segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Jessé Nascimento (Amigos para sempre)

Conversavam animadamente, entrecortando o papo com gostosas gargalhadas. Relembravam outra época em que trabalharam juntos. Bons tempos, repetiam de quando em quando. Pareciam não ter pressa. E, vez por outra, o nome de outro colega era citado e os comentários e exclamações eram os mais diversos. Quem os ouvia conversando só poderia concluir, evidentemente, que se tratava de grandes amigos.

Os segundos eternizavam-se. E alguns já manifestavam sua pressa em chegar ao destino. As buzinas ecoavam ensurdecedoras e nenhum dos dois parecia dar-se conta do que estava acontecendo. Deviam estar conversando há uns dois minutos, pelo menos.

Reiniciaram-se as reclamações. Nervosas, as buzinas não se calavam. Imprecações e impropérios feriam os ouvidos mais sensíveis. E os dois - nem te ligo - continuaram conversando por mais um interminável minuto, talvez.

As vozes agitadas já dominavam o ambiente. Eu me divertia com tudo o que estava acontecendo. E não deixei de sorrir, por entre os dentes, com a felicidade daqueles dois amigos tagarelas que pareciam não se encontrar há séculos.

Foi quando os dois motoristas decidiram despedir-se, às gargalhadas, desejando-se sorte. Estavam pouco se  lixando para as imensas filas de veículos que se formavam em ambos os lados da rua. Enquanto conversavam, tinham parado seus ônibus em sentido contrário, detendo o trânsito de ida e vinda.

Ante o murmúrio geral e palavrões de alguns, nosso motorista, alheio e insensível à revolta que provocara, deu partida no ônibus e disse bem alto para o trocador e passageiros:

- Grande amigo, o melhor amigo que já tive.

Sorri no canto do meu banco. Eu talvez fora o único a não irritar-me com aquele encontro.

Fonte:
Recanto das Letras do autor. Crônicas.
https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/5239907

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