Sou o nome dela por acaso! Clara, um lindo nome, daquela mulher que morava na frente da minha casa. Passava as manhãs tomando banho de sol, isto é quando tinha sol. Mas voltamos ao início, que é um bom lugar para se começar, ela passava as manhãs de sol ameno se banhando de luz solar. Fora assim por meses a fio, até a Maria das Saudades, minha conhecida do bairro, passou na frente da casa dela e simplesmente disse: — Bom dia professora Clara! Um mistério para se dissipar, um bem pequeno a bem da verdade.
Não me contive e fui ter uma conversa com Maria das Saudades e logo perguntei quem era minha nova vizinha. E como ela foi parar na cadeira de rodas, eu estava afoita e queria detalhes atômicos.
— Como ela foi parar na cadeira de rodas eu não sei dizer, ela foi a minha professora no jardim de infância! Simples assim! Ela me acompanhou por anos, uma excelente professora. Todos a amam, agora eu tenho que ir!
Fui acompanhando com o olhar Maria das Saudades sumir rua abaixo, andava aos saltos, chamando a atenção de todos naquela rua bucólica. Mais tarde soube que a professora Clara, dedicou toda a vida à educação. Filha de família pobre, estudou, entrou na faculdade e dedicou toda a vida à educação. Casou tarde e teve três filhas. E o que a levou a decadência, eu não soube e nem queria saber.
Aí veio a tormenta, os gritos, era Clara e seu marido, que discutiam e discutiam. Não tinha hora certa, só o turbilhão quebrando a rotina daquela rua, daquele pequeno bairro afastado. Porquê brigavam? Por tudo, creio eu! Mas o que mais me tocava eram as meninas, que raramente saíam da casa e sempre que saíam pareciam sempre tristes e assustadas.
Um dia de sol ameno, vi o casal, de olhar severo o elegante marido de Clara a empurrava, ela triste na cadeira de rodas. Para onde foram eu não sei dizer, só sei que o marido da professora Clara, voltara em poucos minutos, logo não foram muito longe. Vi o marido de Clara adentrar sorridente na casa de uma vizinha, quem era? Era uma jovem muito bonita, uma ave noturna, La belle de jour, era assim que a chamavam. O marido da professora Clara, ficou ali por pouco tempo, saiu e foi buscar a esposa sabe-se lá onde. Pois bem, o fato em si não chamou a atenção de ninguém.
Um dia não me contive e fui ter uma conversa com o marido de Clara, Eu diante daquele homem alto e bem vestido: — E as crianças pequenas? Elas ficavam sozinhas por um bom tempo, também não frequentavam escola! Ele nada disse, mas o semblante assustado com a reação raivosa do senhor, eu foi embora. Tive que me afastar daqui.
Não demorou para descobrir por vias tortas, que o motivo das brigas do casal, era porquê Clara dava aulas para as filhas. E, ali estava uma guerreira, que nunca se deixou levar, pela estupidez do esposo abusivo. Com as mãos ensanguentadas em dores, mas com alma tranquila e serena, nada impediu aquela mãe de alfabetizar as suas filhas, nem mesmo suas pernas paralisadas.
Um ano depois, fiquei sabendo que as filhas da professora Clara estavam estudando e vivendo como todas as crianças merecem. Quanto ao marido de Clara? Ele deixou a família, esposa em uma cadeira de rodas, debilitada, filhas ainda pequenas, homem amargurado, ele nunca quis aceitar a verdade. Toda criança merece um estudo adequado!
Fonte: Enviado por Samuel da Costa
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