quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Arthur Thomaz (A pulguinha discreta)

O fato de meu avô e meu pai serem fanáticos torcedores do Barcelona mostra o porquê de meu nome ser Messi. Mamãe afirma até hoje que fui a mais linda pupa. Disputei como todos de minha idade o quesito salto em altura.

Meu avô, já com muita idade, sempre me aconselhou a ser discreto e não fazer como meu pai, que assistindo a um jogo do Barcelona, irritou-se com um gol do Real Madrid e picou a pessoa/hospedeiro, e que incomodada, desferiu-lhe um tapa fatal.

- Seja discreto, saiba a hora de molestar o hospedeiro, era a sua frase preferida.

Seguindo esta máxima, cresci, desenvolvi e tornei-me uma pulga forte, destacando-me nos esportes e na vida social.

Por essas coincidências do destino, estava eu sugando tranquilamente o sangue de um cachorrinho em um parque da cidade, quando um famoso jogador de futebol aproximou-se, gostou do cãozinho, levou-o para casa e o adotou.

Cheguei assim à Catalunha sem nem precisar pagar a passagem. Passei inúmeras vezes pela linda Barcelona e arredores. Mas já estava começando a me cansar desta monotonia, quando em um churrasco, troquei a cabeleira oxigenada do meu hospedeiro pela barba ruiva de outro jogador.

Vovô, quando me viu na televisão durante um jogo, telefonou-me e disse que era o tal Messi, meu xará. Ficou empolgado e pediu que eu tirasse uma selfie. Depois, publicou no PulgaNews, um famoso tablóide.

Fiquei muito famoso e pulei da barba portenha para a gaforinha de um zagueiro, que havia sido dispensado pelo clube e que retornaria ao país. Com o lema “se é bom para o Messi, é bom para todos”, ganhei fama. Recebi altos cachês das TV’s para entrevistas e participações em talk shows.

Transei com todas as PP (Pulguinhas Periguetes) que queriam aproveitar da minha fama para ascender nas carreiras. Mas quando estava prestes a ceder à tentação de entrar na política, veio um enérgico convite de meu avô para visitá-lo.

Recebeu-me com um cartaz no colo, com a palavra DISCRIÇÃO. Conversamos longamente e ele me fez ver que a exposição demasiada me levaria à desgraça e logo seria esmagado por um tapa do sistema.

Hoje, gozo da tranquilidade de um canil que adquiri, em um pacato bairro, onde todos os cães têm apetitosos sangues do tipo “O-”.

Fonte> Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: imponderáveis. Volume 3. Santos/SP: Bueno Editora, 2022. Enviado pelo autor 

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