domingo, 25 de fevereiro de 2024

Eduardo Affonso (O peixinho que não sabia nadar)

Vinte e tantos anos atrás, quando começaram a me nascer sobrinhos por todos os lados, resolvi que ia escrever livros infantis para eles.

É que sempre achei livros infantis um tanto… infantis demais.

Já achava isso quando era criança.

Não me identificava com aquela prosa tatibitate, com as ilustrações toscas, que me tratavam como se eu fosse uma… criança.

Queria que meus sobrinhos tivessem algo além do que eu tive.

Não tiveram, porque dei com os burros n’água: literatura infantil não é pra principiante.

Agora que os sobrinhos já estão me arrumando sobrinhos-netos, volta a vontade de escrever para eles, e retomar o projeto.

Quem sabe não aparece um ilustrador, não me vêm novas ideias, e a coisa, finalmente, deslancha?

Fui atrás do que escrevi lá no início dos anos 90- e talvez algo ainda se aproveite. Como, por exemplo…

O PEIXINHO QUE NÃO SABIA NADAR

Era uma vez um peixinho
que não sabia nadar

Vivia junto da praia
e tinha medo do mar.

Usava boia, o peixinho,
para poder flutuar

Comprou até pé-de-pato
mas não tinha como usar.

Seus colegas de cardume
iam pra lá e pra cá

Entretanto, o tal peixinho
não saía do lugar.

Tinha medo de baleia
e até de estrela do mar

Só de pensar em mergulho
sentia falta de ar.

E então a maré subiu
a ponto de transbordar

E lá se foi o peixinho
numa onda, para o mar.

As barbatanas tremiam
como se fossem voar

De susto, bateu o rabinho
e deslizou devagar.

Viu os cascos de navios
tesouros do fundo do mar

Sereias, conchas, golfinhos
– e nadava sem parar.

Fez logo um monte de amigos
além de se apaixonar

E com um cavalo marinho
saía pra cavalgar.

Nunca mais ficou sozinho.

Nem parecia o peixinho
que um dia, pequenininho,
tivera medo do mar.

 Fonte: Eduardo Affonso (publicado em 28 de julho de 2016)

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