quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) 11

A distância, é infinda, intensa!
Por mais que o tempo me iluda,
muda essa distância imensa,
mas a saudade, não muda!
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A honradez não se enxovalha,
nem se faz dela, adereço;
mas a honradez de um canalha
se compra por qualquer preço!
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Daquelas noites antigas,
no altar da velho abadia,
vagueiam sombras amigas
nas sombras da nostalgia!
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Dos meus bens que eu tive outrora,
de todos o mais amado,
é o pião que, cochila e chora,
com saudade do passado!
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Enquanto as filhas cantando,
seguem meus passos discretos,
vão meus cabelos nevando
de exemplos bons aos meus netos!
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É tarde!… Os monges cochilam
com o breviário na mão;
e, em volta deles, desfilam
almas, sonho e solidão!
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Há uma inquieta sensação;
um silêncio... E, de repente...
Uma estranha solidão,
desfaz o sonho da gente!
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Há um contraste, na verdade,
em quem vive de ilusão
e, troca a luz da humildade
na treva da ostentação!
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Lágrima, gota vertida
do olhar triste da emoção;
lágrima, essência da vida,
gota d'água do perdão!
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Lembro das noites antigas,
mesmo apesar da distância,
de velhas sombras amigas
dos tempos de minha infância!
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Logo assim que o sol se põe,
minha alma, aflita e dolente,
um lindo verso compõe
nos varais do sol poente!
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Na aurora, o que me fascina,
e, à ventura me conduz,
é ver a luz peregrina
banhando a aurora de luz!
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Não reclames das pedradas
que te dão pelos caminhos.
Vê, que às vezes, de mãos dadas,
há aqueles que vão sozinhos!
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No céu, brilha seminua;
no mar, minha alma vagueia,
enquanto os dedos da lua
escrevem versos na areia!
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Nós dois, graças ao Senhor,
até no olhar, se traduz,
que eu peço esmolas de amor,
e tu, esmolas de luz!
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O velho sino enlouquece,
toda tarde, na abadia;
e, no ensaio de uma prece,
desperta a melancolia!
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Por mais que a angústia persista,
crê na força da oração!...
Não há mágoa que resista
ao silêncio do perdão!
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Quando a natureza tinha
a fauna e a flora completas,
o orvalho da noite vinha
beijar os pés dos poetas!
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Sábia lição, tive um dia,
de um sabiá inocente,
que por cantar, não sabia
que era poeta como a gente!
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Se é ilusão, pouco me importa;
mas ouço no pensamento,
os passos dela, na porta,
no sopro da voz do vento!
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Senhor!... Não sei se mereço,
seguir teus passos, Senhor!
Mas sigo, e em cada tropeço,
tropeço nos pés do amor!
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Se o infortúnio nos condena,
o perdão, aperfeiçoa;
e, é Deus quem perdoa a pena
da pena de quem perdoa!
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Só cinzas e plantas mortas!…
Lenhador, tu que destróis,
não percebes quando cortas
que cortas a todos nós.?!…
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Tanto plano desejado,
ilusões, sonhos, canseira.
Pra ver tudo sepultado
nas cinzas da quarta-feira!
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Tuas cãs loiras, sedosas,
reclamam da sorte ingrata;
serão bem mais preciosas
quando pintadas de prata!

Fonte:
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.
Livro enviado pelo trovador.

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