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sábado, 17 de fevereiro de 2024
Manuscrito na Garrafa = 106 =
Paranavaí/PR
DIFÍCIL DEFINIR, MAS NEM TANTO
Longe de mim contrariar o dicionário quando diz que 'felicidade' é uma sensação real de satisfação plena; estado latente de contentamento.
Está certíssimo, mas um tanto seco e de certa rudeza ao descrever o melhor dos sentimentos. Felicidade, tenho para mim, é a plenitude que concebe e abarca os segundos da nossa vida. Se formos buscar definições pela história, encontraremos milhares de opiniões dos mais importantes filósofos, poetas, escritores, cientistas; homens e mulheres que se debruçaram sobre o tema para defini-la, e que lhe deram — e lhe dão —, com palavras especiais, as melhores definições.
Se as trouxermos aqui, o espaço não as comportará, porque a felicidade que tanto buscamos parece agir como uma menina travessa que, ao brincar, se esconde pelos cantos dificultando ser encontrada.
Essa menina que falo, a Felicidade - acompanhe o raciocínio tem preferências especiais: escolhe o mais dissimulado canto dos lábios, ou a mais íntima esquina dos olhos para se esconder e se aquieta; e, alheia a tudo o que possa acontecer, aguarda a melhor hora para se mostrar.
Ao abrirmos um sorriso, por exemplo, desses que fazem pulsar mais forte o coração, ela se mostra cândida e bela e nos dá aparência deslumbrantemente boba, infantil, meiga, pura, que exprime dois sentimentos: na pessoa que sorri, a aceitação; e a quem o sorriso foi ofertado, a gratidão pelo gesto recebido.
Aceitação e gratidão, pois, são elementos nascidos do sorriso. Também, e na mesma intensidade, ela pode escorrer em gotas, quando nossos olhos brilham sob a resplandecência sublime do amor e nos dá, nesse instante, água especial que purifica nossa existência.
Para dizer que a lágrima não nasce apenas no choro, mas também na alegria.
Nesses dois momentos ela conseguirá se perenizar se assim o desejarmos, permanecendo em definitivo em nossos sorrisos, ou no brilhar dos nossos olhos, ou ser apenas uma passageira fugaz de alegria momentânea, quando se tornará meia felicidade. Por ser meia, nunca será completa.
Na segunda hipótese, desprezada e humilde, voltará a se esconder nos cantos que guardam a vida, como os da boca e dos olhos, até que decidamos ativá-la em definitivo.
Desse raciocínio um tanto pueril e de base somente de observação, mesmo não tendo qualquer pingo de cientificidade, ouso dizer que a felicidade está onde queiramos que esteja, com pouca
ou muita intensidade: escondida no mais profundo recôndito, enrustida no âmago das aflições, presa no egoísmo ou maldade; ou no mais aparente e singelo lugar, como um simples canto de boca ou de olhos, por exemplo.
Digamos, com a beleza do piscar de um vagalume em noite escura.
(Fonte: Renato Benvindo Frata. Fragmentos. SP: Scortecci, 2022. Enviado pelo autor)
Daniel Maurício (Poemininos) – 4
pétalas
da
rosa
As
cores
se
mesclam
aos
beijos.
= = = = = = = = =
Deixa
Eu te amar
Do meu jeito
Pois por mais
Que não seja
Perfeito
Ainda assim
Será uma forma
De amar.
= = = = = = = = =
Joaninhas...
São
Caíxinhas
De sonhos
Embrulhadas
Pra presente.
= = = = = = = = =
Paraquedas...
Enquanto
A bicicleta
Ensaia um voo,
Na parede
A tulipa
Solitária
Filtra
O vento.
= = = = = = = = =
No
Triste olhar
Da casa
Em ruínas
Escorrem
memórias
Amareladas.
= = = = = = = = =
"porque uma andorinha só não faz verão"
mãe andorinha...
Andou Dorinha
Ocupada
Com a missão
De garantir
mais um verão.
= = = = = = = = =
No
Olhar
De
Mãe
Leio tantas histórias
Que vão
Além
De
Mim.
= = = = = = = = =
Por cima do muro,
As flores
Espiam a vida
Passando na rua.
E sobre
As asas
De brancas nuvens,
Voa ligeiro o azul
Na manhã
Ensolarada.
= = = = = = = = =
Na janela
Mesmo
Exposta
Ao sol
E a chuva
A
Espada
De São Jorge
Não
Enferruja.
= = = = = = = = =
Joaninhas...
Lindas,
Na flor
Na pedra
Na relva.
Não importa o lugar:
Quem é, é e (ponto).
Da mesma cor?
Sim.
Mias cada uma
Com sua pinta.
= = = = = = = = =
Saudades
São
Rastos
Da
Memória
Pedindo
Pra
Gente
No tempo
Voltar.
= = = = = = = = =
Gotas
Homeopáticas...
Na pérgola
De glicínias,
Vibram
Os raios violeta
nas asas
Do beija flor.
= = = = = = = = =
Sob a regência
Do pássaro maestro,
Afinadas,
As flores
Enchem o jardim
Com suas
Notas perfumadas.
= = = = = = = = =
À noite
Um sol no jardim…
Ou seria
Um cata-vento,
Girando
Meus
Pensamentos
Trazendo
Memórias
De guri?
= = = = = = = = =
Confiante
E com
Um ego
Gigante,
A pequena
Formiga
Escolhe
O seu buquê
De nubente.
= = = = = = = = =
Ana Luiza...
Emoldurando
Versos,
Sonho realiza.
É o tom que faltava
do arco-íris
da minha vida.
= = = = = = = = =
Liberdade...
Na
Lousa
Azul,
As
Asas
Da
Gaivota
Escrevem.
Fonte: Daniel Maurício. Poemininos. Curitiba/PR: Ed. do Autor, 2021. Enviado pelo poeta.
Mitos Indígenas (Iamulumulu - a formação dos rios)
Savuru era um espírito que possuía duas esposas. A pedido dos irmãos Kuát (Sol) e Iaê (Lua), que as cobiçavam, as ariranhas o mataram, ficando sua esposa mais velha com o Sol e a outra com a Lua.
Seguiram então os casais em direção à aldeia de Kanutsipei. Durante o caminho, os irmãos encontraram dificuldades e necessitaram da ajuda de outros espíritos: Iamulumulu lhes curou a impotência, Ierêp fez com que neles nascesse o ciúme das esposas e, uma vez cansados, pediram a Uiaó algo que os fizessem adormecer.
No dia seguinte, dispostos, retomaram a caminhada. Chegando ao local pretendido, estavam sedentos e pediram água a Kanutsipei. A água, porém, estava suja. O irmão Lua, tomando a forma de um beija-flor, voou rapidamente à procura de boa água. Ao voltar contou-lhes que o espírito os enganara, mantendo escondidos muitos potes com a mais pura água.
Contrariados, os casais retornaram à sua aldeia, contando a todos o que ocorrera. O Sol e a Lua uniram-se a vários espíritos, Vanivani, lananá, Kanaratê, os zunidores Hori-hori, invocando também os espíritos das águas que habitavam a copa do Jatobá. Chamaram ainda as máscaras Jakuikutu, Mearatsim, Ivat, Jakuiaép e Tauari. Reunidos, dançaram e resolveram voltar à aldeia de Kanutsipei para tomarem posse de sua água, quebrando todos os seus potes, conduzindo-a a outras regiões.
Mearatsim, o primeiro a chegar, cantou para espantar o dono do local. Chegaram então os outros espíritos e, à medida que os potes foram quebrados, formou-se ali uma grande lagoa, de onde cada um dos espíritos criou um rio.
Assim, o Sol criou o Rio Ronouro; Vani-vani formou o Rio Maritsauá; Kanaratê, o Paranajuva; Tracajá, o Kuluene e Iananá, um afluente do Ronouro.
A formação dos rios não agradou ao Sol, pois todos corriam para Morená, a região sagrada dos espíritos. Iniciou-se ali uma grande confusão, em meio à qual a Lua foi engolida por um grande peixe. O Sol, desesperado, saiu à procura do irmão, no ventre dos peixes que encontrava. Chegou a capturar o Tucunaré, o Matrinxã, o Pirarara e a Piranha. Mas havia sido o Jacunaum que o engolira, informou o Acará. E ambos, unidos, partiram à caça dos peixe.
Pediram a Taperá (andorinha do campo) que lhes conseguisse um grande anzol, ocultando-o num charuto. O Acará nadou à procura de Jacunaum, oferecendo-lhe fumo. Desta maneira, o Sol conseguiu fisgá-lo. Entretanto, dentro do peixe, restavam apenas os ossos de seu irmão.
Desejando ardentemente que a Lua revivesse. o Sol arrumou no chão seu esqueleto, cobrindo-o com as folhas perfumadas do Enemeóp. Aos poucos, como por encanto, a carne foi surgindo, revestindo os ossos até formar um novo corpo. Faltava-lhe ainda a vida. O Sol então introduziu um mosquitinho em sua narina, provocando-lhe um espirro, que o fez finalmente despertar. Assim foram criados os rios e, a partir daí, iniciou-se a prática da pajelança, tendo sido o Sol o primeiro pajé.
Fonte> Adaptação do Texto de Jayhr Gael in O Caminho de Wicca - http://www.caminhodewicca.com.br (desativado). acesso em 13/10/2023.
Aparecido Raimundo de Souza (Não era a dança da alma perdida. E jamais seria...)
VIVIAN BARCELAR DANÇAVA. Bailava suave e de forma cadenciada, harmoniosa e coerente, como se não houvesse amanhã. E se por algum descuido existisse, ela não se importava. Não estava nem aí. Ela só queria dançar. Seus movimentos eram fluidos e graciosos, intensos e elegantes. Tudo numa cadenciação ímpar seguia em ritmo alucinante e indescritível. Ela girava, ora, saltava, ora rodopiava, ora parecia sair do chão, sem se incomodar com o mundo ao seu redor. Ela dançava não só para alimentar a si mesma. Desvairava para sua alma se ver engrandecida. Se açoitava para esconder o rosto macerado pela intensidade da dor que a deixava sem rumo, sem prumo, sem norte.
Vivian Barcelar, havia pouco tempo, perdera tudo o que amava. Seu marido Gabriel, arranjara uma amante. Seu filho Lucas se debandou para a casa do avô; seu apartamento na Barra da Tijuca ficou grande demais para abrigar somente a sua fragilidade; seu José e dona Rosa (seus sogros); se mudaram de mala e cuia para o interior. Ela tinha fugido recente de uma guerra que lhe enfraqueceu os sonhos que almejava. Um conflito medonho que não se fazia esperado, aflorou. Uma conflagração hostil lhe tirou tudo o que tinha conquistado e se fazia real como as linhas desalinhadas das palmas de suas mãos.
Vivian Barcelar perdeu tudo e mais um pouco. Ela tinha chegado a um lugar estranho, estancado num ponto distante do seu estado normal, onde não conhecia ninguém, tampouco nenhuma alma falava a sua língua e o pior de tudo: onde não tinha sequer um pingo de esperança. A bela e ousada bailarina, na alvura dos vinte e nove, só tinha a dança. Sua válvula de escape. A tábua da salvação. O desvão para fugir das desgraças que lhe atormentavam. A dança que aprendeu com sua mãe; que herdou de sua avó; que fazia parte de sua cultura; de sua identidade. Os movimentos sequenciais que se transformaram na sua melhor forma de expressar, de sentir, de viver, de se acreditar respirando com o coração envolto em batidas descompassadas.
A dança que era a sua utopia, o seu agora, o seu amanhã, enfim, a única alegria, o derradeiro prazer tudo se fez num buraco imenso. Em verdade, a sua trilha para alcançar a liberdade, para se ver livre de um perigo iminente veio à óbito: a solidão brutal no lugar dela, se materializou. Com isso, a dança da sua alma estraçalhada, alquebrada, quase às raias da neurastenia não lhe permitia parar. Por conta, a criatura carecia de seguir em frente. Droga, só dançando não sucumbiria. Para não se ver sem saída, perdida, mais esmagada que arroz de terceira, a dança voltou à cena. Se constituiu, sem sombra de dúvidas, na sua única maneira de voltar a ser o que antes alegrava o seu mundo, não permitindo chegar aquela situação infame e atarantadamente ensandecida.
Vivian Barcelar dançava, dançava e dançava... voava febril sobre os pés, dançava eletrizante como se não houvesse um agora ou um próximo amanhã. Se mexia freneticamente porque, talvez, se parasse para pensar, para tentar reconstruir o que se fazia (ou lhe parecia impossível), talvez sinalizasse não existir, de fato um novo dia seguinte à sua espera. Porque talvez Vivian Barcelar não quisesse que houvesse. Porque lado outro, só pretendesse se perder tresloucada na dança, na cadência da música, ou, no pior dos mundos: se fundir na arte. Talvez ela só quisesse se encontrar nos domínios da dança, na euforia da música, usque (ainda que) no melhor daquilo que sabia fazer com esmero e perfeição. Ela não se cansava.
Seguia firme e dançava. Dançava e seguia adiante. Seguia lisonjeira, como uma alma perdida em busca de reza. Um ser que buscava um sentido; um propósito; um destino; um talvez; um minuto; um segundo que fosse para se sentir feliz e realizada. Vivian Barcelar se transformara numa alma oca que ansiava por tranquilidade e paz, que soluçava pelo amor se renovando, pela felicidade plena. Uma alma simplesmente solitária, que se entregava de peito e coração abertos, à dança, à música, e à arte. Nele seu futuro promissor, se fazia seu tudo.
Vivian Barcelar, por assim, dançava. Dançava sem parar. Não se cansava. Acabava uma música, entrava outra e mais outra e mais outra —, tudo numa sequência interminável. Ela dançava como uma vida perdida. Uma coisa sem valor, um ser que não merecesse mais nada, a não ser deixar de existir. Não, não, por Deus, deixar de existir, jamais. Jamais! Vivian Barcelar sofria. Estava no fim. Contudo, acreditava piamente, sentia que através da dança, envolta corpo, alma e espírito, tudo sem tirar nem por condensado naquele ritmo entontecido, se achasse se descobrisse exatamente no lugar do caminho, onde sem saber por qual motivo, se perdeu de distanciou... —, se divorciou de si mesma.
Fonte: Texto enviado pelo autor
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024
Carolina Ramos (Trovando) “10”
Washington Daniel Gorosito Pérez (Escrevendo Poesias)
Mensagem na Garrafa = 105 =
Curitiba/PR
SUSSURROS DO PAPEL DE SEDA...
A crônica de hoje deixou-se envolver, saudosamente, pelas imagens da abertura da novela “Éramos Seis”, uma linda telenovela brasileira produzida pelo SBT, e exibida, em 1994, (baseada em um romance brasileiro, de Maria José Dupré, 1943). Imagens da família em porta-retratos apareciam, em preto e branco e coloridos, indicando a passagem do tempo...
Retratos de família são pausas no tempo; os sorrisos permanecem e as lágrimas contidas, disfarçadas, também. Gosto de rever os antigos álbuns de fotografias e sentir, inebriada, os suaves sussurros do papel de seda que antecede cada página de textura em tons de azul-cinza. As fotos, de certa forma, mostram histórias de vidas; nascimentos, aniversários, amigos em confraternização, formaturas, mudanças de casas, viagens ... Cada centímetro da imagem lembra uma etérea ampulheta, que pode ser acariciada, emoção ao alcance das mãos...
Há amizades que permanecem além dos porta-retratos, sejam familiares, ou amigos e amigas que conhecemos em Redes Sociais ou por intermédio do trabalho e da poesia – Antologias, Oficinas de Arte... Têm laços de amizades que continuam a fazer parte de nosso dia a dia, mesmo que estejamos distantes da vida social, literária ou num leito de hospital. Assim, as boas vibrações chegam através de um abraço presença física, ou virtual: nas trocas de mensagens e emojis.
Wanda de Paula Mourthé (Canteiro de Trovas) = 8
quando a noite ergue seu véu,
e abre o sorriso do dia
na rósea face do céu.
= = = = = = = = =
Amor de mãe, sem medida,
em toda a criação é aquele
capaz de ao filho dar vida
e dar a vida por ele!
= = = = = = = = =
Ao passar por mim, não para.
Sou a sombra de ninguém!
Que espaço enorme separa
meu amor do seu desdém!
= = = = = = = = =
Brilho de falso talento,
que se vislumbra demais,
pode ofuscar um momento,
mas muito tempo... jamais!
= = = = = = = = =
Buscando quimeras vãs
e redentoras auroras,
fui vivendo de "amanhãs"
e não vivi meus "agoras"...
= = = = = = = = =
Com fé no poder divino,
traço meus rumos assim:
jamais permito ao destino
fazer escolhas por mim.
= = = = = = = = =
De um amor que é só miragem,
finjo agora ter o assédio,
para escapar da engrenagem
desta moenda que é o tédio.
= = = = = = = = =
Em nossas conversas calmas,
tem o amor recursos sábios:
palavras brotam das almas
bem mais que dos nossos lábios.
= = = = = = = = =
Juntando restos de sonho
à fugaz felicidade,
tua imagem recomponho
com mosaico de saudade.
= = = = = = = = =
Linda, a tarde se atavia
com fios de ouro do sol
e adorna a face, em magia,
com o rouge do arrebol.
= = = = = = = = =
Luto por meus ideais
com audácia, ante os abalos,
que não abalam, jamais,
a esperança de alcançá-los!
= = = = = = = = =
Meu abrigo é a solidão,
mesmo sob o nosso teto,
porque, aos laços da união,
falta o nó que prende o afeto.
= = = = = = = = =
Meu amor, por ser incauto,
ocultá-lo não consigo,
pois meus olhos são arauto
das palavras que não digo.
= = = = = = = = =
Não há censura que abale
nosso amor, que era segredo,
pois aliança de almas vale
bem mais que aliança no dedo.
= = = = = = = = =
Não prometo, em nossa história,
meu amor por toda a vida,
porque a vida é transitória,
e meu amor, sem medida!...
= = = = = = = = =
Nem nosso amor em conflito
justifica esse teu "não":
proferiste um veredito
sem direito à apelação!
= = = = = = = = =
No cansaço da viagem,
quando me sinto exaurida,
sopro a brasa da coragem
e atiço o lume da vida.
= = = = = = = = =
Nossas almas, com fervor,
habitam corpo comum.
Pela alquimia do amor,
nos tornamos... dois em um!
= = = = = = = = =
Nosso amor sempre crescente,
mas tão distante da aurora,
é barco que, no poente,
no cais da ternura ancora.
= = = = = = = = =
Num tempo em que mal se tolhe
tanta violência homicida,
bendito é o ventre que acolhe
a promessa de uma vida!
= = = = = = = = =
Passa, veloz, a paisagem
pela janela do trem...
Só não passa tua imagem,
que vai comigo também!
= = = = = = = = =
Pazes feitas, afinal!
E ao brindarmos, de improviso,
mais que o toque do cristal,
soa o cristal do teu riso!
= = = = = = = = =
Retornas a casa... e, em cores,
ao pressentir os teus passos,
nosso jardim se abre em flores,
e abertos já estão meus braços!
= = = = = = = = =
Se agora o ocaso me alcança,
ao desalento me oponho,
porque o lume da esperança
mantém aceso o meu sonho.
= = = = = = = = =
Se de ousada passo a imagem,
vou confessar meu segredo:
às vezes, minha coragem
é só disfarce do medo...
= = = = = = = = =
Se em conquistas eu fracasso,
ao desalento me oponho
e com fé em Deus eu traço
os rumos de um novo sonho.
= = = = = = = = =
Tanto amor e afinidade
entre nós dois, já se vê,
que perdi a identidade:
ou sou eu... ou sou você?
= = = = = = = = =
Terra, és planeta bonito,
que Deus, Supremo Escultor,
no ateliê do infinito,
modelou com esplendor!
= = = = = = = = =
Você parte e nem me avisa!
Conto o tempo em ansiedade
pela areia que desliza
na ampulheta da saudade...
= = = = = = = = =
"Volta, amor!" — Esse é o chamado
da saudade ao ver-te ausente —
"Em memória do passado,
eu te peço este presente!"
= = = = = = = = =
Voltas! Com essa notícia,
atenta ao som dos teus passos,
eu antecipo a magia
de uma noite nos teus braços!
= = = = = = = = =
Fonte> Wanda de Paula Mourthé. Com…passos de emoções. Belo Horizonte: Flux, 2013. Enviado pela Trovadora.
Humberto de Campos (Educação antiga)
As pessoas que desceram à cidade sexta-feira pela manhã, ouviram falar, com certeza, em uma vaia de que teria sido vítima, em plena Avenida, uma senhorita inconvenientemente vestida. Indignadas com a competência daquela atrevida, outras senhoras explodiram em exclamações admirativas, a que os homens, para agradar à maioria, deram seguimento, rompendo em assuada.
A mim, me custa a crer que isso tenha acontecido, por uma circunstância muito natural por não ser possível mais, na cidade, uma "toilette" capaz de motivar surpresa. As que se exibem na Avenida impunemente, todos os dias, são de tal ordem, que, para causar escândalo, pasmo, admiração, seria preciso, não, apenas, tirar o vestido de cima da pele, mas tirar a pele de cima do corpo.
Comentava eu esse incidente, ontem, à noite, em uma roda de damas e cavalheiros, quando uma das senhoras menos jovens, Dona Ernestina Vale, procurou uma explicação para esse descalabro:
- O motivo dessa falta de pudor de certas moças de hoje, - começou, perspicaz - deve ser atribuído, sr. conselheiro, aos próprios pais, ou, antes, às mães.
E expôs o seu pensamento:
- O senhor vê, hoje, como as mães vestem as crianças. Não há dia em que não encontremos na rua meninas de quatro, seis, oito e, até dez anos, com vestidinhos muito acima dos joelhos, com os bracinhos nus, o colozinho à mostra, numa exibição completa das suas carnezinhas tenras. Aos doze anos, já mocinhas, a "toilette" dessas criaturinhas apresenta pequena diferença. E como não tiveram, em criança, a noção do pudor físico, entram assim na mocidade, sem tentar esconder as partes do corpo que nunca lhes disseram que deviam ser escondidas.
- A senhora acha, então, que elas fazem isso sem maldade? - obtemperou o Dr. Austregésilo, tomando nota na carteira.
- Perfeitamente, doutor! Elas fazem isso com a maior inocência do mundo. Os índios não se apresentam inteiramente nus aos olhos dos civilizados? E não o fazem ingenuamente, inocentemente, por terem sido criados assim? Criemos as meninas com decoro, vestindo-as com discrição, e teremos moças discretas, pudicas, decorosas, ciosas do seu corpo e dos seus encantos.
E, dizendo-me isso, acrescentou, severa, calçando as luvas, deixando-me ver, pelo vestido decotado e sem mangas, dois sinaizinhos negros, quase imperceptíveis, que se lhe aninhavam um pouco abaixo das axilas:
- Assim é que eu fui criada!
Fonte> Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925. Disponível em Domínio Público.
Mitos Indígenas (Sinaá - inundação e fim do mundo)
Sinaá, o mais poderoso pajé da tribo Juruna, era filho de mãe índia e pai onça. Do felino herdara o poder de enxergar também pelas costas, o que lhe permitia observar tudo o que se passava ao seu redor. Caminhava com sua gente por toda a região, ensinando a seus companheiros serem bons e bravos. Seu povo alimentava-se de farinha de mandioca, raspa de madeira, jabutis e sucuris, cobras imensas que habitam na água.
Certa vez, uma enorme sucuri foi capturada e queimada por haver devorado diversos índios. inesperadamente brotaram de suas cinzas diversas espécies de vegetais, como a mandioca, o milho, o cará, a abóbora, a pimenta, e algumas plantas frutíferas, até então desconhecidas para aquela tribo.
Foi um pássaro surgido do céu que os ensinou a utilizar e preparar tais alimentos e também fazê-los multiplicar-se. A partir daquele dia, fartas roças se formaram.
Para garantir o sustento de seu povo, Sinaá, face às fortes chuvas e à ameaça de grande inundação, construiu uma imensa canoa, onde plantou mudas de cada espécie.
Em poucos dias o rio transbordou e a enchente cobriu toda a região, mas o grande pajé livrou seu povo da fome.
Já mais velho, Sinaá casou-se com uma aranha, que lhe teceu novas vestes para melhor abrigá-lo. Chegando a atingir idade bastante avançada, já ostentava longas barbas brancas. Seus poderes, porém, permitiam-lhe remoçar a cada banho de cachoeira, para que pudesse viver até o fim de seu povo, como tanto queria. Quando isto ocorresse, Sinaá derrubaria a forquilha de uma enorme árvore que apontava para o céu, sustentando-o. O céu desabaria sobre todos os povos e o mundo teria o seu fim.
Fonte> Adaptação do Texto de Jayhr Gael in O Caminho de Wicca - http://www.caminhodewicca.com.br (desativado). acesso em 13/10/2023.
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024
Newton Sampaio (Simples diálogo)
— Vai bater.
— Não bate.
— Vai, sim.
— Não vai.
— Aposto.
— Quanto quiser.
— Um cafezinho...
— É pouco.
— Dois chopps.
— Sofro do fígado.
— Cinema?
— Não gosto.
— Então proponha.
— Já propus quantas vezes!
— Isso que você quer é impossível.
— Não há nada impossível quando se está diante da mais linda mulher...
— Velhíssimo galanteio, meu caro...
— Mas muito exato. As palavras sinceras não envelhecem.
— Mas ficam fora de moda. Mais depressa que os vestidos...
— Nesse caso, desisto.
— Medo?
— Cansaço...
— Por Deus! Um Romeu desanimado é a criatura mais ridícula do mundo.
— Confesso então que é medo.
— De perder?
— Ou talvez de ganhar.
— !
— Vai bater.
— Não vai.
— Espere e verá.
Esperaram. Ela ganhou. O rastilho de luz acabou mesmo alcançando o velho parapeito sem história...
(Publicado originalmente na revista Fon-fon. Rio de Janeiro, 19/12/1935)
— Não bate.
— Vai, sim.
— Não vai.
— Aposto.
— Quanto quiser.
— Um cafezinho...
— É pouco.
— Dois chopps.
— Sofro do fígado.
— Cinema?
— Não gosto.
— Então proponha.
— Já propus quantas vezes!
— Isso que você quer é impossível.
— Não há nada impossível quando se está diante da mais linda mulher...
— Velhíssimo galanteio, meu caro...
— Mas muito exato. As palavras sinceras não envelhecem.
— Mas ficam fora de moda. Mais depressa que os vestidos...
— Nesse caso, desisto.
— Medo?
— Cansaço...
— Por Deus! Um Romeu desanimado é a criatura mais ridícula do mundo.
— Confesso então que é medo.
— De perder?
— Ou talvez de ganhar.
— !
— Vai bater.
— Não vai.
— Espere e verá.
Esperaram. Ela ganhou. O rastilho de luz acabou mesmo alcançando o velho parapeito sem história...
(Publicado originalmente na revista Fon-fon. Rio de Janeiro, 19/12/1935)
Fonte> Newton Sampaio. Ficções. Secretaria de Estado da Cultura: Biblioteca Pública do Paraná, 2014.
Auta de Souza (Poemas Escolhidos) – 14 -
PÁGINA TRISTE
Há muita dor por este mundo a fora
Muita lágrima à toa derramada;
Muito pranto de mãe angustiada
Que vem saudar o despontar da aurora!
Alma inocente só de amor cercada
A criancinha a soluçar descora,
Talvez no berço onde o menino chora
Também, oh dor, tu queiras, desolada.
Erguer um trono, procurar guarida...
Foge do berço! Não magoes a vida
Desta ave implume, lirial botão...
Queres um ninho, um carinhoso abrigo?
Pois bem! Procura-o neste seio amigo,
Dentro em minh’alma, aqui no coração!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
POBRE FLOR!
Deu-ma um dia antiga companheira
De tempinho feliz de adolescente;
E os meus lábios roçaram docemente
Pelas folhas da nívea feiticeira.
Como se apaga uma ilusão primeira,
Um sonho estremecido e resplendente,
Eu beijei-lhe a corola, rescendente
Inda mais que a da flor da laranjeira.
E como amava o seu formoso brilho!
Tinha-lhe quase essa afeição sagrada
Da jovem mãe ao seu primeiro filho.
Dei-lhe no seio uma pousada franca...
Mas, ai! Depressa ela murchou, coitada!
Doce e mísera flor, cheirosa e branca!
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POMBOS MENSAGEIROS
Transformados em pombos cor de neve,
Entraram-me a cantar pela janela,
A tua carta delicada e leve
E o beijo amigo que envolveste nela.
Ó que alegria para o coração
Onde a Saudade, sempre em flor, renasce!
A carta leve me pousou na mão
E o beijo amigo acarinhou-me a face.
E então, a rir, ó pomba idolatrada!
Eu transformei meu coração em ninho:
Nele repousa a tua carta amada
E canta o beijo a ária do carinho.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
RENASCIMENTO
Manhã de rosas. Lá no etéreo manto,
O sol derrama lúcidos fulgores,
E eu vou cantando pela estrada, enquanto
Riem crianças e desabrocham flores.
Quero viver! Há quanto tempo, quanto!
Não venho ouvir na selva os trovadores!
Quero sentir este consolo santo
De quem, voltando à vida, esquece as dores.
Ouves, minh’alma? Que prazer no ninhos!
Como é suave a voz dos passarinhos
Neste tranquilo e plácido deserto!
Ah! entre os risos da Natura em festa,
Entoa o hino da alegria honesta,
Canta o Te Deum, meu coração liberto.
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RECUERDO
Findava o mês de maio envolto e preces,
O doce mês da orações formosas...
Iam com ele as encantadas messes
Dos perfumes, dos sonhos e das rosas.
Era muito à tardinha; as aves mansas
Voavam todas, em formosos pares,
Como se fossem garrulas crianças
Que andassem, rindo, a percorrer os ares!
E eu murmurei ao ver assim voando
Aquelas aves para os brandos ninhos:
"Ah! Quem me dera só andar cantando,
Sempre crianças, como os passarinhos!”
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REGINA MARTYRUM
Lírio do céu, sagrada criatura,
Mãe das crianças e dos pecadores,
Alma divina como a luz e as flores
Das virgens castas a mais casta e pura;
Do azul imenso, dessa imensa altura
Para onde voam nossas grandes dores,
Desce os teus olhos cheios de fulgores
Sobre os meus olhos cheios de amargura!
Na dor sem termo pela negra estrada
Vou caminhando a sós, desatinada,
— Ai! pobre cega sem amparo ou guia!
Sê tu a mão que me conduza ao porto...
Ó doce mãe da luz e do conforto,
Ilumina o terror desta agonia!
Fonte: Auta de Souza. Poemas. Publicado postumamente em 1932. Disponível em Domínio Público.
Flávio Madalosso (Amizade e amigo)
O Sol vai surgindo por detrás das colinas verdejantes de Uvaranas, na radiante e ensolarada manhã de fevereiro. Apesar de o vento e do clima mais ameno, a manhã de hoje é linda e o dia promete ser tão agradável quanto o de ontem, com o Sol a iluminar fartamente o nosso verão um tanto quanto rigoroso e senegalês. A situação imposta pela estação sazonal é mais forte, mas tudo faz parte da vida, do cotidiano das pessoas, inclusive a convivência e a busca por melhores condições de vida. Um humano depende de outro, sempre, independente das condições de cada um e se houver afinidade, melhor, pois tudo fica mais fácil.
É neste particular que centralizamos a nossa atenção, referindo-nos ao quatorze de fevereiro, data reservada ao "Dia da Amizade", mas preferimos homenagear o "amigo", que é a razão da efeméride.
Poderíamos arrolar nesta página, e em muitas outras em sequência, com nomes de pessoas com quem temos um relacionamento afetivo, seja no lar, na família, no bairro, na escola, nos locais de lazer, nos grupos culturais, mas se o fizermos fatalmente estaríamos esquecendo alguém, pois são muitos e a memória insuficiente para indicar de imediato todos aqueles que nos são caros.
Claro é que temos algumas preferências, por simples questão de afinidade ou de laços de união mais estreitos, mas mesmo assim a citação de nomes se torna difícil.
Ao lembrarmos esta data tão significativa, temos em mente a necessidade da convivência com pessoas que nem sempre têm as mesmas preferências que nós, nem sempre têm os mesmos gostos ou as mesmas ideias, ideologias ou formas de ver as coisas do dia a dia, mas sempre têm algo de bom para nos dizer, um novo ânimo, uma maneira diferente de nos tratar, algo que nos faz sentir bem e ver a vida de forma diferente.
É muito difícil definir amizade ou amigo, mas sempre é necessário saber mantê-los, não por obrigação ou pela possibilidade de precisar deles algum dia (isto não seria uma amizade sincera), mas pela nossa própria carência de termos com quem contar e conviver, de cúmplice, de conivência, de confidência, de quem nos queira bem e que pense em nós com carinho e com saudade, com respeito, consideração e reciprocidade, vendo sempre coisas boas em nossas atitudes e buscando entender as nossas ações.
Então, falamos daqueles de quem lembramos todos os dias, para homenageá-los, para agradecer a oportunidade de poder dizer que temos amigos em muitos quadrantes do planeta. E são muitos, alguns distantes no tempo, outros afastados por questões profissionais ou de afazeres, outros, ainda, próximos no espaço mas longe no tempo, alguns já em outra dimensão, mas todos dentro do coração agradecido e, mesmo que não leiam estas palavras, por certo sentirão as vibrações positivas da amizade que nutrimos e que tanto valor damos.
Assim, mesmo achando pouco, dizemos "Bom-dia, amigos!” e agradecemos a Deus pela benesse da amizade que, associada ao amor, é o mais nobre dos sentimentos.
É neste particular que centralizamos a nossa atenção, referindo-nos ao quatorze de fevereiro, data reservada ao "Dia da Amizade", mas preferimos homenagear o "amigo", que é a razão da efeméride.
Poderíamos arrolar nesta página, e em muitas outras em sequência, com nomes de pessoas com quem temos um relacionamento afetivo, seja no lar, na família, no bairro, na escola, nos locais de lazer, nos grupos culturais, mas se o fizermos fatalmente estaríamos esquecendo alguém, pois são muitos e a memória insuficiente para indicar de imediato todos aqueles que nos são caros.
Claro é que temos algumas preferências, por simples questão de afinidade ou de laços de união mais estreitos, mas mesmo assim a citação de nomes se torna difícil.
Ao lembrarmos esta data tão significativa, temos em mente a necessidade da convivência com pessoas que nem sempre têm as mesmas preferências que nós, nem sempre têm os mesmos gostos ou as mesmas ideias, ideologias ou formas de ver as coisas do dia a dia, mas sempre têm algo de bom para nos dizer, um novo ânimo, uma maneira diferente de nos tratar, algo que nos faz sentir bem e ver a vida de forma diferente.
É muito difícil definir amizade ou amigo, mas sempre é necessário saber mantê-los, não por obrigação ou pela possibilidade de precisar deles algum dia (isto não seria uma amizade sincera), mas pela nossa própria carência de termos com quem contar e conviver, de cúmplice, de conivência, de confidência, de quem nos queira bem e que pense em nós com carinho e com saudade, com respeito, consideração e reciprocidade, vendo sempre coisas boas em nossas atitudes e buscando entender as nossas ações.
Então, falamos daqueles de quem lembramos todos os dias, para homenageá-los, para agradecer a oportunidade de poder dizer que temos amigos em muitos quadrantes do planeta. E são muitos, alguns distantes no tempo, outros afastados por questões profissionais ou de afazeres, outros, ainda, próximos no espaço mas longe no tempo, alguns já em outra dimensão, mas todos dentro do coração agradecido e, mesmo que não leiam estas palavras, por certo sentirão as vibrações positivas da amizade que nutrimos e que tanto valor damos.
Assim, mesmo achando pouco, dizemos "Bom-dia, amigos!” e agradecemos a Deus pela benesse da amizade que, associada ao amor, é o mais nobre dos sentimentos.
Fonte: Bonde https://www.bonde.com.br/blogs/falando-de-literatura/amizade-e-amigo-cronica-de-flavio-madalosso-vieira
Mitos Indígenas (Arutsãm - o sapo astucioso)
O sapo Arutsãm foi ao encontro de seu cunhado onça, para dele tomar emprestado um arco e uma gaita de bambu.
Aproximando- se de seu território, foi alertado por outros animais, com ironia, do perigo que estava correndo. Mesmo assim prosseguiu.
A onça mostrou-se gentil ao recebê-lo, convidando-o para um banho no lago, cuidando, porém, para que sempre caminhasse atrás do convidado. Arutsãm. desconfiado, manteve-se atento.
Ao anoitecer a onça esperou ansiosa que o cunhado adormecesse, aguardando o momento ideal para devorá-lo.
Arutsãm, entretanto, colocou sobre os seus, olhos de um vagalume, ludibriando assim a onça, que o julgava acordado e não ousou atacá-lo.
No dia seguinte, já de posse do arco e da gaita, despediu-se agradecido de seu anfitrião.
Esperto que era, espalhou formigas no caminho, que, atacando a onça, faziam com que esta batesse as patas no chão, acusando sua proximidade.
Arutsãm seguia o seu caminho. Passava agora pelo território das serpentes, a quem seu inimigo incansável pediu que o apanhassem. O astuto sapo atraiu-as até o lago, saltando velozmente para outra margem, escapando à sua perseguição.
Chegando à aldeia das cobras, apressou-se em quebrar todas as panelas de barro de suas fêmeas. Ao verem o estrago, estas o perseguiram enfurecidas.
Neste momento, partiu Arutsãm para seu grande salto: como um toque mágico, pulou para a lua, onde, zombeteiro, está eternamente a tocar sua gaita. Ainda hoje, em noites claras, a onça contempla a lua (Iaê), lamentando o fracasso do seu plano traidor.
Aproximando- se de seu território, foi alertado por outros animais, com ironia, do perigo que estava correndo. Mesmo assim prosseguiu.
A onça mostrou-se gentil ao recebê-lo, convidando-o para um banho no lago, cuidando, porém, para que sempre caminhasse atrás do convidado. Arutsãm. desconfiado, manteve-se atento.
Ao anoitecer a onça esperou ansiosa que o cunhado adormecesse, aguardando o momento ideal para devorá-lo.
Arutsãm, entretanto, colocou sobre os seus, olhos de um vagalume, ludibriando assim a onça, que o julgava acordado e não ousou atacá-lo.
No dia seguinte, já de posse do arco e da gaita, despediu-se agradecido de seu anfitrião.
Esperto que era, espalhou formigas no caminho, que, atacando a onça, faziam com que esta batesse as patas no chão, acusando sua proximidade.
Arutsãm seguia o seu caminho. Passava agora pelo território das serpentes, a quem seu inimigo incansável pediu que o apanhassem. O astuto sapo atraiu-as até o lago, saltando velozmente para outra margem, escapando à sua perseguição.
Chegando à aldeia das cobras, apressou-se em quebrar todas as panelas de barro de suas fêmeas. Ao verem o estrago, estas o perseguiram enfurecidas.
Neste momento, partiu Arutsãm para seu grande salto: como um toque mágico, pulou para a lua, onde, zombeteiro, está eternamente a tocar sua gaita. Ainda hoje, em noites claras, a onça contempla a lua (Iaê), lamentando o fracasso do seu plano traidor.
Fonte> Adaptação do Texto de Jayhr Gael in O Caminho de Wicca - http://www.caminhodewicca.com.br (desativado). acesso em 13/10/2023.
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024
Laé de Souza (Maria Sebastiana [Sacha])
As luzes que espocavam não eram flashes, mas faróis que passavam a mais de noventa por hora na Marginal do Rio Tietê e clareavam por baixo da Ponte do Limão.
Ao choro fraco, Anterôncio pegou a caneca de água, extraída do rio e fervida por duas vezes para matar micróbios sobreviventes da primeira fervura, e iniciou seu trabalho de parteiro da própria mulher. Relembrava as conversas e teorias da sua velha mãe, parteira, que ele colocava agora em prática.
Ao cortar o cordão umbilical, segurou-a nas mãos e bem alto para que quem passasse visse e gritava mostrando ao mundo a sua princesa Sasha.
Hoje, enfezou-se ao lembrar que ainda não tivera coragem de contar para a mulher que não tinha como levar a registro o nome. Tentou ainda conversar com o cartorário, mas foi tratado com desdém e sem margem para argumentos. E não podia nem discutir, era de graça mesmo. De qualquer forma, não se dava por vencido e tinha escrito ao presidente pedindo que interferisse no caso e que ele precisava ver como a Sasha era linda e merecia o nome. Era uma esperança. Afinal, fora reeleito com seu voto e tinha de zelar pelos seus súditos, pensava.
Subscrevera o envelope em letras garrafais e ainda dentro avisava: "Mandar para o Bar do Magrão na Rua Canindé s/n - Pari, a ser entregue em especial favor ao Anterôncio."
Se bem, que vinha observando que a Marinete não andava lá muito boa da cabeça. Não pelo nome escolhido, mas pelas atitudes. Ficou meio "assim" quando a viu juntar um monte de cascalho, que chamava de brilhantes, para ornamentar um cesto que dizia ser um berço banhado em ouro; apanhou latas de cerveja jogadas na pista e amarrou num pano pendurado nas colunas da ponte, que dizia que ser uma porta enfeitada com sinos dourados na entrada do quarto. Recortou aquela blusa velha, preta na cor e no tempo, dizendo ser seda rosa e um lindo vestido; pegou seu litro ainda não bebido de Caninha e colocou sobre uma lata com toalha de papel, num canto, dizendo que era champanha para brindar o nascimento. Conversa sem resposta com quem estava parado no trânsito do final de tarde, dizendo que estava bem e que sentia a sua Sasha se mexer e que logo, logo, ela estaria nascendo. Abismou-se o Anterôncio quando ela lhe falou que, se no dia não houvesse estrelas, ele escalasse o céu e abrisse caminho nas nuvens para surgir ao menos uma para a sua Sasha que nascia. Quis proibi-la de sair com aquele barrigão para ir até São Miguel Paulista para votar, mas cedeu aos argumentos de não querer ser responsável pela não mudança no país, ainda mais agora que trazia sua filha ao mundo. Ele a acompanhou e percebeu que ela não diminuiu nem um pouco seu sorriso diante das caras feias pelo seu corte na imensa fila. E, pelo jeito, com os mesmos argumentos, ainda sob risco de quebrar o resguardo irá com sua Sasha no colo dar o seu voto no segundo turno.
Não tivera nenhum entojo nem desejos na gravidez. É, parece que está com algum parafuso solto, mas ele é que não vai apertar. Como é que vai dizer que tudo aquilo que ela vê é ilusão? Tomara que não seja só nesta fase puerperal. Mesmo porque, ainda que a menina seja Maria Sebastiana no escrito, na boca será sempre Sasha e breve, vai virar nome de boneca. Portanto, não há porque ela saber já.
Fonte> Laé de Souza. Acredite se quiser. SP: Ecoarte, 2000. Enviado pelo autor.
Hans Christian Andersen (O guardador de porcos)
Era uma vez um príncipe pobre; ele tinha um reino muito pequeno, mas mesmo assim grande o bastante para que ele se casasse. E casar era o que ele queria, era mesmo seu maior desejo. Mas é claro que ele ia ser muito atrevido se perguntasse logo à filha do Imperador: “Você quer casar comigo?” Pois foi justamente o que ele fez.
Seu nome ilustre era conhecido por toda parte, e havia centenas de princesas que lhe diriam “sim” na mesma hora, felizes da vida de ir morar com ele em seu pequeno reino.
E a filha do Imperador? Que será que ela respondeu? Pois é o que vamos ver agora.
Sobre o túmulo do pai do príncipe, crescia uma roseira, uma roseira maravilhosa. Só florescia de cinco em cinco anos, e ainda assim dava apenas uma rosa de cada vez. Mas não era uma rosa como as outras; tinha um perfume tão doce, que fazia as pessoas esquecerem todos os desgostos e preocupações.
Além da rosa, o príncipe tinha um rouxinol; um rouxinol que cantava tão bem, que era como se as mais lindas melodias morassem em sua pequena e delicada garganta.
Essa rosa e esse rouxinol o príncipe quis dar de presente à princesa; para isso, foram enviados a ela dentro de duas caixas de prata. O Imperador ordenou que as caixas fossem levadas ao grande salão, onde a princesa brincava com suas damas de honra. Quando ela viu aquelas caixas com os presentes, bateu palmas de alegria.
– Ah, que bom se eu ganhasse um gatinho! – disse ela.
Mas o que saiu da primeira caixa foi uma rosa lindíssima e perfumada.
– Oh, que coisinha mais bem feita! – exclamaram todas as damas de honra.
– Ela é mais do que bem feita. É fascinante! – disse o Imperador.
A princesa, porém, tocou na rosa e logo começou a chorar:
– Que coisa horrível, Papai! Não é uma rosa artificial, é de verdade! – reclamou ela, aborrecida, jogando a rosa no chão.
– Que coisa horrível! É uma rosa de verdade! – disseram também todas as damas de honra. É que elas achavam uma rosa de verdade muito pouco elegante e nobre, pois se encontra por toda parte. Ninguém reparou em seu doce perfume, ninguém se abaixou para pegá-la do chão, e logo ela foi esquecida. Mais tarde, uma serva do palácio jogou-a no lixo.
– Antes de ficarmos zangados, vamos primeiro verificar o que veio na outra caixa – disse então o Imperador. Com todo o cuidado, a caixa foi aberta, e o que apareceu foi o rouxinol. Dois pajens tiveram de trazer um suporte de ouro com uma argola pendurada, e um deles pousou o passarinho naquele aro dourado. E, apesar de ser bem simples, sem cores vivas, seu canto era tão maravilhoso, que ninguém conseguiu falar mal dele.
As damas de honra ficaram escutando, encantadas, o Imperador pôs as mãos no peito, comovido, e a princesa sentou-se numa poltrona sem dizer nada e prestando a maior atenção.
– Superbe! Charmant! – disseram as damas de honra, pois todas falavam francês, cada uma pior que a outra.
Com isso, elas queriam dizer que o canto do passarinho era magnífico e fascinante. A linda voz do rouxinol ressoou por todo o castelo, de modo que foram aparecendo mais e mais ouvintes: o mestre-de-cerimônias e os ministros, o camareiro do Imperador e a criada de quarto da princesa.
– Como esse passarinho me faz lembrar a caixinha de música da saudosa Imperatriz! – disse um velho ministro – Ah! O tom é o mesmo, e a maneira de cantar também!
– Tem razão – disse o Imperador, chorando como uma criança, pois começou a pensar em sua boa esposa, que havia morrido há poucos anos.
De repente, a princesa disse:
– Tenho a impressão de que esse passarinho canta como se estivesse vivo. Não me digam que é um passarinho de verdade!
O Imperador indagou dos mensageiros que tinham trazido os dois presentes, e eles responderam:
– Sim, é um passarinho de verdade.
– Então, podem soltá-lo – disse a princesa, e não deixou que o príncipe viesse ao palácio.
Os servos tiveram de abrir a janela e deixar o passarinho sair voando.
As damas de honra ainda comentaram:
– Deve ser muito sem educação esse príncipe, para mandar de presente uma rosa de verdade e um passarinho vivo.
Apesar de tudo, o príncipe não desanimou. Pintou o rosto de marrom, afundou o chapéu na cabeça até a testa e foi bater à porta do castelo. E aconteceu que quem abriu foi o próprio Imperador; o príncipe tirou o chapéu e disse:
– Bom dia, senhor Imperador! Seria possível arranjar para mim um trabalho no castelo?
– Pois é – respondeu o Imperador – tanta gente vem pedir emprego aqui… Mas eu não sei se temos alguma coisa para você fazer. Vou pensar… Ah, espere um pouco! Lembrei que preciso de alguém para tomar conta dos porcos, pois nossos porcos são muitos.
E assim o príncipe arranjou um emprego de guardador imperial de porcos. Deram-lhe um quartinho miserável ao lado do chiqueiro, e lá ele teve de morar; mas durante o dia todo ele trabalhou e, ao anoitecer, tinha feito uma panelinha com alegres guizos pendurados em volta; e, assim que a panelinha fervia, os guizos tocavam a antiga melodia:
“Oh, meu Agostinho,
perdeste tudinho!”
Mas a panelinha sabia fazer uma porção de outras coisas, pois não era uma panela comum. Só de pôr o dedo na fumaça que saía dela, a gente ficava sabendo que comida estava sendo preparada em todos os fogões da cidade. Na casa do alfaiate imperial, ia-se comer linguiça no espeto; a mulher do caçador da corte estava assando uma perdiz, que seu marido tinha reservado para eles depois da última caçada; na casa do sapateiro, as batatas pulavam dentro d’água, e na casa do professor da escola, por ser dia de aniversário, uma galinha estava sendo ensopada. E – vejam só! – o mendigo, que todos os dias pedia esmola no castelo, tinha até um suculento pedaço de carne em sua sopa e mingau de aveia para a sobremesa. Pois é, a panelinha era bem diferente da rosa de verdade e do rouxinol vivo. Então, certo dia, quando a princesa estava por acaso passeando ali perto com todas as suas damas de honra, ouviu a música dos guizos e parou toda contente; é que ela também sabia tocar “Oh, meu Agostinho”. Aliás, era a única música que ela sabia tocar, e assim mesmo com um dedo só.
– Essa é a cantiga que eu toco! – disse ela – Deve ser bem educado esse guardador de porcos. Vá falar com ele e pergunte quanto custa esse instrumento que eu quero tanto comprar.
Então, uma das damas de honra teve de ir até o chiqueiro, mas precisou calçar tamancos, pois o lugar era muito cheio de lama.
– Quanto você quer pela panelinha? – perguntou a dama de honra, tampando o nariz e pisando na ponta dos pés.
– Quero dez beijos da princesa – respondeu o jovem guardador de porcos.
– Deus me livre! – disse a dama de honra, e quase desmaiou com aquela exigência.
– Por menos eu não vendo. Afinal ela não é uma panela comum – replicou o guardador de porcos.
A dama de honra foi até onde as outras estavam, e a princesa perguntou:
– Que foi que ele disse?
– Eu nem posso contar – respondeu ela.
– Pois então fale aqui no meu ouvido!
Quando a princesa ficou sabendo o que o guardador de porcos queria, disse:
– Que sem-vergonha! Que sujeito malcriado! – e foi embora dali.
Mas, foi só andar um pouco, que os guizos tocaram:
“Oh, meu Agostinho,
perdeste tudinho!”
– Olhem – disse a princesa – voltem lá e perguntem se ele aceita dez beijos de minhas damas de honra.
– Muito obrigado – respondeu o guardador de porcos – Quero dez beijos da princesa ou nada de panelinha.
– Está muito chato esse vai e vem! – disse a princesa – Vocês todas fiquem então em volta de mim, para que ninguém veja.
Assim, as damas de honra fizeram uma roda esticando as pontas dos vestidos, e o guardador de porcos ganhou dez beijos, e a princesa recebeu a panelinha.
Foi uma alegria, que só vendo! O dia inteiro a panela ferveu; e elas agora sabiam o que estava sendo cozinhado em todos os fogões da cidade, tanto na casa do camareiro como na casa do sapateiro ou do alfaiate. As damas de honra dançavam e batiam palmas, dizendo:
– Sabemos quem vai comer sopa doce e omelete e quem vai ganhar mingau e carne assada. Que coisa mais interessante!
– Interessantíssima! – exclamou a mestre-sala.
– É, mas guardem segredo, pois eu sou a filha do Imperador.
– Pode deixar, pode deixar! – disseram todas.
O guardador de porcos, isto é, o príncipe – só que ninguém sabia que ele era o príncipe – não deixava passar um dia sem fazer alguma coisa, e dessa vez ele fez uma matraca. E era só girar a matraca que ela tocava todas as valsas e polcas do mundo.
– Que maravilha! – exclamou a princesa quando passou por perto – Nunca ouvi música mais linda. Ouçam, vá uma até o chiqueiro e pergunte ao guardador de porcos quanto custa esse instrumento: só que beijos eu não dou mais!
– Ele quer, em troca, cem beijos da princesa – disse a dama de honra que tinha ido lá perguntar.
– Acho que ele ficou maluco! – retrucou a princesa, saindo dali.
Entretanto, depois de andar um pouco, parou.
– Em nome da arte, é preciso fazer alguma coisa. Afinal, eu sou a filha do Imperador! Diga que vou dar dez beijos, como da outra vez. O resto ele pode receber de minhas damas de honra.
– Ah, mas nós não temos vontade nenhuma de fazer isso! – disseram as damas de honra.
– Que enjoamento de vocês! – reclamou a princesa – Pois se eu posso beijar, vocês também podem. Além disso, é de mim que vocês recebem alimento e salário!
Assim, querendo ou não, as damas de honra foram de novo ao chiqueiro.
– Cem beijos da princesa – respondeu o guardador de porcos – senão cada um fica com o que é seu!
– Então, ponham-se todas na minha frente – disse ela.
As damas de honra obedeceram, e o guardador de porcos ganhou os beijos da princesa.
– Mas que ajuntamento é aquele lá no chiqueiro? – perguntou o Imperador, que tinha saído para o terraço.
Ele esfregou os olhos e pôs os óculos.
-É… São as damas de honra que fazem esse barulho todo; preciso ir ver o que está acontecendo!
E… zás-trás… lá foi ele bastante afobado.
Assim que chegou mais perto, começou a andar bem devagarinho. As damas de honra estavam tão ocupadas contando os beijos, para que fosse um negócio honesto, que nem repararam no Imperador.
– Que é isso? – exclamou ele, ao ver a princesa e o guardador de porcos se beijando.
Já haviam sido trocados oitenta e seis beijos, quando o Imperador começou a dar sapatadas na cabeça dos dois.
– Fora daqui! – gritou ele, furioso.
E a princesa e o guardador de porcos foram expulsos do reino. Do lado de fora, a princesa ficou chorando, o guardador de porcos reclamando, enquanto o maior temporal começou a cair.
– Ai, ai! Coitada de mim! – gemia a princesa – Se ao menos eu tivesse casado com aquele belo príncipe! Ah, como eu sou infeliz!
O guardador de porcos foi então para trás de uma árvore, limpou o rosto tirando dele a tinta marrom, livrou-se dos trapos horríveis que usava e apareceu vestido de príncipe. Estava tão bonito, que a princesa curvou-se, respeitosamente.
– Por você, só sinto desprezo – disse ele – pois não quis um príncipe honesto, não aceitou a rosa nem o rouxinol, mas beijou um guardador de porcos em troca de uns brinquedinhos; agora, você recebeu o que merecia!
E com essas palavras o Príncipe foi embora, deixando a Princesa sozinha na chuva.
(Tradução Ruth Salles)
Fonte> Hans Christian Andersen. Contos. Publicados originalmente entre 1835 – 1872. Disponível em Domínio Público
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