terça-feira, 28 de novembro de 2023

Estante de Livros (“Os trabalhadores do mar”, de Victor Hugo)

Para Victor Hugo, as três lutas do homem são definidas como suas necessidades básicas: a religião, a sociedade e a natureza. Destarte, o homem precisa ultrapassar os conceitos dos dogmas; lutar por leis justas e; sobreviver em natureza, tanto social quanto mundanal. O primeiro conceito é trazido pelos escritos do Corcunda em Notre Dame, o segundo conceito; elevado pelos Miseráveis, e o terceiro conceito, natural, descrito nos Trabalhadores do Mar. Todavia, o personagem principal da obra não poderia deixar de seguir os moldes de Victor Hugo ao alinhar seus percalços, tanto em sociedade, quanto quando luta por sobrevivência meio ao resoluto mar.

RESUMO

A história se passa na ilha de Guernesey, na costa norte da França, durante o século XIX. O solitário Gilliatt, órfão de mãe e cujo pai é desconhecido, mora numa casa tida pelos moradores locais como assombrada, próxima a uma encosta do mar, afastada do centro do vilarejo de Saint-Sampson. Exímio pescador e homem do mar, porém mal compreendido pela sociedade local, que é muito supersticiosa, vive para si e para seu amor platônico, a jovem e bela Déruchette, sobrinha do mais famoso e bem-sucedido homem da região, Mess Léthierry.

Mess Léthierry é dono da Durande, o primeiro barco a vapor da região que, justamente por possuir mais velocidade, realiza a viagem no Canal da Mancha mais rapidamente e consegue, portanto, manter um comércio mais próspero com a Inglaterra. Consequentemente, a atividade faz de Mess Léthierry o homem mais rico da ilha. Anos antes, havia confiado em seu sócio Rantaine, mas este o traíra e levara consigo a fortuna de ambos. Foi Durande, o barco que ele mesmo construiu, que lhe trouxe a glória. Por isso, tem pelo barco o mesmo amor que tem por sua sobrinha, a quem educa para ser uma esposa dedicada e muito doméstica. O velho homem sonha ter para capitão do barco um genro que seja apaixonado por Déruchette e tão bom homem do mar quanto ele, que possa amar Durande com a mesma intensidade. Enquanto isso não acontece, ele deixa Durande a cargo do capitão Clubin, tido como lobo do mar, ou seja, extremamente experiente e sem medo das águas repletas de rochedos da região.

Os destinos de Mess Léthierry, Déruchette e Gilliatt se cruzam quando o capitão Clubin leva a embarcação ao mar em dia de tempestade e entra num nevoeiro, chocando-se com os rochedos escarpados que coalham o mar em torno da ilha. O desesperado dono do barco acredita que Clubin morrera no mar e ouve dos marinheiros que a embarcação está parcialmente destruída, mas seu motor se encontra intacto, preso entre dois altos e afiados rochedos. Sem esperança, oferece a mão de sua sobrinha ao corajoso homem que salvar a Durande. Escutando sob a janela, Gilliatt, que ama secretamente Déruchette há anos, se oferece para empreender a viagem à embarcação. Durante semanas, ele enfrenta o sol inclemente, a sede, a fome, a febre, os tremores e o cansaço, e consegue construir uma espécie de estrutura elevadiça com a madeira do barco, com a qual consegue içar o motor e colocá-lo em sua chalupa.

Além da luta que Gilliatt trava contra as intempéries, ele enfrenta um novo perigo mortal: um gigantesco polvo que o ataca de surpresa. Segue-se uma luta encarniçada de Gilliatt pela vida, e grande parte do mistério em torno de Clubin e do sócio desaparecido de Mess Léthierry são desvendados. De uma forma quase miraculosa, Gilliatt mata o polvo e consegue voltar à ilha. Sujo, descabelado, doente, magro, com a pele descascando, exausto, com fome, e com suas energias drenadas, consegue amarrar sua chalupa atrás da casa do tio de Déruchette. Quando Mess Léthierry descobre ali a alma de sua embarcação, - o que lhe salva a posição política e a fortuna - reconhece Gilliatt perante a sociedade local como seu salvador e concede a mão de Déruchette a ele.

Gilliatt descobre que Déruchette ama o jovem reverendo inglês Ebenezer Caudray, que havia chegado há poucos meses em Guernesey, e é correspondida. Sua decisão é heroica. Ele dá a ela o baú de enxoval que sua mãe lhe deixara como herança para dar à sua futura esposa, providencia com o pároco mais velho o casamento dos jovens apaixonados sem que Mess Léthierry o saiba e os vê partirem no navio Cashmere, já acomodado em uma pedra recortada numa encosta, cujo formato é de uma cadeira e onde a maré encobre quando o dia anoitece. Ali, sentado e sozinho, espera o mar chegar e cobri-lo, pois para ele, socialmente marginalizado e eternamente infeliz porque sua amada não o ama, o que resta é o mar, e a ele se entrega definitivamente.

Fontes: Página do Ricardo. Resumo escrito por Ricardo Moraes em 08 junho 2020.
Canal Ciências Criminais. Escrito por Iverson Kech Ferreira em 11 agosto 2022.

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