sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Silmar Böhrer (Gamela de Versos) 25

 

Altino Afonso Costa (Macucos II)

Um dia resolvi visitar, após longos anos, a vila onde nasci.

Cheguei com o coração batendo forte, de saudade e emoção, ao lugar dos meus sonhos de infância.

Idealizei encontrar uma terra só minha, o meu Shangri-lá, onde pudesse de novo repousar os meus olhos cansados, numa paisagem imutável, que o tempo houvesse conservado egoisticamente só para o menino romântico de um passado distante.

E o que vi?

Destruição do lugar dos meus sonhos...

Ânsia incontida de revê-lo, como uma pintura que não envelhece e vejo apenas a moldura envelhecida daquilo que eu amava.

Macucos da minha infância, não consigo conter a minha emoção.

Sei muito bem que o tempo corrói e consome as coisas, e eu e tu somos essas coisas que o tempo consumiu.

Mas, por que temos que assistir ao ocaso da nossa existência com tanto realismo e com essa dor que nos maltrata tanto?

Valeu a pena termos uma infância feliz e agora uma velhice tão desconcertante?

Nunca nos veremos como fomos outrora, ruínas de nós mesmos, sonhos desmoronados como pedras caídas da muralha de uma cidadela edificada com tanto trabalho rude...

Minha vila querida que me viu sorrindo inocentemente, andando a esmo pelas tuas ruelas poeirentas, pela tua praça cercada de antigas paineiras, fica um pouco na fantasia de um sonho desfeito…

Fonte:
Altino Afonso Costa. Buquê de estrelas: crônicas e poemas. Paranavaí/PR: Olímpica, 2001.
Livro enviado por Dinair Leite.

Filemon Martins (Poemas Escolhidos) XVI


DESTRUIÇÃO


Ainda ontem se ouvia lá na serra
a juriti cantar saudosa e triste,
mas hoje devastada toda a terra
nenhuma juriti, sequer, existe...

Quem manda é o lucro que provém da guerra,
o mundo cambaleia e mal resiste
lutando pela vida que se emperra
numa ganância infame que persiste.

A Humanidade inteira está perdida,
a esperança acabou, está vencida,
pois cada dia surge um golpe novo.

E muitos que se dizem ser senhores,
não passam de ladrões e usurpadores
surrupiando o pão do nosso povo!
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DEUS

Contemplo a Natureza fascinante,
e vejo um Deus de Amor e de Brandura.
Um livro aberto, imenso, edificante,
com lições de Bondade e de Ternura.

Mesmo que a mágoa assalte o caminhante
e o prostre sobre o chão em desventura,
a Fé, que vem de dentro, é uma constante,
- um bálsamo na dor da criatura.

Creio num Ser Supremo, um Ser bendito,
num mundo de mistérios em que habito
e me faz refletir os sonhos meus...

Porque depois a vida continua
na evolução da Fé que se cultua
sob a regência do maestro, Deus.
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ELEITA

Nunca mais eu voltei àquela rua
onde ficava sempre à tua espera.
Por testemunha aquela mesma lua
que me inspirava versos de quimera.

E chegavas com uma voz só tua,
- doce ternura que eu jamais tivera.
Hoje meu coração que te cultua
nunca esqueceu aquela primavera.

Mas o tempo passou... Nossos destinos
seguiram por caminhos peregrinos,
nunca mais eu te vi nem tu me viste.

E se me visses hoje, certamente,
perceberias meu olhar ausente,
porque sem teu amor, fiquei mais triste
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ENGANO

Quando jovem pensei que a vida fosse
aquele mar de rosas e venturas,
por algum tempo, então, ela me trouxe
um paraíso cheio de aventuras.

A vida com sabor de um arroz-doce
feito à canela, leite e outras doçuras,
que imaginei pudesse ser um doce
embrulhado em papéis e sem misturas.

Mas o tempo passou como um covarde
matou meu sonho sem fazer alarde,
sem respeitar meu pobre coração.

E agora já no fim da caminhada,
uma verdade eu vejo escancarada;
- amar demais foi minha perdição.
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FALSA PROMESSA

"Nunca vou te esquecer". Ela me disse
e foi partindo triste e lentamente.
Um grande amor repleto de meiguice
não pode terminar assim pungente.

Partiu... Não sei se foi por criancice,
mas sei que dói no peito cruelmente,
e tudo não passou de uma tolice
levada a sério tão injustamente...

Quanto tempo passou... Percebo agora
que um pensamento apenas me apavora:
- não soubeste, na vida, o que é amar...

Pois vejo que a promessa que fizeste
foi somente a desculpa que me deste,
porque bem sei, jamais hás de voltar!

Fonte:
Filemon Francisco Martins. Sonetos & Trovas. RJ: CBJE, 2014.
Livro enviado pelo autor.

Irmãos Grimm (A salada mágica)

Era uma vez um jovem que saiu um dia a caçar. Sentia-se feliz e despreocupado e, enquanto caminhava, ia assobiando uma canção. Nisto, encontrou-se com uma velhinha, muito feia, que se dirigiu a ele:

- Bom dia, querido caçador! Vejo que estás alegre e satisfeito, enquanto eu sinto fome e sede. Dá-me uma esmola.

O caçador teve pena da velhinha, meteu a mão no bolso e deu o que lhe permitiam suas posses. Depois quis continuar seu caminho, mas a velha o deteve, dizendo-lhe:

- Ouve, meu caçador, o que tenho a dizer-te. possuis um coração generoso e por isso vou te dar uma recompensa. Segue adiante e chegarás a uma árvore onde estarão pousadas noves aves que seguram nas garras uma capa e brigam por sua posse. Aponta-lhes a espingarda e atira no bando, soltarão a capa, e uma das aves cairá morta. Apanha a capa e leva-a contigo, pois trata-se de uma veste mágica. Quando a puseres nos ombros é só pedir que te transporte ao lugar que desejares e no mesmo instante lá estarás. Retira, depois, o coração da ave morta e engole-o inteiro. Daí em diante, ao te levantares pela manhã, encontrarás, sempre, uma moeda de ouro embaixo do travesseiro.

O caçador agradeceu a velhinha, pensando com seus botões: "Belas coisas me prometeu, com a condição de que tudo seja verdade..."

Mas, depois de andar uns cem passos, ouviu gritos e pios de aves, tão fortes que o fizeram erguer a cabeça. Avistou um bando de pássaros que puxaram, com as garras e os bicos, uma capa e brigavam como se cada um estivesse disputando a sua posse.

- Estranho! - exclamou o caçador. - Parece que está acontecendo o que me disse a velhinha.

Tirou a espingarda dos ombros, fez pontaria e disparou a arma no meio do bando, fazendo com que penas voassem. imediatamente os pássaros fugiram, menos um, que caiu morto no chão, com ele despencando também, a capa. O caçador fez, então, como lhe dissera a velha, abriu o corpo da ave, procurou o coração e o engoliu inteiro, Depois apanhou a capa e voltou para casa.

Quando acordou na manhã seguinte, lembrou-se da promessa e quis certificar-se da verdade. Levantou o travesseiro e eis que ... ali estava, brilhando, a moeda de ouro. Desse dia em diante, todas as manhãs encontrava uma ao levantar-se. Juntou um montão de dinheiro, mas por fim, acabou pensando: "Que me adianta todo o meu ouro se fico em casa? Vou sair a correr mundo."

Despediu-se dos pais, apanhou a mochila de caçador, a sua espingarda e partiu.

Certo dia chegou a bosque espesso e, depois de o atravessar, avistou, na planície à sua frente, um grande castelo. Numa das suas janelas debruçava-se uma velha acompanhada de lindíssima jovem. Essa velha, que era bruxa, disse para a moça:

- Lá no bosque vem saindo um rapaz que traz consigo um tesouro maravilhoso. temos de nos apossar dele, filhinha querida. Nós o merecemos mais do que esse pateta. Um dia engoliu o coração de um pássaro encantando e, por isso, todas as manhãs encontra uma moeda de ouro embaixo do travesseiro.

A seguir, recomendou à moça o que esta devia fazer e, com um olhar ameaçador, avisou-lhe:

- Se não me obedeceres, vais arrepender-te.

Quando o caçador se aproximou e viu a jovem, pensou: "Já faz muito tempo que ando caminhando por aí. Agora vou entrar nesse belo palácio para descansar. Dinheiro, tenho que chegue." Mas o verdadeiro motivo desse resolução era o de se haver enamorado da moça.

Entrou no castelo e foi recebido amavelmente e atendido com toda a cortesia. Pouco depois, estava tão apaixonado pela moça que já não pensava mais noutra coisa e só tinha olhos para ela. Assim, de boa vontade ia fazendo tudo o que ela exigia.

A velha, então, disse:

- Agora temos de nos apossar do coração da ave. Ele não notará sua falta.

Começou a preparar uma bebida e, depois de pronta, encheu com ela um cálice, que deu à jovem para que o oferecesse ao caçador. Disse-lhe, a moça:

- Meu querido, bebe à minha saúde!

Ele pegou o cálice e, mal havia acabado de beber, o coração da ave lhe saltou da boca. A jovem o apanhou à escondida e depois o engoliu, pois a velha assim lhe ordenara. Daí por adiante o caçador não achou mais a moeda de ouro embaixo do travesseiro. Em vez de aparecer ali, surgia agora sob o travesseiro da moça, de onde a velha a recolhia todas as manhãs.

O rapaz, porém, estava tão apaixonado e cego que nada mais pensava senão em estar ao lado de sua querida.

Um dia a velha feiticeira disse:

- Agora que temos o coração do pássaro, devemos tirar-lhe, também, o manto mágico.

Respondeu-lhe a moça:

- Deixemos-o com ele, já basta ter perdido a sua fortuna.

Mas a velha retrucou, furiosa:

- Um manto desses é uma coisa maravilhosa e muito rara no mundo. eu quero e hei de obtê-lo.

Deu as instruções à filha, ameaçando-a  de que, se não lhe obedecesse, seria castigada. Diante disso, a moça resolveu cumprir a ordem e um dia pôs-se à janela, fingindo  olhar à distância, com um ar tristonho.

- Por que estás tão triste? - perguntou-lhe o caçador.

- Ora, meu bem, - respondeu ela - ali em frente está o Morro dos Rubis, onde há as mais belas pedras preciosas do mundo. Tenho tanta vontade de possuir alguma que fico triste só de pensar nelas. Mas...como chegar lá? Isto só podem as aves que sabem voar, uma pessoa jamais o conseguiria.

- Se é esse o motivo da tua tristeza, - disse o caçador - logo te alegrarei o coração.

Cobriu-a com sua capa e desejou ser transportado com a moça ao Morro dos Rubis. No mesmo instante ambos se encontraram no lugar desejado. Ali havia pedras preciosas por toda parte, refulgindo que dava gosto ver. Escolheram e juntaram o que havia de mais valioso e bonito. Acontece, porém, que a velha, usando de sua arte diabólica, fizera com que o caçador sentisse os olhos pesados de sono. Por isso ele disse à jovem:

- Sentemo-nos um pouco para descansar. Sinto-me tão fatigado que mal consigo estar de pé.

Os dois sentaram-se e ele, deitando a cabeça no colo da moça, adormeceu. Em seguida, ela tirou-lhe o manto dos ombros, colocou-o nos seus e, recolhendo as pedras preciosas, desejou-se de volta à sua casa.

Ao despertar, o caçador viu que sua amada o havia traído, deixando-o sozinho naquela montanha deserta. Aflito, exclamou: - Oh, quanta falsidade há neste mundo!

Durante  muito tempo ficou ali sentado, triste, cheio de preocupações e sem atinar com o que deveria fazer. A montanha pertencia a uns gigantes selvagens que ali viviam. Não demorou muito, viu três deles se aproximarem. Deitou-se no chão como se estivesse ferrado no sono. quando chegaram os gigantes, o primeiro tocou-o com o pé e disse:

- Que espécie de verme é esse?

Disse o segundo:

- Esmaga-o com teu pé.

O terceiro, porém, falou em tom de desprezo.

- Não vale a pena. Deixem-no viver. Aqui não poderá ficar e,  se subir até o cume, as nuvens o carregarão.

Dito isto, seguiram adiante. O caçador, no entanto prestara muita atenção às suas palavras e, assim que se haviam afastado, levantou-se e subiu até o topo da montanha. Depois de estar sentado ali um momento, veio uma nuvem, flutuando, que o apanhou e por alguns instantes o conduziu pelo céu afora. A seguir, baixou sobre uma horta, cercada de um muro. Ali foi ele depositado, suavemente, no meio de couves e outras verduras.

O caçador olhou em redor e falou para si mesmo:

- Se ao menos tivesse algo para comer. Estou faminto e assim não posso continuar andando. Não vejo uma triste maçã, pera ou outra fruta qualquer, só há hortaliças.

Finalmente lhe ocorreu uma ideia: "Em último caso"- pensou - "posso comer dessa alface, não é lá uma delícia, mas me fortificará um pouco".

Escolheu um pé e começou a comer as folhas tenras. Mal, porém, havia engolido uns bocados, sentiu uma sensação estranha, como se seu corpo estivesse se modificado. Cresceram-lhe quatro pernas, uma cabeça, grande duas orelhas compridas. Naquele momento viu, horrorizado, que se transformara num burro. Mas como, além disso, a fome continuasse a torturá-lo e a salada - agora de acordo com sua nova natureza - lhe apetecia, continuou comendo avidamente. Chegou, por fim, a uma outra espécie de alface e, nem bem a tinha provado, produziu nele nova transformação e ele voltou à sua forma humana anterior.

Deitou-se no chão e adormeceu, pois estava muito cansado depois daquelas transformações. Quando acordou, no dia seguinte, apanhou um pé da alface maligna e outro da boa, pensando: "Isto me ajudará a chegar até os meus e também a castigar a deslealdade."

Guardou as hortaliças, saltou o muro da horta e pôs-se a procurar o castelo de sua amada. Depois de alguns dias, finalmente o encontrou. Passou no rosto uma tinta que o deixou bem moreno e o modificou de modo que nem sua própria mãe o teria reconhecido. Feito isto, entrou no palácio e pediu pousada.

- Estou  tão cansado - disse - que não posso ir adiante.

Perguntou-lhe a bruxa:

- Quem é o senhor e que anda fazendo por aqui?

- Sou o mensageiro do rei, - respondeu ele - e fui incumbido de encontrar a alface mais saborosa que existe debaixo do sol. Tive a sorte de encontrá-la e a levo comigo, mas o sol é tão forte  que a deliciosa verdura está aponto de murchar e receio não chegar com ela em condições.

A velha, quando ouviu falar na preciosa salada, sentiu desejo de comê-la e disse:

- Meu bom homem, deixe-me provar essa alface maravilhosa.

- Por que não? -  respondeu ele. - Tenho dois pés . Posso dar-lhe um.

Abriu o saco e alcançou-lhe a que era maligna. A bruxa, que de nada suspeitava e já sentia água na boca, foi ela mesma, até à cozinha para prepará-la. Depois de pronta, não podendo esperar a hora de servir, apanhou umas folhas que meteu na boca. Mal, porém, as tinha engolido, perdeu sua figura humana e desceu para o pátio, em forma de burro. Nisto, entrou a criada da cozinha, viu a alface pronta para ser servida e quis levá-la à mesa. A caminho, porém, não resistiu ao antigo hábito de provar os pratos e comeu, também, umas folhas. Imediatamente o dom mágico da salada se fez notar e a moça se transformou, por sua vez, num burrinho que foi juntar-se à velha no pátio. O prato de salada caiu no chão.

Nesse meio tempo, o suposto mensageiro estava sentado junto à formosa jovem, a qual, vendo que ninguém aparecia com a salada e sentindo, igualmente, um desejo grande de prová-la, disse:

- Não sei o que há com essa alface.

O caçador pensou: "Na certa já fez seu efeito", e, voltando-se para a jovem:

- Vou até à cozinha informar-me.

Ao chegar embaixo viu os dois burrinhos andando pelo pátio e a salada no chão. "Muito bem", - disse para si mesmo - "essas duas já receberam sua parte". Apanhou o resto das folhas, colocou-as, de novo, no prato e as levou para a jovem.

- Eu mesmo sirvo esta deliciosa salada, - falou-lhe - para não teres de esperar mais tempo.

A moça comeu e logo após se viu privada, como as outras duas, da sua figura humana, indo passear no pátio em forma de burrico.

O caçador, depois de lavar o rosto para que as mulheres enfeitiçadas o pudessem reconhecer , desceu no pátio e lhes disse:

- Agora vocês terão o prêmio que merecem pela sua falsidade.

Prendeu as três a uma soga e as levou a um moinho, Ali chegado, bateu a uma das janelas e o moleiro apareceu para perguntar-lhe o que desejava.

- Tenho aqui três animais tão maus que não quero mais ficar com eles. Se quiser cuidar destes bichos e tratá-los como eu lhe disser, pagarei o que me pede.

- Por que não? - respondeu-lhe o homem - Mas como devo tratá-los?

Disse-lhe, então, o caçador, que o burro velho - que era a bruxa - desse uma vez de comer e três surras cada dia; ao do meio - a criada - três vezes de comer e uma surra e, ao mais novo - que era a moça - três vezes de comer e nenhuma surra, pois apesar de tudo, ele não tinha coragem de maltratá-la. Depois voltou ao castelo, onde encontrou tudo quanto necessitava.

Passados alguns dias, apresentou-se o moleiro para comunicar-lhe que o burro velho, que só tinha recebido surras e comida apenas uma vez, estava morto. " Os outros dois" - falou o homem - "ainda vivem e recebem sua comida três vezes por dia. Mas andam  tão tristes que decerto não vão durar muito".

Compadeceu-se o caçador e, sentindo que lhe passara a raiva, disse ao moleiro que os trouxesse de volta. Quando chegaram, deu-lhes de comer da alface boa e, no mesmo instante, recuperaram sua forma humana.

Aí, então, a bela jovem ajoelhou-se diante dele e implorou:

- Ah, meu amor, perdoa-me o mal que te fiz, obrigada por minha mãe. sempre agi contra minha vontade, pois eu te quero de todo coração. Teu manto mágico está pendurado no guarda-roupa e, quanto ao coração do pássaro, tomarei logo uma bebida que o fará saltar-me pela boca.

O rapaz porém, tinha mudado de opinião e lhe disse:

- Fica com ele, pois quero casar-me contigo e não importa qual de nós dois o possua.

Casaram-se e viveram felizes até a hora de sua morte.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Nélio Bessant (Caderno de Trovas) 1

Fonte da imagem e trova: Facebook
 

Sammis Reachers (A terrível infante)

Era meu único filho, e sua morte aos doze anos despedaçou o que me restava de família, talvez de sanidade.

No enterro, me chamou a atenção uma menininha, a que jamais vira; não por sua presença, que talvez fosse amiga de escola de Mateus, mas por aparentar estar sozinha.

A tarde caía. Me distraí entre pêsames e rostos e a perdi de vista, logo de memória.

Ao fim do funeral, fiquei sozinho, e vaguei pelo cemitério, desolado, destruído, como um bêbado – embebedado pela dor e o nonsense de minha tragédia.

No meio de uma alameda de túmulos, sozinha, divisei a menina. Ela não me vira; estava sentada sobre uma lápide, olhos fitos no chão.

Me aproximei.

– Você está sozinha, e num cemitério? Onde está sua mãe?

Ela sorriu.

– Nunca tive uma mãe. Mas meu pai está por aí, me vigiando.

– Já está escurecendo. Você não tem medo da noite?

– Como temeria a noite, se sou sua emissária?

E, saltando da lápide, correu por entre seus mortos.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Fernando Pessoa (Caravela da Poesia) XLIV

 LONGE DE MIM EM MIM EXISTO
 
Longe de mim em mim existo
À parte de quem sou,
A sombra e o movimento em que consisto.
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MAIS TRISTE DO QUE O QUE ACONTECE
 
 Mais triste do que o que acontece
É o que nunca aconteceu.
Meu coração, quem o entristece?
Quem o faz meu?

Na nuvem vem o que escurece
O grande campo sob o céu.
Memórias? Tudo é o que esquece.
A vida é quanto se perdeu.
E há gente que não enlouquece!
Ai do que em mim me chamo eu!
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MARAVILHA-TE, MEMÓRIA!
 
Maravilha-te, memória!
Lembras o que nunca foi,
E a perda daquela história
Mais que uma perda me dói.

Meus contos de fadas meus -
Rasgaram-lhe a última folha...
Meus cansaços são ateus
Dos deuses da minha escolha...

Mas tu, memória, condizes
Com o que nunca existiu...
Torna-me aos dias felizes
E deixa chorar quem riu.
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MAS O HÓSPEDE INCONVIDADO
 
Mas o hóspede inconvidado
Que mora no meu destino,
Que não sei como é chegado,
Nem de que honras é dino.
Constrange meu ser de casa
A adaptações de disfarce.
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MENDIGO DO QUE NÃO CONHECE
 
Mendigo do que não conhece,
Meu ser na 'strada sem lugar
Entre estragos amanhece...
Caminha só sem procurar…
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MEU CORAÇÃO ESTEVE SEMPRE
 
Meu coração esteve sempre
Sozinho. Morri já...
Para que é preciso um nome?
Fui  eu a minha sepultura.
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MEU RUÍDO DE ALMA CALA
 
Meu ruído de alma cala.
E aperto a mão no peito,
Porque sob o efeito
Da arte que faz trejeito,
O que é de Cristo fala.

Cega, porca, lixo
Da vida que n'alma tem,
Esta criança vem.
Que Deus é que do além
Teve este mau capricho?
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MEUS DIAS PASSAM, MINHA FÉ TAMBÉM
 
Meus dias passam, minha fé também.
Já tive céus e estrelas em meu manto.
As grandes horas, se as viveu alguém,
Quando as viveu, perderam já o encanto.
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MINHA ALMA SABE-ME A ANTIGA
 
Minha alma sabe-me a antiga
Mas sou de minha lembrança,
Como um eco, uma cantiga.

Bem sei que isto não é nada,
Mas quem dera a alma que seja
O que isto é, como uma estrada.

Talvez eu tosse feliz
Se houvesse em mim o perdão
Do que isto quase que diz.

Porque o esforço é vil e vão,
A verdade, quem a quis?
Escuta só meu coração.
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MINHA MULHER, A SOLIDÃO
 
Minha mulher, a solidão,
Consegue que eu não seja triste.
Ah, que bom é o coração
Ter este bem que não existe!

Recolho a não ouvir ninguém,
Não sofro o insulto de um carinho
E falo alto sem que haja alguém:
Nascem-me os versos do caminho.

Senhor, se há bem que o céu conceda
Submisso à opressão do Fado,
Dá-me eu ser só - veste de seda-,
E fala só - leque animado.
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MÚSICA... QUE SEI EU DE MIM?
 
Música... Que sei eu de  mim?
Que sei eu  de haver ser ou estar?
Música... sei só que sem fim
Quero saber só de sonhar...

Música... Bem no que faz mal
À alma entregar-se a nada...
Mas quero ser animal
Da insuficiência enganada

Música... Se eu pudesse ter,
Não o que penso ou desejo,
Mas o que não pude haver
E que até nem em sonhos vejo,

Se também eu pudesse fruir
Entre as algemas de aqui estar!
Não faz mal.  Fluir,
Para que eu deixe de pensar!

Aparecido Raimundo de Souza (Como pássaro de vidro)

BENGALO DO CACHIMBO SALSICHÃO, o pai de Andorrinha do Cachimbo Salsichão (a moça que caiu da varanda do vigésimo andar do prédio de apartamentos onde morava) foi chamado para prestar esclarecimentos em face do trágico acontecido. Antes dele, esteve na chefatura a esposa, dona Peripécia do Cachimbo Salsichão, Furquilho do Cachimbo Salsichão, irmão da vítima, a senhorita Cáspita de Sá, empregada e Brocardo Amanciado, o namorado de Andorrinha. Tudo levava a crer, teria sido o Brocardo Amanciado o criminoso. Ele vivia brigando com a namorada e, comumente a agredia saindo nos tapas e safanões.

Da última vez em que partiram para as trocas de farpas, Brocardo Amanciado jurou, de pés juntos, que se a “Andorrinha não voltasse para ele, tomaria uma decisão trágica”. A conversa rolou entre Brocardo Amanciado e o irmão Furquilho do Cachimbo Salsichão. Ao delegado, Furquilho do Cachimbo Salsichão relatou, passo a passo, a prosa tida com seu futuro cunhado: “Eu mato a peste da sua irmã... — disse ele.

— Tem coragem? – Perguntei, incrédulo.

— Até de sobra. Se ela me deixar, faço a cadela ir visitar papai do céu mais cedo, completou, muito sério, e descontrolado.

— Não chame a minha irmã de cadela, alertei agarrando o maldito pela camisa.

— Desculpe. Não foi a minha intenção compará-la a uma cachorra. Coitado desses animais... se entendessem... após isso, virou as costas e saiu”.

Pelo sim, pelo não, Andorrinha do Cachimbo Salsichão teve um final desventurado e calamitoso. Partiu em mil pedaços a juventude de seus dezoito anos, deixando seus familiares à beira de um desespero imensurável, bem ainda de um precipício medonho e sem volta.

O delegado deixou para ouvir o pai da moça por derradeiro, levando em conta vários motivos. Ele odiava o Brocardo Amanciado. Coisa de santo. O seu imaculado, não batia com o do rapaz. Por seu turno, Brocardo tinha um ódio tremendo do sogro, tendo em vista que ele não o deixava pernoitar na casa da amada.

Praticamente dia sim, dia não, ambos entravam em conflito. Se fazia necessário a esposa, dona Peripécia do Cachimbo Salsichão largar seus afazeres domésticos e entrar em cena para acalmar os ânimos exaltados:

— Seu Bengalo — obtemperava Brocardo. Sou um rapaz direito. Não vou fazer nada de errado. Amo a sua filha e as minhas intenções, para com ela, são as melhores...

Ao que o sogro sempre batendo na mesma tecla, argumentava, seguro de si, sem claro, arredar pé e abrir a guarda:

— Já fui jovem igual a você, meu caro. Não fazia nada errado. Quando ia para a casa da minha namorada, hoje minha esposa Peripécia, meu sogro me obrigava a dormir na garagem. Tinha um sofá velho, caindo aos pedaços, cheio de formigas e era nele que eu passava as noites. Belo dia, me enchi de razão. Esperei o desgranhento se recolher e, quando o vi roncando, pulei da garagem para o quarto da minha doce amada...

Fez uma pausa, acendeu um cigarro, tirou algumas tragadas e continuou:

— Tal ato, desde então, passou a virar rotina...

— E a Andorrinha?

— Nasceu de uma inversão...

— Inversão?

— Sim.

— Como é lá isso?

— Certa noite, ao invés de eu pular para a cama da Peripécia, ela se adiantou e caiu de paraquedas dentro da garagem, passando a dormir comigo no bendito divã.

Brocardo interrompeu o sogro e mandou a pergunta que estava entalada:

— Mas espera lá, seu Bengalo. Tem algo na sua história que não consigo digerir. As idades, digo, o tempo entre o nascimento da Andorrinha e a vinda, ao mundo, do Furquilho... acho que o senhor...

O velho fuzilou o póstero genro com uma ferocidade monstruosa:

— Cala a boca, seu verme. Por favor, saia daqui.

— Mas...

— Sem mais, nem sem menos. Vamos, ordinário, desinfeta...

— Seu Bengalo, só fiz uma pergunta...

— Você não tem o direito de perguntar droga nenhuma, tampouco de achar o que acha que deve ser achado. Aqui quem tem que achar ou “desachar”, sou eu. Puxa o carro!

Dia seguinte, após as formalidades de praxe, o depoimento de Bengalo do Cachimbo Salsichão teve início:

— Então, seu Bengalo. Onde o senhor estava quando a sua filha se projetou do vigésimo andar?

— Na sala... vendo o jornal...

— O senhor estava sozinho?

— Não. O namorado da Andorrinha se fazia prostrado ao lado dela.

— Onde eles estavam, precisamente?

— Na varanda do meu apartamento...

— Na varanda de onde ela supostamente se projetou?

— Sim.

O delegado coçou a cabeça:

— O senhor acha que ela pulou, foi empurrada, ou pior, atirada?

— Não tenho como provar, mas eu, cá com meus botões, acho que o filho de uma égua do Brocardo a atirou.

— Eles estavam juntos na varanda? O senhor confirma?

— Sim. Com certeza.

— Continue...

—... Brocardo veio aos desmunhecos. Parecia uma libélula espavorida. Soluçando e chorando: “Seu Bengalo, pelo amor de Deus, a Andorrinha acabou de pular...”. Na hora, não atinei, e, meio que abestalhado, indaguei: “pulou de onde, para onde seu safado?”. O sujeito me olhou com cara de sonso e respondeu rispidamente: “Seu idiota, imbecil... ela se atirou aqui da sua varanda... faça alguma coisa....

O delegado antes de continuar pediu a um dos policiais que lhe trouxesse um café:

— O namorado dela, o Brocardo, pediu que o senhor fizesse alguma coisa. E que atitude o senhor tomou?

— O que qualquer pai faria. Me precipitei porta afora, ganhando as escadas saltando os degraus de três em três... minha esposa e a empregada entraram em desespero... os vizinhos apareceram do nada. O rato do Brocardo veio em meu encalço...

— E seu filho Furquilho?

— Jogando bola com os amigos num condomínio próximo ao nosso.

— Continue...

— Quando chegamos na área em que a minha filha certamente terminaria, como, de fato, encerrou com a sua desdita, me desesperei... literalmente me vi de joelhos, ao lado dela...

— Não entendi. Queira, por gentileza, ser mais claro e objetivo?

Na inocência que lhe amargurava o coração, o pai de Andorrinha agora chorando copiosamente, explicou:

— A minha ideia, seu delegado, não outra senão a de segurá-la no colo, para que não se despedaçasse no cimento do condomínio...

O delegado desferiu um forte e potente murro na mesa e se levantou abespinhado:

— Como é que é? O senhor está me tirando? Queria ampará-la no colo e evitar que se esborrachasse no chão? Foi o que ouvi?

— Sim, seu delegado. Isso mesmo. Quando topei com a minha pobre e querida filha, ali, morta, estirada, sem vida, toda coberta de sangue, da cabeça aos pés, me dei conta... meu Deus, doutor, me dei conta que a minha garotinha, ao saltar lá de cima, da varanda, ou ser jogada, sei lá, em seu curto trajeto, havia chegado primeiro...

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Adega de Versos 87: Madalena Ferrante Pizzatto

 

Clarisse da Costa (É sobre aproveitar os momentos)

Que fim levou as rosas no dia dos namorados? Que fim levou o abraço sem razões para abraçar? Onde foram parar todas as cartas de amor?

Cadê aquela vontade de ficar e deixar um pingo de saudade? Os dias passam e fica uma incerteza.

A janela se espelha no chão com a luminosidade do sol. O passarinho pela manhã fica escondido entre as folhas do pé de hibisco. Na gaveta os livros amarelados trazem histórias interessantes que falam um pouco da vida, a vida com nuances e sensações.

Eu parei para ler o livro "Marley e Eu" e comecei a dar risadas. Um cotidiano pacato e divertido! Nem se percebe as horas passarem com este livro.

Mas para que pressa? Às vezes é necessário desacelerar a vida.

Como diz a canção "não é sobre ter todas as pessoas do mundo pra si". É sobre aproveitar cada momento, buscar novos sonhos e sonhar. Ver os passos da incerteza chegando em algum lugar por acreditar que é possível. É viver. Viver o nascer do sol. Viver o florescer das flores. Viver o aconchego de um afago. Viver todos os momentos da vida.

Fonte:
Texto enviado por Samuel da Costa

Silmar Böhrer (Croniquinha) 58

Reinos? O que são reinos?

A palavra reino surgiu do latim "regnum", designando um território onde os habitantes estão sujeitos a um rei. Como costuma acontecer com muitas palavras, esta também se multiplicou, criou asas e saiu pelo mundo dando sentido a corpos da natureza, a seres e entes - reino dos céus, reino animal, reino da poesia, reino vegetal.

Quando nascemos estamos iniciando nosso reinado. Crescemos e vamos em busca de ambições, reinos de possibilidades, conquistas. E se não somos reis de grandes domínios, alargamos algumas fronteiras, abrimos leques, fincamos raízes em espaços conquistados.

Sejam férteis, e sejam amplos, e sejam fartos de felícias nossos reinados - o reino das ideias e dos pensares é parte do conjunto da nossa obra. E se reinamos com bom-senso, prudência e alguma sabedoria, parece que temos chance de um dia desfrutar das delícias do reino dos céus.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

II Concurso de Pantun do CTS e da UBT Caicó-RN (Premiados) Estadual (RN)


1º LUGAR:
PROFESSOR GARCIA
Caicó

PANTUN DA MORTE SEM PENA

 
É duro, mas com certeza,
a mãe que pratica aborto,
nunca pensou na tristeza
dos olhos de um filho morto!
(José Lucas de Barros-RN)

 
A mãe que pratica aborto,
por mais que ela se lastime,
dos olhos de um filho morto,
jamais foge deste crime.
 
Por mais que ela se lastime,
chore de pranto e de dor,
jamais foge deste crime,
aos olhos do criador.
 
Chore de pranto e de dor,
tente fugir do que fez,
aos olhos do Criador
é um ato de morbidez?...
 
Tente fugir do que fez,
ante a maldade e a vileza,
é um ato de morbidez?...
É duro, mas com certeza!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

2º LUGAR:
HÉLIO ALEXANDRE SILVEIRA E SOUZA
Natal

PANTUN DO AMOR ABORTADO


É duro, mas, com certeza,
a mãe que pratica aborto,
nunca pensou na tristeza
dos olhos de um filho morto!
(José Lucas de Barros-RN)

 
A mãe que pratica aborto
nega o amor tirando a vida
dos olhos de um filho morto,
num adeus sem despedida...
 
Nega o amor tirando a vida
a mãe de um filho negado  
num adeus sem despedida
e acentua o seu pecado.
 
A mãe de um filho negado
ceifa infindos sonhos seus
e acentua o seu pecado
se não busca a luz de Deus.
 
Ceifa infindos sonhos seus
mãe que afronta a natureza;
se não busca a luz de Deus
é duro, mas, com certeza!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

3º LUGAR:
FRANCISCO GABRIEL
Natal

PANTUN DOS OLHOS SEM VIDA


É duro, mas, com certeza,
a mãe que pratica aborto,
nunca pensou na tristeza
dos olhos de um filho morto!
(José Lucas de Barros-RN)


A mãe que pratica aborto
perece junto com a dor
dos olhos de um filho morto
clamando a falta de amor.

Perece junto com a dor
uma inocência ferida
clamando a falta de amor
da mãe que despreza a vida.

Uma inocência ferida
sofre com o golpe profundo
da mãe que despreza a vida
quando perde a luz do mundo.

Sofre com o golpe profundo
aquela vida indefesa
quando perde a luz do mundo.
É duro! Mas, com certeza!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

4º LUGAR:
MARA MELINNI
Caicó

PANTUN DO PASSO PERDIDO


É duro, mas, com certeza,
a mãe que pratica aborto,
nunca pensou na tristeza
dos olhos de um filho morto!
(José Lucas de Barros-RN)


A mãe que pratica aborto,
mesmo sem pensar direito,
dos olhos de um filho morto,
vê seu destino sem jeito…

Mesmo sem pensar direito,
a vida perde o sentido…
Vê seu destino sem jeito,
na dor de um passo perdido.

A vida perde o sentido,
o tempo, a cruz não desfaz;
na dor de um passo perdido,
não há mais sonhos nem paz.

O tempo, a cruz não desfaz;
ressoa a voz da tristeza…
Não há mais sonhos nem paz…
É duro, mas, com certeza!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

5º LUGAR:
TROYA D’SOUZA
Parnamirim

PANTUN DO DESPREZO

É duro, mas, com certeza,
a mãe que pratica aborto,
nunca pensou na tristeza
dos olhos do filho morto!
(José Lucas de Barros-RN)

A mãe que pratica aborto,
não se comove no breu
dos olhos do filho morto,
que a maldade promoveu.

Não se comove no breu,
da tragédia praticada.
Que a maldade promoveu,
Mais uma vida ceifada.

Da tragédia praticada,
encerrou-se o dom da vida.
Mais uma vida ceifada,
pelas mãos de uma bandida.

Encerrou-se o dom da vida,
com desprezo e com frieza,
pelas mãos de uma bandida,
É duro mas com certeza!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

6º LUGAR:
FABIANO FECHINE TORRES CLEMENTE
Natal

PANTUM DO ARREPENDIMENTO


É duro, mas, com certeza,
a mãe que pratica aborto,
nunca pensou na tristeza
dos olhos de um filho morto!
(Jose Lucas de Barros)

A mãe que pratica aborto,
jamais enxerga o amanhã
dos olhos de um filho morto,
não concebido em afã.

Jamais enxerga o amanhã,
do enviado de Jesus,
não concebido em afã,
por não querer dar à luz.

Do enviado de Jesus,
roga pela salvação,
por não querer dar à luz,
já que não tem solução.

Roga pela salvação,
pra livrar tanta fraqueza,
já que não tem solução...
é duro, mas, com certeza.
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7º LUGAR:
FABIANO DE CRISTO MAGALHÃES WANDERLEY
Natal

PANTUN DA ADVERSIDADE!


É duro, mas, com certeza,
a mãe que pratica aborto,
nunca pensou na tristeza
dos olhos de um filho morto!
(José Lucas de Barros-RN)

 
A mãe, que pratica aborto,
vai de encontro, a natureza,
dos olhos, de um filho morto,
descarta toda frieza.
 
Vai de encontro, a natureza,
esse fato, que a envolveu,
descarta, toda  frieza,
o charme, do encanto, seu.
 
Esse fato, que a envolveu,
se torna, um crime, imponente,
o charme , do encanto seu,
é repulsivo, é fremente.
 
Se torna, um crime, imponente,
ceifa a vida, sem tristeza,
é repulsivo, é fremente,
é duro, mas, com certeza.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

8º LUGAR:
MARCOS ANTÔNIO CAMPOS
Natal

PANTUN DO INDEFESO

 
É duro, mas, com certeza,
a mãe que pratica aborto,
nunca pensou na tristeza
dos olhos de um filho morto!
(José Lucas de Barros-RN)

 
A mãe que pratica aborto
Apaga, no rosto, a luz,
dos olhos de um filho morto
em quem não pôs uma cruz.
 
Apaga, no rosto, a luz,
a falta de uma esperança,
em quem não pôs uma cruz,
a autora dessa vingança.
 
A falta de uma esperança
leva a mãe à depressão.
A autora dessa vingança,
pecou por não ter razão.
 
Leva a mãe à depressão,
os transtornos da tristeza.
Pecou por não ter razão,
é duro, mas, com certeza...
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9º LUGAR:
FRANCISCO MAIA DOS SANTOS
Caicó

VIDA CEIFADA


É duro, mas, com certeza,
a mãe que prática aborto,
nunca pensou na tristeza,
dos olhos de um filho morto.
(José Lucas de Barros-RN)


A mãe que pratica aborto,
consciência, ela não tem;
dos olhos de um filho morto,
sairão lágrimas também.

Consciência ela não tem,
matando um ser prematuro;
sairão lágrimas também,
depois de um golpe tão duro.

Matando um ser prematuro,
sem ter chance de nascer;
depois de um golpe tão duro,
foi condenado a morrer.

Sem ter chance de nascer,
esse ente sem defesa;
foi condenado a morrer,
é duro, mas, com certeza.
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10º LUGAR:
DANIEL BEZERRA DA SILVA
Parnamirim

ABORTO É INSENSATEZ


É duro, mas, com certeza,
a mãe que pratica aborto,
nunca pensou na tristeza
dos olhos de um filho morto!
(José Lucas de Barros-RN)


A mãe que pratica aborto,
comete um assassinato,
dos olhos de um filho morto,
quando mata um neonato.

Comete um assassinato,
sim, a mãe despudorada,
quando mata um neonato,
deve ser enclausurada.

Sim, a mãe despudorada,
que não quer a gravidez,
deve ser enclausurada,
por tamanha insensatez.

Que não quer a gravidez,
age com muita crueza
por tamanha insensatez,
é duro, mas, com certeza.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

11º LUGAR:
EDSON DE PAIVA
Rafael Godeiro

PANTUM DO DIREITO A VIDA

 
É duro, mas, com certeza,
a mãe que pratica aborto,
nunca pensou na tristeza
dos olhos de um filho morto
(José Lucas de Barros-RN)


A mãe que pratica aborto
mesmo sendo coagida,
dos olhos de um filho morto,
apaga a luz de uma vida

Mesmo sendo coagida,
mãe que cessa a gestação,
apaga a luz de uma vida,
deve ir para escuridão
 
Mãe que cessa a gestação,
abre mão do amor materno,
deve ir para a escuridão,
das profundezas do inferno

Abre mão do amor materno,
mulher que não tem defesa
das profundezas do inferno,
é duro, mas, com certeza!

O CTS e a UBT Seção Caicó-RN parabenizam todos os classificados e agradecem a todos os participantes!!

Atenciosamente,
Prof. Garcia
Caicó-RN, 01/08/2022.

Carlos Drummond de Andrade (Trem de Contos) Vagões 71 e 72


DIÁLOGO FILOSÓFICO


— As coisas não são o que são, mas também não são o que não são — disse o professor suíço ao estudante brasileiro.

— Então, que são as coisas? — inquiriu o estudante.

— As coisas simplesmente não.

— Sem verbo?

— Claro que sem verbo. O verbo não é coisa.

— E que quer dizer coisas não?

— Quer dizer o não das coisas, se você for suficientemente atilado para percebê-lo.

— Então as coisas não têm um sim?

— O sim das coisas é o não. E o não é sem coisa. Portanto, coisa e não são a mesma coisa, ou o mesmo não.

O professor tirou do bolso uma não barra de chocolate e comeu um pedacinho, sem oferecer outro ao aluno, porque o chocolate era não.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

DIÁLOGO FINAL

— É tudo que tem a me dizer? — perguntou ele.

— É. — respondeu ela.

— Você disse tão pouco.

— Disse o que tinha para dizer.

— Sempre se pode dizer mais alguma coisa.

— Que coisa?

— Sei lá. Alguma coisa.

— Você queria que eu repetisse?

— Não. Queria outra coisa.

— Que coisa é outra coisa?

— Não sei. Você que devia saber.

— Por que eu devia saber o que você não sabe?

— Qualquer pessoa sabe mais alguma coisa que outro não sabe.

— Eu só sei o que eu sei.

— Então não vai mesmo me dizer mais nada?

— Mais nada.

— Se você quisesse…

— Quisesse o quê?

— Dizer o que você não tem para me dizer. Dizer o que não sabe, o que eu queria ouvir de você. Em amor é o que há de mais importante: o que a gente não sabe.

— Mas tudo acabou entre nós.

— Pois isso é o mais importante de tudo: o que acabou. Você não me diz mais nada sobre o que acabou? Seria uma forma de continuarmos.

Fonte:
Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis. Publicado em 1981.

terça-feira, 2 de agosto de 2022

Daniel Maurício (Poética) 36

 

II Concurso de Pantun do CTS e da UBT Caicó-RN (Premiados) Nacional/Internacional


1º LUGAR:
ARLINDO TADEU HAGEN
Juiz de Fora/MG

PANTUN DOS VÁRIOS “EUS”


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)

Nas cirandas das calçadas,
de um tempo que se perdeu,
brincam juntos de mãos dadas,
os vários “eus”; que fui eu.

De um tempo que se perdeu,
ao longo da travessia,
os vários “eus”; que fui eu
se encontram na nostalgia.

Ao longo da travessia,
os “eus”; que o tempo enrugou
se encontram na nostalgia,
celebrando o que passou.

Os “eus”; que o tempo enrugou
cirandam feito criança,
celebrando o que passou
pelas ruas da lembrança.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

2º LUGAR:
MÁRIO MOURA MARINHO
Sorriso/MT

Pantun da Colorida Infância


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)


Nas cirandas das calçadas,
pirralhos pobres, sem meia,
brincam juntos de mãos dadas,
ao clarão da lua cheia.

Pirralhos pobres, sem meia,
sobre o chão da fantasia,
ao clarão da lua cheia,
pintam sonhos de alegria.

Sobre o chão da fantasia,
inocência e puridade,
pintam sonhos de alegria,
com pincéis de ingenuidade.

Inocência e puridade
dão cor à vida que avança,
com pincéis de ingenuidade,
pelas ruas da lembrança.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

3º LUGAR:
LILIA SOUZA
Curitiba/PR

PANTUN DA SAUDADE


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)


Nas cirandas das calçadas,
momentos de antigamente
brincam juntos de mãos dadas,
nas ruas da minha mente.

Momentos de antigamente,
ao recordar tenho a prova:
nas ruas da minha mente,
a esperança se renova.

Ao recordar, tenho a prova,
neste sonho sem idade:
a esperança se renova,
cantando a mesma saudade.

Neste sonho sem idade,
cada qual é mais criança,
cantando a mesma saudade,
pelas ruas da lembrança.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

4º LUGAR:
MARIA LÚCIA DALOCE
Bandeirantes/PR

Pantun da Magia


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
 
(Aloísio Alves da Costa-CE)

Nas cirandas das calçadas,
sob os risos em cadência,
brincam juntos, de mãos dadas,
o amor, ternura e inocência.

Sob os risos em cadência,
onde o reino é de magia,
o amor, ternura e inocência
fecham portas à utopia...

Onde o reino é de magia
o tempo e a felicidade,
fecham portas à utopia
e abrem portões à saudade.

O tempo e a felicidade
veem na gente a criança
e abrem portões à saudade
pelas ruas da lembrança!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

5º LUGAR:
MIFORI
São José dos Campos/SP

Pantun da Saudade


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)

Nas cirandas das calçadas,
as meninas e os meninos,
brincam juntos de mãos dadas...
São amores genuínos!

As meninas e os meninos,
vão formando seus valores.
São amores genuínos,
os novos descobridores!

Vão formando seus valores,
se educando para a vida,
os novos descobridores,
com coragem sem medida!

Se educando para a vida,
a idade adulta se alcança
com coragem sem medida,
Pelas ruas da lembrança!...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

6º LUGAR:
FERNANDO BELINO
Sete Lagoas/MG


Pantun da memória da infância

Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)


Nas cirandas das calçadas,
em movimento sem fim,
brincam juntos de mãos dadas,
os sonhos dentro de mim.

Em movimento sem fim,
imortais recordações,
os sonhos dentro de mim,
num vendaval de emoções!

Imortais recordações
surgem sem mandar aviso,
num vendaval de emoções,
misto de pranto e de riso.

Surgem, sem mandar aviso,
as memórias de criança;
misto de pranto e de riso,
pelas ruas da lembrança!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

7º LUGAR:
RENATA PACCOLA
São Paulo/SP

PANTUM DAS CIRANDAS


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)

Nas cirandas das calçadas
garotos de pés descalços
brincam juntos de mãos dadas
sem angústias ou percalços.

Garotos de pés descalços
vivem mais intensamente,
sem angústias ou percalços
cirandando livremente!

Vivem mais intensamente
os que retornam à infância,
cirandando livremente,
mantendo o medo à distância.

Os que retornam à infância
revivem sua criança,
mantendo o medo à distância
pelas ruas da lembrança.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

8º LUGAR:
JOSÉ OUVERNEY
Pindamonhangaba/SP

PANTUN DA LENTIDÃO


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)


Nas cirandas das calçadas,
num filme que invade a mente,
brincam juntos, de mãos dadas,
meu passado e meu presente.

Num filme que invade a mente,
de modo quase abusivo,
meu passado e meu presente
afrontam meu porte altivo.

De modo quase abusivo
meus passos, agora lentos,
afrontam meu porte altivo;
limitam-me os movimentos...

Meus passos, agora lentos,
de um cirandar que hoje cansa,
limitam-me os movimentos
pelas ruas da lembrança.
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9º LUGAR:
CÉLIA M. G. MENDONÇA DE MELO
Juiz de Fora/MG

Pantun da Lembrança


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)

Nas cirandas das calçadas,
nas ruas e nesta praça,
brincam juntos de mãos dadas,
anjinhos cheios de graça.

Nas ruas e nesta praça
brincam fadinhas faceiras,
anjinhos cheios de graça
e também as feiticeiras.

Brincam fadinhas faceiras;
são todas muito animadas
e também as feiticeiras,
neste meu conto de fadas.

São todas muito animadas
e eu, voltando a ser criança,
neste meu conto de fadas,
pelas ruas da lembrança.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

10º LUGAR:
MÁRCIA JABER
Juiz de Fora/MG

Pantun dos Amores sem Fadigas


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)

Nas cirandas das calçadas,
ao som de velhas cantigas,
brincam juntos de mãos dadas,
os amores sem fadigas.

Ao som de velhas cantigas,
rodopiam, se entrelaçam,
os amores sem fadigas
nunca, nunca descompassam.

Rodopiam, se entrelaçam,
entre beijos dadivosos...
Nunca, nunca descompassam
em seus passos amorosos.
 
Entre beijos dadivosos,
bem querer, terna aliança
em seus passos amorosos
pelas ruas da lembrança.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

11º LUGAR:
JERSON LIMA DE BRITO
Porto Velho/RO

PANTUN DO ABANDONO


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)


Nas cirandas das calçadas,
meus versos, à tua espera,
brincam juntos de mãos dadas
sob a fúria da quimera.

Meus versos, à tua espera,
na madrugada sem fim,
sob a fúria da quimera,
bradejam dentro de mim.

Na madrugada sem fim,
as vozes roucas da ardência
bradejam dentro de mim,
lamentando a tua ausência.

As vozes roucas da ardência
ecoam, sem temperança,
lamentando a tua ausência
pelas ruas da lembrança.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

12º LUGAR:
MARIA EUNICE SILVA DE LACERDA
Toledo/PR

Pantun das Cirandas


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)
 
Nas cirandas das calçadas,
sob um luar que prateia,
brincam juntos de mãos dadas,
os meninos lá da aldeia.
 
Sob um luar que prateia:
pega-pega, amarelinha...
Os meninos lá da aldeia,
 também dançam cirandinha.
 
Pega-pega, amarelinha...
brincadeiras como outrora.
Também dançam cirandinha,
brincam crianças de agora.
 
Brincadeiras como outrora
seguindo em perseverança,
brincam crianças de agora,
pelas ruas da lembrança.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

13º LUGAR:
ADILSON ROBERTO GONÇALVES
Campinas/SP

Pantun da Festa de Desejos


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
 
(Aloísio Alves da Costa-CE)

Nas cirandas das calçadas,
jovens, velhos e crianças
brincam juntos de mãos dadas
em jogos, festas e danças.

Jovens, velhos e crianças,
não importa qual a idade,
em jogos, festas e danças
buscam a felicidade.

Não importa qual a idade
dos que brincam nos festejos;
buscam a felicidade,
um de seus nobres desejos.

Dos que brincam nos festejos
fica ainda a paz de herança:
um de seus nobres desejos
pelas ruas da lembrança.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

14º LUGAR:
ELIZABETH APARECIDA DE CASTRO MENDONÇA FONTES
Joinville/SC

Pantun da Saudade

Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)

 
Nas cirandas das calçadas,
giram versos, poesia,
brincam juntos de mãos dadas
na mais doce melodia.
 
Giram versos, poesia,
resgatados da memória,
na mais doce melodia
relembrando cada história.
 
Resgatados da memória,
os sonhos, sem contratempo,
relembrando cada história
que foi bordada no tempo.
 
Os sonhos, sem contratempo,
trazem bem-aventurança
que foi bordada no tempo
pelas ruas da lembrança.
= = = = = = = = = = =

15º LUGAR:
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/SP

PANTUN DA NOSTALGIA

 
Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)
 
Nas cirandas das calçadas,
meu passado e meu presente
brincam juntos de mãos dadas,
constroem uma corrente.
 
Meu passado e meu presente
sofrem em cumplicidade,
constroem uma corrente,
em suspiros de saudade.
 
Sofrem em cumplicidade,
padecem dores de outrora.
Em suspiros de saudade,
sentem o tempo ir embora.
 
Padecem dores de outrora,
suportam a triste andança...
Sentem o tempo ir embora
pelas ruas da lembrança.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

continua… Estadual

Fonte:
Resultado enviado pelo Prof. Garcia.

Luís da Câmara Cascudo (O Sonho de Paraguaçu)

Com destino ao mar Pacífico, tomaram o vento do porto de San Lucas de Barrameda, na Andaluzia, em dias de setembro de 1534, duas naus castelhanas tripuladas por 250 marinheiros, soldados e colonos. Destes, não poucos nobres. Dirigia a jornada Dom Simão de Alcaçovas e Soutomaior, fidalgo português a serviço de Carlos V. A expedição tinha por fim explorar e povoar duzentas léguas de costa, desde o povoado de Chincha até o estreito de Magalhães, ao sul do vasto e riquíssimo império que Francisco Pizarro acabava de conquistar para a Espanha, e doadas ao dito Alcaçovas pela Imperatriz Isabel, com o título de Província de Novo Leão.

Tendo navegado em mui curta extensão o estreito, tão trabalhosa e arriscada se lhe prefigurou a travessia, tais dificuldades teve de enfrentar desde logo, que se viu forçado a retroceder, procurando abrigo na ilha dos Lobos, onde sua gente revoltada o assassinou.

Tomou a direção da esquadrilha um Juan de Echearcaguana, que fez degolar os capitães das naves, pondo em seguida a capa sobre o Norte, em busca de São João de Porto Rico, no mar dos Caraíbas. Após haverem navegado em conserva durante dois dias, os baixéis perderam-se de vista.

Viajava aquele em que tremulara a insígnia do desditoso Alcaçovas, sempre amarrado ao litoral e ao atingir a altura de Boipeba, revoltou-se ainda uma vez a tripulação, encalhando-o num recanto da costa da ilha, que até hoje guarda, por isso, o nome de ponta dos Castelhanos. Foi no dia do Apóstolo São Tiago, Ia de maio de 1535. Metendo-se nos botes e numa chalupa, os amotinados abandonaram a embarcação, em busca de terra, onde foram amistosamente recebidos pelos índios tupinambás. Ao fim, porém, de breves dias, pilhando-os desprecatados, chacinaram-nos sem piedade. Poucos dos castelhanos escaparam à sangueira.

A outra nave, denominada "San Pedro", governada pelo piloto Juan de Mori, veio jornadeando igualmente sem perder a costa do horizonte. Fome e enfermidade flagelaram-lhe a tripulação, que de novo se revoltaria se, em tempo, o capitão não metesse nos ferros os mais salientes.

Cinquenta dias eram passados que sobre o mar corria a nau, quando entrou nas águas da baía de Todos os Santos, onde os mareantes toparam Diogo Álvares, Caramuru, em companhia de nove homens brancos, vivendo pacificamente entre os índios das vizinhanças.

Pouco depois chegou ao porto a chalupa do navio soçobrado em Boipeba, com dezessete sobreviventes da traição do gentio, quase todos feridos de flecha, narrando quanto lhes acontecera, dizendo mais que possivelmente outros dos seus companheiros haveriam escapado à mortandade, refugiando-se em qualquer parte da ilha.

Atendendo às súplicas do Mori, dirigiu-se Diogo Álvares ao local sinistro, vinte léguas ao sul de sua aldeia, encontrando ali noventa cadáveres em putrefação e quatro homens milagrosamente poupados da fúria dos selvagens, embora feridos.

Somente a 18 de agosto, a "San Pedro" largou as velas em rumo da Península, tendo alguns tripulantes ou passageiros da malograda expedição ficado na terra com o Caramuru, ao passo que dos companheiros deste alguns quiseram ir-se embora. Em troca de mantimentos que recebera de Diogo Álvares, largou-lhe Juan de Mori a chalupa e duas pipas de vinho.

Um pormenor que define a intensidade do sentimento religioso entre os homens da época, sem, infelizmente, torná-los menos cruéis: antes de partir, o capitão castelhano entendeu ser obra de misericórdia sondar a alma do voluntário exilado minhoto, submetendo-o a uma sabatina de catecismo. Nada havia esquecido, pois, diz um cronista: - "E falou-se-lhe em alguma coisa da Fé, e, ao que mostrou, estava bem nela".

Teve Diogo uma carta de agradecimento do grande Imperador Carlos V - vai por conta de Rocha Pita e do Padre Simão de Vasconcelos – pelo socorro prestado aos náufragos de sangue azul. Que quanto aos plebeus, certamente, pouco importaria ao magnífico senhor de meio universo que levassem eles o capeta.

Eis aí o caso narrado com algumas divergências pelos historiadores. Veja-se agora a seguinte lenda, que se relaciona com o naufrágio do navio castelhano em Boipeba. Na sua aldeia, à entrada da baía de Todos os Santos, residia Diogo Álvares. Em certa manhã de maio de 1536, sua esposa, a celebrada Catarina Paraguaçu, contava-lhe singular sonho por duas vezes tido àquela noite: em extensa praia vira um navio destroçado, homens brancos rotos, encharcados os trapos que mal lhes resguardavam a pele, transidos de frio e inânimes de fome, estando entre eles uma jovem mulher muito alva, de estranha e fascinadora beleza, tendo aos braços não menos bela e alva criancinha.

Mandou Caramuru explorar a costa próxima, desde a entrada da barra até além do rio Vermelho, a ver se nela algum navio fizera naufrágio, pois enxergara no sonho de Catarina celeste aviso para ir em auxilio de cristãos que por aquelas redondezas houvessem sido vítimas
das insídias do mar. Tais pesquisas resultaram negativas.

Nessa noite, Paraguaçu teve outra vez o mesmo sonho. Ordenou Diogo novas buscas, até muito longe estendidas. Passaram-se dias, e vieram os índios trazer-lhe novas de haver-se despedaçado uma embarcação de gente branca na costa da ilha de Boipeba, Boipeba, achando-se em terra os seus tripulantes, a curtir privações. Sem demora, partiu Caramuru em socorro dos náufragos, que eram castelhanos, trazendo-os com ele. Entre os náufragos, porém, não estava mulher alguma. E que não viera a bordo pessoa de outro sexo, asseguraram-lhe. Entretanto, à noite de sua volta, a linda mulher tornou aparecer a Catarina, agora sozinha - dizendo-lhe que a mandasse buscar para a sua aldeia e lhe fizesse uma casa.

Era-lhe a voz tão harmoniosa, que Paraguaçu despertou extasiada, rogando insistentemente ao marido que fosse de novo à ilha, à procura.

Diogo partiu pela segunda vez, e em todas as aldeias vizinhas do lugar do sinistro, deu rigorosa batida, julgando haverem os tupinambás em custódia a moça que se mostrava à esposa adormecida. Finalmente, na palhoça dum indígena, encontrou pequena arca, que dos destroços do navio soçobrado o mar atirara à praia. Abrindo-a, encontrou uma imagem da Virgem Maria, com o Menino Jesus nos braços. Ao ver a imagem, Paraguaçu exultou de alegria, nela reconhecendo os traços fiéis da moça dos sonhos. Diogo fez elevar com presteza, perto da sua habitação, uma ermida de taipa, onde colocou o santo vulto. E porque lhe ignorasse a invocação, deu-lhe a de Nossa Senhora da Graça, pelo que fizera aos náufragos, promovendo-lhes o salvamento, e à Catarina revelando-lhe o seu paradeiro. Mais tarde, Caramuru construiu outra igrejinha, mais bem-cuidada, de pedra e cal, no mesmo sítio de hoje, reedificada em 1770.

Desde o começo do povoamento da terra por cristãos, a Santa Virgem começou também a favorecê-los com muitas graças, sendo frequentes, nos tempos de antanho, as romarias de fiéis que procuravam o seu templo. Aos náufragos, especialmente, e isto logo que foi posta ali, socorreu por multiplicadas vezes. Quando algum navio era sinistrado nas costas próximas, reza a lenda, apareciam umedecidas as vestiduras da santa imagem, testemunhando assim, de maneira irrefragável, a intervenção da Senhora na salvação das vítimas das ondas furiosas e bancos de areia traiçoeiros.

Vindo Dom João de Lencastro governar o Brasil, em 1694, um dos primeiros cuidados que teve ao chegar a esta cidade foi dirigir- se reverentemente à Igreja de Nossa Senhora da Graça, a quem tributava especial devoção, e depor lhe aos pés o bastão de governador, rogando-lhe, com a mais viva fé, que lhe guiasse os passos na administração da república. Ouviu-lhe Maria Santíssima a súplica, pois os seus longos nove anos de gestão do Estado do Brasil resultaram de muito proveito para os povos, quer nas coisas pertinentes ao temporal, quer nas atinentes ao espiritual.

A Capela que Diogo Álvares elevara, bem como o terreno em derredor, doou-os Catarina Paraguaçu, na penúltima década do século de quinhentos, aos padres de São Bento, após haver obtido do Sumo Pontífice - asseveram-no Frei Vicente do Salvador e Padre Simão de Vasconcelos - muitas relíquias e indulgências para os romeiros.

Eis aí, segundo a história e a lenda, a crônica da tradicional Abadia de Nossa Senhora da Graça, onde jazem as cinzas da piedosa esposa de Diogo Álvares, Caramuru.

A imagem que ainda hoje se venera no altar mor é a mesma que foi por aquele encontrada no tejupá do índio de Boipeba, vai por mais de quatro séculos, medindo uns seis palmos de altura. Na sacristia veem-se três antigos óleos em que figura a celebrada princesa brasílica.

Fonte:
Luís da Câmara Cascudo. Lendas brasileiras para jovens. Projeto Livro para Todos.

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Varal de Trovas n. 565

 

Jessé Nascimento (Amigos para sempre)

Conversavam animadamente, entrecortando o papo com gostosas gargalhadas. Relembravam outra época em que trabalharam juntos. Bons tempos, repetiam de quando em quando. Pareciam não ter pressa. E, vez por outra, o nome de outro colega era citado e os comentários e exclamações eram os mais diversos. Quem os ouvia conversando só poderia concluir, evidentemente, que se tratava de grandes amigos.

Os segundos eternizavam-se. E alguns já manifestavam sua pressa em chegar ao destino. As buzinas ecoavam ensurdecedoras e nenhum dos dois parecia dar-se conta do que estava acontecendo. Deviam estar conversando há uns dois minutos, pelo menos.

Reiniciaram-se as reclamações. Nervosas, as buzinas não se calavam. Imprecações e impropérios feriam os ouvidos mais sensíveis. E os dois - nem te ligo - continuaram conversando por mais um interminável minuto, talvez.

As vozes agitadas já dominavam o ambiente. Eu me divertia com tudo o que estava acontecendo. E não deixei de sorrir, por entre os dentes, com a felicidade daqueles dois amigos tagarelas que pareciam não se encontrar há séculos.

Foi quando os dois motoristas decidiram despedir-se, às gargalhadas, desejando-se sorte. Estavam pouco se  lixando para as imensas filas de veículos que se formavam em ambos os lados da rua. Enquanto conversavam, tinham parado seus ônibus em sentido contrário, detendo o trânsito de ida e vinda.

Ante o murmúrio geral e palavrões de alguns, nosso motorista, alheio e insensível à revolta que provocara, deu partida no ônibus e disse bem alto para o trocador e passageiros:

- Grande amigo, o melhor amigo que já tive.

Sorri no canto do meu banco. Eu talvez fora o único a não irritar-me com aquele encontro.

Fonte:
Recanto das Letras do autor. Crônicas.
https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/5239907

Gislaine Canales (Glosas Diversas) XLVI


DEVANEIOS...
 
MOTE:
O devaneio profundo
pelos caminhos da mente,
liberta a gente do mundo
que oprime o mundo da gente!

Aloísio Alves da Costa
Umari/CE, 1935 – 2010, Fortaleza/CE


GLOSA:
O devaneio profundo
para longe nos transporta,
para um corredor bem fundo
que nos abre sua porta.
 
E divagamos, então,
pelos caminhos da mente,
caminhos do coração,
coração que é indulgente!
 
O pensamento oriundo
desse longo devaneio,
liberta a gente do mundo
liberta, em nós, cada anseio!
 
E essa nova liberdade
nasce da nova semente
e implode, então, a maldade
que oprime o mundo da gente!
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   PERFIL IMAGINÁRIO
 
MOTE:
Em meu quarto, solitário,
sinto a saudade afagando
o perfil imaginário,
que as minhas mãos vão traçando!

Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora/MG


GLOSA:
Em meu quarto, solitário,
abraçado à solidão,
me transformo em visionário
e vivo intensa emoção!
 
Querendo, enfim, ser feliz,
sinto a saudade afagando
você, que é tudo que eu quis
e que eu continuo amando!
 
Meu quarto, quase um santuário,
reflete em tons bem brilhantes,
o perfil imaginário,
de nós dois, grandes amantes!
 
Seu perfil se evidencia...
Sinto meu ego enxergando
esse perfil de utopia,
que as minhas mãos vão traçando!
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   OFENSA ARREPENDIDA
 
MOTE:
Na praça da minha vida,
vi, de joelhos, em vão,
uma ofensa arrependida,
pedindo abraço ao perdão!

José Valdez de Castro Moura
Pindamonhangaba/SP


GLOSA:
Na praça da minha vida,
estavam tristes as flores
pela ausência dolorida
das ilusões e de amores.
 
Retornando ao meu passado
vi, de joelhos, em vão,
o mal que eu fiz, assustado,
gritando em meu coração!
 
Eu vi, pedindo guarida,
com os olhos rasos d’água,
uma ofensa arrependida,
afogando-se na mágoa!
 
Chorando, quase implorava
amor, carinho, afeição,
e de joelhos se atirava
pedindo abraço ao perdão!
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   CHORAR  POR  DENTRO
 
MOTE:
Tantas vezes me concentro,
deitado no meu penar.
É triste chorar por dentro
e por fora gargalhar!

Swami Vivekananda
Nazaré da Mata/PE, 1926 –  2010, Paranaguá/PR


GLOSA:
Tantas vezes me concentro,
pensando mil pensamentos,
dentro de mim mesmo, eu entro,
fico comigo uns momentos.
 
Sofrendo, sozinho, assim,
deitado no meu penar,
chego a ter pena de mim
por não saber mais amar.
 
Quando em meu ego eu adentro,
vejo rolar todo o pranto!
É triste chorar por dentro,
em profundo desencanto.
 
Dói, fingir ter alegria
para aos outros agradar,
no interior tanta agonia...
e por fora gargalhar!
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AMIGO, NÃO DIZ...
 
MOTE:
Amigo não diz "depende"...
"Vou pensar"... "Depois eu dou"...
- Amigo é aquele que atende
que vem sem dizer "Já vou"...

Waldir Neves
Rio de Janeiro/RJ, 1924 – 2007


GLOSA:
Amigo não diz "depende"...
Nunca nos faz esperar,
nosso amigo nos entende
e não nos deixa chorar!
 
Se for amigo, não  diz:
"Vou pensar"... "Depois eu dou"...
O que vale é ser feliz!
Por isso, feliz eu sou!
 
Ele não nos surpreende,
é espontâneo, é alegria!
- Amigo é aquele que atende
e acompanha nosso dia!
 
Amigo é pura emoção!
Presente que Deus criou,
que tem um bom coração,
que vem sem dizer "Já vou"...

Fonte:
Gislaine Canales. Glosas Virtuais de Trovas VII. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. Maio 2003.