Resolver as coisas com ela é sempre um desafio.
– Você prefere comer em casa ou pedir pizza?
– Prefiro.
– Qual das duas coisas?
– Pode ser.
Viaja, já devia ter chegado. Ligo para saber se houve algum problema.
– Onde você está?
– Voltando.
– Mas está onde, em que altura?
– Na estrada.
Ninguém consegue ser tão vaga com tanta precisão.
– Estou te esperando. Demora?
– Ok.
– Está onde, para eu saber se já posso descer ou não?
– Américas.
(Ela está numa ponta da Américas; eu, na outra. Não há como ela estar em outro lugar que não seja da Américas. )
– Mas antes ou depois do Barrashopping?
– Pista da lateral. A do meio está parada.
A culpa é minha, que tenho a mania de fazer perguntas abertas.
– Oi, estou indo pra casa. Precisa de alguma coisa do mercado?
– Precisa de um monte de coisas.
– O quê, por exemplo.
– Tem muita coisa faltando.
– E o que é que falta?
– Tenho que ver.
– Pode ver e me dizer?
– Compra só o que acabou. O resto ainda tem.
Ligo do mercado.
– Açúcar mascavo ou refinado?
– Um quilo.
Da farmácia.
– Como é que chamava mesmo aquele remédio para sinusite?
– Gotas.
Se eu fizer duas perguntas, ela responderá uma delas e ignorará a outra. E nunca saberei qual foi a respondida.
Se eu fizer uma pergunta só, esta é a que será ignorada.
Ou respondida com outra pergunta.
– Por que você é assim?
– Assim como?
– Não responde o que eu pergunto.
– Não respondo?
– Não. Você nunca responde o que eu pergunto.
– É?
– É. Ou responde com uma pergunta.
– Eu faço isso?
Claro que gosto dela. Menos quando quero saber alguma coisa.
– Você me ama?
– Claro.
– Que sim ou que não?
– Aham.
Deduzo que “aham” seja “sim”. Que prefira a pizza. Que já esteja no pedágio, ou na entrada do condomínio. Que só esteja faltando açúcar. O mascavo. E que eu talvez deva perguntar menos.
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