sábado, 11 de novembro de 2023

Trova ao Vento – 004


 



Mensagem na Garrafa – 31 –

Criação JFeldman com Microsoft Bing

Aparecido Raimundo de Souza
Vila Velha/ES

COMPARAÇÕES

Gostar de alguém não é morar em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília ou qualquer outra cidade importante, mas morar com ela, de preferência dentro de seu coração.

Gostar de alguém é lhe dar as mãos estendidas de carinho, depois de lhe ofertar a vida com esperanças de um porvir melhor.

Gostar de alguém é participar ativamente do seu dia a dia, ouvir e entender sem fazer sombras, por menores que sejam, em suas ideias. 

Gostar de alguém é apoiar todos os seus planos sejam eles quais forem, mesmo os mais loucos e desconexos, incentivá-la dando-lhe o apoio moral necessário, perseverando juntos, como se fossem uma só pessoa e, sobretudo, não abandonar, jamais, a própria personalidade.

Gostar de alguém é chegar de mansinho, acompanhar, ver e sentir, compreender e não fazer perguntas desnecessárias, nem meter o nariz aonde não foi chamado.

Gostar de alguém é confiar plenamente nela e envolvê-la com doçura, com muita ternura. Fazê-la se sentir cativa da sua presença, prisioneira dos seus desejos, porém, sem querer saber se existe o lado contrário, a parte escura, o esconderijo secreto, porque amando e, consequentemente gostando de verdade, com a alma, nunca, durante esse tempo, será tão imensa a contrariedade.

Gostar de alguém é uma coisa muito sublime e por demais complexa. Algo que às vezes está longe e acima do alcance das nossas vontades e entendimentos.

Gostar de alguém é como buscar a Deus sem intermediários, sem meios termos.

Gostar de alguém é dar e doar a alma e não esperar calculadamente pelo espírito.

Gostar de alguém é passar a noite sonhando com ela, imaginando-a nos braços, gozar esses instantes como se fossem eternos e não se preocupar se dia seguinte, o sol quente ou o vento forte vierem interromper suas fantasias batendo forte nas vidraças da janela.

Gostar de alguém é tentar ser sempre o prometido, o príncipe encantado dos contos de fada. Aquele cavalheiro solitário que chegará de um momento para outro, montado num lindo cavalo alazão e depositará cheio de reverência, um beijo em meio a sua testa, como o Romeu buscando a sua Julieta eterna. 

Gostar de alguém é fazer o impossível dentro do possível para não quebrar o encanto e nunca — nunca cobrar as promessas que não vingaram.

Gostar de alguém é ter silêncio no instante exato, respostas firmes na hora precisa, no minuto derradeiro e, ainda, ter o sopro da vida em abundância, para tentar suprir o vazio, a lacuna deixada por alguém que o destino levou para longe, numa viagem por entre estrelas de primeira grandeza, mas que se sabe, não terá volta.

Gostar de alguém é gritar, pular e fazer sorrir a companheira de todas as horas. É transformar o feio numa flor perfumada e de rara beleza. É esculpir a amada num quadro indescritível, mesmo quando pintar em seu rosto o mau humor motivado pelas incoerências, ou pelas horas tristes de angústias e aflições. 

Gostar de alguém é ser como um anjo no momento que os dissabores insistirem em marcar presença constante ao seu lado.

Gostar de alguém é entender sempre e não querer ser o eterno entendido. É acompanhar a ilusão, passo a passo, enquanto ela existir, procurar vivê-la sem cogitações, e, como a uma fogueira, alimentá-la e intensificá-la sempre, ―ad eternum.

Gostar de alguém é saber a hora, o instante exato de se afastar antes do tédio e da monotonia baterem a porta, do copo transbordar todas as mágoas guardadas, e, ainda, das lágrimas brotarem por pequenas coisas fúteis que não foram ditas. 

Gostar de alguém é passar por cima dos problemas que ficaram sem solução. É saber como chegar ao minuto fatal de dizer adeus sem constrangimentos, e, ao fazê-lo, manter a cabeça erguida, sem a expectativa da volta ou de uma nova reconciliação.

Gostar de alguém é se render de corpo inteiro, sofrer por amor até a exaustão, mergulhar de cabeça, às cegas, num voo desconhecido, como Ícaro em busca do impossível, ou como o andarilho, cujo paradeiro ignora o desfecho que lhe aguarda no final da estrada incerta.

Gostar de alguém é dizer coisas lindas, é sussurrar juras de afeições profundas. É sentir as entranhas queimando, o corpo ardendo em febre acima de quarenta graus. É sentir a alma leve e solta, a vida fluindo como se fosse uma pluma na imensidão. É ter o coração batendo acelerado, descompassado, como se quisesse, de repente, saltar peito afora, criar asas e voar por espaços nunca imaginados.

Gostar de alguém é efetivamente nunca se arrepender, amanhã, depois, ou algum dia (sempre há um dia), por ter se entregue tanto, por ter anulado sonhos, ou deixado de fazer isto ou aquilo. Gostar de alguém é perder o rumo, o prumo, o pulso, a visão do que é certo ou errado, a ponto, inclusive, de não saber o caminho da volta, o porto amigo para tentar reconstruir a si mesmo dentro do vazio enorme que ficará martelando, pungente, como uma ferida aberta que se nega a cicatrizar.

Gostar de alguém é, por derradeiro, ter a coragem suficiente para correr atrás dela no instante exato em que ela tomar a decisão de sair porta afora, com as roupas do corpo, deixando, no ar, um vazio grande demais, uma inquietude intransigente, que logo se transformará em esquálida e intransponível solidão.

Fabiane Braga Lima (Clara)

Sou o nome dela por acaso! Clara, um lindo nome, daquela mulher que morava na frente da minha casa. Passava as manhãs tomando banho de sol, isto é quando tinha sol. Mas voltamos ao início, que é um bom lugar para se começar, ela passava as manhãs de sol ameno se banhando de luz solar. Fora assim por meses a fio, até a Maria das Saudades, minha conhecida do bairro, passou na frente da casa dela e simplesmente disse: — Bom dia professora Clara! Um mistério para se dissipar, um bem pequeno a bem da verdade.

Não me contive e fui ter uma conversa com Maria das Saudades e logo perguntei quem era  minha nova vizinha. E como ela foi parar na cadeira de rodas, eu estava afoita e queria detalhes atômicos. 

— Como ela foi parar na cadeira de rodas eu não sei dizer, ela foi a minha professora no jardim de infância! Simples assim! Ela me acompanhou por anos, uma excelente professora. Todos a amam, agora eu tenho que ir! 

Fui acompanhando com o olhar Maria das Saudades sumir rua abaixo, andava aos saltos, chamando a atenção de todos naquela rua bucólica. Mais tarde soube que a professora Clara, dedicou toda a vida à educação. Filha de família pobre, estudou, entrou na faculdade e dedicou toda a vida à educação. Casou tarde e teve três filhas. E o que a levou a decadência, eu não soube e nem queria saber. 

Aí veio a tormenta, os gritos, era Clara e seu marido, que discutiam e discutiam. Não tinha hora certa, só o turbilhão quebrando a rotina daquela rua, daquele pequeno bairro afastado. Porquê brigavam? Por tudo, creio eu! Mas o que mais me tocava eram as meninas, que raramente saíam da casa e sempre que saíam pareciam sempre tristes e assustadas. 

Um dia de sol ameno, vi o casal,  de olhar severo o elegante marido de Clara a empurrava, ela triste na cadeira de rodas. Para onde foram eu não sei dizer, só sei que o marido da professora Clara, voltara em poucos minutos, logo não foram muito longe. Vi o marido de Clara adentrar sorridente na casa de uma vizinha, quem era? Era uma jovem muito bonita, uma ave noturna, La belle de jour, era assim que a chamavam. O marido da professora Clara, ficou ali por pouco tempo, saiu e foi buscar a esposa sabe-se lá onde. Pois bem, o fato em si não chamou a atenção de ninguém. 

Um dia não me contive e fui ter uma conversa com o marido de Clara, Eu diante daquele homem alto e bem vestido: — E as crianças pequenas? Elas ficavam sozinhas por um bom tempo, também não frequentavam escola! Ele nada disse, mas o semblante assustado com a reação raivosa do senhor, eu foi embora. Tive que me afastar daqui. 

Não demorou para descobrir por vias tortas, que o motivo das brigas do casal, era porquê Clara dava aulas para as filhas. E, ali estava uma guerreira, que nunca se deixou levar, pela estupidez do esposo abusivo. Com as mãos ensanguentadas em dores, mas com alma tranquila e serena, nada impediu aquela mãe de alfabetizar as suas filhas, nem mesmo suas pernas paralisadas.

Um ano depois, fiquei sabendo que as filhas da professora Clara estavam estudando e vivendo como todas as crianças merecem. Quanto ao marido de Clara? Ele deixou a família, esposa em uma cadeira de rodas, debilitada, filhas ainda pequenas, homem amargurado, ele nunca quis aceitar a verdade. Toda criança merece um estudo adequado!

Fonte: Enviado por Samuel da Costa   

Auta de Souza (Poemas Escolhidos) – 9 -


DESALENTO

Quando o meu pensamento se transporta
Às praias de além-mar,
Sinto no peito uma tristeza imensa
Que manda-me chorar.

É que vejo morrerem, uma a uma,
Santas aspirações,
E voarem com os pássaros saudosos
As minhas ilusões...

Nunca julguei que a terra fosse um túmulo
De sonhos juvenis,
Sorrindo acreditei que aqui, no mundo,
Podia ser feliz...

Enganei-me: — a tristeza, que me oprime
O coração sem luz...
Como o Sol o derradeiro raio
Nos braços de uma cruz...

A trêmula saudade que entristece
E faz desfalecer;
Essa agonia lenta que me inspira
Desejos de morrer...

Tudo me diz que a vida é o desengano,
A morte da Ilusão,
E o mundo um grande manto de tristezas
Que enluta o coração.
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DOENTE

A lua veio... foi-se... e em breve ainda,
Há de voltar, a doce lua amada,
Sem que eu a veja, a minha fada linda,
Sem que eu a veja, a minha boa fada.

Ela há de vir, Ofélia desmaiada,
Sob as nuvens do céu na alvura infinda
Do seu branco roupão, noiva gelada,
Boiando à flor de um rio que não finda.

Ela há de vir, sem que eu a veja... Entanto,
Com que tristezas e saudoso encanto
Choro estas noites que passando vão...

Ó lua! mostra-me o teu rosto ameno:
Olha que murcha à falta de sereno
O lírio roxo do meu coração!
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ESTRADA A FORA

Ela passou por mim toda de preto,
Pela mão conduzindo uma criança...
E eu cuidei ver ali uma esperança
E uma Saudade em pálido dueto.

Pois, quando a perda de um sagrado afeto
De lastimar esta mulher não cansa,
Numa alegria descuidosa e mansa,
Passa a criança, o beija-flor inquieto.

Também na Vida o gozo e a desventura
Caminham sempre unidos, de mãos dadas,
E o berço, às vezes, leva à sepultura...

No coração, — um horto de martírios!
Brotam sem fim as ilusões douradas,
Como nas campas desabrocham lírios.
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FLORES

Quando começa a raiar
O dia cheio de amor,
Eu gosto de contemplar
O coração de uma flor,

Desmaiada e tremulante,
Pendendo triste no galho,
Tendo o pistilo brilhante
Embalsamado de orvalho:

A rosa só me parece,
Assim tão casta e sem véu,
Um anjo rezando a prece
Um’ alma voando ao céu.

Do jasmim puro e mimoso,
A corola embranquecida,
É como um seio formoso
De criança adormecida.

Esqueço-me, então, das horas
A contemplar estas flores,
As violetas, auroras,
Saudades, lindos amores.
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FELIZ

Dizes-me que a ventura te foi dada
E contente tu’alma jamais chora:
Vives sorrindo à luz de uma alvorada
E a noite para ti é cor da aurora...

Não creio nessa dita, me perdoa.
Ninguém na terra pode ser feliz.
Até o sino que na torre soa
Tem sua dor, nem sempre ele bem-diz.

Longe... distante... Pelo azul chalreando,
A modular uns hinos tão suaves,
Pássaros meigos lá se vão cantando...
Mas tu crês na ventura dessas aves?

Repara bem naquela que ficou
Pousada lá no cimo da aroeira:
Ela chora, coitada, pois deixou
Muito longe perdida a companheira.

Aves da terra, em tímidos adejos,
Também alegres como as rolas mansas,
Rostos corados, recendendo beijos,
Correm cantando grupos de crianças.

E enquanto passa, em revoada louca,
Este dourado batalhão de arcanjos,
Eu quero ouvir-te da risonha boca
Se é eterna a ventura desses anjos.

A moça também sofre... Um áureo cofre
Guarda-lhe os prantos e o martírio duro,
E, de todas, aquela que mais sofre
É a que tem o coração mais puro.

Fonte: Auta de Souza. Poemas. Publicado postumamente em 1932. Disponível em Domínio Público.

Contos e Lendas da África (Os pretendentes da Princesa Gorila)

Arte por JFeldman com Microsoft Bing
(por Robert Hamill Nassau)

Local: Nação Njambi 

Personagens
Rei Njina (gorila) e sua filha
Njâgu (elefante)
Nguwu (hipopótamo)
Bejaka (peixes, ejaka no singular)
Ngowa (porco do mato)
Njĕgâ (leopardo)
Telinga (mico, macaco)

Este conto claramente se inspira na época em que o rum chegou à África.

A “nova água” do Gorila significa rum.

A trapaça de Telinga não o fez ganhar a esposa, mas foi o motivo pelo qual os micos atualmente vivem em bandos numerosos nas árvores e não mais no chão, como antigamente. Todos são muito parecidos, o que impede que sejam distinguidos uns dos outros.

Os leões não vivem junto aos gorilas e é por isso que esses primatas também eram chamados de Rei dos Animais, em razão de seus braços fortes e longos.

No entanto, seria absurdo imaginar que um animal tão horroroso, uma caricatura de ser humano, teria uma linda filha!
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O Rei Gorila teve uma filha cuja beleza era enaltecida por todos. Quando a menina atingiu a idade de se casar, o rei mandou avisar a todas as tribos que não aceitaria dotes comuns para oferecê-la em casamento. Somente aquele capaz de cumprir a seguinte tarefa seria seu genro: havia um novo tipo de água, nunca antes vista, e quem fosse capaz de beber um barril inteiro dessa água seria merecedor do prêmio cobiçado por tantos.

Então todos os animais se reuniram na floresta do rei para competir pela jovem. Todos os caminhos que levavam à nação Njambi se encheram com os ansiosos pretendentes.

O primeiro candidato seria o Elefante, em razão de seu tamanho. O paquiderme caminhou até o barril com pesada solenidade, suas estrondosas patas ecoando a cada passo, tam dam, tam dam. Mesmo na presença do rei, mal conseguia esconder sua indignação, pois julgava aquele um teste ofensivo de tão fácil. O elefante pensava consigo mesmo, “Um barril de água? Que afronta! Quando eu, Njâgu, tomo meu banho diário, sugo o equivalente a vários barris de água com minha tromba e jogo tudo sobre mim. Além disso, bebo meio barril a cada refeição. E é esse o teste? Vou acabá-lo em dois goles!”.

Colocou sua tromba dentro do barril, determinado a sorver uma grande quantidade. Retraiu-se logo que tocou o líquido. A “nova água” ardeu em suas entranhas. O gigante ergueu sua tromba e bramiu um grito de fúria, dizendo que aquela era uma prova impossível.

Muitos dos presentes julgavam o grande elefante um adversário invencível e secretamente se alegraram ao ver seu fracasso. Agora teriam uma chance. 

O Hipopótamo então se apresentou, passando à frente de todos com passos atrapalhados. Estava afoito e certo de que seria o vencedor. Não era tão grande e pesado como o Elefante, mas era mais desajeitado. Mesmo assim, não hesitou em bradar o mais alto que pôde:

— Você, Njâgu, com todo esse tamanho teme um barril de água? Rá! Eu passo metade do meu tempo na água. Quando estou com sede, os peixes do rio têm medo de ficar sem casa.

E assim caminhou até o barril, aos gritos e bravatas para tentar impressionar a jovem princesa. Mal chegou a tocar a boca no líquido, apenas o cheiro já fez com que jogasse a cabeça para trás em um urro de aflição e nojo. Sem sequer curvar-se ao rei, correu até o rio para lavar a boca.

Em seguida veio o Porco-do-mato, dirigindo-se ao soberano:

— Rei Gorila, não vou me vangloriar antecipadamente, como fizeram meus adversários. Tampouco, se eu falhar, insultarei vossa majestade. No entanto, acredito que sairei vitorioso. Estou acostumado a enfiar o nariz nos piores lugares.

Aproximou-se devagar e com cuidado. Mesmo ele, habituado a todo tipo de sujeira e maus odores, afastou-se do barril enojado e foi embora grunhindo. 

O próximo a se apresentar foi o Leopardo, contando vantagens e dando saltos para que a jovem visse sua linda pelagem. Zombou dos três que o precederam dizendo:

— Ah, meus amigos! Vocês não teriam nenhuma chance mesmo se tivessem bebido a água. A princesa jamais se interessaria por sujeitos feios e atrapalhados como vocês! Vejam que lindos meu corpo e minha cauda! Como minhas patas são fortes e ágeis! Já lhes mostro como acabar com esse barril. Mesmo que nós, da tribo dos felinos, não gostemos de nos molhar, abrirei uma exceção para honrar a princesa. Sou o ser mais elegante da floresta e vencerei essa prova sem esforço.

Disse isso e saltou imediatamente para o barril, mas o cheiro o deixou enjoado. Fez uma única e vã tentativa. Foi embora com o rabo baixo, rastejando de vergonha.

Todos os animais da selva tentaram, um após outro. Todos falharam. Até que o pequeno Telinga deu um tímido passo à frente. Centenas de outros pequenos macacos da Tribo dos Micos o aguardavam ocultos no matagal. Os competidores derrotados murmuraram surpresos quando ele se dirigiu até o barril. Nem mesmo o Rei Gorila conseguiu conter seu espanto:

— O que você quer, meu pequeno amigo?

— Vossa majestade não mandou avisar que qualquer tribo poderia participar? — respondeu Telinga.

— Sim, todas as tribos podem tentar.

— Então eu, Telinga, mesmo pequeno como sou, gostaria de ter uma chance.

— Mantenho minha palavra real. Você pode fazer sua tentativa.

— Apenas uma dúvida, majestade. O competidor deve beber o barril todo de uma só vez? O senhor permitiria que eu descansasse rapidamente no matagal após cada gole?

— Claro, mas você deve beber tudo hoje. — respondeu o rei.

Telinga tomou um gole e saiu saltitando até o mato. Voltou imediatamente, ou assim pareceu, deu outro gole e retornou ao bosque. Reapareceu no instante seguinte — na verdade, cada vez que isso ocorria, saía do matagal um mico diferente, que bebia um pouco da água e retornava ao mesmo local para ser substituído — e assim foi até que o barril se esvaziasse rapidamente.

O Rei Gorila anunciou Telinga como o vencedor da prova.

Não se sabe o que a jovem princesa pensou ao ver que não se casaria com nenhum dos belos pretendentes, como o Antílope ou outros animais graciosos. Quando Telinga tentou se aproximar dela, o Leopardo e os outros avançaram sobre ele, gritando:

— Seu nanico miserável! Se não podemos nos casar com ela, você também não poderá! Você vai ver! Tome isso! E isso! — e o atacaram com socos, chutes e mordidas.

Aterrorizado, Telinga fugiu para o bosque, deixando sua noiva para trás. 

Desde então, ele e sua tribo vivem nas copas das árvores, pois têm medo de voltar ao chão.

Fonte: Elphinstone Dayrell, George W. Bateman e Robert Hamill Nassau. Contos Folclóricos Africanos vol. 2. (trad. Gabriel Naldi). Edição Bilingue. SESC. Distribuição gratuita.

Antonio Brás Constante (Sorrindo para comprar e chorando para pagar)

Como é bom comprar e ao mesmo tempo como é ruim gastar. O problema é que não se consegue comprar sem gastar. As duas coisas andam juntas, nos causando sensações contraditórias ligadas a nossa satisfação por passarmos a possuir algo que queríamos, e pela frustração de nos endividarmos nesse processo.

Há uma falsa ideia de que as mulheres gastam mais do que os homens, mas isto não é verdade. Claro que uma mulher em um shopping parece uma ilha cercada de sacolas por todos os lados. Elas passam horas e horas experimentando roupas, acessórios e sapatos de forma incansável. Quase fanática. Mas se pensarmos que, para cada peça de roupa que olham, elas também têm de cuidar de vários outros detalhes tais como:

Primeiro: se as roupas que escolheu não são iguais as de suas amigas.

Segundo: se o preço é possível de explicar ao marido e se cabe no cartão de crédito.

Terceiro: se aquela peça de roupa é similar ao modelo que ela viu em uma certa revista famosa de moda e que custava dez vezes aquele valor.

Quarto: se vai ficar bem com todos os seus doze vestidos, dez colares e quinze diferentes pares de sapato. Etc.

Tudo isto com apenas um olho, porque com o outro elas ficam cuidando se o safado do seu marido (namorado, ou assemelhado), não está se engraçando com alguma atendente, ou com uma das clientes, ou vendo algum pôster com propaganda de lingerie. Porque mulher sabe que homem é tudo igual.

Agora, se formos analisar os gastos masculinos, podemos começar calculando as cervejas bebidas com os amigos, as vaquinhas pagas pelas canchas de futebol, os lanches saboreados (geralmente o homem come bem mais do que a mulher durante o dia, pois são menos adeptos às dietas, é só olhar a quantidade de homens nos bares comendo pastéis nos finais de tarde), e finalmente, os gastos com ingressos para ver o seu time do coração. Sem esquecer de todos os apetrechos para pescaria que eles compram.

Para conseguir satisfazer a vontade de comprar, comprar e comprar, muitos acabam indo parar nos chamados “templos de consumo”, mais conhecidos como shoppings. Onde são seduzidos por ofertas irresistíveis e uma infinidade de itens expostos com parcelamentos incríveis (recheados de taxas imperceptíveis e horríveis), transformando as pessoas em uma espécie de escravos do vício das compras. Esse vício faz com que elas entrem nesses lugares com os bolsos cheios e as mãos vazias e saiam de lá com os bolsos vazios e as mãos cheias... De contas para pagar.

Em um mundo onde o apelo por consumir está em cada canto, em cada programa, em cada novidade (principalmente nesta época do ano). Talvez seja hora de começarmos a gastar mais o nosso tempo em vez de nosso dinheiro, investindo na amizade, passando a ouvir mais as pessoas que amamos, brincando mais com nossos filhos, visitando nossos pais, reencontrando o diálogo a dois em nossos lares. Assim, poderemos ganhar muito mais do que dinheiro, pois receberemos afeto e alegria, reforçando nossos laços de união. Pois, todo dinheiro do mundo não pode preencher a solidão de uma vida fútil que jaz vazia.

Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/humor/771391. 09.dez..2007.

Lucy V. Hay (Como Escrever um Mistério de Assassinato) – 3

ESTRUTURANDO O ENREDO

1 – Comece o enredo com uma cena de ação para captar a atenção do leitor. 

Essa ação pode ser dramática, como colocar o protagonista em uma situação de risco, ou uma prévia do que vem mais adiante no romance. Se preferir, você pode até usar algo simples para tirar o herói da rotina e lançá-lo em uma jornada cheia de altos e baixos.

Não se esqueça de incluir detalhes do cenário onde o enredo acontece aos poucos para o leitor saber onde os personagens estão.

Por exemplo: O código Da Vinci, de Dan Brown, começa com a morte dramática de um curador do Louvre e já capta a atenção do leitor.

2 – Apresente os suspeitos por meio de interações e diálogos. 

Você pode apresentar os suspeitos ao leitor por meio de interações com a vítima antes do crime — que o detetive presencie. Também é legal colocar uma testemunha ou outra pessoa que indique quem são esses possíveis suspeitos.

Por exemplo: o detetive pode presenciar uma discussão entre o suspeito e a vítima antes do crime.

O detetive também pode conversar com um vizinho da vítima e perguntar algo como "Você consegue imaginar alguém que tinha problemas com a vítima?". Talvez essa pessoa diga "Bom, vejamos. Eu vi um rapaz visitar fulana à noite algumas vezes, quando o esposo dela estava viajando. Pode ser que ele esteja envolvido".

3 – Inclua o crime nos três primeiros capítulos da história. 

Um suspense é ágil e ininterrupto. Sendo assim, você provavelmente vai afastar alguns leitores se não apresentar o assassinato até o terceiro capítulo.

4 – Crie uma cena do crime realista. 

Conforme escreve o seu romance, você decerto vai notar que não sabe tanto assim sobre cometer um assassinato. É normal, mas vale a pena fazer uma pesquisa aprofundada sobre o assunto para deixar o texto mais realista.

Por exemplo: esfaquear uma pessoa não é tão fácil quanto parece. É difícil enfiar uma faca em alguém, ainda mais alguém que resiste e consegue se defender.

A maioria dos assassinos "amadores" comete erros — já que essas pessoas não são treinadas para matar e não sabem muito bem como agir, o que acaba gerando falhas e facilitando o trabalho do investigador.

Pense também em formas de ocultar um cadáver. Carregar um corpo é difícil e é óbvio que levanta suspeitas. Além disso, é normal haver rastros de sangue e DNA no local do homicídio. Por fim, abrir uma cova também demora, enquanto o defunto pode acabar sendo encontrado se for desovado em um rio.
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continua…

Fonte: Wikihow. https://pt.wikihow.com/Escrever-um-Mist%C3%A9rio-de-Assassinato

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Varal de Trovas n. 590

 

Mensagem na Garrafa – 30 -

Criação JFeldman com Microsoft Bing

Ary Barroso
Ubá/MG, 1903 – 1964, Rio de Janeiro/RJ

Lamartine Babo
Rio de Janeiro/RJ, 1904 – 1966

NO RANCHO FUNDO

No rancho fundo
Bem pra lá do fim do mundo
Onde a dor e a saudade
Contam coisas da cidade

No rancho fundo
De olhar triste e profundo
Um moreno canta as mágoas
Tendo os olhos rasos d'água

Pobre moreno que de noite no sereno
Espera a lua no terreiro
Tendo um cigarro por companheiro

Sem um aceno
Ele pega na viola
E a lua por esmola
Vem pro quintal
Desse moreno

No rancho fundo
Bem pra lá do fim do mundo
Nunca mais houve alegria
Nem de noite, nem de dia

Os arvoredos já não contam
Mais segredos
E a última palmeira
Já morreu na cordilheira

Os passarinhos
Internaram-se nos ninhos
De tão triste esta tristeza
Enche de trevas a natureza

Tudo porque, só por causa do moreno
Que era grande, hoje é pequeno
Pra uma casa de sapê

Se Deus soubesse da tristeza lá serra
Mandaria lá pra cima
Todo o amor que há na terra

Porque o moreno
Vive louco de saudade
Só por causa do veneno
Das mulheres da cidade

Ele que era
O cantor da primavera
E que fez do rancho fundo
O céu melhor que tem no mundo

Se uma flor desabrocha
E o sol queima
A montanha vai gelando
Lembra o cheiro da morena

Geraldo Pereira (Serpentinas Rasgadas)

Neste tempo de folia - perdoe-me o leitor - pra mim não há magia, pois onde fizeram morada o luto e a dor não há como ter alegria! Antes a nostalgia, lembranças de muitos anos, encantados agora no passado das coisas. De outros carnavais, de fantasias guardadas nos escaninhos já desgastados da memória dos dias de minha infância, de sonhos desfeitos, gestantes ainda no imaginário, sem que pudessem sequer experimentar a realidade do parir, na interface da vida, adolescência do ser, metamorfose do existir humano.

Lembranças do menino vestido a caráter em roupa de marinheiro bem encorpada, assumindo ali mesmo, na vesperal do Clube Português, ares de capitão da grande frota da ilusão, a navegar nos mares do devaneio. 

De serpentinas rasgadas e amores partidos, num arco-íris de confetes coloridos, escorridos todos dos céus de meus desejos. Cabelos longos e lisos alguns, pretos ou castanhos em maioria, mas louros também, nascidos assim, dourados. Do perfume da lança e do lança-perfume saudando paixões, fortuitas, exauridas depois, nas cinzas da quarta.

Saudades do corso serpenteando a cidade, dos carros enfeitados, estourando o escape, da água de cima pra baixo dos sobrados da Concórdia ou de baixo pra cima da malta se vingando e os remediados da sorte molhando. Dos beijos roubados – efêmeros ósculos –, de promessas e juras desprezadas todas, esquecidas quando a fantasia das coisas tombava e a realidade dos dias voltava. Dos presos olhando do alto das celas a liberdade passando, do adeus de mãos assim, encarceradas, distantes de um afagar carinhoso, meloso, de um manto piloso qualquer que fosse dando forma aos desejos. Pesadas grades aquelas, nítidos limites da violência incontida, na contenção violenta do ferro fundido!

Recordações de tantos momentos, tempos felizes do descompromisso assumido, do tambor dando ritmo à batucada de improviso na folia do corso. Do caminhão enfeitado com palha de coco, decoração tropical e simplória, na criação fértil do avô materno. Da gente miúda tamborilando e dos mais velhos incomodando, dando ordens e contra-ordens, exigindo do motorista, com nome de santo e santo também- João –, peripécias e piruetas mil. E os primos quatrocentões exercendo a perplexidade paulista, quando o micróbio do frevo tomava de assalto a indisposição sulista.

Gostosa folia aquela, que se esvaia ao primeiro sinal da ingratidão da quarta, ameaçadora, com ares de bacalhau à mesa e do vinho tomado com o sabor diluído da sangria bem cuidada. Acauteladora medida do pai comedido, contido com os prazeres do mundo. E o filho rebelde na gafieira dançando, ouvindo o fiscal de salão, defensor atento daquele recanto da fantasia e do recato. Pacato lugar de tantos amores, casais enlaçados à moda do tempo, frevando e sambando sem poder se tocar, mesclando no passo, no passo da gente, da tradição tupiniquim das coisas, as cores do corpo de morenas melosas, dengosas algumas, com o menino da casa de
suas ocupações profissionais e domésticas!

Bailes no Clube Atlântico, na Marim dos Caetés, vesperais animadas por esperanças mil. Balzaquianas perdidas, desgarradas, carentes, no meio das músicas soltas, trazidas por firmes acordes dos trombones à proximidade de corações em fogo. Inibições pueris e tímidas incursões, reinados de sonhos em cortes do imaginário. Marcadas frustrações!

Neste tempo de folia - perdoe-me o leitor -, pra mim não há magia, pois onde fez morada o luto e a dor, não há como ter alegria!

Fonte: Geraldo Pereira. Fragmentos do meu tempo. Recife/PE. Disponível no Portal de Domínio Público 

José Fabiano (Trovas Brincantes) 2


A babá é geralmente
uma jovem que se acaba,
olhando o filho da gente
e por quem a gente baba…
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Ah, mulher, tu me cativas,
mas os teus modos são tais,
que as glândulas que me ativas
são somente as lacrimais...
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A mulher, que é uma graça,
ao marido, que é um bicho:
"Fica lá fora que passa
hoje o caminhão de lixo..."
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A nossa língua não tem
o feminino de "padre".
O de "marreco", porém,
em hospital, é "comadre".
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Ante alguém maior do que eu,
vem-me o pensamento mau:
pode ser algum pigmeu
usando perna-de-pau...
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Às quartas, sofro um bocado
nas mãos de linda criatura
Jesus foi crucificado,
mas não fez acupuntura.
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Bombeiro botafoguense
se cala, em dia de jogo,
pois, quando seu time vence,
como gritar: "Botafogo?"
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Depois da "idade do lobo",
ao ver tudo por que passo,
ocorre a "idade do bobo",
que finda "na do palhaço"...
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Devem-se, a certo "sargento",
que não gostava de "cabo",
a criação e o lançamento
da palavra "menoscabo"...
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Dizem que mulher não pensa!
Pensa, sim. E por que não?
Se a morte traz dor imensa,
pensa, pensa na pensão!
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Eu tenho me perguntado
qual, enfim, é meu formato;
uns dizem que sou "quadrado",
outros falam que sou "chato"...
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"Hálux", que nome pomposo!
Sabes por acaso o que é?
Além de algo luminoso,
é também dedão do pé...
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"Limpo este mundo", dizia
certo escritor neurastênico.
Do jornal, onde escrevia,
faziam papel higiênico...
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"Minha vida", diz Gracinha,
"lembra tragédia de teatro.
Vejam que família a minha:
sai um, porém voltam quatro..."
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Muito fácil perceber
o caminho do pecado.
Basta só reconhecer
qual o mais congestionado.
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Na Criação, se deduz
qual o plano que Deus leva:
Ele faz, no início, a Luz
e ao fim, a Treva, digo Eva.
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Na mocidade florida:
"Ah, quanta beleza e encanto!"
Mas chega o final da vida:
"Ah, quanta feiúra e... espanto!"
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Não traz a felicidade,
ter dinheiro de montão.
Mas igualmente é verdade
que não ter também traz não...
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Nem "my darling" nem "mon cher"
me deixam assim bocó,
como quando essa mulher
me chama de "meu xodó"...
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No dia das mães, o galo
lamentava-se na rinha:
"Como vou comemorá-lo,
se minha mãe é galinha.?"
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O esquecimento, em mim, lavra,
mas não sei por que razão
me esqueço de uma palavra
e jamais de um palavrão...
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O homem sente falta imensa
do ar e da mulher que ele ama.
Há só uma diferença:
o ar atende e não reclama...
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Por não conseguir limpar
este imenso mundo nosso,
não deixo de me lavar
todas as vezes que posso...
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Qual Jesus, eu vou morrendo,
mas com estas restrições:
não na cruz - suplício horrendo -
nem só entre dois ladrões...
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Queixava-me da velhice,
querendo ouvir um conselho.
O doutor, então, me disse:
"Olha-te menos no espelho..."
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"Sê bem-vindo!" Interessante
é ler em super-mercado
o que pensa um assaltante
de quem vai ser assaltado...
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Se de "Ana" o diminutivo
é "Aninha", estranho, então,
ao pensar que o aumentativo
deva ser menor: "Anão"...

Fonte: José Fabiano & A. A. de Assis. Trovas brincantes. 2007 (livreto). Enviado por Assis

A. A. de Assis (Orgulho do pai)

Naquela noite o guarda-livros Deodoro José, assíduo frequentador da roda de amigos que se reunia todo sábado na Toca d’Anta, chegou todo sorridente, trazendo com ele um moço que chamava a atenção por estar com a cabeça rapada. “Este garoto é o orgulho da minha vida – disse –; passou em primeiro lugar no vestibular de Direito”. Dona Liloca, gerente do botequim, festou lá do balcão: “Oba! A primeira rodada de chope vai ser então por conta da casa”.

O professor Polyclínio, aquele bom velhinho que vocês já conhecem, abraçou com força o venturoso pai. Em seguida convidou o jovem para sentar-se a seu lado: “Venha aqui, menino, você deve ter uma cabeça muito boa. Vamos conversar”.

O papo rolou sobre prazeres da juventude, preferências literárias, talento natural, vocação profissional etc. etc., até que de repente o querido sábio sacou do bolso a sua reluzente caneta Parker 51, pediu ao garçom uma folha de papel e fez nela três anotações. Na primeira, a raiz da palavra “justiça”: isos>ius>jus. Na segunda, o desenho de uma balança de dois pratos e, embaixo, a palavra “equilíbrio”. Na terceira, a frase “Não faça aos outros o que você não quer que lhe façam”.

Dobrou o papel e o entregou ao rapaz, recomendando: “Guarde isto dentro de um dos livros que você costuma abrir com mais frequência, e de vez em quando releia e reflita. São três lembretes fundamentais, especialmente para quem pretende seguir a nobre carreira jurídica”.

O jovem calouro fez um ar de surpresa. Polyclínio explicou:

1. Isos, que no grego significa “igual”, chegou ao latim como ius (ius, iuris), que depois evoluiu para jus, de onde temos a palavra “justiça”. Logo, justiça é o mesmo que “igualdade”.

2. A balança de dois pratos é um dos símbolos da justiça por indicar a ideia de “equilíbrio” (equi = igual + líbrio = peso). Logo, equilíbrio é o mesmo que “pesos iguais”).

3. “Não faça aos outros o que você não quer que lhe façam”. A célebre Regra de Ouro.

Com aquele seu jeitão de vovô dengoso, o professor pôs a mão no ombro do moço e continuou: “Justiça é o ponto de partida para a felicidade coletiva. Algo aparentemente tão simples, no entanto sine-qua-non para o exercício da arte de viver bem em sociedade”.

  E o senhor, com a sua experiência, acha que isso seja possível?

– Acho sim. Mais ainda quando tenho a alegria de conhecer meninos como você. Costumam fazer juízo negativo das novas gerações, mas vejo com otimismo o futuro. Alguns de vocês parecem estar de fato perdidos; a maioria, no entanto, leva bem a sério a vida.    

–  Bonito, porém difícil.

–  Difícil, porém possível.
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  (Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 09-11-2023)

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