sábado, 24 de outubro de 2009

Folclore em Trovas 8 (Boto)

Trova sobre imagem de http://www.uniblog.com.br

Guerreiros Mura (a Sedução Do Boto Cor-de-rosa)


Todo o meu pecado
Foi amar uma linda sereia do mar
E como lição herdei a maldição
De viver nas águas contemplando a solidão
Os mistérios e as mágoas dos rios a imensidão

Mas o feitiço das escuridão
Quebrou-se ao luar
O boto cor-de-rosa emergiu
Dele o encanto surgiu
De boto a um lindo rapaz
Astucioso e sagaz
Do fundo do rio Solimões
Uniu-se dois corações

Veio seduzir a cirandeira bela
Dançarina, dançarina
De sua paixão
Com fitas brancas e amarelas
Dança a dança, dança a dança
Da sedução

Está se deslumbrando senhor
Uma linda estória de amor
Com a cirandeira bela fogosa
Amor do boto cor-de-rosa.
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Folclore Brasileiro (O Boto)



Existem dois tipos de botos na Amazonia, o rosado e o preto, sendo cada um de diferente espécie com diferentes hábitos e envolvidos em diferentes tradições. Viajando ao longo dos rios é comum ver um boto mergulhando ou ondulando as águas a distância. Se diz que o boto preto ou tucuxi é amigável e ajuda a salvar as pessoas de afogamentos, mas o rosado é perigoso. Sendo de visão ineficiente, os botos possuem um sofisticado sistema sonar que os ajuda a navegar nas águas barrentas do Rio Amazonas. Depois dos humanos eles são os maiores predatores de peixes.

A Lenda

A lenda do boto é mais uma crença que o povo costumava lembrar ou dizer como piada quando uma moça encontrava um novo namorado nas festas de junho.

É tradição junina do povo da Amazônia festejar o nascimento de Santo Antonio, São João e São Pedro.

Esta lenda tem sua origem no boto-cor-de-rosa, um mamífero muito semelhante ao golfinho, que habita a bacia do rio Amazonas, e também pode ser encontrado em países, tais como: Bolívia, Equador, Colômbia e Venezuela. As diferenças básicas são as seguintes: o golfinho vive no mar, e o boto vive em água doce, o golfinho tem cor acinzentada e o boto pode ser acinzentado, preto ou possuir cor avermelhada.

Durante as festas juninas, quando são comemorados os aniversários de São João, Santo Antonio e São Pedro, a população ribeirinha da região amazônica celebra estas festas dançando quadrilha, soltando fogos de artifício, fazendo fogueiras e degustando alimentos típicos da região. Reza a lenda que é quando o boto-cor-de-rosa sai do rio transformando-se em um jovem elegante e belo, beberrão e bom dançarino, muito bem vestido trajando roupas, chapéu e calçados brancos. O chapéu é utilizado para ocultar (já que a transformação não é completa) um grande orifício no alto da cabeça, feito para o boto respirar. É graças a este fato que, durante as festividades de junho, quando aparece um rapaz usando chapéu, as pessoas lhe pedem para que ele o retire no intuito de se certificarem de que não é o boto que ali está.

A tradição amazônica diz que o boto carrega um espada presa ao seu cinto, mas que, no fim da madrugada, quando é chegada a hora de ele voltar ao leito do rio, é possível observar que todos seus acessórios são, na verdade, outros habitantes do rio. A espada é um poraquê (peixe-elétrico), o chapéu é uma arraia e, finalmente, o cinto e os sapatos são outros dois diferentes tipos de peixes.

Este desconhecido e atraente rapaz conquista com facilidade a mais bela e desacompanhada jovem que cruzar seu caminho e, em seguida, dança com ela a noite toda, a seduz, a guia até o fundo do rio, onde, por vezes, a engravida e a abandona. Por isso, as jovens eram alertadas por mulheres mais velhas para terem cuidado com os galanteios de homens muito bonitos durante as festas, tudo pra evitar ser seduzida pelo infalível boto e a possibilidade de tornar-se, por exemplo, uma mãe solteira e, assim, virar motivo de fofocas ou zombarias. Seduzidas, as mulheres mantém encontros furtivos com esta entidade, que ao amanhecer retorna ao fundo dos rios, onde reside.

Conta-se, que certa ocasião, havia uma tapuia que vivia só em sua palhoça e que de repente começou a emagrecer e entristecer sem aparentar moléstia alguma. Desconfiados que fosse obra do Boto, os homens da tribo fizeram-lhe uma emboscada.

À noite viram chegar ao porto um branco que não era do lugar e dirigiu-se para a choupana. Acompanharam-no e quando ele entrou, de mansinho abriram a palha da parede e viram-no querer deitar-se na mesma rede da tapuia. Então, um tiro o prostrou e arrastando-o para a barranca do rio, confirmaram suas suspeitas, tal homem era realmente o Boto. A autoridade local não fez corpo de delito, pois matar um boto não é crime previsto em lei.

Raul Bopp, um poeta profundamente brasileiro, no "Cobra Norato", refere-se assim, graciosamente, a um caso do Boto:

"- Joaninha Vintem: Conte um causo...
- Causo que?
-Qualquerum.
Vou contar causo de boto:

Amor chovi-á
Chuveriscou
Tava lavando a roupa Maninha
Quando o boto me pegou.

-Ó Joaninha Vintem
Boto era feio ou não?

- Aí, era um moço novo Maninha,
tocador de violão...
Me pegou pela cintura...

- Depois que aconteceu?...

Xentes!
Olha a tapioca embolando no tacho!

- Mas que boto safado!

Nos conta a poesia, que a pobre cunhã-poranga (moça bonita), por não ter a sorte de possuir um muiraquitã protetor, não conseguiu livrar-se das malhas de sedução do boto.

Nas noites de luar do Amazonas, afirmam alguns, que os lagos se iluminam e pode-se ouvir as cantigas de festas e danças onde o Boto, ou também chamado de Uiara, participa.

Sedutor e fecundador, conta-se que o boto sente o odor feminino a grandes distâncias, virando as canoas em viajam as mulheres. Isso ocorre sempre a noite, e para evitar o boto, deve-se esfregar alho na canoa, nos portos e nos lugares que ele goste de parar.

As primeiras alusões à lenda apareceram em meados do século XIX, inicialmente referentes a sua transformação em uma bela mulher que atraia os moços ao rio, afogando-os, e pouco depois, aparece como o homem-boto nas cercanias do rio.

Sobrexistindo hermafrodita, o mito termina pela fixação morfológica dicotômica em Boto e Mãe D'Água, o cetáceo, restringindo-se às mulheres e a Iara, aos homens.

A inexistência, no Brasil, nos séculos XVI, XVII e XVIII, de entidades com os atributos do boto, faz supor que a lenda seja de origem branca e mestiça, com projeção nas malocas indígenas e ribeirinhas.

Simbolismo

O Boto é portanto, o Dom Juan da planície Amazônica. Seu prestígio, longe de diminuir com as dissipações do tempo, ganha novos florões com os casos que todo dia lhe aumentam o lendário e a fé do ofício. O papel que lhe atribuem não difere muito das proezas que assinalaram a famosa personagem de "Tirso de Molina". O asqueroso mamífero misciforme, com aqueles seus dois a três metros de comprimento, com aquele focinho pontiagudo e encabelado, passa por ser um herói mais atrevido, em matéria de amor, de que os tipos de Merimée.

O Boto é hoje um animal em extinção e grande culpa disso é por que o homem lhe conferiu poderes mágicos. Muitos pescadores os capturam para corta-lhes o pênis com a finalidade de fazer um amuleto de "conquista varonil" ou para combater a impotência sexual. Suas nadadeiras também são utilizadas na fabricação de remédios. Seus olhos são usados como atrair as mulheres. Os pajés costumavam realizar rituais para preparar os olhos do animal a ser entregues e usados pelos necessitados.

A crença neste mito está disseminada pela população ribeirinha do Rio Amazonas. O Boto representa o "animus"das mulheres, que faz inter-relação entre o consciente e o inconsciente. O inconsciente masculino é feminino e regido pelo "anima". O "animus" é a figura masculina arquetípica que reflete o princípio masculino nas mulheres. O Boto é este "animus arquetípico" representando tanto o inconsciente individual quanto o coletivo. Sua grande beleza e poder de sedução são explicados, quando entendemos que ele não é um homem e sim a imagem que as mulheres fazem do homem.

O Boto é símbolo de sedução e energia vital.

Todos os animais aquáticos simbolizam o psiquismo, esse mundo interior e tenebroso através do qual se faz conexão com Deus ou com o Diabo.

De natureza ambígua estes seres se ligam aos rios e oceanos, lugar de todas as fascinações e de todos os terrores, imagem da mãe e da deusa-mãe primitiva em seu aspecto generoso e criador e, ao mesmo tempo, terrível. Mares, rios, são lugares selvagens e inumanos, onde a lógica nunca prevalece. É por isso que todos os mitos e divindades marinhas conservarão sempre um caráter arcaico. Saindo dessa água enigmática, os peixes tornam-se eco deste terror antepassado, que roça o desconhecido.

O Boto é a figura popular das águas e do folclore da região amazônica e sua aparência é de
um golfinho. Os órgãos sexuais quer do Boto, quer da sua fêmea, são muito utilizados em feitiçaria, visando a conquista ou domínio do ente amado. Porém o mais utilizado do mesmo é o olho do Boto, que é considerado amuleto do mais forte na arte do amor e sorte. Dizem mesmo que, segurando na mão um amuleto feito de olho de Boto tem que ter cuidado para quem olhar, pois o efeito é fulminante: pode atrair até mesmo pessoas do mesmo sexo, que ficam apaixonadas pelo possuidor do olho de Boto, sendo difícil de desfazer o efeito...Conta-se algumas histórias em que maridos desconfiados de que alguém estava tentando conquistar suas mulheres armaram uma cilada para pegar o conquistador. A cilada geralmente acontece à noite, aonde o marido vai a luta com o seu rival, mesmo ferido, consegue fugir e atirar-se n’água. No dia seguinte, para a surpresa do marido e demais pessoas que acompanharam a luta, o cadáver aparece na beira d’água com o ferimento da faca, ou de tiros, ou ainda com o arpão cravado no corpo, conforme a arma utilizada, não de um homem, mas pura e simplesmente um Boto.

O boto ou Uauiara, também é conhecido por ser uma espécie de protetor das mulheres, cujas embarcações naufragam. Muitas pessoas dizem que, em tais situações, o boto aparece empurrando as mulheres para as margens do rio, a fim de evitar que elas se afoguem, as intenções disso até hoje não são muito conhecidas…

Assim sendo, na região norte do Brasil, quando as pessoas desejam justificar a geração de um filho fora do casamento, ou um filho do qual não se conhece o pai, é comum ouvir que a criança é filha do boto.
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Sobre a Iara
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/10/folclore-brasileiro-iara.html
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/10/folclore-em-trovas-5-iara.html

Fontes:
http://www.sumauma.net/amazonian/lendas/lendas-boto.html
http://www.infoescola.com/folclore/a-lenda-do-boto/
http://www.rosanevolpatto.trd.br/lendabotorosa1.htm
http://www.istoeamazonia.com.br/
Imagem = http://www.mundoeducacao.com.br

Apollo Taborda França (O Trovador e a Trova)



Com garra de trovador,
Vou seguindo meus caminhos...
Venturoso e com amor,
Num roseiral sem espinhos!

Cai a tarde, fico triste,
Pressuroso como o quê...
O coração não resiste
A saudade de você!

Poeta diz sempre o que quer,
Na verdade ou de impulsão...
Tenho certeza e assim penso,
Com você e sem vaidade!

Disse adeus à virgindade,
Optou, em seus dilemas...
Quis amar com pouca idade:
– Está cheia de problemas!

Pelas ruas da cidade,
Encontrei com Jesus Cristo...
– Faze e prega a caridade,
Para o Céu bem chega isto!

Curitiba é chão de amores,
Toda feita de candura…
O seu perfume é de flores,
Deus namora lá na Altura!

A Trova não morre nunca,
Retempera a humanidade
E vence a tristeza adunca,
Alegrando a mocidade!

Sete sílabas por cima
Com idéia sempre nova,
E cadência, boa rima,
Numa quadra…a bela Trova!

Sou trovador, tenho senso
Da importância da poesia:
Encerra tudo o que penso,
Realidade e fantasia.

Uma Trova pra ser boa,
Expressiva, universal,
Na mensagem apregoa
A cultura e a moral!

Quem tem estro e tem cultura
E se inclina à poesia,
Vai na Trova com lisura,
Cheio de graça e estesia!

Uma Trova…um belo tema,
Pra dizer o que se quer;
Quando o poeta é bom, da gema,
Inspira-se…na mulher!

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Sobre o Autor:

Apollo Taborda França, nasceu em Curitiba, capital do estado do Paraná, onde reside. Filho de Heitor Stockler de França e Brasília Taborda Ribas de França. Fez cursos primário e ginasial no Instituto Santa Maria, dos Irmãos Maristas. Posteriormente em Direito pela Universidade Federal do Paraná, em Jornalismo pela Universidade Católica (hoje PUCPR), ainda em Curso Técnico de Construção de Máquinas e Motores, pela Escola Técnica Federal do Paraná que agora está transformada em Universidade; e se formou em Ciências Econômicas.

Possui 17 livros publicados, em prosa e em verso. Inclusive cinco de Trovas. Passou a fazer versos naturalmente, talvez por influência sangüínea, uma vez que seu pai Heitor Stockler de França era escritor, poeta, jornalista e advogado e seus irmão também fazem poesias e trovas. Suas composições literárias foram publicadas em jornais, especialmente em livros e coletâneas impressas em São Paulo e Rio de Janeiro, etc.

– Cadeira n.36 da Academia Paranaense de Letras
– Cadeira n.38 da Academia de Letras José de Alencar
– membro do Centro de Letras do Paraná
– membro do Círculode Estudos Bandeirantes
– Presidente da UBT/Curitiba 1984/86 e 1990/92.
– membro do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense

Publicações:
– Poesia (em colaboração)
– Sinfonia da Rua 15
– A lua escorregou pela parede
– Festa de amores– O nosso alfabeto
– Praças de Curitiba
– Constelação dos bairros de Curitiba
– Os nossos pés de todos os dias
– MPPr – Movimento Poético Paranaense
– Poesia do Paraná

Fontes:
– Antologia dos Acadêmicos: edição comemorativa dos 60 anosda Academia de Letras José de Alencar. São Paulo: Scortecci, 2001.
– Carlos Leite Ribeiro. Portal CEN.
– Vasco José Taborda e Orlando Woczikosky (organizadores). Antologia de Trovadores do Paraná. Curitiba: O Formigueiro – Instituto Assistencial de Autores do Paraná, 1984.

Luis Renato Pedroso (Soberana Ordem do Sapo)



Inspirado por um grupo de intelectuais que, nos idos de 6 de março de 1898, criara um periódico sob a intrigante denominação O Sapo, Vasco Taborda Ribas fundou uma confraria, em 15 de agosto de 1977, a que chamou de Soberana Ordem do Sapo, cujos integrantes, em número expressivo, recebem o título de “barão” e “baronesa”.

Mas, certamente, os que lêem estas linhas perguntarão: por que tão esdrúxula denominação?

Responde, com raro descortino, o acadêmico e pois imortal Apollo Taborda França, que a fez ressurgir, poucos dias passados: “o sapo é uma criatura universal: está em todas as partes, em todos os países. Trata-se de um ser enigmático, místico e mítico, a um só tempo. Não chega a ser venerado, mas é admirado e decantado, de modo mal ou benquerente, em contos, fábulas e lendas”, lembrando, ainda, que “o sapo é romântico com seu cantar após as chuvas, tempestades, em especial para noites de luar. A despeito da malquerência com que sofre, é considerado o símbolo do amor, da ventura e da alacridade. Chega a ser considerado lindo conforme o entendimento e o olhar de quem intimamente não o subestima”.

Por sua vez, Ivo Arzua Pereira recorda que, “além de tudo, o sapo, cujo habitat são os charcos, os terrenos alagadiços e os banhados, é bem o símbolo da humildade, pois jamais intentou viver nas alturas montanhosas para brilhar à luz do sol e ser notado, admirado e aplaudido, bastando-lhe ser alvo da simpatia dos seres humanos e, principalmente, dos bravos ecologistas”.

Tais considerações, por si só, explicam plenamente a opção de Leôncio Corrêa, Leite Júnior, Gabriel Ribeiro e Thales Saldanha pelo título O Sapo para o hebdomadário lançando e, depois, Vasco Taborda Ribas para a confraria, agora ressurgida por Apolo Taborda França.

Muitos “barões” e “baronesas” já passaram pela Soberana Ordem do Sapo, outros tantos a integram, constituindo um pugilo valoroso de amantes da cultura.

Saudando-os, a exemplo do ocorrido na reunião-almoço do dia 5 de março de 2005, quando da reinstalação da confraria, lembro o poema do inspirado e sensível vate Harley Clóvis Stocchero, Barão de Tamandaré:
1. Quando o dia amanhece
e o sol para o alto arriba,
para o céu se evola a prece
do povo de Curitiba;

2. enquanto o dia floresce
com o azul brilhando guapo,
toda lagoa estremece
com a cantiga do Sapo.

3. Os barões assinalados,
dessa Ordem Soberana,
todos juntos, irmanados,
saudam a luz que emana

4. da hóstia de intensa luz;
e Curitiba conclama
a seguir o Bom Jesus
que todo cristão irmana.

5. nessa ordem de Grandeza
do Sapo, Rei da Sapiência,
que, com toda a realeza,
simboliza a boa vivência

6. que o Sapo, na humildade,
dádiva do Criador
para toda a Humanidade,
é atributo de Amor.

7. Rendamos ao
humilde Sapo
seu verdadeiro valor,
pois ele, que é nobre e guapo,
simboliza Paz e Amor!

8. Por Deus feito inteligente
e das searas protetor,
deve merecer da gente
veneração com ardor

9. para lhe dar proteção,
pois ele é nossa esperança
ao limpar a plantação
da praga, que
sempre avança!

10. Rendamos nosso tributo
ao Reino da Saparia,
ao Sapo, esse amigo astuto,
que nos inspira Poesia!

11. Assim, Barões, Baronesas,
vamos os Sapos saudar,
reunidos em nossas mesas
para a Ordem prestigiar.

12. Num momento de alegria
desta encantada Reunião,
brindemos a Saparia
no abraço de cada irmão;

13. também é grata a ocasião,
que esta data recorda,
vamos fazer a saudação

ao Mestre Vasco Taborda

14. que, se estivesse vivo,
aqui festaria contente,
comemorando o motivo
de relembrá-lo contente.

15. Mas, embora falecido,
tem a alma ainda presente,
o que nos dá o motivo
de relembrá-lo contente.

16. Festejemos, meus confrades,
esta nossa Confraria,
que hoje uma nova idade
feliz aniversaria!

17. Agradecendo a presença
de todos que, neste dia,
nos trazem a recompensa
da ilustre simpatia.

18. Sejam todos abençoados
com as preces que conduz
esse olhar iluminado
de Nossa Virgem da Luz!?.
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Fonte:
Luís Renato Pedroso, presidente do Centro de Letras do Paraná, vice-presidente do Movimento Pró Paraná e Barão de Santa Terezinha. In Paraná On-Line. 22/03/2005

Livros e Autores Infantis Conquistam o Mercado



A escritora Gloria Kirinus diz que a literatura infanto-juvenil brasileira hoje é muito respeitada no mundo. E um ótimo presente para o Dia das Crianças.

Boas histórias permeadas de fantasia, ilustrações que despertam a imaginação da criança e principalmente humor, característica muito presente nos livros de literatura infantil de hoje.

Elementos que atraem as crianças e fazem dos escritores e ilustradores de livros infanto-juvenis do Brasil serem reconhecidos internacionalmente pela sua qualidade, que vem atrelada ao aumento do consumo interno por esse segmento.

As estatísticas mostram que esse mercado tem crescido exponencialmente ao longo dos últimos anos. Último balanço divulgado pela Câmara Brasileira do Livro sobre o mercado editorial do País mostra que o número de títulos de livros infantis editados no ano passado cresceu mais de 14% em comparação com 2007, num total de 3.981 títulos.

O número de exemplares produzidos também aumentou, passando para mais de 15,4 milhões de livros, numa variação de 4,95% comparado com o ano anterior. Junto com histórias atraentes, a qualidade dos livros infantis destaca-se hoje pelo tratamento apurado e pelo cuidado com as ilustrações, que passou a ocupar um lugar de destaque que não tinha até então.

"A literatura infanto-juvenil brasileira é muito respeitada no mundo. Nos encontros internacionais, o stand do Brasil é muito visitado e admirado, com autores do porte de Ziraldo, as duas ganhadoras do prêmio Hans Christian Andersen, Ligia Bojunga Nunes e Ana Maria Machado, além da poesia em verso e prosa de Bartolomeu Campos Queirós, as fadas reencantadas de Marina Colasanti e o eterno Monteiro Lobato", avalia a autora Gloria Kirinus, representante no Paraná da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infanto-juvenil.

Esse boom da literatura infantil teve início na década de 1970 quando começaram a surgir excelentes autores, como Eva Furnari, Ruth Rocha, Ziraldo e Tatiana Belinsky, precursores da nova fase da literatura infantil.

"Depois da "era Monteiro Lobato" passou-se um tempo sem grandes autores nacionais. Esse período sem expressão tem relação com a escola, quando o predomínio das obras de literatura infantil era por um estilo com cara de livro didático, como pretexto para alfabetização, para ensinar conteúdos escolares", analisa a professora de literatura infantil da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Elisa Dalla Bona.

Conforme a crítica vem sendo feita, isso tem mudado. "A literatura contribui para instigar a fantasia, a imaginação. A alfabetização é uma consequência", defende a professora, que culpa a formação dos professores que, muitas vezes, ainda optam por selecionar livros fáceis para os alunos, de bons hábitos alimentares ou de higiene, de ensino de letras, formas geométricas ou números.

"O que é uma pena, porque a escola é a principal difusora da literatura infantil. Poucos são os pais que levam o filho na biblioteca ou que vão presenteá-los com um livro neste Dia das Crianças", lamenta Dalla Bona.

A literatura infantil é considerada um dos primeiros passos para a formação crítica das crianças, preocupação presente na obra de muitos autores. "Um bom livro tem que contar uma boa história. A literatura com a qual mais me identifico é a que instiga o mundo interior, a dimensão do simbólico, que amplia meu olhar para o leitor", conta a autora Cléo Busatto.

Tratar temas sérios por meio da história contada é a escolha do escritor e jornalista Luiz Andrioli. "Acredito ser possível abordar questões morais para as crianças, uma forma de se aprender a lidar com temas como a separação, a ilusão, a perda", afirma.

Em seu primeiro livro, A menina do circo, Andrioli aborda as diferenças no circo, em um ambiente em que vale tudo para se divertir. "O circo abre esse espaço para os excluídos, como o anão, o gordo. O que na sociedade choca, no circo é alegria", acredita.

Fonte:
Artigo de Luciana Cristo. In Paraná On Line de 11/10/2009

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Eno Theodoro Wanke (Verso)


Conheci um poeta que me disse certa vez, com entusiasmo na voz, ter inventado um verso definitivo e imortal.

- Sim? E como é?
- "O amor é um fogo que arde sem queimar."
- Mas isto é de Camões!

Levou um susto.

- Não é possível. Eu mesmo fiz a bolação, a montagem deste verso, palavra por palavra, pensamento por pensamento, letra por letra!
- Mas é de Camões. Pelo menos meio milênio tem este verso. Você deve ter lido em algum lugar, fixado no subconsciente e, quando foi escrever, produziu o verso como se fosse seu...

Sai dali desconsolado.

Uns dias depois, encontrei-o de novo:

- Pronto, agora sim. Tenho um verso imortal, que não é de ninguém mais.
- Então, solte.
- "O amor é uma água que afoga sem molhar."

Desisti.

Fonte:
WANKE, Eno Teodoro. Caminhos: minicontos. RJ: Edições Plaquette, 1992.
Imagem criada por Iraima Bagni.

Fábulas de Iauaretê na Expo-Literária de Sorocaba, hoje, sexta-feira.



Projeto realizado pelo Instituto Arapoty e Cia Duberrô integra programação da Expo-Literária em Sorocaba

“Fábulas de Iauaretê” apresenta contação de histórias, oficinas e palestra com o escritor Kaká Werá. Apoiado pelo Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura – Programa de Ação Cultural e patrocinado pela Sorocaba Refrescos, projeto oferece atividades gratuitas.

Hoje, sexta-feira, dia 23 de outubro, a cidade de Sorocaba recebe a primeira atividade do projeto “Fábulas de Iauaretê”, uma adaptação do livro de Kaká Werá, realizada pelo Instituto Arapoty e Cia Duberrô. O projeto integra a programação da Feira Literária de Sorocaba, e seguirá ainda por outras cidades, como Tatuí, Itu, Laranjal Paulista, São Roque, Votorantim, Itapetininga, Itapeva, Limeira e Itapecerica da Serra.

– Dia: 23 de outubro de 2009,
– Horário: 10h, 14h e 15h30
.– Local: Tenda Villa Lobos - Biblioteca Municipal de Sorocaba [Av. Eng. Carlos Reinaldo Mendes, 3.041]
– Gratuito.
– Duração: 90 minutos.
– Capacidade: 100 lugares.
– Classificação indicativa: a partir de 10 anos.
– Agendamento para educadores, alunos e público espontâneo pelos telefones: (15) 3211-2911 / 3211-2902, com Paulo ou Elisa.

Palestra
– Dia 23 de outubro de 2009, às 19h.
– Local: Auditório da Biblioteca Municipal de Sorocaba [Av. Eng. Carlos Reinaldo Mendes, 3.041]
– Gratuito.
– Duração: 50 minutos.
– Capacidade: 100 pessoas.
– Classificação indicativa: a partir de 15 anos
– Agendamento para educadores, alunos e público espontâneo pelos telefones: (15) 3211-2911 / 3211-2902, com Paulo ou Elisa.

Fontes:
Douglas Lara. http://www.sorocaba.com.br/acontece
Márcio Abegão. http://pedagogiadoteatro.blogspot.com

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Folclore em Trovas 7 (Caipora)

Trova sobre imagem de http://ig.clickeducacao.com.br

Cacique e Pajé (A Lenda do Caipora)



Meu velho avô contava
Uma história interessante
Diz que depois do dilúvio
Que acabou com os habitantes
A geração de Noé
Da Terra foi ocupante
Aquele povo selvagem
Numa intriga constante
Se dividiram em tribos
Seguindo rumos distantes
Foi numa daquelas tribos
Que seu destino seguia
Uma mulher teve um filho
No meio da mataria
A pobre mãe faleceu
Quando o menino nascia
Aquela gente criada
Dentro da selvageria
Abandonaram a criança
Naquela selva bravia
Uma grande chimpanzé
Que perdeu seu filhotinho
No meio da selva bruta
Encontrou o garotinho
Por instinto maternal
Ou por lembrar do filhinho
Pegou aquela criança
Com muito amor e carinho
Com o leite do seu peito
Criou o inocentinho
Criado na selva bruta
Cresceu valente e veloz
As unhas cresceram tanto
Que pareciam anzóis
A fera que ele atacava
Tinha um destino atroz
Ele dominava a fera
Amarrava com cipós
Depois de surrar bastante
Soltava o bicho feroz
Daquele tempo pra cá
Conforme diz a história
Aquele homem selvagem
Tornou-se o rei das floras
Montado num porco-espinho
Percorre o sertão afora
Protegendo todos os bichos
Que dentro da selva moram
É o terror dos caçadores
Conhecido por Caipora
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Folclore Brasileiro (Caipora)

Caipora é uma entidade da mitologia tupi-guarani. É representada como um pequeno índio de pele escura, ágil, nu, que fuma um cachimbo e gosta de cachaça.

Habitante das florestas, reina sobre todos os animais e destrói os caçadores que não cumprem o acordo de caça feito com ele. Seu corpo é todo coberto por pelos. Ele vive montado numa espécie de porco-do-mato e carrega uma vara. Aparentado do Curupira, protege os animais da floresta. Os índios acreditavam que o Caipora temesse a claridade, por isso protegiam-se dele andando com tições acesos durante a noite.

No imaginário popular em diferentes regiões do País, a figura do Caipora está intimamente associada à vida da floresta. Ele é o guardião da vida animal. Apronta toda sorte de ciladas para o caçador, sobretudo aquele que abate animais além de suas necessidades. Afugenta as presas, espanca os cães farejadores, e desorienta o caçador simulando os ruídos dos animais da mata. Assobia, estala os galhos e assim dá falsas pistas fazendo com que ele se perca no meio do mato. Mas, de acordo com a crença popular. é sobretudo nas sextas-feiras, nos domingos e dias santos, quando não se deve sair para a caça, que a sua atividade se intensifica. Mas há um meio de driblá-lo. O Caipora aprecia o fumo. Assim, reza o costume que, antes de sair numa noite de quinta-feira para caçar no mato, deve-se deixar fumo de corda no tronco de uma árvore e dizer: "Toma, Caipora, deixa eu ir embora". A boa sorte de um caçador é atribuída também aos presentes que ele oferece. Assim, por sua vez, os homens encontram um meio de conseguir seduzir esse ente fantástico. Mas fracasso na empreitada é atribuído aos ardis da entidade. No sertão do Nordeste, também é comum dizer que alguém está com o Caipora quando atravessa uma fase de empreendimentos mal sucedidos, e de infelicidade.

Há muitas maneiras de descrever afigura que amedronta os homens e que, parece, coloca freios em seus apetites descontrolados pelos animais. Pode ser um pequeno caboclo, com um olho no meio da testa, cocho e que atravessa a mata montado num porco selvagem; um índio de baixa estatura, ágil; um homem. peludo, com vasta cabeleira.

Seus pés voltados para trás serve para despistar os caçadores, deixando-os sempre a seguir rastros falsos. Quem o vê, perde totalmente o rumo, e não sabe mais achar o caminho de volta. É impossível capturá-lo. Para atrair suas vítimas, ele, às vezes chama as pessoas com gritos que imitam a voz humana. É também chamado de Pai ou Mãe-do-Mato, Curupira e Caapora. Para os Índios Guaranis ele é o Demômio da Floresta. Às vezes é visto montando um Porco do Mato.

Os índios, para lhe agradar, deixavam nas clareiras, penas, esteiras e cobertores. De acordo com a crença, ao entrar na mata, a pessoa deve levar um Rolo de Fumo para agradá-lo, caso o encontre.

As histórias acima fazem parte de um vastissimo conjunto de nossas tradições populares, que desde o século XIX são alvo de intenso interesse e controvérsias entre antropólogos e estudiosos em geral. Uma das primeiras questões que aguçam a curiosidade é a de saber sobre a origem, embora muitas vezes os elementos estejam tão mesclados e se transformaram de tal forma que fica impossível localizar a fonte original. Indicar hipotética fonte, o que se faz sacrificando o conjunto da narrativa, pouco esclarece sobre as adaptações que sofre no tempo e no espaço, quando migra de uma região para outra e recebe novas influências. De fato, no caso, tanto o termo Mboitatá como Caapora denunciam a tradição indígena.

Mas as escavações para buscar a origem não dão conta de alguns aspectos bastante interessantes. Um deles é perceber que essas, como tantas outras histórias, são narradas cru determinadas situações: que situações são essas; quem conta para quem? Será que mesmo na região onde, em princípio, estariam mais arraigadas elas seriam compartilhadas da mesma maneira por todos os habitantes? Não se deve esquecer também que essas narrativas impõem, para os que nela acreditam, certas atitudes e revelam certos sentimentos em relação aos perigos da floresta; elas também costumam servir de justificativas, como é ocaso de um caçador mal sucedido, que pode atribuir a má sorte ao fato de ter deparado com o Caipora.

Em regiões onde prevalece a transmissão oral essas histórias desempenham um papel bastante importante na socialização. Contar e ouvir "causos" é uma atividade lúdica, para passar o tempo livre. Na recreação, os indivíduos vão incorporando os valores do grupo em que vivem, e assim aprendem como proceder quando saem, por exemplo, para caçar. Na história do Caipora é inculcada a idéia de que se deve estabelecer limites no abate as presas, e que em dias santos ou sextas-feiras deve-se evitar a floresta. Outras histórias como a da Cuca, nosso papão do universo infantil, ensina que as crianças devem ir cedo para a cama sem fazer traquinagens antes de dormir. Mas o papel da história contada num grupo de seringueiros ou num grupo de pescadores, sobretudo quando não tem muito contato com a vida na cidade, é distinto do papel dessas mesmas histórias na vida de crianças de classe média que ouviam as histórias de sua babá ou de adultos letrados que as ouvem das fontes nativas, dos pais, das instituições de ensino e da indústria cultural e participariam assim simultaneamente da cultura do povo e da cultura erudita. Mas, mesmo numa mesma região, épossível encontrar ausência de consenso quanto à crença em seres fabulosos. Foi o que ocorreu com o antropólogo Eduardo Galvão, quando esteve, em 1948, numa região do baixo Amazonas. Ao recolher relatos sobre seres sobrenaturais, encontrou tanto depoimentos crédulos, sobretudo de seringueiros e de pescadores, que faziam descrições detalhadas de seus encontros com seres sobrenaturais, quanto opiniões céticas de moradores que se referiam à crença no Curupira como "abusão de gente mais velha". Ou comentavam: "são apenas lendas". Obteve um relato de um habitante que dizia acreditar no Curupira, embora jamais tivesse tido uma experiência de ordem pessoal com o ente, pois narrava as histórias que lhe foram contadas pelo avô.

Fatos como o descrito acima por Galvão, em Santos e Visagens, indicam que as mesmas histórias são partilhadas pelo povo brasileiro de maneira diferente, numa mesma época ou em épocas e gerações diferentes. Entretanto, pode-se lembrar que essas tradições populares são muitas vezes reivindicadas como um meio de revelar todos os brasileiros ou de identificar o modo de ser, pensar e agir de uma região do país. Seguindo uma tradição que, de acordo com Peter Burke, tem início no final do século XVIII na Europa. Afonso Arinos. em Lendas e Tradições Brasileiras, vê na descoberta da cultura popular a existência de "um opulento tesouro esquecido". E acrescenta: "Explorai-o, colhei a mancheias, que tocareis na fonte verdadeira da vida de nossa raça e ela repetirá convosco o milagre de Fausto". Embora se possa relativizar o tom ufanístico excessivo do escritor mineiro, não resta dúvida de que vários escritores brasileiros da modernidade, como é o caso de Mário de Andrade (Macunaíma), Raul Bopp (Cobra Norato) e Guimarães Rosa (Grande Sertão: Veredas), para mencionar alguns dos mais importantes, estiveram sempre muito atentos às tradições populares brasileiras, o que revela que essas tradições migram e são incorporadas pela cultura erudita.

Origem Provável

É oriundo da Mitologia Tupi, e os primeiros relatos são da Região Sudeste, datando da época do descobrimento, depois tornou-se comum em todo País, sendo junto com o Saci, os campeões de popularidade. Entre o Tupis-Guaranis, existia uma outra variedade de Caipora, chamada Anhanga, um ser maligno que causava doenças ou matava os índios. Existem entidades semelhantes entre quase todos os indígenas das américas Latina e Central. Em El Salvador, El Cipitío, é um espiríto tanto da floresta quanto urbano, que também tem as mesmos atibutos do Caipora. Ou seja pés invertidos, capacidade de desorientar as pessoas, etc. Mas, este El Cipitío, gosta mesmo é de seduzir as mulheres.

Conforme a região, ele pode ser uma mulher de uma perna só que anda pulando, ou uma criança de um pé só, redondo, ou um homem gigante montado num porco do mato, e seguido por um cachorro chamado Papa-mel.

Também, dizem que ele tem o poder de ressuscitar animais mortos e que ele é o pai do moleque Saci Pererê. Há uma versão que diz que o Caipora, como castigo, transforma os filhos e mulher do caçador mau, em caça, para que este os mate sem saber.

É representado ora como mulher unípede, o Caipora-Fêmea, ora como um tapuio encantado,nu, que fuma no cachimbo, este último na área do Maranhão a Minas.

Manoel Ambrósio dá a notícia, no Nordeste, de um caboclinho com um olho só no meio da testa, descrição que nos faz lembrar dos ciclopes gregos. Também aparece no Paraná como um homem peludo que percorre as matas montado num porco-espinho.

No Vale do Paraíba, estado de São Paulo, ele é descrito como um caçador façanhudo, bastante feio, de pêlos verdes e pés virados para trás.

Outro nome do Caipora, ou Caapora, é Curupira, protetor das árvores, chamado assim quando apresenta os pés normais.

Em algumas regiões, há fusão dos dois duendes, em outras elas coexistem. O mito emigrou do Sul para o Norte, conforme conclusão dos estudiosos.

Existe na Argentina o mesmo duende, como um gigante peludo e cabeçudo. Couto de Magalhães aceita a influência platina no nosso Caipora.

Segundo Gonçalves Dias, Curupira é o espírito mau que habita as florestas. Descreve-o assim: 'Veste as feições de um índio anão de estatura, com armas proporcionais ao seu tamanho'. Governa os porcos-do-mato e anda com varas deles, barulhando pela floresta. O mesmo mito é encontrado em toda a América Espanhola: no Paraguai, na Bolívia, na Venezuela.

Entre os Chipaias, tribo guarani moderna, há a crença no Curupira, como sendo um monstro antropófago, gigantesco, muito simplório, conforme relato de Artur Ramos, em Introdução à Antropologia Brasileira.

Apesar de serem conhecidos o nome e o mito Curupira, no Vale do Paraíba é mais encontradiço o nome Caipora, usado até para designar gente de cabeleira alvoroçada.

Lá, é um caboclinho feio pra danar, anão de pés virados para trás, cabeludo. Viaja montado em um porco-espinho, com a cara virada do lado do rabo da montaria.

Tão variadas são as suas metamorfoses, que não é difícil vê-lo tomar a forma feminina e mesmo, a dos dois sexos, que lhe dá uma aparência andrógina. O Curupira, entretanto, sob qualquer aspecto que se apresente, sempre tem os pés voltados para trás, que são indícios para filiá-lo ao berço semítico, o qual nos refere a uma crença corrente na Ásia em "Homens com pés voltados para trás", bem como os que tinham "orelhas grandes" eram comuns.

Transplantada para solo americano, esta crença foi se modificando ao sabor das circunstâncias. Assim é que vemos surgir o Curupira sob diferentes nomes: o "Maguare", na Venezuela; o "Selvaje", na Colômbia; o "Chudiachaque", no Peru; o "Kaná", na Bolívia. Como se vê, inúmeras são suas metamorfoses e designações, conforme testemunhos e fatos colhidos na história.

Quando Curupira entra no Maranhão, não muda de nome, mas mora no galho dos Tucunzeiros e procura as margens do rio para pedir fumo aos canoeiros e vira-lhes as canoas quando não lhe dão, fazendo as mesmas correrias pelos matos onde tem as mesmas formas com que se apresenta na Amazônia. Atravessando pelo Rio Grande do Norte e pela Paraíba, toma então o nome de Caapora. Conta-se que tornou-se inimigos dos cães de caça. Obriga-os a correr atrás dele, para fazer com que os caçadores o sigam, mas desaparece de repente, deixando os cães tontos e os caçadores perdidos. Nestes locais anda sempre à cavalo, ou montando um veado ou um coelho.

Em algumas ocasiões, foi descrito como um índio de pele escura, nu, ágil, fumando cachimbo e que adora fumo e cachaça, dominando com seus assobios os animais da mata. Indo o caçador munido de fumo e encontrando o Caapora, se este pedir-lhe e for satisfeito, pode contar que será daí em diante feliz na caça. Por outro lado, o que mais detesta é o alho e a pimenta, capaz de provocar-lhe cólera.

No Ceará conserva o nome de Caapora, porém muda novamente seu aspecto, perde todo o pelos do corpo, que se transforma numa enorme cabeleira vermelha, apresentando também dentes afiados.
Em Pernambuco lá está ele com suas características. Montado em uma queixada, tem nas mãos um galho de iapekanga ou arco e flecha, trazendo consigo sempre um cão a que dão o nome de "Papa-mel". Em uma carta de 1560, o padre José de Anchieta inclui esse duende entre as aparições noturnas que costumam assustar os índios.

Para o sacerdote, que entre nós esteve quando o Brasil amanhecia, o Curupira, muitas vezes, atacava os índios nos bosques, açoitando-os, atormentando-os e matando-os. Os índios costumavam deixar penas de aves, flechas e outras coisas semelhantes, em algum ponto da estrada do sertão, quando passavam por lá, como se fosse uma oferenda e, humildemente imploravam a esse personagem, que não lhes fizesse mal.

Em Sergipe, mostra-se sempre gaiato e, brincando faz o viajante rir até cair morto. Por isso talvez, que ele é venerado como "espírito cômico". Passando pela Bahia, sofre aí uma transformações completa e não só muda de nome como de sexo, aparecendo sob a forma de "caiçara", cabocla pequena, quase anã, que anda montada num porco.

Fontes
http://pt.wikipedia.org/
http://www.vivabrazil.com/
http://sitededicas.uol.com.br/
http://www.grupoescolar.com/
http://www.rosanevolpatto.trd.br/

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É preciso ter ISBN para cadastrar o livro no Clube de Autores?

Não, não é. O ISBN é uma forma de catalogar livros - mas não é ele que define o que é e o que não é uma obra literária. O foco do Clube de Autores é permitir que os autores publiquem as suas obras - considerando o seu conteúdo em como a peça mais importante.

Qual a importância de ter o ISBN

A principal importância é facilitar que a sua obra seja encontrada e distribuída. Por exemplo: se você conseguir algum acordo com alguma livraria, para divulgar e vender o seu livro por ela, provavelmente precisará ter o ISBN. Alguns sites ou redes sociais focadas em livros, por sua vez, também exigirão. Assim, por mais que não seja obrigatório ter um ISBN, é aconselhado. Como o custo é relativamente baixo, vale a pena.

Como faço para conseguir o meu registro no ISBN?

Pelo site da Biblioteca Nacional, é possível fazer o registro. Para tanto, você precisará se cadastrar como "editor autor" - capacitando-se a fazer o registro como pessoa física. Para ver a página no site da Biblioteca Nacional que instrui sobre este cadastramento.

Esta mesma página inclui links para download de dois arquivos importantes: a ficha que deve ser preenchida (clique aqui para baixar o arquivo, em formato Excel) e o manual de preenchimento da mesma (clique aqui para baixar o arquivo, em formato PDF).

Todos os custos para o registro também podem ser vistos no site (clique aqui para ver). O cadastramento como editor autor custa R$ 160,00 e o registro de cada obra, R$ 10,00.

Como a obra deve ser registrada?

Você pode escolher registrar a sua obra como publicação física ou eletrônica.

Na publicação física, uma série de regras de diagramação devem ser observadas - incluindo o posicionamento do código de barras no livro (clique aqui para ver as regras). Neste caso, aliás, caberá a você comprar a imagem do código de barras (também vendido pelo site da Biblioteca Nacional) ou gerá-lo em um software especializado de sua escolha.

A possibilidade de se cadastrar a obra como pubicação eletrônica vem do fato dos livros disponíveis no site do Clube de Autores serem comercializados de forma 100% sob demanda (e, portanto, sem uma tiragem física determinada). Esta modalidade é mais fácil para o o autor, até por ter exigências menores quanto à diagramação. O código de barras, por exemplo, não precisa ser gerado e impresso nas obras, sendo que você mesmo poderá diagramá-lo, diretamente no seu arquivo.

É preciso ter um novo ISBN para mudanças na obra?

De forma geral, mudanças nas obras devem, sim, ter um novo ISBN atribuído a ela. Segundo o site da Biblioteca Nacional, deve-se atribuir um novo ISBN:

- a cada edição de uma publicação;
- a cada edição em idioma diferente de uma publicação;
- a cada um dos volumes que integram uma obra em mais de um volume e também ao
conjunto completo da obra (coleção);
- a toda reedição com mudança no conteúdo(texto) da obra;
- a cada tipo de suporte, tipo de formato, tipo de acabamento e tipo de capa;
- as reimpressões fac-similares;
- as separatas (desde que apresentem títulos e paginação próprios);

Obs:
- a reimpressão pura e simples de um livro NÃO requer outro ISBN;
- mudança na cor da capa, formato de letras e correção ortográfica do texto da obra, NÃO requer outro ISBN.

No caso de publicações eletrônicas, no entanto, exige-se apenas que a obra não seja atualizada com frequência - sem que uma periodicidade seja definida
.

Fonte:
http://clubedeautores.com.br/

Mauro Gonçalves Rueda (Histórias sem Pé nem Cabeça)


Histórias sem Pé nem Cabeça

Primeira História

era uma vez uma história sem pé nem cabeça. não tinha início, meio ou fim. era uma coisa desengonçada e fora de moda. contudo, nas horas de fastio, brincava de ciranda-de-roda. certamente, para ver o tempo passar.

o incrível é que, o escritor da história, era pior do que a própria história em si: não sabia quem era, o que era, porque escrevia e o que iria escrever quando iniciou a história.

de forma que, mais que maluquice, ou atrapalho, o escritor pensou em ser a própria história, enquanto a história, brigava dentro dele porque afinal, ela sim, era a história. e ele, tão somente o autor. bem, para dizer a verdade, nem o escritor, nem a história, sabiam o que ia ocorrer ou ser escrito.

da mesma forma que, a história nem imaginava o quê ou quem era. deve ser porque ainda nem existia. uma história que não existe, deve ser algo vazio e sem graça. por isso mesmo, a história chegara à conclusão que, não possuía documentos e portanto, identidade. com isso, o escritor ficou muito zangado e disse: ora, eu sou o maluco aqui!. além do mais, sou eu quem não possui identidade ou documentos. então, vai tirando o cavalinho da chuva porque a história aqui sou eu e não você.

toda essa indecisão acabou gerando uma tremenda discussão cada vez mais acirrada. sem pé, nem cabeça. sem início, meio ou fim. e a história foi ficando naquele “blablablá”, “tititi” e coisa e loisa. como não conseguiam chegar a um acordo, acrescentaram um “etecétera” que é uma palavra um tanto quanto estranha. mesmo para uma história sem pé nem cabeça.

— ora, não me aborreça!. disse o escritor já exaltado.

por sua vez, a história respondeu:

— não vou dizer nada!.

— não quero nem saber.

respondeu o escritor com menosprezo. E a coisa toda continuou naquela lengalenga. sem fim. aliás, sem nexo e sem sentido.

a história enfezada, mudou de linha e de cor de repente. foi aí que o escritor matutou:

— isso não tem a mínima importância. você está pensando que vou me aborrecer?. e amuado, ficou aborrecido com a história. foi por isso que, passou a escrever tudo com letras minúsculas. mesmo no início de cada frase ou parágrafo. por outro lado, a história acabou aborrecendo-se ainda mais com o escritor.

Cerraram o cenho e permaneceram emburrados um com o outro. o escritor mudou de cor. a história também. contudo, apesar das discórdias, acabaram concluindo que, era melhor fazerem as pazes. e fizeram. acabaram ficando de bem um com o outro. tanto a história, quanto o escritor. afinal, brigar não é uma atitude legal e no mais, a gente vive precisando uns dos outros mesmo!...
melhor viver-se em paz, disse. quem disse essa frase?. ora essa, como posso eu saber?. aí, você leitor, vem e fica bravo comigo?. eu não tenho culpa se a história e o escritor viviam brigando. não tenho mesmo!.

foi então que tudo ficou de pernas para o ar. e a história sem ser terminada e sem “se terminar”. mas, como eu disse anteriormente, não tenho nada a ver com o peixe. querem uma sugestão?. porquê vocês não tentam refazer essa história e escreverem vocês?. bem, bem... acho que, por enquanto, essa história termina aqui. mesmo sem terminar. sem pé, nem cabeça. ora essa!. será que toda essa bagunça termina mesmo por aqui?.
–––––-

O Avesso do Fim
Segunda História

como o escritor queria o avesso do fim, o fim entrou na história sem pé nem cabeça pelo avesso. o que ele fez?. fácil, pulou do fim para o começo. E, acreditem se quiserem, começou saltando de linha e trocando de cor. essa atitude deixou o escritor tão irritado que, não conseguindo controlar a história sem pé nem cabeça, acabou transformando-se no avesso do avesso. a história e não ele, o escritor.

e, de repente, lá estava: o avesso do fim.

“deve ser o começo”. concluiu o escritor, empalidecendo e mudando de cor.

empalideceu. Ficou tão transparente no amarelo que, não conseguia enxergar a si próprio.
aí, o escritor resolveu voltar à sua cor natural. pensando bem, é melhor ter qualquer cor do que não ter nenhuma. nem que seja uma coisa assim, meio sem pé nem cabeça. no fim do começo ou, no começo do fim. talvez o avesso do fim, fosse o fim do avesso. vai saber?. matutou o escritor, já completamente esquecido do que iria escrever. ficou olhando para o vazio do nada que, é uma coisa assim, que existe sem existir. uma coisa que, às vezes, se sabe que tem, mas continua faltando.

então, ele ficou ainda mais chateado porque, era uma coisa tão sem graça aquele vazio que, chegava a dar sono. sono, preguiça e vontade de ficar dando risada o tempo todo. risada de tudo e de todos porque, coçava-se distraidamente.

foi então que, de tanto permanecer ali parado, a fitar o vazio, acabou sentindo saudade das coisas do sem-fim. não do avesso do fim. ou do sem pé nem cabeça. ou do avesso do avesso. mas, do sem-fim. foi por isso que ele ficou novamente chateado.

sem mais nem menos, saltou para esta linha abaixo, mudando de cor mais uma vez. decidido a colocar fim no começo ou, começo no fim pelo avesso sem avesso que, naquela história sem pé nem cabeça, o outro escritor que era o avesso daquele que escrevia, tascou um ponto final e pronto. basta!.

mas que coisa mais sem graça!. pensou o escritor falando ao mesmo tempo sem falar ou pensar em coisa alguma. decidido a pôr termo àquela história sem pé nem cabeça, virando-a pelo avesso do avesso, escreveu: aqui é o avesso do fim do começo que vai dar no começo do fim. analisou bem, leu, releu e concluiu:

“acho que ninguém vai entender”.

disse isso porque, ele mesmo, estava bastante confuso. também, não era pra menos. havia feito tanta confusão com a história que ela parecia não ter pé nem cabeça. parecia mais como se estivesse meio pelo avesso do avesso. sem o fim do começo. nem o começo do fim.
com as palavras mudando de cor e embolando-se pelo meio do meio da história que zangou-se com o escritor, ele desligou a lâmpada, vestiu o pijama, deitou-se e despertou para descobrir, finalmente que, estivera o tempo todo sonhando.

ou tendo pesadelo?.....

Fontes:
RUEDA, Mauro Gonçalves. Histórias sem pé nem cabeça (Inventando Coisas). São José do Rio Preto: ebookLibris. Coleção Joyceana, vol.6. 1999.

Sonetos Vencedores do 4º. Concurso Literário Cidade de Maringá - 2008



Edmar Japiassú Maia (Rio de Janeiro, RJ)
AO PÉ DA SERRA

Num quarto de choupana, ao pé da serra,
onde a ausência de amor se faz presente,
sofre o caboclo pela dor que sente,
servo da angústia que o abandono encerra...

Sendo forçado a que a tristeza enfrente,
descobre que o destino também erra,
e, nos seus erros, faz ruir por terra
da esperança a muralha resistente.

Fragilizado e ao desespero entregue,
tateia pela noite que o persegue
numa existência quase consumida...

E a chama, que no quarto bruxuleia,
verte um resto de luz, que há na candeia,
no resto do que resta de uma vida!
=====================

Jaime Pina da Silveira (São Paulo, SP)
SOLIDÃO NA ROÇA

Cansei de cultivar – só – minha roça...
Cansei de – só – colher o meu feijão...
Cansei de enfeitar – só – minha palhoça...
De – só – nutrir de lenha o meu fogão...

Da casa, que era minha, eu fiz a nossa
e as portas eu te abri do coração.
E, como contra o amor não há quem possa,
voei nas asas loucas da paixão...

E encheu-se então de viço a minha horta,
veio a felicidade à minha porta
e a roça se esqueceu da solidão...

Mas... como há sempre um “mas” em nossa vida,
ao despertar da noite “bem” dormida,
percebo que foi tudo – só – ilusão!...
=======================

Lucília A. T. Decarli (Bandeirantes, PR)
DIVINO MISTÉRIO

Pura eclosão no encontro de dois seres,
ou de um só ser, chamado hermafrodita.
Sem ser movida por carnais prazeres,
carrega em si leal prenhez, prescrita.

Nas mãos a tens, quiçá sem compreenderes
que um divino mistério nela habita.
Sequer refletes, junto aos afazeres,
quão essencial é o ser que ali dormita...

Mas, lá na roça, alguém sempre a cultua,
vislumbra o embrião, que a espécie perpetua:
- o apaixonado e atento lavrador!

E, na expansão do gérmen, a semente
exalta a vida e aquEle que consente
nesse milagre – prova audaz de AMOR!...
========================

Maria Helena Oliveira Costa (Ponta Grossa, PR)
OS GRÃOS DO TEU ROSÁRIO

Tratas da terra e nos provês a mesa,
ó tu, simples e rude brasileiro,
que entregas teu vigor à enorme empresa
de fazer do país um bom celeiro!

De mãos calosas e coluna tesa,
pões no roçado teu suor inteiro...
E o teu empenho faz da natureza
um promissor e salutar viveiro!

No chão bendito jaz um relicário:
dormem sementes já por ti plantadas!
O dia finda e à oração convida...

Rezas, por fim... E os grãos do teu rosário
são como contas bem manuseadas
que têm no bojo uma explosão de vida!
========================

Neide Rocha Portugal (Bandeirantes, PR)
ÊXODO MENTAL

Ficou distante a roça... E, com a venda,
entre a mobília que cortava a estrada
se avolumava o pó, em fina renda,
sobre a “senhora” reduzida ao nada.

Noutro lugar, levada à estranha tenda,
não mais se lembra nem da filharada.
Dessa memória, que hoje é pura lenda,
recordou-se de mim... E, na empreitada,

tentei trazer à luz essa memória;
reconstruir a “ordem” nessa história,
sem entender por que me reproduz.

Do que é capaz um som?... Fiz o que pude:
– Sou a cantiga do sarilho rude
que traz o balde d’água para a luz!
==========================

Jean-Pierre Bayard (História das Lendas) Parte I



INTRODUÇÃO

A evolução constante da humanidade para um fim inatingível influi sobre a vida do indivíduo; as artes, expressão natural do homem, constantemente modificada, seguem uma curva que pretendemos ser ascendente.

Foi dito que tudo o que era estático, imóvel, era atrasado; a evolução só deve ser dinâmica. Contudo, o estudo da evolução nos confunde dada a soma de mistérios que surgem a todo momento.

Parece paradoxal que homens, em épocas em que a ciência era menos adiantada do que a nossa, tenham descoberto leis que apenas encontramos. Contudo, as características das grandes pirâmides nos provam, de maneira irrefutável, que os egípcios conheciam os segredos de fórmulas que ainda não descobrimos inteiramente. Nossos rigorosos cálculos científicos eram, sem dúvida, substituídos por outra ciência tão precisa quanto a nossa.

Esta evolução ascendente torna-se, desta forma, menos positiva; cremos apenas que as questões formuladas o eram de maneira diferente; é uma transformação de energias. O mar, com seu fluxo e refluxo, pode, em certos momentos, fazer crer que evolui; contudo, permanece como é, não enche sem vazante. Nossa lei de transformação torna-se então uma constante e a contribuição de nossa atividade científica cuja utilidade não é certa — é anulada pela nossa falta de raciocínio. Numa civilização mecanizada o espírito acha-se cada vez mais deslocado

Se nossos conhecimentos se modificaram, a inteligência continua a ser um bem imutável; não se pode dizer que Einstein seja mais inteligente do que Pascal, mas apenas que Einstein resolveu, em seu tempo, outros problemas. Einstein — ou qualquer outro sábio — descobriu apenas o que outros já haviam vislumbrado, e quando diz que o mundo está fechado, repete apenas o que o Evangelho de São João Batista já nos ensinou.

A evolução do homem continua pois a ser uma miragem e os grandes iniciados revelam, simbolicamente, algumas verdades cuja veracidade controlamos com dificuldade. O estudo de problemas humanos, de raças, de folclore; nos leva a crer que o homem, anteriormente, tenha sido um iniciado mas que seus conhecimentos se perderam. Algumas tribos da África equatorial conservaram virtudes e sentidos que já não temos. Nossas sensações se evaporaram. É assim que um ensinamento geral emana dos contos e que toda essa poesia anônima, feita de graça e frescor, reflete a mesma preocupação.

Acontece que essa literatura coletiva, criada pelo produto inconsciente da imaginação, pela massa, pretendia ser um testemunho, uma prova. Não é absurdo pensar que os contos, antes divulgados oralmente e depois, por escrito, provavam, apoiavam teses, argumentavam em seu favor. Sob a forma de um divertimento, a fábula educava.

A moral dessas fábulas é agradável, engraçada; distrai pois não aborrece aquele a quem se dirige.

O estudo do folclore mundial — que reflete a atividade, o pensamento de uma época e de um povo — é pois o estudo da humanidade. Essas obras esclarecem períodos obscuros e suas deformações são instrutivas, pois nada mais são do que a evocação de mores locais, de concepções particulares e humanas. A lenda, mais verdadeira do que a história, é um precioso documento: ela exara a vida do povo, comunica-lhe um ardor de sentimentos que nos comove mais do que a rigidez cronológica de fatos consignados; desta forma, o romance é a sobrevivência das lendas. Imaginamos uma literatura científica na qual os “robots” escrevem poemas; mas esses engenhos mecânicos nunca poderão transmitir emoções iguais às contidas nos poemas de Villon ou de Baudelaire, pois que as obras desses homens eram feitas com sangue.

Além do maravilhoso que envolve esses mitos é preciso descobrir o tema inicial que se reproduz em países diferentes e muito longínquos: essa concepção nos leva a uma nova interpretação. Esses contos misteriosos fazem a Th. Briant escrever (Le Goéland, n.o III) (A Gaivota): “cada lenda podia ter uma explicação mística no plano de analogias e correspondências”, contudo, “as identidades nos fogem e chapinhamos no Relativo”.

Alguns contos, assim tratados, mostraram aspectos de sua evolução e interpretação; é evidente que estas simples páginas não esgotarão o assunto.

Primeira Parte: Evolução Das Lendas

Capítulo I: Generalidades

I. — Definições

A palavra lenda provém do baixo latim legenda, que significa “o que deve ser lido”. No princípio, as lendas constituíam uma compilação da vida dos santos, dos mártires (Voragine); eram lidas nos refeitórios dos conventos. Com o tempo ingressaram na vida profana; essas narrações populares, baseadas em fatos históricos precisos, não tardaram a evoluir e embelezar-se. Atualmente, a lenda, transformada pela tradição, é o produto inconsciente da imaginação popular Desta forma o herói sujeito a dados históricos, reflete os anseios de um grupo ou de um povo; sua conduta depõe a favor de uma ação ou de uma idéia cujo objetivo é arrastar outros indivíduos para o mesmo caminho.

A fábula é uma narração em verso, cujos personagens são animais dotados de qualidades humanas. As mais célebres fábulas são as de Esopo, La Fontaine e Florian.

Os contos de animais são fábulas redigidas em prosa.

O conto é uma narração maravilhosa baseada numa trama romanesca; os lugares não são determinados e os personagens não têm nenhuma precisão histórica; a narração distrai. A lenda é um conto no qual a ação maravilhosa se localiza com exatidão; os personagens são precisos e definidos. As ações se fundamentam em fatos históricos conhecidos e tudo parece se desenrolar de maneira positiva. Freqüentemente a história é deformada pela imaginação popular.

O mito é uma forma de lenda; mas os personagens humanos tomam-se divinos; a ação é então sobrenatural e irracional. O tempo nada mais é do que uma ficção. Na realidade, essas categorias se embaraçam e os mitos são de uma infinita variedade; relacionam--se às religiões, são cosmogônicos, divinos — ou heróicos. As lendas, com personagens mais modestos, fazem evoluir mágicos, fadas, bruxas, que, de uma maneira quase divina, influem nos destinos humanos.

2. — Origem

A lenda, mais verdadeira do que a história, devido à quantidade de ensinamentos humanos, contraria freqüentemente a verdade psicológica; uma abóbora transforma-se em carruagem; um rato, em cocheiro. Entretanto, essas ficções não são nem pueris nem grotescas; elas nos interessam, nos repousam e nos deslumbram. Esse mundo fluido que põe em xeque o nosso mundo real, foi definido pelo bondoso Jean de la Fontaine:

e até mesmo eu.
Se me contassem a Pele de burro
sentiria um extremo prazer

Este divertimento do povo é sua aspiração secreta, sua busca espiritual de um mundo maravilhoso onde impere o valor do homem, onde as leis, tão detestadas, sejam abolidas. E o encantamento, a volta ao Paraíso Terrestre.

A lenda existe desde a formação do clã, da sociedade e os temas se desenvolvem com preocupações semelhantes em todas as culturas.

Essa literatura coletiva pode ser proveniente de um único mito propalado de país em país A Índia foi primeira a nos fornecer o índice escrito desse folclore mundial, o que não implica que a Índia seja o seu berço. Divulgados oralmente, esses contos -foram talvez escritos e conservados em outros países, mas sua mensagem não chegou até nós: por muito tempo ignorou-se as riquezas contidas nas pirâmides cujos segredos ainda não foram completamente desvendados, o que não permitiria aos nossos filhos dizerem que as pirâmides não contêm nenhum segredo.

Esses contos, transformados, decantados, modificados, foram portanto transcritos nos Vedas, aproximadamente 4.500 anos a. C. base de nossa mais antiga civilização teriam os Arias e o original da compilação é o Pantchatantra (os “cinco livros”). Considerando os animais que falam e as leis da metempsicose, parece ser a fábula um produto espontâneo da Índia. É curioso, contudo, que uma passagem do romance de Merlin esteja reproduzida num conto Indiano (Gulcasapati) e numa compilação de Somadeva. Sinais do budismo aparecem em vários outros lugares e principalmente na grande caridade demonstrada pelos heróis para com os animais.

Nestes últimos anos, a escola folclorista compilou contos semelhantes aos da Índia, em todos os países. Portanto, os mitos se divulgaram através do tempo e do espaço. A religião grega toma emprestado à religião fenícia, o mito de Adônis e Cibele. Reinhold Kohler e Theodor Benfey ficaram estupefatos ao encontrar os mesmos temas iniciais em todos os países. É verdade que durante sua peregrinação, os contos se transformaram; há a influência do meio, a alteração de certos fatos, lacunas que foram preenchidas e novos motivos surgiram, mas a base da criação continua a mesma; as particularidades locais, muitas vezes morais, fornecem preciosos ensinamentos sobre o povo e sua maneira de pensar.

A divulgação dos contos talvez nos surpreenda em função da época mas, na realidade, os países se comunicavam entre si muito antes das viagens de Cristóvão Colombo, Magellan ou Marco Polo. Teria havido navegadores, verdadeiros aventureiros, que transportavam ensinamento de uma a outra civilização e o ritmo da vida era assim o mesmo em cada país. A América possuía suas fundições no mesmo período que a Ásia ou a Europa.

Concluindo, não se pode afirmar que houve uma única invenção, mas apenas a Índia possui os documentos antigos onde nossos mitos estão registrados.

3. — Os temas

Transcrição do pensamento do povo, os temas simbolizam suas aspirações. Transposição de sentimentos e desejos humanos a lenda abole o real.

O homem — infeliz torna-se poderoso. A pastora bela e incompreendida, desposa um príncipe encantado; o sapatinho perdido, emblema de sua beleza, é cultuado na Índia. As mulheres, prisioneiras dos hábitos, vivem sob a dependência do homem: as princesas terão liberdade e o rei será passivo. O subconsciente criou uma “supercompensação” para os nossos sentimentos de inferioridade

Os mistérios naturais preocupam a imaginação: tudo é maravilhoso, incompreensível, surpreendente e fascinante. Desde o desabrochar da flor até as ondas sorrateiras que dirigimos sem conhecer — a eletricidade — essas manifestações são de uma amplitude desconcertante. O sol e, conseqüentemente, a lua, favorecem com seu culto, a criação de malefícios, de palavras mágicas e de palavras-chave.

Entretanto, esses conhecimentos só podem ser adquiridos com uma certa iniciação; para comandar os espíritos é preciso instrução e o adepto, depois das provas e dos três estágios (purificação, conhecimento e poder), conhecerá, finalmente, todas as virtudes da câmara secreta. O conto será uma lição mas o mito não poderia se enunciar claramente; elementos conscientes, só instruiriam os iniciados enquanto que o povo veria nisso apenas um divertimento. Naturalmente a bruxaria liga-se a essa magia feiticeira. É a estranha personalidade do diabo. A lenda religiosa deveria se utilizar do antagonismo entre a dualidade da alma humana.

De acordo com Freud, a sexualidade desempenha um papel primordial no comportamento da sociedade; é representada sob o símbolo do algarismo 3 — a Trindade mística — e o lírio heráldico representaria o órgão macho. A psicanálise interpretará os contos da mesma forma que os sonhos.

A lenda histórica fundamenta-se em fatos reais, mas o narrador altera a verdade a fim de provar. A lenda do Cid, criada quarenta anos depois da morte do herói, é de composição diferente da de Rolando, escrita duzentos e setenta anos depois de Roncesvales. As suas falhas são flagrantes, bem como nas duas célebres lendas épicas, a Ilíada e a Odisséia.

Outras lendas estão em formação. Eis a de Cartouche, Mandrin, Jack, o Estripador, Mayerling, o mito de Hitler vivendo num rancho americano é análogo ao de Napoleão. A irmãzinha de Lisieux deu origem, segundo o padre de Ars ou São Vicente de Paula, a uma imensa literatura que não pode desaparecer imediatamente.

Todavia, nesses ciclos temáticos, raramente um tema se representa no estado isolado; ele se imbrica com vários outros, também mais ou menos modificados. Sendo esses assuntos primordiais inumeráveis, estudaremos apenas alguns mitos principais.

4. — A pesquisa folclórica

A palavra folklore foi criada por W. J. Thomas, em 1846. Folk significa povo e lore; saber ou conhecimento. Antigamente os franceses empregavam a expressão: “Tradições Populares”.

Perrault, quando publicou, na editora Barbin (Paris), em 1697, suas Histoires ou Contes du temps passé, abriu caminho aos irmãos Grimm que compilavam os contos ouvidos da boca dos camponeses de Hesse, em 1810. Walter Scott fez o mesmo na Inglaterra, em 1820, aproximadamente.

Quando se descobriu, em diferentes países, o mesmo repertório de contos, com pequenas variações de costumes, a atividade dos folcloristas tornou-se intensa. Essa atividade permitiu a interpretação das lendas e principalmente sua classificação; foram unidos entre si e compiladas. Miss Roalfe Cox publicou análises notáveis sobre Cendrillon (Gata Borralheira) e Peau d’Ane (Pele de burro) (Folklore Society, Londres, 1893).

Com o estudo dessas narrações maravilhosas, a análise das crenças e dos costumes permitiu evocar períodos pouco ricos em comentários. Contudo, o folclore não se interessa unicamente pelo passado; dedica-se também ao presente, tanto em economia política como em instituições, ofícios ou atividades populares. Saintyves assim o definiu: “É a ciência da vida popular no seio de sociedades civilizadas.”

Embora a explicação dos contos seja mais ou menos fantasista, este método de observação permitiu ligar os fatos uns aos outros de forma que parecessem, de início, disparatados. O folclore permitiu preencher essas lacunas e acompanhar a evolução da psicologia coletiva mesmo fora das grandes civilizações que nunca foram homogêneas. Essa cultura tradicional, devida à massa popular à margem do ensino oficial, tem uma base permanente que, apesar de incompleta, assegurou definitivamente a estabilidade das sociedades sucessivas. Essa camada inferior, verdadeira corrente cultural, transmite-se de geração em geração e é graças a ela que os contos foram conservados.
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Continua…
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Fonte:
BAYARD, Jean-Pierre. História das Lendas. (Tradução: Jeanne Marillier). Ed. Ridendo Castigat Mores

Belmonte (É proibido casar!)


Introdução

Benedito Carneiro Bastos Barreto, ou melhor, Belmonte, pseudônimo que adotou por que, como noticia o bom amigo Abrahão, tinha em seu nome “Bs aos Montes” merece ter sua obra conhecida pelas novas gerações a mais de um título.

Tivesse sido “apenas” o primeiro ilustrador dos livros infantis de Monteiro Lobato, um dos maiores chargistas e jornalistas brasileiros, já mereceria lembrança.

Mais não fosse, ainda, pelo simples fato de uma criação sua, o Juca Pato, simbolizar hoje um dos maiores prêmios atribuídos a escritores no Brasil.

Seu criador morreu em 1947. Em 1958, nasceu a União Brasileira de Escritores [ http://www.ube.org.br ], com sede em São Paulo, e em 1962 foi lançado o Troféu “Juca Pato“ em homenagem a Belmonte, para premiar o “Intelectual do Ano”.

João Ninguém, menos conhecido que o Juca Pato, mas talvez mais simbólico do que seu irmão, foi o título que escolhemos para relembrar Belmonte, às vésperas de mais uma entrega do “Juca Pato”.

Antes da publicação, consultamos as livrarias online para conferir quais obras de Belmonte estariam disponíveis. Nenhuma. Só encontramos uma homenagem que lhe foi prestada em 1996, centenário de seu nascimento, com a edição de “Belmonte: 100 Anos” [CARVALL, Editora SENAC, ISBN 8573590076], que o website da Livraria Cultura dá como esgotado (em outros parece estar ainda disponível) e que, com maiores ou menores variantes, é mencionado como “Livro de arte comemorativo devido ao centenário de nascimento do chargista Belmonte. Traz suas principais obras, em uma edição bem cuidada.”

Injustiça total! Um livro de menos de 100 páginas não poderia conter, jamais, as principais obras de Belmonte! Talvez algumas charges e ilustrações; importantes, sem dúvida, mas que nunca, jamais, em tempo algum, retratariam às novas gerações tudo o que foi e representou Belmonte para as letras nacionais. Um aperitivo, não mais.

Só na edição de Idéias de João Ninguém são mencionadas as seguintes obras do autor: Angústias de Juca Pato (álbum de caricaturas políticas), O Amor Através dos Séculos (álbum de desenhos humorísticos), Assim Falou Juca Pato (coletânea de crônicas humorísticas), e o lançamento de A “Realidade Brasileira” (álbum de caricaturas políticas), Bandeiras e Bandeirantes (crônicas históricas ilustradas pelo autor) e uma História de São Paulo (em desenhos, para crianças).

Como se vê, Belmonte foi um artista completo da pena, com um traço maravilhoso para ilustrações e charges, com uma verve cáustica e incisiva ao apontar as mazelas nacionais de mais de quinhentos anos...
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É Proibido Casar!

Um cidadão de indiscutível mau gosto, que tem o feio costume de ler todos os disparates que eu escrevinho aqui, manda-me um recorte de jornal acompanhado desta pergunta inquietante:

“Que é que você pensa desta estupidez?”

O recorte aludido contém um telegrama vindo de Istambul, no qual se dá conta de uma das últimas medidas tomadas pelo governo turco. A tal medida consiste em punir “severamente” todo o professor que se entregue a “flirts” com suas alunas e que “pense” em realizar qualquer projeto matrimonial com alguma delas.

Há dias, referi-me aqui às medidas temerosas que vêm sendo tomadas pelos vários “governos fortes” que existem por aí afora, entre as quais fixei a de um general chinês inimigo figadal dos cabelos ondulados. Hoje, segundo me comunica um heróico leitor, é o governo turco, igualmente “forte”, quem se levanta, de durindana em riste, para castigar os pedagogos sentimentais que “pensem” em contrair matrimônio com alguma das suas alunas.

Não sei se as ditaduras, além da força material, possuem também poderes ocultos que as habilitem a saber, com a devida antecedência, qual o professor que “pensa” em casar-se com qualquer de suas discípulas. É possível que esses governos discricionários, possuidores de tão bravos generais, possuam igualmente ocultistas famosos ao seu serviço, não sendo mesmo temerário supor-se que o governo turco tenha criado, para mais facilmente desempenhar-se de suas funções, um Ministério das Ciências Ocultas ou um Departamento Federal das Transmissões de Pensamento.

Todavia, não devemos estranhar a original medida do sr. Kemal. Poder-se-ia mesmo perguntar: Kemal há nisso? se me fosse permitido perpetrar um trocadilho tão detestável. Não há mal nenhum porque, afinal de contas, se os professores turcos estão proibidos de se casarem com suas alunas, poderão fazê-lo com qualquer outra mulher, mesmo que seja aluna de outrem. A estranheza do meu heróico leitor provém de que ele, como quase nós todos, vivemos de olhos pregados no Estrangeiro sem vistas para o que se passa aqui dentro de casa. “Aqui dentro de casa” é um modo de dizer. Todavia, se nós olhássemos em torno de nós, notaríamos que o governo turco, perto dos governichos brasileiros, é muito menos do que um pinto.

No Rio Grande do Norte, por exemplo, há um interventor cujo nome não tenho a honra de saber — quem saberá o nome de todos eles? — o qual interventor, por motivos que até hoje não estão convenientemente explicados, baixou um decreto — decreto ou qualquer coisa semelhante — proibindo as professoras de contraírem matrimônio.

É verdade que, se, por um lado, o governo do Rio Grande do Norte foi mais liberal, por outro lado foi mais arbitrário. Com efeito: o governo turco não admite que o professorado “pense” em contrair matrimônio. Já o governador brasileiro admite que os pedagogos pensem em casar-se; há no Norte, nesse ponto, inteira liberdade de pensamento. O que ele não admite é que os pedagogos se casem. Mas se, na Turquia, os professores podem contrair matrimônio, desde que não o façam com qualquer de suas alunas, no Brasil isso não é possível ser realizado com ninguém. Na capitania do norte proibiu-se, pura e simplesmente, o casório — seja lá com quem for.

Dir-se-á que isso é um crime de lesa-pátria, uma vez que a pátria precisa de quem a povoe — tanto que resolveu importar vinte mil assírios para esse fim. As professoras, não podendo casar-se, não poderão exercer esse direito multiplicador — embora haja pessoas que afirmem o contrário. O certo, porém, é que, multiplicando-se ou não, o Brasil se mostra eminentemente liberal, eis que permite às suas professoras do norte o direito de “pensar” em casamento. A coação é puramente material, como se vê, porque as professoras nordestinas poderão soltar as rédeas da imaginação em devaneios líricos, sonhando com “ele”, sofrendo por “ele”, pensando “nele”...

Todavia, como o interventor proibiu apenas o casamento não vá acontecer às educadoras rio-grandenses o que aconteceu com o caipira a quem perguntaram, quando o viram de braço dado a uma cafuza, se eles haviam se casado.

— Não! respondeu ele, nóis se ajuntemo...

Fonte:
Belmonte. Idéias de João Ninguém. Livraria José Olympio Editora, 1935.
Imagem de Dirceu Veiga = http://www.dirceuveiga.com.br

Belmonte (1896 – 1947)



Benedito Carneiro Bastos Barreto, aliás, Belmonte, nasceu na cidade de São Paulo em 1896. Paulista e paulistano da gema, aqui mesmo faleceu em 1947, antecedendo em um ano no Parnaso a chegada de Monteiro Lobato, a cujas criações infantis dera corpo e forma.

Suas caricaturas apareciam regularmente em Cigarra, Verde e Amarelo, Kosmos, Vida Paulista, Queixoso, Frou-Frou, O Cruzeiro, Folha da Manhã e, no exterior, em Judge (USA), Caras y Caretas (Argentina), ABC (Portugal), Le Rire (França), Kladeradatsch (Alemanha).

As crônicas e charges que publicou no período que antecedeu a II Guerra Mundial, premonitórias. As que criou durante a Guerra, granjearam-lhe protestos oficiais do Japão e da Alemanha... E olha que vivíamos em “Estado Novo” — mas esta ditadura, por sinal, nunca despertou em Belmonte nem a auto-censura, nem simpatias...

Foi pesquisador, desenhista, pintor, caricaturista e jornalista. Começou fazendo desenhos para a revista Alvorada e posteriormente desenhou para a revista Miscellanea. Tentou conciliar a carreira de caricaturista com os estudos de medicina, porém acabou optando pelo jornalismo. Tempos depois foi contratado como caricaturista pelo jornal Folha da Noite. Como desenhista ilustrou diversos livros de Monteiro Lobato e Viriato Correia.

Nas décadas de 1930 e 1940, se perguntássemos a qualquer paulistano qual era a figura mais popular na cidade, com boa dose de certeza, diriam que era o Juca Pato. A popularidade podia ser comprovada nas ruas: havia nome de bar e restaurante, marca de cigarro, graxa de sapato, vinho, água sanitária, pacote de café, aperitivo de bar e até letra de samba com o nome Juca Pato.

Contudo, Juca Pato, um sujeitinho careca, de óculos, gravatinha e polainas, a mais completa tradução do paulistano médio da época, que sofria a impotência ante os desmandos e injustiças dos poderosos do momento, nunca tivera uma existência de carne e osso...

Foi com a criação do personagem Juca Pato e do lema "podia ser pior", onde procurava traduzir as críticas e aspirações da classe média paulistana, que Belmonte obteve reconhecimento. Se dedicou à caricatura política; seus desenhos não apelavam para a grosseria; ao contrário, revelavam um alto grau de intelectualidade.

O famoso personagem de Belmonte deu nome também ao prêmio da União Brasileira dos Escritores, o prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano.

A caricatura de Belmonte estava em dia com os problemas do mundo, trazendo informação de forma ágil, e rendeu inclusive críticas do ministro da propaganda de Hitler, Joseph Goebels, em um de seus pronunciamentos pela Rádio de Berlim. Pelo seu conhecimento dos problemas políticos, sociais e econômicos, divulgou trabalhos em diversos jornais internacionais. Recusou convite para ir para Nova York, como desenhista da Metro G. Meyer, mas permaneceu como Diretor do Departamento de Publicidade das Empresas Cinematográficas Reunidas, em São Paulo.


Além de tudo isso, como noticia Romeu Martins [ http://omalaco.hpg.com.br / http://pracinha_belmonte.htm ]: “Um lado seu bem menos citado foi o trabalho como quadrinista, fato que foi resgatado pelo nº 1 da Phenix (é essa mesmo a grafia), revista publicada pelo Clube dos Quadrinhos comemorando o centenário de nascimento de Belmonte, em 1996. Phenix traz uma análise extremamente minuciosa das 210 páginas de HQs que o artista publicou, entre 1933 e 1936, no jornal infantil A Gazetinha”. Nem é necessário dizer: esta revista é, talvez menos que os livros de Belmonte, mas igualmente, difícil de ser encontrada.

Fontes:
Belmonte. Idéias de João Ninguém. Livraria José Olympio Editora, 1935.
http://www.prefeitura.sp.gov.br