quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Paulo Monteiro (A Trova no Espiríto Santo – Parte IV)

Praia do Canto e Seribeira (Guarapari) pintura a Óleo de Antonio Remo

LIVROS

Quando, em 1980, foi realizado o I Concurso de Trovas da Cidade de Vitória, a Fundação Cultural do Espírito Santo prometeu editar um livro com as trovas premiadas.
Posteriormente esse órgão dedicado à cultura foi extinto.

Aliás, em nossos tempos de usinas atônicas e foguetes carregados com ogivas nucleares, as instituições públicas voltadas à cultura desaparecem num piscar de olhos.
Extinto aquele órgão, o CTC partiu para a publicação da obra em forma de mutirão poético, cada um dos autores pagando parte do valor da edição.
Na obra, além das trovas vencedoras daquele concurso foram incluídas quadras de vários associados do Clube.

BALANÇO DAS ATIVIDADES

É mister que se faça uma análise rápida de todas as atividades desenvolvidas pelo Clube dos Trovadores Capixabas em seu primeiro ano de existência.

Em primeiro lugar, poderíamos destacar uma das características marcantes do Trovismo: a realização de concursos de trovas.

Aqui vemos o CTC filiado à prática tradicional dos concursos de trovas e, por outro lado, apoiado pela televisão - esse veículo de comunicação de massas tão importante quanto suspeito por muitos, e preocupado com a divulgação da trova junto às crianças.

Este é um dado novo e valioso, que merece reflexão e análise de todos aqueles que se preocupam com a prática da trova.

Por outro lado, pelas características próprias do BEIJA-FLOR, tem, o CTC, cuidado em criar um relacionamento mais direto e fraterno entre os trovadores.

Quanto aos concursos infantis de trovas, essa prática salutar desenvolvida pelo Clube dos Trovadores Capixabas, tem passado a ser uma característica também de novéis seções ubeteanas no Espírito Santo.

O “CASO ZEDÂNOVE X ENO”

O I Concurso de Trovas da Cidade de Vitória teve uma comissão julgadora respeitável. Proporcionou, contudo, um episódio inédito na história da trova.

Em 27 de novembro de 1980 o jornal A GAZETA, de Vitória, publicava o artigo “AS NOTAS DO ENO”, de Zodânove Tavares.

Nesse artigo o ex-presidente da UBT de Vitória, que foi um dos juizes do concurso, conta que Eno Teodoro Wanke, outro juiz do mesmo concurso, deu zero a duas trovas concorrentes, entre outras.

Eis o que diz Zedânove:

"(...)
Vejamos uma das trovas concorrentes:

“Cá, na área da pobreza,
Vitória muda de nome:
ela é chamada Tristeza,
em meio a um povo com fome”.

Nota do Eno: zero. Alegação: “canárea”. Isso mesmo. Ele alega que o “Cá, na área” é uma cacofonia. Sem comentários.

Vejamos outra:

Anchieta e Giordano Bruno
foram irmãos, santos são,
filhos do mesmo Deus, uno,
que não tem religião”.

Nota de Eno: zero. Alegação: anticlerical".

Mais adiante Zedânove segue suas acusações contra as notas atribuídas por Eno a trovas onde ocorriam fenômenos de sinérese (como An-chie-ta) ou diérese (An-chi-e-ta), polemizando em torno dessas questões bastante complexas de metrificação.

A resposta de Eno Teodoro Wanke veio pelo mesmo jornal, dia 20 de dezembro de 1980, em artigo que foi repetido dia 31 de dezembro daquele mesmo ano.

Após perguntar: "que melhor elogio se pode fazer a um juiz de concurso de trovas do que dizer que foi rigoroso, ou seja, de querer contribuir para um bom resultado final?”, continua seu trabalho revelando assuntos de economia interna do Concurso, quanto à forma de atribuição de notas às trovas concorrentes e reafirmando seus pontos de vista quanto à sinérese e à diérese, já expostos em obra de sua autoria. Prosseguindo em sua defesa, assevera, referindo-se às trovas lembradas por Zedânove: “Não sei de quem são tais trovas, e nem desejo saber, pois julguei foi a trova e não os trovadores. As duas como se verá são chochas e prosaicas, totalmente desinspiradas. Observem:

Cá na área da pobreza,
Vitória muda de nome:
ela é chamada Tristeza
em meio a um povo com fome.

Além daquela “canária da pobreza”, que destrói a trova logo do início, a imprecisão de linguagem é notável. Parece vagamente urna trova de protesto. Renovo meu zero.

Anchieta e Giordano Bruno
foram irmãos, santos são,
filhos do mesmo Deus, uno,
que não tem religião.

Esta trova dá o que pensar em matéria de coisa mal feita. Há dualidade de contagem silábica. No primeiro verso, conta-se “An-chie-ta e Gior-da-no”. O autor utilizou, portanto, de sinérese. Contou tanto “Anchieta” e "Giordano” como tendo três sílabas. Poderia ter contado quatro: “An-chi-e-ta” e "Gi-or-da-no”, forma que Zedânove diz, em seu artigo, preferir. Mas contou três. Sucede que, para ser coerente, deveria, no último verso, utilizar-se do mesmo recurso: "religião” (outra dessas palavras-armadilhas) deveria ter sido contatada como tendo três sílabas fônicas, e não como está, para contentar a metrificação, com quatro (...).

Mas tem mais. Vejamos o sentido da trova, a mensagem que deseja transmitir. Acho que tomar Giordano Bruno, o filósofo irrequieto, envolvido primeiro num caso de assassinato quando monge dominicano em Roma, depois expulso pelos calvinistas quando se tornou um deles, e ainda por cima excomungado pelos protestantes, sempre procurando brigas e discussões filosóficas, e terminando, come se sabe, preso e queimado pela Inquisição, e compará-lo ao meigo Anchieta, o exemplo da submissão, que tudo abandonou - pátria, família, a vida mais fácil - para servir a Deus, servindo aos nossos indígenas, acho “forçar a barra”. Nenhum dos dois foi nem é santo. Anchieta foi apenas beatificado pela Igreja. E dizer que Deus não tem religião é, para mim, um paradoxo tão divertido que até estou utilizando para um clec. Outro zero para esta trova!”

Aém desses dois artigos, o veterano trovador A. Isaías Ramires, um dos mestres da trova no Espírito Santo, concorreu à discussão, com duas publicações, em jornais de Cariacica e Alegre.

Felizmente esse episódio desagradável ficou em quatro artigos.

Quanta às questões levantadas por Zedânove Tavares, analisando "as notas do Eno”, parece-nos que prevaleceu a emoção sobre a razão. Caso contrário não teria partido para a análise técnica da confecção trovística, onde Eno foi cem por cento correto. Antes teria censurado as explicações ideológicas: ter desclassificado uma trova par considerá-la anticlerical.

Um agnóstico tem o dever de reconhecer a beleza do uma trova mística, religiosa ou qualquer outro nome que se lhe dê, quando for bela, e um cristão, por sua vez, tem o dever de reconhecer a beleza de uma trova, mesmo anticlerical. Com isso não queremos dizer que a trova em pauta seja bela.

Dizíamos que, nessa polêmica, Zedânove talvez tenha entrado mais com a emoção porque a primeira trova é de autoria do veterano trovador Andrade Sucupira, seu pai.

Quanto à segunda, embora, seguindo a mesma “linha poIêmica” da primeira, desconhecemos sua autoria.

Felizmente, repetimos, o "Caso Zedânove x Eno”, conforme batismo de A. Isaías Ramíres, é caso encerrado.

A UBT

Nos primeiros meses de 1981 graças aos esforços de Clério José Borges, começaram a surgir representações da União Brasileira de Trovadores no Espírito Santo.

A primeira seção fundada foi a de Vitória, no dia 30 de março. Seu presidente, o advogado Carlos Dorsch, contando com a presença, em sua diretoria, dos trovadores: Eurídice de Oliveira Vidal, Elmo Elton, Clério José Borges, José Wiliam de Freitas Coutinho, Eymard Cardoso de Barros, Argemiro Seixas, Matusalém Dias de Moura, Luiz Carlos Braga Ribeiro, Albécio Nunes Vieira Machado, Fernando Buaiz e Vicente Nolasco Costa.

Essa representação da União Brasileira de Trovadores foi instalada em conseqüência do trabalho de proselitismo desenvolvido por Clério José Borges, desde os inícios de 1980, delegado municipal da UBT em Vitória.

A segunda seção da UBT, no Espírito Santo, surgiu em 25 de abril de 1981, na cidade de Vila Velha.

Ali, também, esteve presente o esforço de Clério José Borges, pois o delegado local da UBT, Andrade Sucupira, por urna questão do foro íntimo, é bastante descrente quanto a entidades trovadorescas.

A UBT de Vila Velha ficou sob a presidência da professora Valsema Rodrigues da Costa e as demais funções da diretoria distribuídas entre os seguintes trovadores: Erasmo Cabrini, Rosalva Fávero, Irene Ramos, Argentina Lopes Tristão, Vicente Costa Silveira, Solange Gracy Barcelos, Tânia Mara Soares, Verany Maria de Souza, Julieta Lobato Barbosa, Aldinei Fraga de Carvalho e Inis Brunelli.

Em Vitória, CIério José Borges manteve o boletim informativo ESTANDARTE, que continuou sendo editado sob a responsabilidade da seção ubeteana local, o mesmo acontecendo em Vila Velha, com Andrade Sucupira, que criou o CANELA-VERDE.

Mas não ficou apenas aí a penetração da UBT, que conquistou representações em Cariacica, com Nealdo Zaidan, em Serra, com Anselmo Gonçalves, e em Cachoeiro de Itapemirim, com Byron Tavares.

Além disso, foram surgindo delegacias da UBT em outras cidades.

Saliente-se que as seções da UBT, em Vitória e Vila Velha, seguindo os caminhos abertos polo CTC, já de início, realizaram concursos estudantis de trovas, sob os temas ALUNO e MÃE, respectivamente.

Eis aqui o resultado oficial do Concurso Infantil de Trovas, promovido pela UBT de Vitória:

1º lugar - CARLA CRISTINA JUFFO (13 anos):

Não ligo que o mundo rode
se minha MÃE ficar bem.
E penso como é que pode
gostar tanto assim de alguém.

2º lugar - SHEISE BARROSO (14 anos):

Quem é esta bela criatura
que Deus fez com perfeição?
Mãe, grande e linda figura
guardada em meu coração.

3º lugar- MANOEL S. DA ROCHA MONTEIRO (9 anos):

Quando te vejo, mãe amada,
Fazer tranqüila o crochet,
me lembro da "Mãe Sagrada”
que parece com você.

4º lugar - SONIA MARIA COSTA (I3 anos):

No céu escolhi uma estrela.
No jardim escolhi a flor.
No mundo escolhi uma mãe,
para ser meu grande amor.

5º lugar - ADRIANA R. DA COSTA (8 anos):

A minha mãe é mulher
e é mulher “maravilhosa”!
Dá mil voltinhas por dia
tentando ajudar suas filhas.

Menções honrosas, foram conferidas às seguintes trovas:

I - Uma criança veio ao mundo
porque uma Mãe assim o quis,
sendo surdo, sendo mudo
ficará sempre feliz!
MARISA HORTA (14 anos)

II - Mãe, palavra angelical,
Nos faz pensar em amor.
O amor que dá é total.
Vem direto do Senhor.
MARISA HORTA (14 anos)

III - Minha Mãezinha querida,
Te amo mais que outras mil.
Peço a Deus para abençoar
todas as mães do Brasil!
ADRIANA DA CONCEIÇÃO SANTOS (11anos)

IV - Mãe, teu nome pequenino
- amor, ternura, perdão.
Ele é um poema divino
escrito em meu coração.
FABÍOLA TRANCOSO CARVALHO (13 anos)

V - Para a mamãe, neste dia,
eu vou lhe dar uma flor,
a bela flor da alegria
e junto a rosa do amor!
ANA LIZA R. DA COSTA (11anos)

VI - Ser mãe é ser como a flor,
ser a flor mais colorida.
É a flor de um grande amor;
é o amor da minha vida!
ANDRÉ ANDERSON DE OLIVEIRA (11 anos)

VII - Minha mãe, minha alegria,
meu tesouro grandioso.
vou guardá-lo com carinho
porque é muito valioso.
ROSINETE ALVES MATIAS (16 anos)

VIII- Flores, mamã, pra você
é tudo que tenho em mim.
A culpa é sua porque
fez do minh`alma um jardim.
MARTA HELENA VANCONCELOS (11 anos).

IX - E quem respeita à menina
à futura mãe respeita.
Mãe é linda obra divida
a for mais bela e perfeita.
VIVIANE GARCIA (11 anos)

X - Ser mãe não é brincadeira,
não é somente viver.
É subir, descer ladeira,
é lutar pra não morrer!
MARILDA LIMA NASCIMENTO (12 anos)
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continua
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