as ondas no leva-e-traz
tentando fazer-lhe medo:
Perfeita imagem da paz.
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Angustiada, a natureza
chora a esperança perdida...
- Ouve-lhe a voz de tristeza,
dá-lhe a mão enquanto há vida!
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Ao termo de um rumo incerto,
minha alma triste suspira
vendo o horizonte deserto
do seu oásis de mentira.
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Brilha a lua, e eu, saudosa,
sinto em transe apaixonado,
a presença vaporosa
de tua sombra ao meu lado.
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Contra o medo e a insegurança,
eu ergo a minha muralha;
e se algum deles me alcança,
a esperança me agasalha.
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Coração, toma cuidado!
Ainda vais te machucar,
teimando em bater errado
por quem não quer te escutar!
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Da inconsequente aventura,
um momento de prazer,
rouba, às vezes, na loucura,
todo o encanto de viver.
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Das primaveras que tive,
sem lágrimas, sem desgosto,
saudosa sombra ainda vive
em cada ruga em meu rosto.
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De minha felicidade
naquela ilusão de outrora,
teu retrato e uma saudade
é tudo que resta, agora.
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Em seu murmúrio confuso,
meu coração quer dizer
que vem novo amor, intruso,
fazer-me outra vez, sofrer.
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Em teu coração fechado
eu sou fantasma indigente
que em castelo abandonado,
arrasta a sua corrente.
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Entre escolhos e asperezas
que ameaçam minha bonança,
eu singro o mar de incertezas
no barquinho da esperança.
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Esta saudade-agonia
não sei de onde se origina;
não sei onde principia,
só sei que jamais termina.
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Fui rei, depois fui escravo.
o tronco espoliou-me a glória;
e curto até hoje o travo
de mancha negra na história,
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Na ampulheta a areia finda,
e ao termo de nossas vidas,
queremos que o tempo ainda,
resgate as horas perdidas.
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Na obsessão alucinada
de te querer, me magoo,
qual ave de asa quebrada
teimando em alçar o voo.
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Nessa atitude tão fria,
mal disfarças a verdade;
é a calma que prenuncia
o fragor da tempestade,
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No combate a qualquer vício,
todos devemos lutar.
Ninguém é isento ao suplício
de ver um filho afundar.
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Perdido em mar de sargaços,
inerte, já nada enfrento;
sou, distante dos teus braços,
veleiro a que falta o vento.
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Perscruto o teu belo rosto,
mas nessa inútil procura,
para aumentar meu desgosto,
nele não vejo ternura.
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Por mais que o torture a fome,
bravo filho do nordeste,
não foge à dor que o consome,
enquanto há vida no agreste.
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Tentamos sempre encobrir
o que nos vai dentro d'alma;
Tu simulando explodir,
eu a fingir que estou calma.
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Teu sangue que dizes "feio"
tem magia em profusão:
É o mesmo sangue de um seio
que nutriu nossa nação.
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Velho castelo arruinado,
tua torre ainda em pé,
lembra-me um sonho arrasado
que teima em manter a fé.
Fonte: Dorothy Jansson Moretti. Painel do entardecer. Cachoeirinha/RS: Texto Certo, 2013. Enviado pela trovadora.
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