No cansaço da noite, entre os cansaços,
tive um sonho esquisito e diferente,
pois, sonhei abraçado noutros braços,
entre os braços da noite, descontente.
Ante um sonho, outro sonho e, de repente,
eu me sinto algemado noutros laços,
como quem segue a vida loucamente,
controlando as pegadas de outros passos...
E, eu sonhando e sonhando pouco a pouco,
fui ficando no sonho quase louco
nessa louca paixão que não passou...
Se os teus beijos, neguei sem ter ressábios,
quero agora, pagá-los noutros lábios
esses beijos que a vida me negou!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
DELÍRIOS DA AURORA
Quando a aurora bem cedo, abre a cortina,
ante os raios do Sol, o orvalho chora,
pestaneja no céu, a luz divina
e resplende, na terra, a luz da aurora!
Basta o olhar dessa aurora peregrina,
passageira que, ao longe, o céu decora,
e, aos pouquinhos, dos braços da campina,
o silêncio da noite vai embora!
Sobre as copas de antigos arvoredos,
lindas aves revelam seus segredos,
dando vivas, à luz do Sol nascente...
E entre coros, canções, ressurge a vida,
despertando essa paz adormecida,
que adormece de novo, ao sol poente!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
ENTARDECER
Morre a tarde!... E, na dor do Sol poente,
há uma nesga de luz e nostalgia,
separando, de forma displicente,
os encantos e a dor do fim do dia!
Ante o drama sem volta e tão dolente,
ouço, ao longe, uma voz que me assedia;
é a de um sino que tange, lentamente,
os suspiros finais da Ave Maria!
Nesse instante, eu me sinto até covarde;
me envergonho, ante a dor do fim da tarde,
mas encaro de frente e olhos abertos…
E à distância, no olhar da eterna luz,
eu percebo dois braços numa cruz,
rodeados de luz entre os libertos!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
ILHA DE SANT’ANA
Tua origem, de fato, ninguém sabe,
mas nasceste das cinzas deste pó;
Ilha amada, em teu ventre, tudo cabe,
aos sussurros do velho Seridó!
Que teu nome, no tempo, não desabe,
nem te deixem viver assim tão só;
que o teu canto de amor, nunca se acabe,
ante o olhar de Sant'Ana, nossa avó!
Sob as bênçãos de nossa padroeira,
e os arpejos de cada cachoeira,
que deságua nas terras deste chão...
Quando o rio, de verde se reveste,
tens a imagem mais pura do Nordeste,
e és a Ilha mais linda do sertão!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
MATIZES DA AURORA
Brindo e abraço, na aurora, outra alvorada,
todo dia, da porta do meu quarto,
no silêncio da velha madrugada,
ouço o choro da luz de um novo parto!
Esse raio de luz que eu não descarto,
no meu teto, depressa, faz morada...
Abro portas, janelas, não me farto,
não me canso do olhar da luz dourada!
E essa luz, em silêncio, a caminhar,
traz o brilho da aurora, em seu olhar,
apagando, da noite, a treva ardente...
E entre cantos, sussurro e mil respingos,
põe, nas luzes do orvalho e em ternos pingos,
os matizes da luz do Sol nascente!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
VIVA PLENAMENTE
Pelas trilhas tortuosas dos caminhos,
há empecilhos, bravatas e há temores...
Quanto sonho vencido entre os sozinhos,
quanta glória perdida entre os amores!
Nas angústias do mundo há mais espinhos
do que o cheiro da paz que tem nas flores...
Mas sem ódio e sem mágoa, em nossos ninhos,
nosso sonho de amor inibe as dores!
Deixo, em poucas palavras, meus apelos;
- Por que sempre guardar seus pesadelos
se a esperança cochila ao pé da porta?
Pode haver plenitude, em meio aos trapos:
A esperança não morre entre os farrapos
e viver plenamente, é o que me importa!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Fonte> Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020. Enviado pelo poeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário