domingo, 12 de outubro de 2008

Caldeirão Literário do Estado do Mato Grosso do Sul

Rubenio Marcelo (O Mar e a Ponte do Passado)

O mar... O céu... Gaivotas, lado a lado,
sumindo – assim, fagueiras – lá no monte...
Ao longe, nos portais do horizonte,
jangadas, brancas velas num bailado...

O mar... Paisagem de brilho encantado,
reflexos que seduzem minha fronte...
Imagens passeando pela ponte
que me leva, em instantes, pro passado...

O mar... Ondas quebrando no penedo...
Espumas revelando o meu degredo,
rasgando os portagões de um vão sonhar...

E, no veleiro dos meus pensamentos,
de mim fujo e sigo ao sabor dos ventos,
buscando um amor que eu deixei no mar...
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Geraldo Ramon Pereira (Tributo a Maracaju - Amor a minha terra)

Bem onde Deus plantara verdes matas,
No cimo de um planalto fértil, lindo,
Maracaju, marota, foi surgindo
Entre sítios, aos sons de serenatas:

Eram seriemas a cantar tinindo
Em dueto com as enxadas mais sensatas...
E um grupo de pioneiros pôs em atas
A fundação de um Município infindo!

Maracaju estava, pois, fundada,
Em educação, saúde e amor plasmada,
Por João Pedro Fernandes, doutor João...

Todos deram de si à sociedade;
Mas doutor João deu luz e caridade
E a Maracaju – vida e coração!
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Geraldo Ramon Pereira (Varal de Luz)

No quintal da existência do meu nada,
Estendi, num varal de luz, os sonhos...
E do Amor uma aura perfumada
Inundou o meu ser com sóis risonhos.

Mas a manhã de sonhos foi tomada
Por vendavais e temporais medonhos;
E a vida, de astros e aves enfeitada,
Virou um ermo de areais tristonhos!

Caí ao chão voltado para o alto,
Ouvi tenor, soprano, ouvi contralto,
E uma voz a mais santa entre as demais...

Era Deus, que em coral se manifesta
Em compaixão ao filho a quem só resta
A voz divina a consolar seus ais!
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Adair José de Aguiar (Os Ipês Amarelos)

Nossas matas brasileiras,
Na época das floradas,
Ostentam manchas doiradas,
Os ipês estão em flor.
Pintalgadas as florestas,
É a vegetal riqueza,
Tesouro da Natureza,
Deste Brasil promissor.
Uma visão luminosa,
De longe logo se avista,
É que Deus, Divino Artista,
Quis, inventou de tingir,
Doirando a floresta imensa,
Onde soabrem mais flores,
Misturando a tantas cores,
Fez o ouro reluzir.

Quando, à noite, a lua-cheia,
Toda vestida de prata,
Desponta por sobre a mata,
Há uma estranha visão.
Ipês e lua se casam,
Tudo brilha e resplandece,
Se o mundo assim parecesse
Milagre da criação.
Viva, pois, a Primavera,
Linda, cheirosa e florida,
Colorindo a nossa vida
De amarelo dos ipês.
Que terra maravilhosa,
Em sua sabedoria,
Deus criou, com tal magia,
Foi, para nós, que Ele fez.
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Raquel Naveira (Desejo Rural)

Desejaria um rio,
Um rio de peixes e cascatas,
Onde me fartasse de sol e luar...

Desejaria um canto.
Um canto de pássaro vindo das matas,
Que me desse vontade de me libertar...

Desejaria, se meu corpo não fosse de cimento,
Se meus olhos não estivessem embolados,
De tanto asfalto,
De tanto esquecimento...

Desejaria, se minha alma não fosse compacta,
Alerta ao sinaleiro e à propaganda,
Se não sentisse uma grande tristeza intacta
Diante do campo, simples e hospitaleiro.

Uma tristeza feita de babas de lodo,
De pântanos movediços,
De abelhas rainhas.

Uma tristeza sem limite
Que me torna bicho do mato,
Devorando grama e sonhando estrela.
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Oliva Enciso (Fogos de Artifício)

No mês de junho as festas
De São Pedro, Sto. Antônio e São João,
Têm não sei o que de uma alegria simples,
Que nos invade o coração.

Seja um rico, um remediado, um pobre,
Seja um homem de cidade ou um campônio,
Quem não tem um amigo ou, em sua família,
Um Joãozinho, algum Pedro ou um Antônio?

Ainda que nenhum motivo nós tenhamos,
Só a alegria alheia já é bastante
Para nos fazer sorrir,
Ao menos um instante...

É a bomba que estoura,
É o busca-pé que foge,
Enquanto, mansamente, o balão vai subindo...
E, na noite escura e fria, as chuvas multicores
Dos fogos de artifício vão caindo...

Essa glória toda, efêmera da vida,
Que às vezes nos enlaça e nos seduz,
Parece lindos fogos de artifício:
Brilha um instante apenas e se apaga a luz!
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Fontes
Academia Sul-Matogrossense de Letras
Suplemento Cultural de 27 de setembro de 2008
Suplemento Cultural de 20 de setembro de 2008
Suplemento Cultural de 13 de setembro de 2008

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