quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Newton Sampaio (Simples diálogo)

— Vai bater.

— Não bate.

— Vai, sim.

— Não vai.

— Aposto.

— Quanto quiser.

— Um cafezinho...

— É pouco.

— Dois chopps.

— Sofro do fígado.

— Cinema?

— Não gosto.

— Então proponha.

— Já propus quantas vezes!

— Isso que você quer é impossível.

— Não há nada impossível quando se está diante da mais linda mulher...

— Velhíssimo galanteio, meu caro...

— Mas muito exato. As palavras sinceras não envelhecem.

— Mas ficam fora de moda. Mais depressa que os vestidos...

— Nesse caso, desisto.

— Medo?

— Cansaço...

— Por Deus! Um Romeu desanimado é a criatura mais ridícula do mundo.

— Confesso então que é medo.

— De perder?

— Ou talvez de ganhar.

— !

— Vai bater.

— Não vai.

— Espere e verá.

Esperaram. Ela ganhou. O rastilho de luz acabou mesmo alcançando o velho parapeito sem história...

(Publicado originalmente na revista Fon-fon. Rio de Janeiro, 19/12/1935)

Fonte> Newton Sampaio. Ficções. Secretaria de Estado da Cultura: Biblioteca Pública do Paraná, 2014.

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