Conheci um poeta que me disse certa vez, com entusiasmo na voz, ter inventado um verso definitivo e imortal.
- Sim? E como é?
- "O amor é um fogo que arde sem queimar."
- Mas isto é de Camões!
Levou um susto.
- Não é possível. Eu mesmo fiz a bolação, a montagem deste verso, palavra por palavra, pensamento por pensamento, letra por letra!
- Mas é de Camões. Pelo menos meio milênio tem este verso. Você deve ter lido em algum lugar, fixado no subconsciente e, quando foi escrever, produziu o verso como se fosse seu...
Sai dali desconsolado.
Uns dias depois, encontrei-o de novo:
- Pronto, agora sim. Tenho um verso imortal, que não é de ninguém mais.
- Então, solte.
- "O amor é uma água que afoga sem molhar."
Desisti.
Fonte:
WANKE, Eno Teodoro. Caminhos: minicontos. RJ: Edições Plaquette, 1992.
Imagem criada por Iraima Bagni.
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