terça-feira, 21 de outubro de 2008

Carolina Arakaki de Camargo (Uma Pequena Maçã)

Eu sempre via aquele senhor sentado na calçada comendo uma maçã tão vermelha quanto as suas calças em xadrez. A cada mordida ele sorria, dava risada. Acho que ele se lembrava de alguma coisa de sua infância ou alguma coisa do gênero que sempre o divertia. Possuía um amigo, um cãozinho vira-lata, com quem sempre dividia sua maçã e que me parecia ter altos papos com ele.

Sempre tive a curiosidade de lhe perguntar o nome, de onde veio ou para onde iria, mas sempre me faltou coragem.

Um dia percebi que ele não estava mais lá. Estava apenas o cachorro deitado, choramingando.

E isso se repetiu conforme os dias iam passando.

Naquela calçada em que o via sentado havia um açougue. Resolvi perguntar por ele:

- Com licença. Havia um senhor que sempre se sentava nesta calçada, junto com aquele cachorrinho. O senhor sabe onde ele está?

- Ele veio a falecer há uma semana, minha jovem. Era seu parente?

- Não, não, era apenas uma pessoa que eu observava. O senhor sabe onde ele está enterrado?

- No cemitério da cidade.

- O senhor por um acaso teria uma maçã?

- Sim, naquela cesta ali.

Peguei a maçã mais vermelha de todas e levei até o cachorrinho, que comeu apenas a metade e ficou me observando. A outra metade, peguei e comecei a caminhar, e ele a me seguir. Chegamos ao túmulo do senhor Onigawa. Deixei a maçã e ficamos por um tempo lá.

Voltei para casa e o cãozinho permaneceu naquela calçada.

A partir daquele dia, nós sempre levávamos uma maçã ao cemitério, ao túmulo daquele senhor que eu apenas descobri o nome, mas que me ensinou que até mesmo aquelas pequenas e vermelhas maçãs poderiam me abrir um sorriso.

Fonte:
MORAES, Cintian e LARA, Douglas (organizadores). Antologia Rodamundinho 2008. Itu, SP: Ottoni, 2008. p.36.

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