ÁPICE
No ápice do sucesso
percebe o apagar
das luzes
reflete a escuridão
em que se aventura
longe do futuro
o tempo disponibilizado
no alargar da terra
ao largar a terra
no largo abraço de despedida
o ápice recontado
prepondera no corpo
estendido: nas cobertas
o frio esquecimento.
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APRENDENDO A VOLTAR
I
aprendo a voltar
e me perco
em recordações:
o passado
petrificado
em passos
o retorno
fechado
em acasos
aprendo ser a volta
o pior do encontro
o rasgo instantâneo
do corpo ao mistério.
XXIX
voltar é a representação gráfica
do naufrágio
e
a antevisão do encontro
não acontecido
ao acaso
nos cestos os ovos permanecem
estáticos em vidas
interiores
anteriormente
pensei desenhos
decompostos em traços
onde enredei
o sentido
da lembrança
a vida explode receptáculos
e retorna como sina.
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CERCAS
Fragilizo a cerca e com passos rápidos
encerro minha carreira: o esconderijo guarda
o medo ressentido no vento contra os vidros:
aguardo o tempo anunciado e do escuro
saio assustado buscando
na distância a cerca
onde me instalo: o vento geme a minha dor
desacostumada: o ar gira o grito desumano
em que perco as lembranças: fortifico
a cerca com incertezas: escondo a lágrima
e com o rosto seco saio ao relento:
ouço a voz do irrealizável: abro
a cerca ao farpado arame
e deposito a carne: encerro a vista
em lamentos: a tormenta se afasta.
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DEPOIS
Depois: irmanado em tanques
de tiros desajustados invado a obra
e retiro dos escombros o motivo
preso ao desafio de pazes descumpridas.
Declaro guerras aos insanos tímpanos
insistentes em músicas e letras no artifício
de transformar barro em coisa: coisificar
a pedra: estátuas acompanham a passagem
e me entregam com a falta de respeito: quieto
e saliente permito o passo da conquista.
Depois: interrompo a luz e me desfaço na poeira.
Exalo suspiros de vingança e ao perceber a falha
pego no ar a fragrância daquele corpo de mulher.
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NÃO
Não desgosto estar contigo
comigo o anzol pesca
o sol queima o mosquito
o mar avança suas ondas
teu sonho impenetrável
não me recebe e não sonho
no sono que me faz acordado
meu livro marca a folha ilegível
e na música – a minha – o tom
agudiza a lembrança: a solidão
contempla de forma amigável
estar contigo é aguardar
a hora – que me falta –
necessária ao corte da fruta
amadurecida: reter no copo
o líquido e esquecer o anzol
dentro d’água.
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VERGONHA
Rubro rosto
na vergonha
da palavra
o comprimido sobre a mesa
o copo d’água
rubra face
na vergonha
do encontro
comprimidos sobre a mesa
o copo d’água
lívida face no desencontro
sobre a mesa o copo vazio.
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outros poemas:
http://pedrodubois.blogspot.com.br
Fonte:
Poemas enviados pelo poeta
Um comentário:
Mais uma vezes, Caro Feldman, gratíssimo.
Abraços e bom final de semana.
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