E por falar em cavalos, acode-me um fato mais recente. Quando visitei o Chile, levada pela Trova, em 2010, tive uma surpresa bastante agradável, com dois deles.
Estávamos todos numa praça pública de Santiago - alguns trovadores, e também Mariza e Marcos, filha e genro, integrados ao grupo. Acabara de acontecer um desfite naquela praça, quando, junto a nós, pararam alguns militares em suas montarias.
Há muito, eu não tinha oportunidade de rever, tão perto de mim, um daqueles saudosos amiguinhos dos meus tempos de jovem. Avizinhei-me de dois deles, uma vez que já liberados do ato cívico e indaguei, aos militares que os cavalgavam, se poderia aproximar-me sem problemas.
Com a aquiescência de ambos, afaguei a testa daqueles lindos animais, que receberam docilmente o meu carinho e com evidente satisfação. Por algum tempo, conversei, baixinho com eles, a acarinha-los, até ser chamada pela turma que abandonava a praça. Despedi-me, então, daqueles dóceis cavalos, com uma última carícia, afastando-me em seguida.
Contudo, nem bem dera alguns passos, quando senti, com surpresa, duas cabeças ultrapassarem meus ombros, prendendo-os e sustando a minha partida.
Entendi, evidentemente, que aqueles dois cavalos demonstravam querer impedir que eu me afastasse. Emocionada e grata pela reciprocidade do carinho, desvencilhei-me daquelas duas cabeças e fui em frente, sem olhar para trás, levando comigo a certeza de que conquistara, pelo menos, dois amigos, em solo chileno. Dois amigos bastante espontâneos e também, inesquecíveis. - E a prova é que aqui, tantos anos depois, mereceram citação.
Lamentei, contudo, a ausência de uma câmera que registrasse aquela inusitada despedida testemunhada apenas pelas solitárias cordilheiras andinas cobertas de neve que, ao longe, emolduravam o cenário.
Presa à temática, ao rememorar a linda terra de Neruda, esqueço propositadamente, embora com todo respeito, as belezas naturais e também o próprio Poeta laureado, que, muito justamente, envaidecem a Pátria chilena - citados apenas de raspão nestas páginas que não lhes pertence - porque, fiel aos objetivos destes comentários, exclusivamente endereçados a "bichos e bichanos".
Logo adiante, um fato, a destacar, atraiu a atenção não apenas minha, mas dos demais visitantes, despertando certa curiosidade, uma vez que não houve quem não estranhasse ver tantos cachorros soltos pelas "calles" chilenas. E, o que ainda mais causava admiração era o fato de todos eles mostrarem sadia e ótima aparência!
A curiosidade foi logo derrubada por alguém que procurou esclarecimentos. Soubemos então, que a própria população local, está comprometida em proteger tais cães, encarregando-se de alimentar aqueles cachorros de rua, mantendo-os em muito boa forma, sendo fácil constatar que a promessa é lealmente cumprida!
Fonte: Carolina Ramos. Meus Bichos, Bichinhos e… Bichanos. Santos/SP: Ed. da Autora, 2023. Enviado pela autora.
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