sábado, 21 de novembro de 2020

Varal de Trovas n. 445

 


Olivaldo Júnior (No Meio do Caminho)


Quem não conhece o célebre poema "No meio do caminho", do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade? Aparentemente simples, o poeta elege uma grande dificuldade como pretexto para sua eterna recordação.

"No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho / tinha uma pedra / no meio do caminho tinha uma pedra."...

Desde o dia 3 de junho de 2015, temos mais um motivo para nos lembrarmos de Drummond e de suas "pedras" no meio do caminho, pois, a partir dessa data, de acordo com a Lei 13.131/2015, comemora-se oficialmente o Dia Nacional da Poesia no dia do aniversário do poeta, ou seja, em 31 de outubro. Halloween?! Dia das Bruxas?! Que nada! Na terra de Vera Cruz, sob a luz do Cruzeiro do Sul, cruamente brilhando, é dia de "ouvir estrelas" e dizer um poema.

Os primeiros poetas "brasileiros", com certeza, não foram brasileiros. Vieram nas caravelas portuguesas, "segurando vela" para esse casamento arranjado que foi o "descobrimento" do Brasil pela terrinha, o “nosso” Portugal. Assim, os primeiros habitantes lusitanos que tivemos foram, em sua maioria, degredados. E o que eram, são e serão os poetas senão os indesejados, os que não têm mais jeito e, de dentro do peito, acendem a chama do verso e versificam outro mundo em si mesmos? No céu da boca de um poeta há mais constelações que no cosmos. Acredite! Um poeta tem galáxias na manga e delas lança mão quando é preciso. Isso obriga o pobre a viver na lua, com os olhos para além, meio alheios, aluados, aludindo ao que, via de regra, não vale muito no tal mercado literário universal.

A poesia. O que seria o homem sem a faculdade da abstração, ou seja, de ver algo a mais no que ele enxerga? Porque a poesia é isso, quase um duplo do mundo, um "pó de pirlimpimpim" que tudo recobre, visível apenas por quem traz a "chave", a senha, o espírito para enxergar o que os poetas veem. Vem de onde a poesia? De um livro antigo, de uma velha lenda homérica, uma odisseia, escrita sabe-se lá por quantas mãos de quantos poetas? Ou dos versos em redondilhas que um caboclo, um caipira, aprendeu não lembra mais com quem e o ajudou a compor muitas modas de viola lá na roça? Não sei, mas a poesia está no ar. Num caderno de colégio, num bilhete apaixonado, numa lápide invulgar, numa velha camiseta, num eterno coração que, como todo coração, só é eterno enquanto dura. Olha, Vinicius!...

"Eu canto porque o instante existe / e a minha vida está completa. / Não sou alegre nem sou triste: / sou poeta.", assim nos disse a "poeta" Cecília, a Meireles. Sim, a poesia também está no jornal, como tão bem lembrava Bandeira em seu "Poema tirado de uma notícia de jornal". Conhece-o? Se não, vale a pena conhecê-lo. A poesia é uma forma de ser e de estar no mundo, esse mesmo mundo, tão infenso, tão adverso, tão inimigo à poesia. Se a rosa é do povo, a poesia é também. No diário de Anne Frank, nos livros da menina que os roubava, a poesia, sempre à espera de um pouco de ar, soluça (em silêncio) sua música.

Na cidade em que moro, Mogi Guaçu, São Paulo, há pessoas que escrevem poesia. Umas são mais conhecidas, outras menos, mas escrevem. Existe a Academia Guaçuana de Letras, a Casa do Escritor de Mogi Guaçu e a UBT (União Brasileira de Trovadores). Já estive muito junto das três. Senti de perto o que sentem. Hoje, na cidade em que nasci, Aguaí, São Paulo, está nascendo a Academia Aguaiana de Letras. Machado de Assis anda por lá, fiscalizando tudo, vendo o que está certo e o que pode ser melhorado, afinal, Machado é para isso. Eu, por minha vez, nos canteiros da vida, vivo um pouco por vez. Às vezes me canso e me volto para mim. Sou eu, na aquarela que crio, num trenzinho da infância, em poesia.

No Dia Nacional da Poesia, que Drummond desça à Terra e aterrisse na sala em que tantos não leem, não querem mais ler, sequer conversar. Poesia não é estática, muito pelo contrário, é cinética, em transe, e transita por todas as artes, cada uma das muitas musas.

No meio do caminho não tinha uma pedra. No meio do caminho tinha um poema.

Fonte:
Texto enviado pelo autor em 2017, pelo dia Nacional da Poesia (31 de Outubro)

Daniel Maurício (Poética) 9

 


Caldeirão Poético XXXVI

poemas infantis


Adélia Prado
Divinópolis/MG

ESPERANDO SARINHA

Sarah é uma linda menina ainda mal-acordada.
Suas pétalas mais sedosas estão ainda fechadas,
dormindo de bom dormir.
Quando Sarinha acordar,
vai pedir leite na xícara de porcelana pintada,
vai querer mel aos golinhos em colherinha de prata,
duas horas vai gastar fazendo trança e castelos.
Estou fazendo um vestido,
uma tarde linda e um chapéu,
pra passear com Sarinha,
quando Sarinha acordar.
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Cecília Meireles
Rio de Janeiro RJ, 1901-1964

AS MENINAS

Arabela
abria a janela.

Carolina
erguia a cortina.

E Maria
olhava e sorria:
“Bom dia!”

Arabela
foi sempre a mais bela.

Carolina,
a mais sábia menina.

E Maria
apenas sorria:
“Bom dia!”

Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;

uma que se chamava Arabela,
uma que se chamou Carolina.

Mas a profunda saudade
é Maria, Maria, Maria,

que dizia com voz de amizade:
“Bom dia!”
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Isabel Furini
Curitiba/PR

A LAGOSTA


A lagosta dançarina
está muito apaixonada
pelo lindo peixe-palhaço.

Ciumento o peixe espada
perseguiu o peixe-palhaço
e lhe acertou uma cabeçada.

O peixe-palhaço
foge muito assustado
Quando ele se aproxima
a lagosta lhe dá
um forte abraço.
 
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Mário Quintana
Alegrete/RS, 1906 – 1994, Porto Alegre/RS

CANÇÃO DA GAROA

Em cima do telhado
Pirulin lulin lulin,
Um anjo, todo molhado,
Soluça no seu flautim.

O relógio vai bater:
As molas rangem sem fim.
O retrato na parede
Fica olhando para mim.

E chove sem saber porquê
E tudo foi sempre assim!
Parece que vou sofrer:
Pirulin lulin lulin…
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Paulo Leminski
Curitiba/PR, 1944 – 1989

BEM NO FUNDO

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
****************************************

Pedro Bandeira
Santos/SP

POR ENQUANTO SOU PEQUENO


Por enquanto sou pequeno,
mas vou aprender a ler:
já sei ler palavra inteira,
leio pra cima, e pra baixo,
e plantando bananeira!  

Por enquanto sou pequeno,
uma coisa vou dizer,
com certeza e alegria:
sei que nunca vou esquecer
da beleza da poesia!
****************************************

Ruth Rocha
São Paulo/SP

PESSOAS SÃO DIFERENTES


São duas crianças lindas
Mas são muito diferentes!
Uma é toda desdentada,
A outra é cheia de dentes...

Uma anda descabelada,
A outra é cheia de pentes!
Uma delas usa óculos,
E a outra só usa lentes.

Uma gosta de gelados,
A outra gosta de quentes.
Uma tem cabelos longos,
A outra corta eles rentes.

Não queira que sejam iguais,
Aliás, nem mesmo tentes!
São duas crianças lindas,
Mas são muito diferentes!
****************************************

Sérgio Capparelli
Uberlândia/MG

A ÁRVORE QUE DAVA SORVETE


No Polo Norte
Tem árvore
Que dá sorvete.   

De morango
Para as filhas
do Calango.          

De chocolate
Para o cachorro
Do alfaiate.           

De groselha
para a Gata
Da Adélia

E de uva
Para a filha
Da Viúva.

No Polo Norte
Tem árvore
Que dá sorvete.   
Acredita?
****************************************

Vinicius de Moraes
Rio de Janeiro/RJ, 1913 – 1980

A CASA


Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque a casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero.

Ivan Lessa (Não Ande Nu por Aí)


Eles estão lá em cima tirando a roupa e fazendo graça. Se fosse o casal que mora no apartamento diretamente superior ao meu não me incomodaria em absoluto. Mas não: são os dois astronautas norte-americanos. Um deles espirrou no cosmos, da terra alguém no controle de comunicações exclamou: “Saúde!" Ou, mais possivelmente, “Gesundheit”! E comentou: “Acho que você contraiu o primeiro resfriado do espaço”! Não acho correto. Não que o camarada aqui em baixo tenha sido educado. Mas a leveza com que tratam o assunto todo. Sei lá: um homem no cosmos é um homem no cosmos. Está cercado, embora no imponderável, de gravidade por todos os lados. Ou deveria estar. Agora ficam os dois lá se rindo e se cutucando: “Êta, nós, hein?”, parecem dizer. Acho a coisa séria. Nada mais sério do que o espaço, nada mais sério do que estar no espaço. Eu ficaria inteiramente abobalhado e dificilmente daria uma informação coerente a alguma mesa de controle aqui da terra.

Também não chegaria ao extremo daquele russo que berrava: “Eu sou uma águia! Eu sou uma águia” dentro de toda aquela complicada roupagem espacial. Mas prenderia, tendo certeza, o espirro. E se tirasse a roupa, não avisaria o mundo inteiro: “Olha aí, eu vou tirar a roupa!”, numa espécie de exibicionismo cósmico, difícil de ser ultrapassado (as senhoras todas fechando as janelas e mandando as filhas para a cama: “Tem um homem nu lá em cima, meu anjo, vá se deitar!”). Mas se o presidente Johnson andou mostrando sua cicatriz a três por dois, como quem exibisse um peixe fabuloso recém fisgado, porque que o rapaz lá em cima não haveria de tirar a roupa?

Mais chocante ainda é o fato de dormirem sete saudáveis horas seguidas. Não é possível, deve haver alguma coisa de errado com eles. Se a gente não consegue dormir com uma lâmpada acesa na rua, como é que eles ferram no sono com a terra inteira brilhando (terra brilha?) na escotilha?

Deveriam manter um silêncio cósmico e quando se dirigissem à terra o fizessem com voz grave e apenas para repetir informações essenciais e de difícil compreensão para os leigos: “Alô, XK-102, Gemini-7 para a terra. Fase 3 encerrada. Iniciada fase 4”. Coisas assim.

Mas no domingo vai subir a segunda cápsula. No alto se encontrarão. Os americanos tinham que escolher o domingo. Dia de visita, sentar na varanda e pedir à mulher que prepare um jarro de limonada, bater papo. Só podia ser no domingo. E vão, de tardinha tenho a certeza, uma vez completada a missão, perguntar quem ganhou o jogo de baseball.

Posso estar errado, mas não confio no homem que vai ao cosmos como quem vai à esquina; no homem que no cosmos quer saber quem ganhou o jogo; que no cosmos não se esquece da terra e leva a terra com ele. Se há uma oportunidade de se começar de novo é lá em cima. Se um dia nossos filhos andarem pela lua não gostaria que, no mar de Copérnico, encontrassem uma goma de mascar usada, chapinha de refresco. Que encontrem apenas ‒ isso é importante ‒ um punhado inteiramente novo de terra.


Fonte:
Diário Carioca. RJ: 11 dez 1965.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Varal de Trovas n. 444



Carolina Ramos (Natal Feliz)


Ele terá um Natal feliz! Ah, sim! Custe o que custar, o meu moleque há de ter neste ano, um Natal igualzinho ao dos outros!" — Zé Pedro apertava as mãos com vigor, como a transmitir força à decisão. O olhar severo diluía-se em ternura ao pousar sobre o vulto tristonho da criança, que, através da vidraça (opaca de pó, olhava os companheiros de folguedos, a lhe ignorar o afastamento, mal iniciada a discussão dos projetos e preparativos natalinos. Aqueles tinham mãe. Tinham lar. Teriam Natal!

Mas, o seu Betinho, desta vez também teria um Natal! O primeiro Natal, e, talvez, o mais feliz de toda a sua vida!

Logo ao nascer, a morte roubara ao menino a doçura dos carinhos maternos. Crescera aos trambolhões. O pai a desvelar-se. Viril, no trabalho diurno. A noite, premido pelas circunstâncias, a bipartir-se, fazendo o impossível, para dar ao filho a flexível austeridade de um pai e a tépida ternura dos braços maternos. Dupla missão, visando a um fim comum: a felicidade do filho. Atrapalhava-se, sem dúvida. As crianças, por vezes, tornam-se um bocado difíceis de serem entendidas. Mormente, por alguém que no trabalho pesado se embrutecia, calcando ao fundo da alma um cortejo sem fim de ressentimentos, a desfilar tristemente entre as ruínas dos seus pobres sonhos. Sonhos! Que seria isso? Há tanto deixara de sonhar! Sonhos, são para aqueles que ainda pretendem vê-los realizados um dia. Ele nada esperava. Bem... nada, propriamente, não. Queria fazer do filho um homem de valor! Ah! Mas, isto não era um sonho. Era pré-realidade. Palpavelmente concreta? Faria do filho, um homem! Por todos os santos, que o faria! Haveria de estudar, de ser alguém. Nem que o pai não passasse, como até agora, de um sofrido burro de carga.

"Dr. Alberto Celso da Silva!" — "Bom dia, doutor." "Obrigado, doutor!" — Como soava bem! Parecia ver-lhe a placa reluzindo à entrada de uma casa moderna! Casa de gente. Não aquela espelunca!

Zé Pedro desceu à terra. Olhos úmidos, percebeu que andara sonhando. Passou a mão calosa pelo rosto rude, curtido de sol. O certo, é que seu filho teria um Natal feliz!

Olhava a casa modesta, em desalinho, clamando pelos desvelos femininos. Nem de longe, assemelhava-se a um lar! Só as mulheres, com seus filtros mágicos, conseguem dar vida e graça, às coisas sem vida e sem graça alguma! Tentaria repetir o milagre. Pediria até umas férias. Não, nem seria preciso tanto. Uma licença de uns poucos dias, bastaria.

E, assim, tudo começou: "— o encardido das paredes foi escondido por uma camada de cal azul turquesa, talvez um pouco escura demais, mas, sempre azul! " A cor que sua finada Maria tanto apreciava. Casa limpa, tudo pareceu mais fácil. As vidraças, agora transparentes, permitiam que o sol jogasse confetes dourados nas tábuas foscas do assoalho. Zé Pedro exultava! O entusiasmo era tão grande, que o mulherio da vizinhança, sempre pronto ao zelo pelo garoto, em horas de expediente do pai, sentiu uma vez mais o problema, e, uma vez mais, cooperou. A velha Joana, até mesmo a velha Joana, mais dada às críticas e queixas, chegou a enviar-lhe um ramalhete de flores, fresquinhas, colhidas num jardim doméstico, igualzinho àquele que sua Maria esboçara, alguns meses antes que a condição de futura mãe lhe impedisse tais excessos. Maria! Tépida onda de saudade banhou-lhe o corpo, quase a saltar-lhe pelas janelas do olhar. Onze meses de ternura conjugal! E que onze meses felizes! Por que será que a felicidade acaba tão depressa?! Em troca, o infortúnio custa tanto a ir-se! — Uma leve, leve... qualquer ventinho a dissipa; o outro, pesado... pesado demais! Por isso mesmo, talvez nem todo um tufão de boa vontade consegue remove–lo de cima da gente. Ora, Senhor!, lá estava ele, caminhando com os pés virados para atrás, mergulhado no passado! E o presente, combalido, a exigir tantos cuidados!

Quase de mau humor, tentou ajeitar, numa velha leiteira, as flores recebidas. Já rachada, a vasilha partiu-se. A água espalhada por sobre a mesa tosca, arrefeceu o ânimo do homem. Roubou-lhe também um pouco mais do humor.

Fazia falta uma mulher em casa. Por todos os demônios, que fazia! Seis anos de viuvez! Por que não se casava outra vez? — Pergunta que lhe faziam amiúde e que, a si mesmo, repetia com frequência, principalmente, quando certos olhos castanhos ganhavam maior brilho, mal o viam passar. Mas, isso não! Jamais daria madrasta ao filho! A vida, roubando ao seu pequeno o carinho materno, já fora madrasta, e das piores! Não viesse a outra completar-lhe a obra. Tudo se arranjaria, aos poucos, com a graça de Deus.

— "Casa sem flores, pode ser casa, nunca um lar." dissera-lhe, certa vez, a companheira, quando, ao vê-la colocar à mesa, entre os pratos, um vaso cheio de flores, pilheriara: — "Vamos comê-las com sal, ou com açúcar?" Em resposta, haviam rido juntos. A esse tempo, já era possível sentir a presença irrequieta do filho, por sob a bata franzida, da mãe.

Ah! Maria, Maria... sempre Maria!

Zé Pedro enfiou as flores da velha Joana num bule de café. À volta do trabalho, trazia um vaso debaixo do braço. Seu filho teria um Natal feliz! Faltava ainda tanta coisa! E a verba andava curta! Quanto, para que uma casa se transformasse num lar!

O Natal batia à porta. Poderia vender algo. Aquele relógio que lhe dera Maria. Guardava-o com tanto carinho!... Quebrado mesmo, já o farmacêutico lhe oferecera por ele um bom cobre. Era um caso a estudar. Não tinha tempo para estudos. Acariciou o relógio uma última vez... reservava-o para o filho. Bobagens! Até que fosse gente para poder usá-lo, dar-lhe-ia outro melhor e mais bonito. E Maria? — não ficaria, acaso, magoada, se lá de cima visse tudo? Ora, claro que não! As mães compreendem tudo! E tudo não era para que o filho tivesse um Natal feliz?

O relógio ganhou novo dono. O menino, roupa nova. Terninho azul, como tanto desejara. Azul! Sempre o azul presente. Seria azul a cor dos sonhos? Se assim fosse, não seria de estranhar que, uma vez realizados, conservassem algo a lhes lembrar a primitiva cor. Santo Deus, por que pensava em tais tolices?! Aquele Natal lhe estava deixando miolo mole e coração, também. Devaneios de poeta! Olhou-se no espelho que pendia torto da parede. Endireitou-o. — "Toma jeito, Zé Pedro!" murmurou, mastigando um sorriso.

E vieram as frutas secas! Importadas! As amêndoas, as nozes e as avelãs. Um bocadinho de cada. E os bolsos ficando leves! As passas, os figos. Mania de copiar os outros! Por que não festejarmos o nosso Natal à brasileira, com as nossas próprias castanhas, os nossos pinhões, os nossos tão gostosos amendoins? Não são por acaso, frutos secos? E as peras d'água, as laranjas, os abacaxis de coroa na cabeça, e as uvas deliciosas, nossas, tão nossas?! Qual! — o mundo é assim mesmo! Quem sabe lá, se nas mesas europeias mais aristocratas, não haveria uma banana dourada, pintadinha, envolta em papel de seda, à espera de ser parcimoniosamente servida em fatias?

E veio a árvore de Natal. Pequenina, galhos rijos de arame recoberto de crepon verde. Maria não gostava de nada artificial. Maria tinha gosto! Tivesse paciência desta vez. Artificial, o pinheiro era mais econômico, não requeria tantos cuidados, servindo para o próximo ano, ou mesmo, para muitos mais.

Pai e filho: duas crianças iluminadas pelo ingênuo prazer de engalanar a primeira árvore de natal! Qual a mais feliz?

— "E a estrela, pai?"

— "Bolas! — tantas bolas comprara, e esquecera da estrela! A arvorezinha enfeitada, parecia pequenina, ricamente vestida... e lhe esquecera a coroa!"

"Sabe, pai, se eu pudesse ia roubar aquela estrela bonita que brilha lá em cima, no céu!"

Zé Pedro desgostou-se. Que fascinação tinha o filho por esse verbo maldito! Roubar! A própria palavra causava-lhe irritação! Era pobre, mas, honesto. Tivera ao alcance oportunidades sem conta de melhorar de condição. Jamais manchara o nome, que, aliás, já nem considerava seu, mas, do filho. E o seu pequeno... sim, o seu pequeno, com que facilidade lançava mão do alheio! Não havia sido uma, nem duas vezes! Ontem, uma bola furada, sem aparente utilidade. Hoje um velho bodoque e quiçá uma estrela, caso a tivesse ao alcance. E amanhã?... Oh! Deus de misericórdia! — como podia gerar tão monstruosos pensamentos, comprometendo o futuro do futuro Dr. Alberto Celso da Silva?! O tempo, os conselhos e, principalmente, o exemplo paterno, se encarregariam de solver o problema. Coisas de criança! De uma criança que já entrara no mundo baseada em seu maior tesouro!

— "Amanhã, sem falta, terás a tua estrela".

— "E o presépio?"

— Estrilou. “Já estás querendo demasiado, não?" "Insaciáveis as crianças! Mais têm, mais querem!

- "No próximo ano, teremos um presépio bem bonito! Com pastores, carneiros e a Virgem Maria ninando um Menino de cabelos encaracolados. Iguaizinhos aos teus!"

— "E anjos, também?"

— "Anjos também. Muitos anjos!"

E o Natal chegou. Cheio de luzes! Bimbalhando sinos e sugerindo Paz e Amor.

Zé Pedro chegava da rua. Braços pesados, sobrecarregados com os últimos pacotes. A alma leve, leve! Vinha com ele a desejada estrela. A mais bela que encontrara!

Viu gente à porta. Muita gente! Não estranhou. Betinho estaria exibindo o seu lar. Os seus presentes. Andava prosa, ultimamente! Lá chegava a Joana com nova braçada de flores. E não tinham outro vaso!

Contudo, ao chegar, Zé Pedro, em vez da esperada alegria, captou tristeza e dor em cada olhar. Ninguém falava! Abriu caminho até o quarto, já pressentindo algo de funesto. Lá estava ele estendido na cama. Parecia dormir! Muito limpinho, estreando seu terno azul, um quase sorriso nos lábios sem cor.

"Foi um carro..." gaguejou alguém.

"Ele atravessava a rua correndo... ia contar ao filho do farmacêutico, que o seu Natal ia ser bonito... o mais bonito de todos!"

As lágrimas brotavam devagarinho dos olhos cansados de Zé Pedro. Pingos grossos e quentes, caiam mansamente sobre o corpo inerte do menino.

Seu filho... sim, sabia, seu filho fora roubar uma estrela do Senhor! Lá por cima, encontrara a mãe! Maria, por certo, não o deixara voltar. As mães são assim mesmo... Egoístas como ninguém! — quando conseguem prender os filhos nos braços, se pudessem, não os largariam nunca mais!

O caso é que seu filho agora tinha mãe! Tinha um lar! - um lar belo e azul! Muito mais belo, muito mais azul, do que aquele que lhe pretendera dar!

Ah! e tinha também, ao seu alcance, anjos para brincar e não apenas uma, porém, milhares e milhares de estrelas, sem precisar nunca pensar em roubá-las!

Não... não se enganara! Seu filho teria um Natal feliz! Feliz como jamais tivera! — bem mais do que ele ele próprio lhe poderia dar!

Fonte:
Carolina Ramos. Feliz Natal: contos natalinos. São Paulo/SP: EditorAção, 2015.
Livro enviado pela autora.

Gislaine Canales (Glosas Diversas) XXII

 
O SOL ADORMECE NA TARDE

MOTE:
No instante em que o sol se enfada
de tanto aquecer a terra
deita a cabeça dourada
no travesseiro da serra.
José Lucas de Barros
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN


GLOSA:
No instante em que o sol se enfada,
se cansa... quer descansar,
na tarde, em luzes bordada,
guarda os pincéis, do pintar!

Mais frágil vai se tornando,
de tanto aquecer a terra
e a noite, que vem chegando,
uma grande paz descerra!

Nessa tarde matizada,
o sol, em brilhos sutis,
deita a cabeça dourada
e adormece, assim, feliz!

Surgem novos horizontes
e um novo sonho ele encerra,
dormindo, por trás dos montes,
no travesseiro da serra!
****************************************

ENQUANTO HOUVER...

MOTE:
Enquanto houver um luar
e um sol, cheio de esplendor,
há de se ouvir o cantar
da lira de um trovador.

Lisete Johnson
Butiá/RS, 1950 – 2020, Porto Alegre/RS


GLOSA:
Enquanto houver um luar
aclarando a nossa vida,
podemos acreditar
na esperança renascida!

Tendo uma lua prateada,
e um sol, cheio de esplendor,
colheremos pela estrada,
noite e dia, muito amor!

Com os sonhos a embalar,
matizados de emoção,
há de se ouvir o cantar
das vozes do coração!

Enfeitará os universos
com ternura multicor,
a serenata de versos
da lira de um trovador.
****************************************

A SAUDADE NÃO GOSTA...

MOTE:
Desconfio que a saudade
não gosta de ti, meu bem:
Quando tu vens, ela vai...
Quando tu vais, ela vem!

Luiz Otávio
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1977, Santos/SP


GLOSA:
Desconfio que a saudade
de ti, sempre está fugindo,
pois se vais chegar de tarde,
de manhã ela já vai indo!

Não é tua companheira,
não gosta de ti, meu bem,
pois se esconde sorrateira,
ninguém a encontra! Ninguém!

Silenciosamente sai,
essa saudade danada!
Quando tu vens, ela vai...
Contigo ela não quer nada!

Eu acho até, vou dizer,
que ela me ama, também,
sempre, comigo, a viver...
Quando tu vais, ela vem!
****************************************

SAUDADE... SAUDADE...

MOTE:
Saudade, se tu soubesses
o quanto te quero bem,
ias querer-se pudesses –
sentir saudade também!

Maria Madalena Ferreira
Magé/RJ


GLOSA:
Saudade, se tu soubesses
como é bom sentir saudade,
talvez o encontro, tivesses,
com Dona Felicidade!

Saudade, não imaginas
o quanto te quero bem,
e como são cristalinas
as lembranças que se têm!

Se pudesses – com certeza,
ias querer – se pudesses –
desfrutar dessa beleza
com todas suas benesses!

Vem, saudade, vem provar
do gostoso vai-e-vem;
vem, que hoje,eu vou te ensinar,
sentir saudade também!
****************************************

A TROVA

MOTE:
A trova emite um conceito,
com tal engenho e primor,
que deixa o autor satisfeito,
e muito mais o leitor.

Miguel Russowsky
Santa Maria/RS ,1923 – 2009, Joaçaba/SC

GLOSA:
A trova emite um conceito,
e uma mensagem bonita,
que cativa com seu jeito...
Nada no mundo a limita!

Com roupagem sempre nova,
com tal engenho e primor,
ao nascer mais uma trova,
nasce sempre um novo amor!

É um amor que estoura o peito
trazendo paz e alegria,
que deixa o autor satisfeito,
ao ver a sua poesia!

A trova é semente pura
agradando o seu feitor,
enobrecendo a cultura
e muito mais o leitor.

Fonte:
Gislaine Canales. Glosas. Glosas Virtuais de Trovas XIX. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. 2004.

Rachel de Queiroz (O Amigo do Homem)


O nosso correligionário vinha vindo pelo saguão do aeroporto com um grande sorriso lhe clareando o rosto magro e, mal deu bom dia, foi logo dizendo:

― Felizmente chegou o 15 de março, que alívio!

Era de estranhar a exclamação, porque como nós, “golpista histórico”, o homem atravessara os três anos revolucionários como castellista irredutível. Será que agora ia na onda do tempo das falas novas?

― Sim, que alívio! ― Dois amigos mais tinham chegado, formara-se um pequeno círculo em torno do correligionário, que agora explicava:

― Eh, não me olhem assim de lado, que eu não estou renegando nada. Pelo contrário, nunca fui mais amigo do homem do que sou hoje. (A roda respirou, aliviada.) Estivesse em mim, andava com uma banda de música atrás dele, tocando o Hino Nacional. Não, meu alívio é outro. O que eu comemoro é o fim da minha função oficiosa de amigo particular do presidente. Vocês sabem lá o que é isso! Não se dá um passo, não se vê uma cara, ninguém fala com a gente pela gente mesmo...

― É mesmo, os pedidos de emprego são terríveis ― comentou alguém.

― Bem, os pedidos de empregos e vantagens são um capítulo à parte. Eles confundem amigo com valido; e acham que pelo fato de você poder de vez em quando falar cordialmente com o homem, isso lhe dá condições de a toda hora estar importunando, pedindo coisas ― promoções, remoções, empregos, pensões. E para se explicar que nada nos autoriza a fazer os pedidos, e nada garante que ele faça o que se pede, é um drama. Mas, esses que pedem, ao menos tentam satisfazer um direito, ou curar uma necessidade; ainda não são os piores. Os danados são os conselheiros, os entendidos, os assessores espontâneos... internacionalistas amadores, militares amadores, economistas amadores.... Mal você vai botando um salgadinho na boca, num coquetel, eles lhe puxam para um canto e começam: “Escute aí, assim não é possível! Diga ao seu amigo que essa alteração nas letras de câmbio é um absurdo! A medida só se justificava se a taxa do dólar em relação ao cruzeiro etc, etc.” Ou então: “Meu caro, numa das suas conversas com o presidente, você precisa fazer uma advertência muito séria a ele. Esse caso no Ministério do Trabalho foi realmente clamoroso...

E os especialistas em política internacional? “Olhe, meu velho, dê um conselho a esse homem: a nossa posição nessa questão do Vietnã foi uma vergonha... E do Paraguai, então! O presidente não pode deixar o Itamarati seguir esse caminho!” Há os que têm um plano rodoviário pronto, inteiramente oposto a “essa besteira que o presidente está deixando o Juarez fazer...” E os que são contra a erradicação dos cafezais e querem que você explique direitinho ao homem o crime que se está cometendo contra o nosso principal produto; e há o que lhe entrega um memorial de cem páginas “para o homem ler”, onde se prega a total diversificação da lavoura. E depois ficam cobrando: “Você entregou? Que é que ele disse?” E a verdade é que, naturalmente, o homem nunca me pediu conselhos para governar...

― Deve ser chato.

― Ah, mas ainda tem piores. E os provocadores? Esses, justamente porque sabem que você é amigo do homem, mal lhe avistam, entram logo na ignorância. Pode até ser uma pessoa bem-educada — mas em matéria de política ninguém tem educação. “Ah, meu caro, esse tal de seu amigo é mesmo de arder!” E sentam a ripa. Normalmente, jamais ocorreria àquele camarada insultar um amigo nosso, mas quando esse amigo é o presidente, até fica bem, é sinal de independência de caráter... E os que sabem de fonte limpa as piores falcatruas, a que o homem, se não participou, pelo menos fechou os olhos? E os que querem que a gente vá denunciar fabulosas negociatas; e os dedos-duros que exigem que a gente desmascare certos corruptos e subversivos, enquanto eles se mantêm corajosamente anônimos: “Eu lhe digo isso em particular, para você abrir os olhos do homem, mas por favor não cite o meu nome...

Nesse instante aproximou-se da roda uma senhora gorda, comboiando uma moça magra, e se dirigiu ao nosso correligionário:

― Dr., esta minha nora tem um assunto muito sério para tratar. E como sei que o senhor é muito chegado ao governo, amigo do presidente...

O correligionário ficou inteiramente histérico:

― Fui, minha senhora, fui! Isto, sou amigo do presidente que foi! Esse agora só conheço de retrato ― e nem de retrato direito, só retrato impresso, retrato de jornal! Com esse eu nunca falei, graças a Deus!

Fonte:
O Cruzeiro. RJ: 22 abr 1967.

Estante de Livros (A Loja de Antiguidades, de Charles Dickens)


A Loja de Antiguidades (The Old Curiosity Shop) é um romance de Charles Dickens. O enredo centra-se na vida de Nell Trent e do seu avô, ambos residentes na Old Curiosity Shop em Londres.

Foi um dos dois romances (o outro é Barnaby Rudge) que Charles Dickens publicou, em conjunto com outros pequenos contos, no Master Humphrey's Clock, um periódico semanal que foi publicado entre 1840 e 1841. A história foi tão popular que os leitores de Nova Iorque invadiram o cais quando o navio com a última publicação chegou à América em 1841.

O romance foi publicado em formato de livro em 1841. Existe em Londres uma loja chamada The Old Curiosity Shop. Fica nos números 13-14 na Portsmouth Street em Westminster e acredita-se que tenha sido a inspiração para o romance. O edifício é do século XVI e o nome da loja foi mudado depois da publicação do livro de Charles Dickens.

A história concentra-se na personagem de Nell Trent, uma menina com quase catorze anos. Ela é orfã e vive com o seu avô materno (cujo nome nunca é revelado) na sua loja de quinquilharias. O seu avô gosta muito dela e Nell não se queixa, mas ela tem uma vida muito solitária e quase não tem amigos da sua idade. O seu único amigo é Kit, um rapaz honesto que é empregado da loja e a quem Nell está a ensinar a escrever. O avô de Nell vive secretamente obcecado com a ideia de garantir que ela não morra na pobreza, como aconteceu com os seus pais, pelo que tenta dar-lhe uma boa herança através do jogo. Ele guarda o segredo dos seus jogos noturnos, mas contrai empréstimos bastante vultuosos de Daniel Quilp, um agiota corcunda e anão malicioso, com deformações grotescas. O avô de Nell acaba por perder o pouco dinheiro que tem no jogo e Quilp aproveita para se apoderar da loja e expulsar Nell e o seu avô de lá. O avô acaba por sofrer um esgotamento e fica louco, isto faz com que Nell o leve para as Midlands de Inglaterra onde se tornam pedintes.

Convencido de que o avô de Nell tem uma grande fortuna escondida, Frederick, o irmão vagabundo dela, convence Dick Swiveller, um rapaz amável, mas muito influenciável, a procurar Nell para que Swiveller se possa casar com ela e, assim, partilharem a riqueza entre eles. Para tal, eles juntam-se a Quilp, que sabe que não existe qualquer fortuna, mas decide ajudá-los de forma sádica para aproveitar a tristeza que irá causar a todos os envolvidos. Quilp começa a tentar encontrar Nell, mas os fugitivos não são fáceis de encontrar. Para manter Dick Swiveller sob a sua vigia, Quilp arranja uma forma de o empregar como escriturário do seu advogado, Mr. Brass.

Na firma de Brassm Dick trava amizade com uma empregada mal tratada e dá-lhe a alcunha de "a Marquesa". Nell, depois de conhecer várias pessoas, algumas que a tratam mal e outras amáveis, consegue finalmente arranjar um abrigo seguro para o seu avô numa vila isolada (identificada por Dickens como Tong, Shropshire), mas isto tem um custo na saúde dela. Entretanto, Kit, uma vez que perdeu o seu emprego na loja de antiguidades, encontra um novo trabalho com os simpáticos Mr. e Mrs. Garland. Aqui, um misterioso cavalheiro entra em contacto com ele para saber de notícias de Nell e do seu avô. O cavalheiro e a mãe de Kit procuram-nos sem sucesso e encontram Quilp que também procura os fugitivos. Quilp ganha rancor a Kit e faz com que ele seja preso por roubo. Kit é condenado a desterro. Porém, Dick Swiveller prova a inocência de Kit com a ajuda da sua amiga "Marquesa". Quilp é perseguido e morre enquanto tenta escapar.

Ao mesmo tempo, uma coincidência leva o Mr. Garland a descobrir o paradeiro de Nell e ele, Kit e o cavalheito (que se descobre ser o irmão mais novo do avô de Nell) vão procurá-la. Infelizmente, quando eles chegam, Nell está morta devido à sua difícil viagem. O seu avô, já mentalmente instável, recusa-se a aceitar que ela está morta e senta-se todos os dias na sua campa à espera que ela volte até que, alguns meses mais tarde, também ele acaba por morrer .

Os acontecimentos do livro devem ter lugar por volta do ano 1825.

No Capítulo 29, Miss Monflathers fala da morte de Lord Byron, que faleceu a 19 de abril de 1824. Quando um inquérito conclui (incorretamente) que Quilp cometeu suicídio, ordena-se que o seu corpo deverá ser enterrado numa encruzilhada com uma estaca no seu coração, uma prática que foi banida em 1826. Após sofrer um esgotamento, o avô de Nell teme que o enviem para um manicômio e que aí seja acorrentado a uma parede e açoitado; estas práticas foram abandonadas depois de 1830.

No capítulo 13, diz-se que Mr. Bass, o advogado, é um dos advogados da rainha, o que o coloca no reinado da rainha Vitória, que teve início em 1837. Porém, tendo em conta as provas restantes e o fato de se considerar no seu julgamento que Kit "agiu contra a paz do nosso Soberano, o Rei" (uma referência a Jorge IV), este pode ter sido um erro.

O Master Humphrey's Clock era um periódico semanal que continha pequenos contos e dois romances (A Loja de Antiguidades e Barnaby Rudge). Alguns dos contos servem de histórias complementares aos romances. Originalmente, o conceito da história era o de que esta era lida em voz alta pelo mestre Humphrey a um grupo de amigos que se juntava na sua casa à volta do relógio do avô, onde Humphrey guardava os seus manuscritos.

Como consequência, quando o romance começa, este é contado na primeira pessoa, sendo o mestre Humphrey o narrador. Porém, Dickens mudou de ideia em relação a qual seria a melhor forma de mudar a história pouco depois de esta começar a ser publicada e abandonou a narração na primeira pessoa depois do terceiro capítulo. Quando o romance terminou, foi acrescentada uma cena de conclusão no Master Humphrey's Clock. Nesta cena, os amigos do mestre Humphrey queixam-se (depois de este acabar de o ler) que nunca é dado um nome ao "cavalheiro" . O mestre Humphrey diz-lhes que a história do romance era verídica e que o "cavalheiro" era ele e ainda que os acontecimentos dos primeiros três capítulos eram fictícios e serviram apenas para apresentar as personagens.

Esta foi a explicação de Dickens para justificar o porquê de o narrador ter desaparecido e porque, visto que era parente das personagens principais do livro, nunca deu qualquer indicação de as conhecer. É uma técnica desajeitada e pelo menos um editor achou que esta explicação não devia ser levada a sério.

Personagens


Nell Trent. É a personagem principal do romance. Descrita como infalivelmente boa e angélica, ela conduz o seu avô na viagem que os dois fazem para se salvarem da miséria. Ela vai ficando cada vez mais fraca ao longo do romance e, ainda que encontre uma casa com a ajuda do mestre-escola, ela não recupera e morre antes de os seus amigos de Londres a encontrarem.

Avô de Nell. É o guardião de Nell. Depois de perder a mulher e a filha, ele vê Nell como a reencarnação dos seus espíritos bons. O seu neto, Fred, é visto como o sucessor do seu genro, que ele não via como merecedor da sua filha. Assim, ele não lhe mostra qualquer afeto. Ele fica paranoico em relação à ideia de cair na pobreza e joga para tentar que isso não aconteça. Quando fica sem dinheiro, ele recorre a Quilp para fazer empréstimos e tentar garantir que Nell tenha a vida que ele acha que ela merece. Quando acha que Kit revelou o seu vício secreto a Nell, ele fica doente e fica mentalmente instável como consequência. Depois disto, Nell protege-o, tal como ele a tinha protegido a ela. Apesar de saber que Nell morreu, ele recusa aceitar esse facto e não reconhece o seu irmão que tinha protegido na infância. Ele morre pouco depois de Nell e é enterrado ao seu lado.

Christopher 'Kit' Nubbles. O amigo de Nell e empregado na loja. Ele protege Nell quando ela fica na loja sozinha à noite (apesar de ela não saber que ele está lá, e nunca vai para casa até se certificar que ela está segura na sua), Quando Quilp ocupa a loja, ele oferece a Nell a oportunidade de ficar na sua casa. A mãe dele está preocupada com a ligação do filho a Nell e, a certo ponto, brinca com a situação e diz: "algumas pessoas diriam que te apaixonaste por ela", o que faz com que Kip fique envergonhado e tente mudar o assunto. Mais tarde, é lhe oferecido um emprego na casa dos Garland e ele torna-se num elemento importante desta casa. A sua dedicação à sua família faz com que ele conquiste o respeito de muitas personagens e o ressentimento de Quilp. Ele é acusado de roubo, mas acaba por ser libertado e acaba por se juntar ao grupo que procura Nell.

Daniel Quilp. É o vilão principal do romance. Ele trata mal a sua mulher , Betsy, e manipula os outros para conseguir o que quer através do charme falso que foi desenvolvendo ao longo da sua vida. Ele empresta dinheiro ao avô de Nell e apodera-se da loja de antiguidades enquanto o idoso está doente (que ele tinha causado ao revelar que tinha conhecimento do seu vício no jogo). Ele usa o sarcasmo para apequenar quem o quer controlar, principalmente a sua mulher , e sente prazer ao ver os outros sofrerem. Ele ouve conversas alheias para saber todos os pensamentos do "velho" e importuna-o quando diz: "já não tens mais segredos para mim". Ele também cria um conflito entre Kit e o idoso (e consequentemente entre Kit e Nell) ao fingir que foi Kit quem lhe falou do vício no jogo.

Richard 'Dick' Swiveller. É o amigo manipulado de Frederick Trent, escriturário de Sampson Brass e o guardião da Marquesa, acabando depois por se casar com ela. Ele adora citar e adaptar trabalhos literários para descrever as situações por que passa. Ele é muito descontraído e parece não se preocupar com nada, apesar do facto de dever dinheiro a praticamente toda a gente. Quando Fred desaparece da história, ele torna-se mais independente e acaba por ser visto como uma boa pessoa, acabando mesmo por garantir a libertação de Kit da prisão e o futuro da Marquesa.

Cavalheiro. Não é dado um nome a esta personagem. Ele é o irmão mais novo do avô de Nell e lidera a procura dos viajantes depois de ficar alojado na Sampson Brass e de travar amizade com Dick, Kit e os Garlands.

COMENTÁRIOS

A crítica a Dickens que provavelmente se repete mais pode resumir-se numa frase supostamente proferida por Oscar Wilde: "Era preciso ter um coração de pedra para ler a morte da pequena Nell sem derramar algumas lágrimas...de riso".

Daniel O'Connel, um político irlandês, teve um episódio famoso no qual ficou em lágrimas com o final do livro e, em seguida, atirou o mesmo pela janela do comboio onde viajava.

O entusiasmo à volta da conclusão da série não teve precedentes. Segundo relatos, os fãs de Dickens invadiram os portos de Nova Iorque e gritavam aos marinheiros que chegavam (que já podiam ter lido a última publicação no Reino Unido): "A Pequena Nell está viva?".

Em 2007, muitos jornais afirmaram que o entusiasmo relativo ao lançamento do último volume de The Old Curiosity Shop era o único equivalente histórico do entusiasmo sentido quando foi lançado o último livro da série Harry Potter.

A autora norueguesa Ingeborg Refling Hagen disse que pediu uma cópia emprestada de The Old Curiosity Shop na sua juventude e afirmou que ninguém merecia ler sobre Nell porque nunca ninguém poderá compreender a sua dor. Ela chegou mesmo a comparar-se a Nell devido às suas próprias circunstâncias miseráveis.

Houve várias adaptações deste romance ao cinema mudo, incluindo duas realizadas por Thomas Bentley:
The Old Curiosity Shop (1914)
The Old Curiosity Shop (1921)

O primeiro filme sonoro baseado nesta obra foi feito em 1934 e contava com Hay Petrie no papel de Quilp.

A BBC transmitiu uma série baseada no romance em 1960.

Em 1975 houve um filme formato de musical intitulado Mr. Quilp in the United States. Os produtores queriam aproveitar o sucesso do musical Oliver!, também baseado no romance homônimo de Charles Dickens, mas o filme acabou por ser um fracasso.

Em 1979, foi transmitida uma série de 9 episódios na BBC. Esta versão foi lançada mais tarde em DVD. A personagem de Frederick não aparece nesta série e a história acaba com o avô a chorar na campa de Nell.

Em 1990 foi feita uma versão do romance para rádio, transmitida na BBC Radio 4. Esta versão foi narrada por Alex Jennings e conta com Emily Chenery (Nell), Phill Daniels (Quilp), Daniel Bliss (Kit), Trevor Peacock (Avô), Clive Swift, Anna Massey e Julia McKenzie no elenco.

Em 1998 a BBC Radio 4 produziu mais uma versão deste romance. Tom Courtnay (Quilp), Denis Quilley, Michael Maloney e Teresa Gallagher fazem parte do elenco.

Em 1995, Tom Courtnay e Peter Ustinov protagonizaram um telefilme da Disney. Estes atores faziam o papel de Quilp e de Avô respetivamente e Sally Walsh o papel de Nell.

A 26 de dezembro de 2007, a ITV transmitiu um telefilme baseado no romance.

Fonte
Wikipedia

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Varal de Trovas n. 443

 


Aparecido Raimundo de Souza (Coriscando) 5: Aula Prática de Português


A Emília avista  o professor Bebeto da licenciatura de Português no corredor, a caminho do refeitório.  Lindamente bonita e extrovertida, acondicionada numa sainha muito curta e acima dos joelhos, recém chegada na casa dos dezoito, dá um jeito de despistar  as colegas e puxar conversa, despachando as chatas  e se colocando ao lado do professor.

O mestre Bebeto, como é conhecido por todos seus alunos, esperto, macaco velho na cadeira que mantém há anos, e sobretudo, sabendo das intenções da jovem, procura tirar por menos   levando tudo o que ela fala, na brincadeira. Por assim, as conversações da moça entram por um ouvido e saem pelo outro.

Toda vez que  o encontra, Emília dá um jeito de atacar, indo direito ao ponto, não se importando com o que seus amigos de sala ou mesmo os demais restantes da escola venham a pensar ou a fofocar depois. Aliás, o estabelecimento de ensino  em peso (da galera da cantina às faxineiras), sabem que ela se joga leve e solta, para o charmosíssimo  e muy encantador  amado mestre tentando entabular, com ele, um romance, custe o que custar:

- Bom dia, meu amado professor. Estava com saudades. Desde ontem não o vejo.  Sei que o senhor é duro na queda, mas procuro levar em conta aquela velha frase que ensina: ‘água dura em pedra mole, tanto bate até que sai molhada’.

O professor Bebeto sorri um sorriso encantador e envolvente e trata de dar um fora na musa, sem ferir seus brios:

- Emília, a frase está errada. ‘Agua mole, em pedra dura, tanto bate até que fura’.

Emília bate palmas e em seguida devolve a resposta do professor, se abrindo numa magia divinal e mais aconchegante ainda:

- Estou gostando de ver, meu très charmant (formosíssimo) e amado mestre. Está prestando mais atenção ao que digo.

- Nada disso: só estou lhe corrigindo o erro da oração como foi posta e mostrando como se pronuncia  o enunciado corretamente.

Ela não quer saber do papo furado. Enlaça o professor  pelo braço e segue atentando o seu lado homem, objetivando acertar uma flechada naquele lugarzinho secreto que ele não deixa brecha para que ninguém ultrapasse os limites. Encostada a seu ouvido, a deusa sussurra numa vozinha doce e gostosa de ouvir:

- Vou prender o senhor com meu laço. Saiba, meu príncipe encantado, que até hoje ninguém... Eu disse ninguém escapou nem resistiu ao meu charme.

O professor Bebeto, seguro de si e sem deixar de lado o seu melhor sorriso (exatamente aquele que cativou a Emília, desde a primeira vez em que o viu), rebateu, de pronto:

- Asseguro que a senhorita não conseguirá, ainda que leve em consideração todas as hipóteses que poderiam acontecer entre um homem e uma mulher...  Ah, quase me esquecia do mais importante. Leve em acolhimento que pelo fato de ter sido a única da sua sala a ganhar nota máxima na redação, sempre haverá um enorme distanciamento entre nós.

- E por que o meu amado mestre acha que eu não terei sucesso em meu empreendimento? Lembra, meu gato: a carne é fraca. Sei que  o senhor está doido para me levar para uma aventura esplendorosa, inimitável, inesquecível. E ela acontecerá mais rápido que o senhor pensa...

- Isto jamais se tornará real e palpável.

- Qual o quê! Logo o senhor estará preso em meu laço.  

- Emília, desde que entrei para esta escola... Há exatos dez anos atrás, eu me tornei um sujeito lasso.  

Com estas palavras, o professor Bebeto se desvencilhou carinhosamente  da esfuziante e tentadora aluna e entrou correndo na sala dos professores.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Prof. Garcia (Pantuns) II


PANTUN DA OGIVA DO AMOR

Trova tema:
Lanço a bomba do meu sonho,
ogiva de paz e amor,
e o cogumelo medonho
ganha formato de flor.
(Cézar Defilippo – MG)


Ogiva de paz e amor
se eu lanço aos céus, todo dia,
ganha formato de flor
entre ogivas de poesia.

Se eu lanço aos céus, todo dia,
conselhos bons aos perversos,
entre ogivas de poesia
eu mostro a paz nos meus versos.

Conselhos bons aos perversos,
não peçam mais, por favor,
eu mostro a paz nos meus versos,
ante os sobejos do amor.

Não peçam mais, por favor,
que eu faça um verso tristonho;
ante os sobejos do amor,
lanço a bomba do meu sonho.
****************************************

PANTUN DO LENÇO DO CAIS

Trova tema:
Mar adentro, mundo afora,
a distância aumenta mais...
e enquanto a saudade chora,
"um lenço acena no cais"
(Mara Melinni – RN)


A distância aumenta mais...
lamentando essa distância,
"um lenço acena no cais"
despedindo-se da infância.

Lamentando essa distância,
vê-se a saudade tristonha,
despedindo-se da infância,
num cenário de quem sonha,

Vê-se a saudade tristonha,
e essa tristeza é medida,
num cenário de quem sonha
no instante da despedida.

E essa saudade é medida,
nos acenos de quem chora,
no instante da despedida,
mar adentro, mundo afora!
****************************************

PANTUN DA SORTE INGRATA

Trova tema:
Festeiro de alma iludida,
disfarçando a sorte ingrata,
faço uma festa da vida
mesmo que a vida me bata!...
(José Tavares de Lima – MG)


Disfarçando a sorte ingrata,
eu me entrego ao desafio;
mesmo que a sorte me bata,
não bate em peito vazio.

Eu me entrego ao desafio
e em tudo mantendo a calma;
não bate em peito vazio,
pois ninguém bate em minha alma.

E em tudo mantendo a calma,
sigo em minha caminhada
pois ninguém bate em minha alma
que é mais feliz sem ter nada.

Sigo em minha caminhada
alma de cabeça erguida,
que é mais feliz sem ter nada,
festeiro de alma iludida!
****************************************

PANTUN DO VELHO SEGREDO

Trova tema:
Já sofri muito, em segredo,
e agora que me refiz,
sou feliz, mas tenho medo
de dizer que sou feliz!
(Maria Nascimento – AL)


E agora que me refiz,
não tenho mais o receio
de dizer que sou feliz,
na vida, por qualquer meio.

Não tenho mais o receio
do que tive no passado,
na vida, por qualquer meio
carrego a paz ao meu lado.

Do que tive no passado,
nada tenho no presente,
carrego a paz ao meu lado
e em nada mais sou descrente.

Nada tenho no presente,
para esconder por ter medo,
e em nada mais sou descrente,
já sofri muito, em segredo!
****************************************

PANTUN DO DESTEMOR

Trova tema:
Sem temor, meu barco avança,
seja qual for a maré,
pois, no mastro da esperança,
iço a bandeira da fé.
(Wanda de Paula Mourthé – MG)


Seja qual for a maré,
maré baixa, maré cheia,
iço a bandeira da fé,
enfrento o mar, que se alteia.

Maré baixa, maré cheia,
seja do jeito que for,
enfrento o mar, que se alteia,
como eterno viajor.

Seja do jeito que for,
mar aberto, mundo afora,
como eterno viajor
remo em busca de outra aurora.

Mar aberto, mundo afora,
braços cheios de esperança,
remo em busca de outra aurora,
sem temor, meu barco avança.

Fonte:
Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020.
Livro enviado pelo autor.

Isabel Furini (Poema 22) Do amor ao ódio ao amor

 


quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Varal de Trovas n. 442

 


Rubem Braga (Um Sonho de Simplicidade)


Então, de repente, no meio dessa desarrumação feroz da vida urbana, dá na gente um sonho de simplicidade. Será um sonho vão? Detenho-me um instante, entre duas providencias a tomar, para me fazer essa pergunta. Por que fumar tantos cigarros? Eles não me dão prazer algum; apenas me fazem falta. São uma necessidade que inventei. Por que beber uísque, por que procurar a voz de mulher na penumbra ou amigos no bar para dizer coisas vãs, brilhar um pouco, saber intrigas?

Uma vez, entrando numa loja para comprar uma gravata, tive de repente um ataque de pudor, me surpreendendo assim, a escolher um pano colorido para amarrar ao pescoço.

A vida poderia ser mais simples. Precisamos de uma casa, comida, uma simples mulher, que mais? Que se possa andar limpo e não ter fome, nem sede, nem frio. Para que beber tanta coisa gelada? Antes eu tomava água fresca da talha, e a água era boa. E quando precisava de um pouco de evasão, meu trago de cachaça.

Que restaurante ou boate me deu o prazer que tive na choupana daquele velho caboclo no Acre? A gente tinha ido pescar no rio, de noite. Puxamos a rede afundando os pés na lama, na noite escura, e isso era bom. Quando ficamos bem cansados, meio molhados, com frio, subimos a barranca, no meio do mato, e chegamos à choça de um velho seringueiro. Ele acendeu um fogo, esquentamos um pouco junto do fogo, depois me deitei numa grande rede branca – foi um carinho ao longo de todos os músculos cansados. E então ele me deu um pedaço de peixe moqueado e meia caneca de cachaça. Que prazer em comer aquele peixe, que calor bom em tomar aquela cachaça e ficar algum tempo a conversar, entre grilos e vozes distantes de animais noturnos.

Seria possível deixar essa eterna inquietação das madrugadas urbanas, inaugurar de repente uma vida de acordar bem cedo? Outro dia vi uma linda mulher, e senti um entusiasmo grande, uma vontade de conhecer mais aquela bela estrangeira: conversamos muito, essa primeira conversa longa em que a gente vai jogando um baralho meio marcado, e anda devagar, como a patrulha que faz um reconhecimento. Mas por que, para que, essa eterna curiosidade, essa fome de outros corpos e outras almas?

Mas para instaurar uma vida mais simples e sábia, então seria preciso ganhar a vida de outro jeito, não assim, nesse comércio de pequenas pilhas de palavras, esse ofício absurdo e vão de dizer coisas, dizer coisas… Seria preciso fazer algo de sólido e de singelo; tirar areia do rio, cortar lenha, lavrar a terra, algo de útil e concreto, que me fatigasse o corpo, mas deixasse a alma sossegada e limpa.

Todo mundo, com certeza, tem de repente um sonho assim. É apenas um instante. O telefone toca. Um momento! Tiramos um lápis do bolso para tomar nota de um nome, um número… Para que tomar nota? Não precisamos tomar nota de nada, precisamos apenas viver – sem nome, nem número, fortes, doces, distraídos, bons, como os bois, as mangueiras e o ribeirão.

Fonte:
Rubem Braga. 200 crônicas escolhidas.

Roberto Correia (Epigramas)


Adula! - Mas tem cuidado,
porque, às vezes, Sabujão,
repugna ao próprio adulado
a excessiva adulação.
- - - - - -
Às vezes a voz da fama
tem um quê de voz divina:
Dá forças de intensa chama
à luz de uma lamparina...
- - - - - -
Burro, a cegueira da sorte
elevou-te e, ao sol, espelhas,
mas guardas o mesmo porte
e as mesmíssimas orelhas.
- - - - - -
Carroceiro, desalmado,
- Diz o burro - vê que tu és
meu irmão! Mas, aleijado,
que nasceste com dois pés!
- - - - - -
De muitos "doutores" sei
Que fundamente acatamos,
Aos quais, se dizem: - "cheguei",
Retruca a Morte: - "chegamos".
- - - - - -
É "doutor", mas a vaidade
empina-o tanto, que até
quisera eu ser a metade
do que ele pensa que é...
- - - - - -
Muita gente sem cachola
de jornalista se doura,
tendo um frasquinho de cola,
um arquivo e uma tesoura...
- - - - - -
Nesse vestido apertado,
teu corpo, essa perfeição
faz do que não tem pecado
pecador de profissão...
- - - - - -
No Brasil, é pragmática,
Das discussões na fervura,
Entrar - no meio - a gramática,
No fim a descompostura.
- - - - - -
Os artistas consagrados
Não escapam nunca às afrontas
dos cascos mal aparados
dos mestres das obras prontas...
- - - - - -
Político e sempre graúdo,
de moço a quase senil,
do Brasil tem tido tudo!
Nada tem dado ao Brasil...
- - - - - -
Por serem longas e rudas
as vias que levam à Cruz,
todo dia nascem Judas
mas não vem outro Jesus.
- - - - - -
Só usam mangas compridas,
seguindo as normas da igreja,
mas as pernas mal vestidas,
quem tiver olhos que as veja...
- - - - - -
Se espichas (vou ser-te franco)
os teus cabelos, ó João,
se pretendes é ser branco,
ao menos em comissão...
****************************************

Roberto Correia (1876 – 1937)
Este epigramista baiano nasceu na cidade do Salvador, a 10 de maio de 1876. Estudou no Liceu de Artes e Ofícios, onde aprendeu o ofício de tipógrafo. Trabalhou, nessa condição, no Jornal de Notícias, dirigido pelo popularíssimo Lulu Parola. Foi para o Rio, onde exerceu a mesma profissão no Jornal do Brasil e no Jornal do Comércio. De regresso à sua terra natal, matriculou-se, em 1895, no Instituto Normal, da Bahia, e se diplomou em 1898, passando a servir no magistério, até aposentar-se, em 1937. Morreu no dia 24 de dezembro do mesmo ano. Sua obra não foi apenas poética. Escreveu igualmente contos, humorísticos e sentimentais, para os quais a crítica teve palavras de louvor. Mas publicou apenas um livro, Epigramas, editado em 1928.


Fonte:
R. Magalhães Júnior. Antologia de Humorismo e Sátira. RJ: Civilização Brasileira, 1957.

Monteiro Lobato (Meu Conto de Maupassant)


CONVERSAVAM NO TREM DOIS SUJEITOS. Aproximei-me e ouvi:

— Anda a vida cheia de contos de Maupassant; infelizmente há pouquíssimos Guy s...

— Por que Maupassant e não Kipling, por exemplo?

— Porque a vida é amor e morte, e a arte de Maupassant é nove em dez um enquadramento engenhoso do amor e da morte. Mudam-se os cenários, variam os atores, mas a substância persiste — o amor, sob a única face impressionante, a que culmina numa posse violenta de fauno incendido de luxúria, e a morte, o estertor da vida em transe, o quinto ato, o epílogo fisiológico. A morte e o amor, meu caro, são os dois únicos momentos em que a jogralice da vida arranca a máscara e freme num delírio trágico.

— ?

— Não te rias. Não componho frases. Justifico-me... Na vida, só deixamos de ser uns palhaços inconscientes a mentirmos à natureza quando esta, reagindo, põe a nu o instinto hirsuto ou acena o “basta” final que recolhe o mau ator ao pó. Só há grandeza, em suma, e “seriedade”, quando cessa de agir o pobre jogral que é o homem feito, guiado e dirigido por morais, religiões, códigos, modas e mais postiços de sua invenção — e entra em cena a natureza bruta.

— A propósito de quê tanta filosofia, com este calor de janeiro?...

O comboio corria entre São José e Quiririm. Região arrozeira em plena faina do corte. Os campos em sega tinham o aspecto de cabelos louros tosados à escovinha. Pura paisagem europeia de trigais.

A espaços feriam nossos olhos quadros de Millet, em fuga lenta, se longe, ou rápida, se perto. Vultos femininos de cesta à cabeça, que paravam a ver passar o trem. Vultos de homens amontoando feixes de espigas para a malhação do dia seguinte. Carroções tirados a bois recolhendo o cereal ensacado. E como caía a tarde e a Mantiqueira já era uma pincelada opaca de índigo a barrar a imprimadura evanescente do azul, vimos em certo trecho o original do “Angelus”...

— Já te digo a propósito de quê vem tanta filosofia.

E, enfiando os olhos pela janela, calou-se. Houve uma pausa de minutos. Súbito, apontando um velho saguaraji (árvore) avultado à margem da linha e logo sumido para trás, disse:

— A propósito dessa árvore que passou. Foi ela comparsa no “meu conto de Maupassant”.

— Conta lá, se é curto.

O primeiro sujeito não se ajeitou no banco, nem limpou o pigarro, como é de estilo. Sem transição foi logo narrando.

— Havia um italiano, morador destas bandas, que tinha vendola na estrada. Tipo mal-encarado e ruim. Bebia, jogava, e por várias vezes andou às voltas com as autoridades. Certo dia — eu era delegado de polícia — uns piraquaras vieram dizer-me que em tal parte jazia o “corpo morto” de uma velha, picado a foice.

“Organizei a diligência e acompanhei-os. ‘É lá naquele saguaraji’, disseram ao aproximarem-se da árvore que passou. Espetáculo repelente! Ainda tenho na pele o arrepio de horror que me correu pelo corpo ao dar uma topada balofa num corpo mole. Era a cabeça da velha, semioculta sob folhas secas. Porque o malvado a decepara do tronco, lançando-a a alguns metros de distância.

“Como por sistema eu desconfiasse do italiano, prendi-o. Havia contra ele indícios fortes. Viram-no sair com a foice, a lenhar, na tarde do crime.

“Entretanto, por falta de provas foi restituído à liberdade, mau grado meu, pois cada vez mais me capacitava da sua culpabilidade. Eu pressentia naquele sórdido tipo — e negue-se valor ao pressentimento! — o miserável matador da pobre velha.”

— Que interesse tinha no crime?

— Nenhum. Era o que alegava. Era como argumentava a logicazinha trivial de toda gente. Não obstante, eu o trazia de olho, certo de que era o homicida.

“O patife, não demorou muito, traspassou o negócio e sumiu-se. Eu do meu lado deixei a polícia e do crime só me ficou, nítida, a sensação da topada mole na cabeça da velha.

“Anos depois o caso reviveu. A polícia obteve indícios veementes contra o italiano, que andava por São Paulo num grau extremo de decadência moral, pensionista do xadrez por furtos e bebedices. Prenderam-no e remeteram-no para cá, onde o júri iria decidir da sua sorte.”

— Os teus pressentimentos...

O sujeito sorriu com malícia e continuou.

— Não resistiu, não reagiu, não protestou. Tomou o trem no Brás e veio de cabeça baixa, sem proferir palavra, até São José; daí por diante (quem o conta é um soldado da escolta) metia amiúde os olhos pela janela, como preocupado em ver qualquer coisa na paisagem, até que defrontou o saguaraji. Nesse ponto armou um pincho de gato e despejou-se pela janela fora. Apanharam-no morto, de crânio rachado, a escorrer a couve-flor dos miolos perto da árvore fatal.

— O remorso!

— Está aqui o “meu conto de Maupassant”. Tive a impressão dele nas palavras do soldado da escolta: “Veio de cabeça baixa até São José, daí por diante enfiou os olhos pela janela até enxergar a árvore e pinchou-se”. No progresso ingênuo da narrativa li toda a tragédia íntima daquele cérebro, senti todo um drama psicológico que nunca será escrito...

— É curioso! — comentou o outro, pensativamente.

Mas o primeiro sujeito acendeu o cigarro e concluiu sorridente, com pausada lentidão:

— O curioso é que mais tarde um dos piraquaras denunciadores do crime, e filho da velha, preso por picar um companheiro a foiçadas, confessou-se também o assassino da velhinha, sua mãe...

— ?

Meu caro, aquele pobre Oscar Fingal O’ Flahertie Wills Wilde disse muita coisa, quando disse que a vida sabe melhor imitar a arte do que a arte sabe imitar a vida.

Fonte:
Monteiro Lobato. Urupês. Publicado em 1915.

Estante de Livros (Louco do Cati, de Dyonélio Machado)


O personagem “O Louco do Cati” é um sujeito misterioso, tratado como louco numa cidadezinha do interior gaúcho. As pessoas do lugar dão ao louco pequenos serviços de limpeza ou de jardinagem que pagam com comida ou hospedagem.

Perambulando pela região num “borboleta” (caminhão que levava passageiros na carroceria), Nestor, um dos passageiros, acaba aos poucos, tornando-se protetor desse personagem. Nestor tem a intenção de ir para Florianópolis e acaba levando o louco como companhia, sem saber bem o porquê. O caminho é feito por estradas interrompidas, desvios, chuva, lama, barreiras. Próximo a Araranguá, Nestor é preso, sem muitas explicações pela polícia, que o identifica como um terrorista. Junto com Nestor é preso o louco, mais por estar em companhia de Nestor do que por qualquer outro motivo.

Na prisão, Nestor sofre privações e torturas psicológicas. O louco, por sua vez, mostra-se plenamente adaptado ao lugar. A polícia recebe ordens superiores para transferir Nestor e seu companheiro louco para o Rio de Janeiro. A viagem é feita de navio. No Rio de Janeiro, depois de um penoso período na prisão, são soltos de modo tão estranho quanto o que foram presos.

Nestor e seu amigo louco decidem ficar numa pensão. Em dado momento, Nestor resolve mandar o louco de volta para o interior do Rio Grande do Sul e para tal intento contará com a ajuda de pessoas amigas que vão para São Paulo e de lá, o louco seria entregue a outras pessoas que o levariam de volta para sua origem.

O capitalista e sua mulher são os responsáveis pela primeira parte da viagem. Depois, o dr. Valério é que se encarrega de levar o louco até o seu destino final. O louco e o Dr. Valério pegam um ônibus de Florianópolis até Lajes. A estrada é cheia de precipícios, curvas perigosas, barrancos. Depois de Lajes, o louco já está em companhia de outras pessoas. Numa cidade do interior do Rio Grande do Sul, o louco fica como agregado de uma família que o destina a trabalhos simples de limpeza. Depois desse período, o louco aparece seguindo viagem de trem entre algumas cidades do interior gaúcho (Livramento, Santa Maria).

Um certo “coronel” era o “tutor” do louco nesse trecho da viagem, porém, o percurso não é terminado, uma vez que a ferrovia está interrompida devido às fortes chuvas. O comandante Amilívio acaba por convencer o Coronel da possibilidade de se completar o percurso de avião, o que é feito. Porém, uma tempestade força o avião a um pouso de emergência num lugar chamado Santa Cecília, numa clareira na vegetação. O louco então desaparece na mata, o comandante e o coronel saem em busca do louco. O louco é encontrado junto às ruínas de um presídio político e revela-se o seu segredo: O Louco do Cati era assim chamado, pois, eventualmente tinha crises em que balbuciava a expressão “É o cati! É o cati!” e saía correndo, sem rumo. O “cati” é o cativeiro, a prisão em ruínas que o louco, pelo acaso do destino, reencontrara. Ali, diante dos tijolos que se esfarelam em sua mão, o louco recobra sua sanidade e passa a lembrar que fora preso político, que ali sofrera muitas torturas.

O período histórico retratado na obra é o período da ditadura de Getúlio Vargas. Na obra todos os percursos de viagens realizados pelo louco no seu itinerário sem destino, estão interrompidos por algum motivo: barreiras, pontes caídas, chuvas, estradas incompletas que não levam a lugar algum, etc... Metáfora do regime ditatorial. O personagem principal, e herói da obra, não tem outra fala do que a expressão repetitiva: “É o cati!”, palavra incompleta, que na sua incompletude revela a censura e à restrição à liberdade. O segundo personagem mais importante da obra, Nestor, ficamos sem saber de seu destino e se ele era mesmo um terrorista, um revolucionário, ou tudo não passara de um engano da polícia. Desse modo, Dyonélio Machado constrói um romance cuja arquitetura é a própria denúncia dos dramas psicológicos decorrentes da opressão ditatorial.

Fonte:
Jayro Luna, no site Orfeu Spam Apostilas

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Varal de Trovas n. 441

 


Carina Bratt (Brasa Enganosa)


Dias após dias, noites após noites, acabei por me acostumar a vê-lo por aqui, todos os instantes. Virou rotina. A protelação habitual dos mesmos hábitos. Mas meu Deus, aqui aonde?! Nas redes sociais. Quando abria o WhatsApp lá estava ele. O moço do sorriso bonito, do rostinho de príncipe e do olhar penetrante.

Não importava o instante em que eu chegasse. Tanto podia ser às vinte e duas horas, como às duas da manhã. Às cinco da tarde, ou as oito, bem ainda na consumação do almoço ou do lanche da tarde.  Ele sempre estava lá, “Online”. Como eu sabia? Simples! Não há nenhum segredo, hoje em dia, por detrás de uma situação ainda que ela seja considerada corriqueira. A tecnologia não deixa.  
 
Sabia que ele estava, porque ao cumprimentá-lo com um “Oi, lindo”, ele imediatamente me respondia, com ênfase: “Oi, fofinha!”. A mesma coisa acontecia nos e-mails.

Havia comumente uma mensagem nova, uma palavra de incentivo, uma música pinçada do YouTube que marcava pela profundidade do tema.

O último que abri, com um “Oi moço”, a resposta recebida tanto mexeu comigo, uau!, lembro que repassei para quase toda a galera dos meus contatos. Acreditem. Minha lista de amizades não é pequena...

Também no Facebook trocávamos impressões, discorríamos sobre os temas mais atuais. Quando não, a comunicação se completava pelo Instagram ou pelo Linkedin. Havia, inevitavelmente, o contato e as respostas imediatas às minhas chamadas.

Acostumei a dizer “Bom dia”, ou “Boa tarde”. Se fosse a noite, adicionava ao jargão, uma “Boa noite, durma com os anjos”. E ele, carinhoso e amável, se abria em festa: “Você também, minha princesa”.

Brincava: “Não vá cair nos braços de Morfeu e perder, amanhã, a hora de ir para o trabalho”, seguido de um “Que Deus te proteja e guarde com Teu manto sagrado”.

De repente, num sopro, não o vi mais. Em lugar da foto de perfil, o branco vazio de aparência fria do WhatsApp. A ausência dele se fez tão grande, que o “Zap”, o Face, o Instagram, perderam o brilho, a graça, o sabor, o objetivo.

O seu não estar ali, nem em canto algum onde nos falávamos, no “online”, em hora nenhuma, se fundiu numa espécie de saudade pesada, densa, dolorida, destituída do carinho que emanava da alegria que fluía dele e contagiava meus olhos e mais que isto, alegrava a minha alma por inteira.

Tudo o que ele falava ou escrevia em respostas às perguntas que eu fazia, tinha um quê de especial. Havia uma harmonia que se entrelaçava, num ritmo único, e deixava, no ar, espalhada, uma espécie de paz tranquilizadora e inverossímil.

Com o vazio da sua presença, porém, o conjunto das emoções se cobriu com uma espécie de túnica inconsútil.

Em razão disto quando acesso meu E-mail, Zap, Facebook ou qualquer outro site de relacionamento social, sinto crestar os passos do vazio na solidão que teima em gritar mais alta e se fazer ouvir, seja a que custo for dentro da minha cabeça em frangalhos.

Perdida esta conexão, sem motivos aparentes, com o meu amigo (amigo? Eu já o amava como se fizesse parte de mim) de todas as horas, me peguei, e, desde então, me vejo vazia, me sinto oca por dentro.

Me pego obstinada, cheia de elipses mentais, perplexa, atônita, sem chão, como se tivesse morrido e deixado à alma errante a caminho de algum lugar escondido no horizonte.

A inquietação do meu espírito se agiganta. Evolui, e não só evolui, cria barreiras intransponíveis. São estas situações estranhas que me tiram do sério e me deixam embaraçada, sem saber para onde ir ou como agir.

Seria maravilhoso, se nestas horas de pura angustia, quando a dor inquietante da saudade se faz presente e pujante, a gente pudesse se desligar da tomada, se desplugar do mundo, entrar em “off” e apagar, por dentro, os filamentos...

Simplesmente assim, e claro, o mais importante: não mais existir.

Fonte:
texto enviado pela autora.

V Concurso de Trovas de Cachoeira do Sul (Trovas Premiadas)

 
NACIONAL/INTERNACIONAL
VETERANOS
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VENCEDORES
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Quem dera que a Humanidade,
que de mil glórias se ufana,
tivesse a simplicidade
que há nos versos de Quintana!
Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora - MG

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O simples, do dia a dia,
o real com bom humor...
Assim Quintana escrevia,
para encantar o leitor!
Glória Tabet Marson
São José dos Campos - SP
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Mário Quintana sabia,
se atravancado o caminho,
buscar asas na poesia
para virar passarinho.
Edweine Loureiro da Silva 
Saitama – Japão

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Relembro, com nostalgia,
Mário Quintana dizendo:
Morrer de amor todo dia
é continuarmos vivendo!
Venceslau Olival
Nova Friburgo – RJ  

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Hoje em outra dimensão
Mário tem nosso carinho,
porque muitos passarão
mas só ele passarinho.
 Antônio Francisco Pereira
Belo Horizonte – MG

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MENÇÕES HONROSAS
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Ele, em tão pouco, diz tanto
que mais parece um profeta.
Merece aplausos, portanto,
Mario Quintana – o poeta!
Maria Dulce Lima Peesoa
Tabira - PE

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Cada verso que emoldura
a saudosa filigrana,
é um traço da alma pura
do bardo Mario Quintana...
Paulo Mauricio G. Silva
Teresópolis - RJ

- - - - - - 
Bacana,simples,sutil,
estro do momento eterno.
Mário Quintana é Brasil
presente em qualquer caderno.
Nilton Manoel  
Ribeirão Preto – SP

- - - - - -
Das coisas simples, poeta...
Mario Quintana é, da gente,
um sonho que se completa
e um sonho, que segue em frente...!
Mara Melinni
Caicó – RN


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MENÇÕES ESPECIAIS
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Li as obras, vi os espaços,
de Quintana, os seus amores...
Parecia ouvir seus passos,
entre aqueles corredores!
 Silvia Maria Svereda
Irati – PR

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Quintana, sois imortal...
Os versos ditam tendências,
dando a alguns, ponto final,
e aos poetas... reticências...
Cezar Augusto Defilippo
Astolfo Dutra – MG 

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As palmas são pra você 
Mário Quintana, escritor. 
Mas vou dizer o porquê: 
Pelos poemas de amor! 
Maria Eunice Silva de Lacerda  
Toledo - PR

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Dotado de tal magia
foi só ele... mais ninguém:
os outros fazem poesia;
Quintana foi muito além!
José Ouverney
Pindamonhangaba – SP

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O seu talento perdura,
pois, das letras, é fanal,
ganhando a literatura
Mario Quintana, o imortal.
Relva do Egypto Rezende Silveira
Belo Horizonte – MG


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NOVOS TROVADORES
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 Amizade veterana,
é antiga e anos percorre.
E já dizia o Quintana:
“É o amor que nunca morre”.
Caio Gomes
Campos dos Goytacazes – RJ

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Em jardins de poesia
sinto um aroma que emana
de uma planta que irradia
versos de Mário Quintana.
 Edson Paiva
Natal – RN


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MENÇÕES HONROSAS
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Vou beber sabedorias,
nos seus versos me esbaldar...
Vou cantar mil alegrias,
eu vou "mário-quintanar".
Fabio Peters Sabino
Florianópolis – SC

 
Em Mário Quintana aponho
ao brilhantismo, a vontade
de tornar a vida um sonho
e do sonho, realidade.
Rachel Santo Antônio
São Gonçalo – RJ


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COMISSÃO JULGADORA:
Flávio Stefani,
Ary Cardoso E
Paulo Roberto de Fraga Cirne.


Os diplomas serão enviados aos premiados até o início de dezembro.

ESTADUAL

1.
Flávio Roberto Stefani
(Porto Alegre)

Quintana...um poeta...um anjo  
flutuando pelas ruas,
fez poema ...fez arranjo...
criou sóis e criou luas!...
- - - - - -
2.
Ary Cardoso
(Porto Alegre)

O Quintana foi decano
no júri simplicidade;
passarinho neste plano,
cantador na eternidade.
- - - - - -
3.
Lucêmio Lopes da Anunciação
(Canela)

O olhar de Mário Quintana
abre a janela e o portão,
atravessa a persiana,
chega ao nosso coração.

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MENÇÕES HONROSAS
===============

Sérgio Becker
(Porto Alegre)

O poeta Mário Quintana,
anjo com asas e véu;
hoje brinca, que bacana!
com outros anjos no céu.
- - - - - -
Marilia Oliveira
(Porto Alegre)

Quintana, em sua humildade,
tendo a alma livre e irrequieta,
com as penas da liberdade,
foi 'passarinho' e poeta!
- - - - - -
Jaqueline Machado
(Cachoeira do Sul)

Quintana ... servo do amor!
Poeta dos sonhos mil...
Escrevendo com louvor,
emocionou o Brasil!
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COMISSÃO JULGADORA:
Francisco Garcia,
José Feldman,
Arlindo Tadeu Hagen e
Carolina Ramos.


Fonte:
Jaqueline Machado