sábado, 21 de novembro de 2020

Caldeirão Poético XXXVI

poemas infantis


Adélia Prado
Divinópolis/MG

ESPERANDO SARINHA

Sarah é uma linda menina ainda mal-acordada.
Suas pétalas mais sedosas estão ainda fechadas,
dormindo de bom dormir.
Quando Sarinha acordar,
vai pedir leite na xícara de porcelana pintada,
vai querer mel aos golinhos em colherinha de prata,
duas horas vai gastar fazendo trança e castelos.
Estou fazendo um vestido,
uma tarde linda e um chapéu,
pra passear com Sarinha,
quando Sarinha acordar.
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Cecília Meireles
Rio de Janeiro RJ, 1901-1964

AS MENINAS

Arabela
abria a janela.

Carolina
erguia a cortina.

E Maria
olhava e sorria:
“Bom dia!”

Arabela
foi sempre a mais bela.

Carolina,
a mais sábia menina.

E Maria
apenas sorria:
“Bom dia!”

Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;

uma que se chamava Arabela,
uma que se chamou Carolina.

Mas a profunda saudade
é Maria, Maria, Maria,

que dizia com voz de amizade:
“Bom dia!”
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Mário Quintana
Alegrete/RS, 1906 – 1994, Porto Alegre/RS

CANÇÃO DA GAROA

Em cima do telhado
Pirulin lulin lulin,
Um anjo, todo molhado,
Soluça no seu flautim.

O relógio vai bater:
As molas rangem sem fim.
O retrato na parede
Fica olhando para mim.

E chove sem saber porquê
E tudo foi sempre assim!
Parece que vou sofrer:
Pirulin lulin lulin…
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Paulo Leminski
Curitiba/PR, 1944 – 1989

BEM NO FUNDO

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
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Pedro Bandeira
Santos/SP

POR ENQUANTO SOU PEQUENO


Por enquanto sou pequeno,
mas vou aprender a ler:
já sei ler palavra inteira,
leio pra cima, e pra baixo,
e plantando bananeira!  

Por enquanto sou pequeno,
uma coisa vou dizer,
com certeza e alegria:
sei que nunca vou esquecer
da beleza da poesia!
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Ruth Rocha
São Paulo/SP

PESSOAS SÃO DIFERENTES


São duas crianças lindas
Mas são muito diferentes!
Uma é toda desdentada,
A outra é cheia de dentes...

Uma anda descabelada,
A outra é cheia de pentes!
Uma delas usa óculos,
E a outra só usa lentes.

Uma gosta de gelados,
A outra gosta de quentes.
Uma tem cabelos longos,
A outra corta eles rentes.

Não queira que sejam iguais,
Aliás, nem mesmo tentes!
São duas crianças lindas,
Mas são muito diferentes!
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Sérgio Capparelli
Uberlândia/MG

A ÁRVORE QUE DAVA SORVETE


No Polo Norte
Tem árvore
Que dá sorvete.   

De morango
Para as filhas
do Calango.          

De chocolate
Para o cachorro
Do alfaiate.           

De groselha
para a Gata
Da Adélia

E de uva
Para a filha
Da Viúva.

No Polo Norte
Tem árvore
Que dá sorvete.   
Acredita?
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Vinicius de Moraes
Rio de Janeiro/RJ, 1913 – 1980

A CASA


Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque a casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero.

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