quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Marcos Neves (Literalismo)


A mais famosa pergunta dos cafés portugueses permite-nos conhecer um erro linguístico: o literalismo.

Que se acuse quem, depois de usar a palavra «queria», nunca enfrentou a pergunta: «Queria? Já não quer?».

Uma inocente piada de café, dirão. Talvez. Mas não deixa de ser um bom exemplo de um erro linguístico muito comum: o literalismo.

Admito: quando estou a pedir um café com «queria» estou a usar uma forma verbal do passado para fazer um pedido no presente. Um horror!

A verdade é que a língua é mais complexa do que parece à primeira vista:

– Usamos o pretérito imperfeito para fazer pedidos com mais delicadeza: «era a conta, por favor».

– Usamos o futuro para falar de algo incerto do passado: «ela terá lá ido ontem».

– Usamos o pretérito perfeito composto para falar do que fazemos várias vezes: «tenho falado com ele todos os dias»…

Podia continuar por aí fora…

A língua é assim: cheia de sutilezas que usamos sem reparar. Pisando sem vergonha tais sutilezas, há quem interprete literalmente uma palavra ou expressão e declare que tal palavra ou expressão é um erro.

Fonte:
Montargil Acção Cultural – Boletim em Linha – n.111 – agosto de 2022.
Enviado por Lino Mendes (coordenador).

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