sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Filemon Martins (Poemas Escolhidos) XVI


DESTRUIÇÃO


Ainda ontem se ouvia lá na serra
a juriti cantar saudosa e triste,
mas hoje devastada toda a terra
nenhuma juriti, sequer, existe...

Quem manda é o lucro que provém da guerra,
o mundo cambaleia e mal resiste
lutando pela vida que se emperra
numa ganância infame que persiste.

A Humanidade inteira está perdida,
a esperança acabou, está vencida,
pois cada dia surge um golpe novo.

E muitos que se dizem ser senhores,
não passam de ladrões e usurpadores
surrupiando o pão do nosso povo!
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DEUS

Contemplo a Natureza fascinante,
e vejo um Deus de Amor e de Brandura.
Um livro aberto, imenso, edificante,
com lições de Bondade e de Ternura.

Mesmo que a mágoa assalte o caminhante
e o prostre sobre o chão em desventura,
a Fé, que vem de dentro, é uma constante,
- um bálsamo na dor da criatura.

Creio num Ser Supremo, um Ser bendito,
num mundo de mistérios em que habito
e me faz refletir os sonhos meus...

Porque depois a vida continua
na evolução da Fé que se cultua
sob a regência do maestro, Deus.
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ELEITA

Nunca mais eu voltei àquela rua
onde ficava sempre à tua espera.
Por testemunha aquela mesma lua
que me inspirava versos de quimera.

E chegavas com uma voz só tua,
- doce ternura que eu jamais tivera.
Hoje meu coração que te cultua
nunca esqueceu aquela primavera.

Mas o tempo passou... Nossos destinos
seguiram por caminhos peregrinos,
nunca mais eu te vi nem tu me viste.

E se me visses hoje, certamente,
perceberias meu olhar ausente,
porque sem teu amor, fiquei mais triste
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ENGANO

Quando jovem pensei que a vida fosse
aquele mar de rosas e venturas,
por algum tempo, então, ela me trouxe
um paraíso cheio de aventuras.

A vida com sabor de um arroz-doce
feito à canela, leite e outras doçuras,
que imaginei pudesse ser um doce
embrulhado em papéis e sem misturas.

Mas o tempo passou como um covarde
matou meu sonho sem fazer alarde,
sem respeitar meu pobre coração.

E agora já no fim da caminhada,
uma verdade eu vejo escancarada;
- amar demais foi minha perdição.
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FALSA PROMESSA

"Nunca vou te esquecer". Ela me disse
e foi partindo triste e lentamente.
Um grande amor repleto de meiguice
não pode terminar assim pungente.

Partiu... Não sei se foi por criancice,
mas sei que dói no peito cruelmente,
e tudo não passou de uma tolice
levada a sério tão injustamente...

Quanto tempo passou... Percebo agora
que um pensamento apenas me apavora:
- não soubeste, na vida, o que é amar...

Pois vejo que a promessa que fizeste
foi somente a desculpa que me deste,
porque bem sei, jamais hás de voltar!

Fonte:
Filemon Francisco Martins. Sonetos & Trovas. RJ: CBJE, 2014.
Livro enviado pelo autor.

Um comentário:

Julimar Andrade Vieira disse...

Lindos sonetos. Parabéns, Filemon.