sábado, 17 de fevereiro de 2024

Manuscrito na Garrafa = 106 =

Renato Benvindo Frata 
Paranavaí/PR

DIFÍCIL DEFINIR, MAS NEM TANTO

Longe de mim contrariar o dicionário quando diz que 'felicidade' é uma sensação real de satisfação plena; estado latente de contentamento.

Está certíssimo, mas um tanto seco e de certa rudeza ao descrever o melhor dos sentimentos. Felicidade, tenho para mim, é a plenitude que concebe e abarca os segundos da nossa vida. Se formos buscar definições pela história, encontraremos milhares de opiniões dos mais importantes filósofos, poetas, escritores, cientistas; homens e mulheres que se debruçaram sobre o tema para defini-la, e que lhe deram — e lhe dão —, com palavras especiais, as melhores definições.

Se as trouxermos aqui, o espaço não as comportará, porque a felicidade que tanto buscamos parece agir como uma menina travessa que, ao brincar, se esconde pelos cantos dificultando ser encontrada.

Essa menina que falo, a Felicidade - acompanhe o raciocínio tem preferências especiais: escolhe o mais dissimulado canto dos lábios, ou a mais íntima esquina dos olhos para se esconder e se aquieta; e, alheia a tudo o que possa acontecer, aguarda a melhor hora para se mostrar.

Ao abrirmos um sorriso, por exemplo, desses que fazem pulsar mais forte o coração, ela se mostra cândida e bela e nos dá aparência deslumbrantemente boba, infantil, meiga, pura, que exprime dois sentimentos: na pessoa que sorri, a aceitação; e a quem o sorriso foi ofertado, a gratidão pelo gesto recebido.

Aceitação e gratidão, pois, são elementos nascidos do sorriso. Também, e na mesma intensidade, ela pode escorrer em gotas, quando nossos olhos brilham sob a resplandecência sublime do amor e nos dá, nesse instante, água especial que purifica nossa existência.

Para dizer que a lágrima não nasce apenas no choro, mas também na alegria.

Nesses dois momentos ela conseguirá se perenizar se assim o desejarmos, permanecendo em definitivo em nossos sorrisos, ou no brilhar dos nossos olhos, ou ser apenas uma passageira fugaz de alegria momentânea, quando se tornará meia felicidade. Por ser meia, nunca será completa.

Na segunda hipótese, desprezada e humilde, voltará a se esconder nos cantos que guardam a vida, como os da boca e dos olhos, até que decidamos ativá-la em definitivo.

Desse raciocínio um tanto pueril e de base somente de observação, mesmo não tendo qualquer pingo de cientificidade, ouso dizer que a felicidade está onde queiramos que esteja, com pouca
ou muita intensidade: escondida no mais profundo recôndito, enrustida no âmago das aflições, presa no egoísmo ou maldade; ou no mais aparente e singelo lugar, como um simples canto de boca ou de olhos, por exemplo. 

Digamos, com a beleza do piscar de um vagalume em noite escura.

(Fonte: Renato Benvindo Frata. Fragmentos. SP: Scortecci, 2022. Enviado pelo autor)

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