sábado, 20 de agosto de 2022

Renato Benvindo Frata (Nanocontos) 3

AFIRMAÇÃO


Poesia não é "crime de lesa-vida"*: com ela diariamente, até jiló se adoça.
* Paulo Leminski
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

BELEZA

As asas de borboletas são esconderijos dos arco-íris. Só saem dali quando chova.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

CONFISSÃO

O calor do seu corpo sempre foi lenitivo; hoje é cobertor contra a frieza da minha idade.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

IDADE

No conta-gotas sendo espremido a ânsia de não vazar dose além da sobrevivência.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

IMPIEDOSO

Sem clemência, pintou de vermelho-amarronzado a pele branca do veranista.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

LEMBRANÇAS

Hoje nosso beijo tem sabor saudade do primeiro. O tremor nas pernas também e a paixão continua.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

MADRUGADA NA FEIRA

Olhou-se no pastel como a num espelho: a cara de sono e ressaca confessaram-a massa enrugada.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

PARADA DE ÔNIBUS

O tempo que passa nunca dá carona e a vida se escorre na espera.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

PAIXÃO

No momento em que a vi, o Cupido trouxe o Amor e o espetou com a flecha em meu coração.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

PROFESSOR

Quando abria a boca, um facho de luz vencia trevas; eram suas explicações.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

RESGUARDO

O amor armazenado num coração, se esconde na saia do gostar quando nota violência.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

VAGANDO...

Meu amor fez brotar relva aos pés da árvore, e ali depositei você.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

VELHICE 2

Pelos eriçavam e o peito batia ao menor toque de mãos; hoje os remédios é que o fazem.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

VERGONHA

De trás da montanha o sol, enamorado, espia a lua na passarela; mas, inibido, deixa-se mergulhar.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

VESTIBULAR


As voltas dos ponteiros dobraram-no sobre cadernos; hoje a alegria se desdobra nas horas de folga.

Fonte:
Renato Benvindo Frata. 308 Nanocontos. Paranavaí/PR: Autografia, 2017.
Livro enviado pelo autor.

Nenhum comentário: