sábado, 11 de novembro de 2023

Contos e Lendas da África (Os pretendentes da Princesa Gorila)

Arte por JFeldman com Microsoft Bing
(por Robert Hamill Nassau)

Local: Nação Njambi 

Personagens
Rei Njina (gorila) e sua filha
Njâgu (elefante)
Nguwu (hipopótamo)
Bejaka (peixes, ejaka no singular)
Ngowa (porco do mato)
Njĕgâ (leopardo)
Telinga (mico, macaco)

Este conto claramente se inspira na época em que o rum chegou à África.

A “nova água” do Gorila significa rum.

A trapaça de Telinga não o fez ganhar a esposa, mas foi o motivo pelo qual os micos atualmente vivem em bandos numerosos nas árvores e não mais no chão, como antigamente. Todos são muito parecidos, o que impede que sejam distinguidos uns dos outros.

Os leões não vivem junto aos gorilas e é por isso que esses primatas também eram chamados de Rei dos Animais, em razão de seus braços fortes e longos.

No entanto, seria absurdo imaginar que um animal tão horroroso, uma caricatura de ser humano, teria uma linda filha!
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O Rei Gorila teve uma filha cuja beleza era enaltecida por todos. Quando a menina atingiu a idade de se casar, o rei mandou avisar a todas as tribos que não aceitaria dotes comuns para oferecê-la em casamento. Somente aquele capaz de cumprir a seguinte tarefa seria seu genro: havia um novo tipo de água, nunca antes vista, e quem fosse capaz de beber um barril inteiro dessa água seria merecedor do prêmio cobiçado por tantos.

Então todos os animais se reuniram na floresta do rei para competir pela jovem. Todos os caminhos que levavam à nação Njambi se encheram com os ansiosos pretendentes.

O primeiro candidato seria o Elefante, em razão de seu tamanho. O paquiderme caminhou até o barril com pesada solenidade, suas estrondosas patas ecoando a cada passo, tam dam, tam dam. Mesmo na presença do rei, mal conseguia esconder sua indignação, pois julgava aquele um teste ofensivo de tão fácil. O elefante pensava consigo mesmo, “Um barril de água? Que afronta! Quando eu, Njâgu, tomo meu banho diário, sugo o equivalente a vários barris de água com minha tromba e jogo tudo sobre mim. Além disso, bebo meio barril a cada refeição. E é esse o teste? Vou acabá-lo em dois goles!”.

Colocou sua tromba dentro do barril, determinado a sorver uma grande quantidade. Retraiu-se logo que tocou o líquido. A “nova água” ardeu em suas entranhas. O gigante ergueu sua tromba e bramiu um grito de fúria, dizendo que aquela era uma prova impossível.

Muitos dos presentes julgavam o grande elefante um adversário invencível e secretamente se alegraram ao ver seu fracasso. Agora teriam uma chance. 

O Hipopótamo então se apresentou, passando à frente de todos com passos atrapalhados. Estava afoito e certo de que seria o vencedor. Não era tão grande e pesado como o Elefante, mas era mais desajeitado. Mesmo assim, não hesitou em bradar o mais alto que pôde:

— Você, Njâgu, com todo esse tamanho teme um barril de água? Rá! Eu passo metade do meu tempo na água. Quando estou com sede, os peixes do rio têm medo de ficar sem casa.

E assim caminhou até o barril, aos gritos e bravatas para tentar impressionar a jovem princesa. Mal chegou a tocar a boca no líquido, apenas o cheiro já fez com que jogasse a cabeça para trás em um urro de aflição e nojo. Sem sequer curvar-se ao rei, correu até o rio para lavar a boca.

Em seguida veio o Porco-do-mato, dirigindo-se ao soberano:

— Rei Gorila, não vou me vangloriar antecipadamente, como fizeram meus adversários. Tampouco, se eu falhar, insultarei vossa majestade. No entanto, acredito que sairei vitorioso. Estou acostumado a enfiar o nariz nos piores lugares.

Aproximou-se devagar e com cuidado. Mesmo ele, habituado a todo tipo de sujeira e maus odores, afastou-se do barril enojado e foi embora grunhindo. 

O próximo a se apresentar foi o Leopardo, contando vantagens e dando saltos para que a jovem visse sua linda pelagem. Zombou dos três que o precederam dizendo:

— Ah, meus amigos! Vocês não teriam nenhuma chance mesmo se tivessem bebido a água. A princesa jamais se interessaria por sujeitos feios e atrapalhados como vocês! Vejam que lindos meu corpo e minha cauda! Como minhas patas são fortes e ágeis! Já lhes mostro como acabar com esse barril. Mesmo que nós, da tribo dos felinos, não gostemos de nos molhar, abrirei uma exceção para honrar a princesa. Sou o ser mais elegante da floresta e vencerei essa prova sem esforço.

Disse isso e saltou imediatamente para o barril, mas o cheiro o deixou enjoado. Fez uma única e vã tentativa. Foi embora com o rabo baixo, rastejando de vergonha.

Todos os animais da selva tentaram, um após outro. Todos falharam. Até que o pequeno Telinga deu um tímido passo à frente. Centenas de outros pequenos macacos da Tribo dos Micos o aguardavam ocultos no matagal. Os competidores derrotados murmuraram surpresos quando ele se dirigiu até o barril. Nem mesmo o Rei Gorila conseguiu conter seu espanto:

— O que você quer, meu pequeno amigo?

— Vossa majestade não mandou avisar que qualquer tribo poderia participar? — respondeu Telinga.

— Sim, todas as tribos podem tentar.

— Então eu, Telinga, mesmo pequeno como sou, gostaria de ter uma chance.

— Mantenho minha palavra real. Você pode fazer sua tentativa.

— Apenas uma dúvida, majestade. O competidor deve beber o barril todo de uma só vez? O senhor permitiria que eu descansasse rapidamente no matagal após cada gole?

— Claro, mas você deve beber tudo hoje. — respondeu o rei.

Telinga tomou um gole e saiu saltitando até o mato. Voltou imediatamente, ou assim pareceu, deu outro gole e retornou ao bosque. Reapareceu no instante seguinte — na verdade, cada vez que isso ocorria, saía do matagal um mico diferente, que bebia um pouco da água e retornava ao mesmo local para ser substituído — e assim foi até que o barril se esvaziasse rapidamente.

O Rei Gorila anunciou Telinga como o vencedor da prova.

Não se sabe o que a jovem princesa pensou ao ver que não se casaria com nenhum dos belos pretendentes, como o Antílope ou outros animais graciosos. Quando Telinga tentou se aproximar dela, o Leopardo e os outros avançaram sobre ele, gritando:

— Seu nanico miserável! Se não podemos nos casar com ela, você também não poderá! Você vai ver! Tome isso! E isso! — e o atacaram com socos, chutes e mordidas.

Aterrorizado, Telinga fugiu para o bosque, deixando sua noiva para trás. 

Desde então, ele e sua tribo vivem nas copas das árvores, pois têm medo de voltar ao chão.

Fonte: Elphinstone Dayrell, George W. Bateman e Robert Hamill Nassau. Contos Folclóricos Africanos vol. 2. (trad. Gabriel Naldi). Edição Bilingue. SESC. Distribuição gratuita.

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