terça-feira, 10 de novembro de 2020

Oldney Lopes (Poemas Escolhidos)


AUSÊNCIAS
 
Quando fogem-me os versos e o amor
Quando faltam-me as rimas e os beijos
Quando falta-me o lírico fulgor
Das poesias, paixões e dos desejos
 
Sou uma réstia de luz num quarto escuro
Um fio de alma, um vulto abandonado
Sou uma sombra projetada a um velho muro
Um estertor de vida agoniada.
 
Enquanto ouço da morte a melodia
Sigo parado e surdo e em afonia
Dependurado numa fina rama
 
A respirar enquanto aguardo o nada
Usando a última lágrima entornada
Para apagar a derradeira chama!
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O CÉU DAS MADRUGADAS
 
Olho para o céu, nas madrugadas
Imagino seu rosto sereno
Seu semblante sua tez nacarada
Seu sonhar de delícias tão pleno
 
Mil estrelas, em torno, brilhando
Num fulgor tão intenso e bonito
Mas sua face é que vai cintilando
Mais que todo esplendor do infinito
 
Acordado, me ponho a sonhar
Em sair, quando o dia raiar,
Colher rosas e dar-lhe um buquê
 
Dorme, dorme, sonha, minha amada
Que eu aqui, por toda a madrugada
Vou sonhando, feliz, com você!
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SONETO DE AMOR À FLORBELA

                                        “E esta ânsia de viver, que nada acalma,
                                        É a chama da tua alma a esbrasear
                                        As apagadas cinzas da minha alma!”
                                                                 Florbela Espanca, em “Eu”


Este amor que enxergo e que me cega
Que vivo e que me mata, é amor carrasco
A um tempo só é amor , veneno e asco
Espinho agreste, flor que se não pega

É um louco amor que vive estando morto
Como ainda vive o rei Dom Sebastião
E quer o sim, já tendo ouvido o não
Quer todo o mar sem ter deixado o porto

Mas torço ainda, amor, que venha a mim
Para cumprir o gozo do destino
Ainda que seja tarde, há de vir!

E vindo, então, encontrará, enfim
Um coração batendo em desatino
Sob as areias de Alcácer Quibir!
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SONETO PELA LEVEZA DO DIZER

Se o poema tem que ser grafado em letras,
Se o papel precisa ser impresso em tinta,
Seja, a letra, mais sutil que a estrela extinta,
Seja a tinta mais fugaz do que os cometas.

Aqui deixo nulidades, vis reversos,
Como dádiva sagrada a ti, leitor.
Sejas tu, teu pensamento, o estertor,
Das imagens que fizeres dos meus versos.

Seja Ícaro alado a idéia pura,
Não derreta a cera o sol de forma dura,
Que a escrita não deturpe ideias minhas.

E que as tintas não me manchem bons momentos,
E que as letras não maltratem pensamentos,
Que a palavra não estupre as entrelinhas!
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ÚLTIMA ESTRELA

Nos sonhos você sempre me aparece
Me aquece, desdobrando-se em ternura
Na noite escura e fria é que me aquece
E tece em mim frisson, gozo e loucura

É nos meus sonhos que você sou eu
E eu sou você e juntos somos um
Nalgum momento sinto-me Morfeu
Saciando de seus beijos meu jejum

Mas se é nos sonhos que consigo tê-la
Quero apagar do céu a última estrela
Para poder enfim lhe conquistar

Deixar de ser tão só e tão tristonho
Dormir e aprisionar-me no meu sonho
E deste sonho jamais acordar!

Fonte:
Oldney Lopes (https://www.oldney.net/)

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