segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Arthur Thomaz (“Buteco”)

O autor escreve “buteco” porque entende que quem escreve boteco jamais esteve em um “buteco”.

O que nos leva ao “buteco”? Curiosidade, carência, busca de aventuras, a procura de reconhecimento ou pura sem-vergonhice.

Realizaremos um pequeno estudo sobre “butecos”, fazendo uma distinção entre o “buteco” citadino e o “buteco” de zona rural. Iniciaremos pelo rural, também denominado de Bolicho ou Bulicho.

Usualmente, conta com uma pequena construção de madeira com um telhado ao lado para comportar quatro ou cinco mesas de metal cedidas por fabricantes de cerveja. Geralmente, estão enferrujadas pelo derramamento constante de líquidos pelos usuários já bem animados. Situadas normalmente em frente à pequena propriedade rural do dono.

Sobre o chão de cimento, há alguns garrafões de cachaça de coloração amarelo ouro que incitam imediatamente a vontade de tomar o primeiro copo.

No isopor com muito gelo, temos algumas garrafas de cerveja. Sobre o rústico balcão, estão alguns petiscos que servem de tira-gosto e que causariam inveja a qualquer chef de cozinha.

Alguns afortunados, como este autor, tiveram a rara oportunidade de parar em alguns Bolichos no interior e no Litoral Sul do estado de São Paulo, em que atrás do “buteco” corria um riacho e que a engenhosidade do brasileiro se fazia presente.

Amarradas em uma corda, algumas garrafas de cerveja eram mergulhadas neste arroio e depois retiradas geladas para o consumo dos sortudos.

Na conta final não constava o dedo de prosa, sempre presente e agradabilíssimo. Iniciamos o estudo do “buteco” citadino, diferenciando-o entre bar e “buteco”. Bar é aquele local em que todos entram e saem, bebem, deseducadamente fumam um cigarro lá dentro, não conversam com ninguém, e vão embora.

Os “butecos”, locais intimistas, por sua vez, possuem, como as gafieiras, um inviolável estatuto, seguido à risca pelos frequentadores. 

O buteco raiz é na calçada mesmo, somente com um balcão de atendimento, com inúmeros petiscos. Os frequentadores ficam em pé na calçada ou sentados em confortáveis caixotes de cerveja.

Esta modalidade de “buteco” apresenta somente uma restrição: não funcionar em dias chuvosos.

O “buteco”, mais modernizado, oferece o serviço de garçonetes. No segundo dia, elas já chamam os fregueses pelo nome, trazendo imediatamente a bebida predileta dos clientes. Enfim, “butecos” são pedacinhos do paraíso.

Fonte> Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: imponderáveis. Volume 3. Santos/SP: Bueno Editora, 2022. Enviado pelo autor 

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