domingo, 4 de fevereiro de 2024

Wanda de Paula Mourthé (Canteiro de Trovas) = 7


A capela da colina
não tem lustres de cristais,
porém a Luz que a ilumina
vem do céu… e brilha mais!
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Ao luar, que me arrebata,
sem você, se ouço um chorinho,
a saudade que maltrata,
me faz chorar de mansinho.
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As nossas carícias plenas
de um desejo abrasador
transformam noites serenas
em desvarios de amor...
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A tua ausência aparente
não espelha a realidade:
mesmo longe, estás presente
por milagre da saudade.
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Brilho, sombra e agora o breu:
roteiro de vida a dois...
Amor fugaz que morreu
sem a chance de um depois.
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De jamais adormecer,
a saudade não se cansa
e comigo vem fazer
a vigília da esperança...
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Em delírio, eu acredito;
meu amor transcende espaços,
mas, mesmo sendo infinito,
cabe inteiro nos teus braços!
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Em momentos cruciais,
aos heróis trazendo glória,
audácia é um impulso a mais,
que muda os rumos da História.
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Em vigília, à madrugada,
se o vento bate à janela,
a saudade, alvoroçada,
logo diz: — Mensagem dela!
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Forçada a escolhas na vida
— teatro que não domino —
fui marionete movida
pelos cordéis do destino!
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Fugindo ao mundo indiscreto,
o nosso amor desvairado,
em seu refúgio secreto,
nem se importa se é pecado!
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Não vens... rendo-me à evidência...
Fim da espera e da ansiedade,
porque a dor da tua ausência
cristalizou-se em saudade.
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Na roça, a chuva é um tesouro,
que o milharal agradece,
se erguendo em espigas de ouro
à praia que em gotas desce.
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Na varanda aconchegante,
é o luar, feixe de luz,
mágica escada rolante
que às estrelas me conduz...
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Os meus sonhos — feito espuma
rendilhando a maré-cheia —
sem ter esperança alguma,
vêm desfazer-se na areia...
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O vinho ao pé da lareira,
teu carinho, teu calor...
Como não ser prisioneira
desses prazeres de amor?
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Quando a noite estende o véu,
e a lua surge, tão linda,
a serra, perto do céu,
ganha mais encanto ainda!
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Que bom seria um enlace
entre a mente e o coração:
o que a gente desejasse
também quisesse a razão!
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Quem cultiva a intransigência
e ao erro nega perdão
colhe os frutos da inclemência
no pomar da solidão.
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Sem outra opção que a rotina
de esperar-te, sempre em vão,
minhas noites de neblina
só gotejam solidão...
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Sempre antecipo delícias
nas cartas de que és autor:
são escassas de notícias,
porém são fartas de amor.
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Sou barco em mares bravios,
que, tendo por leme a fé,
enfrenta até desafios
de singrar contra a maré.
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Ter um bem... amar agora
é alegria em meu poente,
pois o amor é sempre aurora
que raia dentro da gente.
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Teu amor, em nossa história,
inconstante, me atormenta,
feito duna migratória
que o vento não sedimenta...
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Tua partida me fala
do teu desprezo... um açoite!
E a saudade não se cala,
nem na calada da noite...
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Volto à capela em que, um dia,
me esperaste ao pé do altar...
E hoje a saudade, em magia,
me espera no teu lugar.
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Fonte> Wanda de Paula Mourthé. Com…passos de emoções. Belo Horizonte: Flux, 2013. Enviado pela Trovadora.

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