quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Sammis Reachers (A terrível infante)

Era meu único filho, e sua morte aos doze anos despedaçou o que me restava de família, talvez de sanidade.

No enterro, me chamou a atenção uma menininha, a que jamais vira; não por sua presença, que talvez fosse amiga de escola de Mateus, mas por aparentar estar sozinha.

A tarde caía. Me distraí entre pêsames e rostos e a perdi de vista, logo de memória.

Ao fim do funeral, fiquei sozinho, e vaguei pelo cemitério, desolado, destruído, como um bêbado – embebedado pela dor e o nonsense de minha tragédia.

No meio de uma alameda de túmulos, sozinha, divisei a menina. Ela não me vira; estava sentada sobre uma lápide, olhos fitos no chão.

Me aproximei.

– Você está sozinha, e num cemitério? Onde está sua mãe?

Ela sorriu.

– Nunca tive uma mãe. Mas meu pai está por aí, me vigiando.

– Já está escurecendo. Você não tem medo da noite?

– Como temeria a noite, se sou sua emissária?

E, saltando da lápide, correu por entre seus mortos.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

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