sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Eno Theodoro Wanke (Verso)


Conheci um poeta que me disse certa vez, com entusiasmo na voz, ter inventado um verso definitivo e imortal.

- Sim? E como é?
- "O amor é um fogo que arde sem queimar."
- Mas isto é de Camões!

Levou um susto.

- Não é possível. Eu mesmo fiz a bolação, a montagem deste verso, palavra por palavra, pensamento por pensamento, letra por letra!
- Mas é de Camões. Pelo menos meio milênio tem este verso. Você deve ter lido em algum lugar, fixado no subconsciente e, quando foi escrever, produziu o verso como se fosse seu...

Sai dali desconsolado.

Uns dias depois, encontrei-o de novo:

- Pronto, agora sim. Tenho um verso imortal, que não é de ninguém mais.
- Então, solte.
- "O amor é uma água que afoga sem molhar."

Desisti.

Fonte:
WANKE, Eno Teodoro. Caminhos: minicontos. RJ: Edições Plaquette, 1992.
Imagem criada por Iraima Bagni.

Nenhum comentário: