC, da UFC, 1993.
- Francisco José Brasil participa da coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com "Minha Louca Estória com Djaíldo e Outras Coisas que nem Lembro para Contar".
- Francisco Octávio Marcondes Rudje (Rio de Janeiro, RJ, 1944), tradutor, participa da coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com "Noturno Urbano".
- Francisco Paulo de Souza: "Sou temperadental", 1º. no I Prêmio Literário Cidade de Fortaleza. Tem contos em jornais.
- Germano Silveira, formado em Letras, tem obras publicados, entre elas um romance premiado. Participa da terceira coletânea do Ideal, com "Claustrofobia".
- Gislene Maia de Macedo: 9º. no II FUC, com "O Homem velado".
- Iclemar Nunes: 3º. com "Tiãozinho Bananeira e as Diretas Já", no I Prêmio Cidade de Fortaleza e publicado na coletânea do mesmo nome.
- Igor Leite Mendonça Mina (Fortaleza, 1983) apresentou "Conto de um Rei sem Trono" e "Charles Patrick e a Doutrina do Pensamento Imanifesto" na coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
- Irenísia Torres de Oliveira: 3º. no I FUC, com "Noturno".
- Ivan Moreira de Castro Alves (Fortaleza, 1926) está incluído na antologia O Talento Cearense em Contos, com "Maré Baixa ou Contos da Lua Vaga". Tem diversos livros publicados (memórias, crônicas).
- Jádson Barros Neves (Miranorte, To, 1966) publicou os livros O Homem, o Pássaro, o Rio e Entre Eles, os Escorpiões. Tem contos premiados, como "Paisagem para Isabel", publicado na coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
- Jean Garcia Lima (Fortaleza, 1977) está incluído na coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com a narrativa "O Profeta da Pedreira".
- Jeovah Lucas da Silva: 10º. no IV FUC, com "Agressões", publicado em coletânea.
- Jesus Rocha (Maranguape) tem livros para o público infanto-juvenil, além de contos esparsos em periódicos. Da antologia O Talento Cearense em Contos é integrante com "Cenas de Futebol e de Aviação".
- Joan Edessom de Oliveira está presente na segunda coletânea do Prêmio Domingos Olímpio, com "Os Afogados". Na terceira obteve o primeiro lugar, com "Os Filhos de Aprígio Martins".
- João Dionísio Viana Neto também participa do mesmo livro, com "Recordações".
- José Augusto do Nascimento Filho: 3º. no II FUC, com "Revolução", e em 8º. no XII Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, 2003, com "Traição".
- José Augusto Nóbrega Lessa teve "O Acompanhante do Outono" classificado em 1º. lugar no XII Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, em 2003.
- José Carlos do Nascimento obteve, com "Destino, Vida e Morte do Homem-Álcool", o 9º. no XII Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, 2003.
- José Célio Freire, professor universitário, participa da terceira coletânea do Ideal, com "Refém@imaginet.com.br".
- José Cornélio Ribeiro Neto compareceu à terceira antologia do Prêmio Domingos Olímpio, com "O Cabral".
- José Flamarion Pelúcio Silva (Pombal, PB, 1942) teve classificados e publicados "Esse meu pai..." e "Lua Negra" na coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
- José Mesquita Xavier Ferreira, com "A Flor", em 5.º no XII Prêmio Cidade de Fortaleza, 2003.
- Juliana Antunes de Menezes participa da coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com "Amigo Desconhecido".
- Júlio Lira é sociólogo atuante na área dos direitos das crianças e dos adolescentes. Publicou A Historia Inacabada de Maria Rapunzel (Edições Demócrito Rocha). "Por que a humanidade precisa suicidar-se" foi contemplado com o Prêmio Domingos Olímpio e publicado em Literatura n.º 24. "Nove de Copas" obteve o 2.º lugar no XII Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, 2003. Prepara Pequenas e Quase Inocentes Histórias de Horror.
- Lígia Leal Heck (Rio de Janeiro, RJ, 1948) aparece na coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com "Uma Versão Versada".
- Lourival Mourão Veras, poeta e contista, teve "A Lua de Felícia" colocado em 5.º no V Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, 1995, e apresentado na coletânea que reuniu os contos e poemas premiados.
- Lucelindo Dias Ferreira Júnior (Cacoal, RO, 1984) participa da coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com "Sentir Muito".
- Luciano Lira de Macedo (Crato) escreve contos e crônicas, que divulga em jornais, revistas e coletâneas, especialmente as da Sobrames, médico que é.
- Lucineide Souto tem publicado contos em jornais e revistas, como "A Burra de Padre", em Literatura nº. 24. Tem no prelo seu primeiro volume de histórias curtas, Chame os Meninos.
- Luís Marcus (ou Marcos) da Silva (Fortaleza, 1964) editou "Noite Empalhada", no Almanaque de Contos Cearenses. Teve "Ociosidade" classificado (e publicado em coletânea) em 4º. lugar no I Prêmio Literário Cidade de Fortaleza. Estampou contos em jornais.
- Luiz Antonio Simonetti: em 9º. com "O Aprendiz", no I FUC.
- Marcela Magalhães de Paula (Rio Claro, SP, 1983) tem "Essência" na coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
- Marcela Rosseti Pacheco (Rio de Janeiro, RJ, 1976) participa da segunda, terceira, quarta coletâneas do Ideal Clube, nesta com "Adeus", e da sexta com "Caleidoscópio".
- Marcus Túlio Dias Monteiro, graduado em Letras, tem livro de poemas editado. "Rua Verdadeira" se classificou em 9º. lugar no IV FUC e foi publicado em coletânea, e "Uma Noite Na Fortaleza Descalça" está na terceira coletânea do Ideal. Incluído também no VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com "Íncubus: Um Passeio Pelos Sonhos Humanos".
- Maria Amélia Barros Leal é uma das participantes de 10 Contistas Cearenses. F. S. Nascimento faz restrições a "O Elevador": "Sua aptidão kafquiana (sic) poderá conduzi-la a texturas bem mais urdidas, não lhe faltando talento e força criativa para alcançar melhor posição no panorama do conto no Ceará".
- Maria Carolina Lobo: 10º. com "Crônica de Uma Morte Generosa", no I FUC.
- Maria Thereza Leite tem obras premiadas. "Mosaicos" (1º. lugar) e "A Angústia das Árvores do Parque" estão na terceira coletânea do Ideal.
- Marta Adalgisa Nunes (Santana do Cariri, CE, 1957), pós-graduada em língua portuguesa, estampou "A Viagem" no VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
- Max Victor Freitas: 10º. no II FUC, com "Júlia".
- Napoleão Sousa Jr. (Fortaleza, 1969) apresentou alguns de seus contos em jornais e revistas e obteve alguns prêmios literários. Para a antologia O Talento Cearense em Contos teve selecionado "No Quintal". Faz parte do V Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, 1995, com "As Noites de Augustina", classificado em 4.º lugar. "Dente de Leite" obteve o 5.º lugar no II FUC. Participa também da antologia do II Prêmio Literário Domingos Olímpio, com "Casa de Fogos", e do terceiro, com "O Domador".
- Natalício Barroso publicou em 2002 o livro Novelas Reunidas e, no ano seguinte, "O romance" (Revista Literatura n.º. 24).
- Nuno Gonçalves Pereira nasceu no Recife, PE, em 1977. Publicou "O Canto das Onças" na revista Arraia n.º. 2 e "O Caminho da Novena" no VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, classificado em 1.º lugar no concurso que deu origem ao livro.
- Osmar Menezes dos Santos participa da terceira coletânea de contos do Ideal Clube, com "Na Sala de Espera da Morte".
- Otoniel Arilo Landim está na Antologia Literária do II Prêmio Domingos Olímpio, 1999, com "O Último Comboio" (3º.).
- Paulo César Benício Mariano se classificou em 8º. no IV FUC, com "O Fogão", publicado em livro.
- Paulo Henrique de Oliveira participa da terceira coletânea do Ideal, com "Vae Soli".
- Paulo de Tarso Vasconcelos: 7º. no II FUC, com "O Olhar".
- Raffaella Maria Duarte: 4º. no I FUC, com "Clara e Téo".
- Raimundo Cavalcante dos Santos (Canindé, 1952) publicou um romance e uma peça de teatro. Com a narrativa "Xifópagos" participa do VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
- Raul Silveira Bento faz parte do VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com "Noites Frias de Dezembro".
- Révia Maria Herculano tem livro de poemas editado. "Saqueadores de Memórias" está na terceira coletânea do Ideal.
- Ricardo Guilherme Vieira dos Santos (Fortaleza, 1955). Mais conhecido como ator, dramaturgo e diretor de teatro. Tem livros sobre teatro. Um dos vencedores do II Prêmio Ceará de Literatura, categoria conto, e ganhador (1.º lugar) do III (1992), com "A Minha Nêgo ou O Casulo e a Larva", de que resultaram coletâneas.
- Roberto Vasconcelos Lima: "O Jogo", 6.º no XII Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, 2003.
- Rogério Santos Braga: 10.º com "Nota de Suicídio", no referido concurso.
- Rogério da Silva e Souza tem "O Fortim de Santiago" na terceira coletânea do Ideal.
- Rosel Ulisses Vasconcelos obteve alguns prêmios literários, como o 6.º lugar no IV Prêmio Literário Cidade de Fortaleza e o 7.º no V, com "O Tirano de Pedra". 1º. no IV FUC, com "A Missa de Evilásio Cintra", publicado em livro. Com "Dédalos" se fez presente na Antologia Literária (1º. Prêmio Domingos Olímpio de Literatura, 1998, Sobral) e com "Passos do Tempo" na segunda coletânea, do ano seguinte.
- Ruth Maria de Paula Gonçalves, professora universitária, participa da terceira coletânea do Ideal, com "Tirados do Pé" (2º.) e "Tempo".
- Sabrina Kelma Tomaz está no mesmo livro, com "Vale a Pena Lutar!"
- Sânzio de Azevedo (Fortaleza, 1938), mais conhecido como ensaísta, historiador da Literatura Cearense e poeta, também escreve contos.
- Sarah Diva Ipiranga participa da Antologia Literária do II Prêmio Domingos Olímpio, com "A Missão".
- Soares Feitosa é poeta, mas já deu a conhecer contos, que seriam capítulos de um romance em construção.
- Vânia Maria Ferreira Vasconcelos (Salvador, BA, 1961), mestra em Literatura Brasileira, mostrou "Segunda-feira" e "Fuxico" no VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
- Vanius Meton Gadelha Vieira (Fortaleza, 1944), psiquiatra, apresentou "O Último Colibri" no VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
- Vilmar Ferreira de Souza: 2º. com "As Águas do Rio", no II FUC.
- Zélia Maria Sales Ribeiro (Itapajé, CE, 1962), professora de Letras, participa do VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com "O Anjo".

continua...Antologia e Periódicos Literários no Ceará

Fonte:
http://www.cronopios.com.br/

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Trovia 109 (Trovas Humorísticas)

Para obter a Revista Trovia na íntegra, entre em contato comigo para envia-la.
Cabelo é um negócio louco...
há divergências fatais:
– Na cabeça, um fio é pouco;
mas... na sopa... ele é demais!
Elisabeth S. Cruz – RJ

Não botem fogo na cana
peço ecologicamente –,
que a cana boa e bacana
é que põe fogo na gente!
Héron Patrício – SP

Ao homem muito ciumento
há um dilema que aperreia:
ou esquece o casamento,
ou casa com mulher feia!
Josa Jásper – RJ

Carro velho, meu amor,
dá trabalho: além de feio,
no morro, falta motor;
na ladeira... falta freio!
José Ouverney – SP

Nunca vi coisa mais jeca,
disse o sapo num lamento:
– Por que ver a perereca
só depois do casamento?...
Milton Nunes Loureiro – RJ

A sereia canta e encanta;
isso eu não faço, mas deixe...
Embora sem graça tanta,
eu também vendo o meu peixe.
Osvaldo Reis – PR

Todo sujeito falante,
dotado de “boa cuca”,
traz bem na testa um volante
escrito assim: – Arapuca.
Evandro Sarmento – RJ

Vendo-a grávida, ele diz:
– Homem? Mulher? Que vai ser?
E ela responde... feliz:
– Ele resolve... ao crescer!
Zaé Júnior – SP

Fonte:
A.A. de Assis (coord.). Trovia. Revista Virtual Mensal. Ano 10 – n. 109 – novembro de 2008. UBT Maringá.