– Claro que tenho.
– Discreto?
– Discretíssimo.
– Ninguém vai ver a gente entrar nem sair?
– Não, não vai.
– Tem que ser no sigilo.
– Será.
– Não tem câmera de segurança na rua?
– Não, não tem.
– Pode ser lá, então.
(Meia hora depois)
– Fecha bem as cortinas. Vai que alguém…
– Pronto. Fechei.
– Já fez varredura pra ver se não tem cam ou microfone escondido no teto, na tevê, na jacuze?
– Não leva a mal, mas você está parecendo paranoica…
– Fez ou não fez a varredura?
– Fiz.
– Desliga o celular, então.
– O quê? Você acha que eu… ?
– Eu sou uma pessoa conhecida, Paulo Roberto. Se isso vaza, minha vida está arruinada, minha carreira acabou.
– Ok, desliguei o celular.
– Tira a bateria.
– Tirar a bateria?
– Recebi um zap outro dia dizendo que o celular, mesmo desligado, continua ouvindo tudo, rastreando tudo.
– Olha, isso está ficando muito estranho. Melhor a gente deixar pra lá…
– Não, não. Eu quero muito. Eu preciso tanto! E sei que você não vai sair contando pra todo mundo, espalhando pros seus amigos.
– Pode confiar em mim.
– Posso mesmo? Olha como eu estou tremendo… Ai, meu Deus, meu marido jamais imaginou que eu fosse capaz disso, meus filhos nem sonham, e meus amigos… o que meus amigos iriam dizer?
– Não temos a tarde toda, Ana Lúcia. Vai, você é uma mulher adulta, independente. Tira essa culpa dos ombros, solta essas amarras. Liberte-se desses dogmas que te oprimem, dessa pressão da sociedade. Não tenha medo do que vão pensar. Diz pra mim, vai. Quero ouvir da sua boca…
– Trancou a porta?
– Tranquei.
– Deu duas voltas na chave?
– Dei.
– Apaga a luz.
A luz é apagada.
Na penumbra, Ana Lúcia respira profundamente. Semicerra os olhos. Passa a língua pelos lábios. Engole em seco. Do fundo da garganta, com a voz entrecortada, quase um sussurro, ela confessa:
– Paulo Roberto, eu apoio a Regina Duarte.
Fonte: Blog do autor.
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