sábado, 16 de outubro de 2010

Daniel Mundukuru (Do Fundo do Mundo pro Mundo de Cima)


Contam os velhos que, no antigo tempo da criação do mundo, Karú-Sakaibê fez as montanhas e as rochas soprando em penas fincadas no chão. Foi ele também que criou os rios, as árvores, os bichos do céu, das águas e da terra – e também criou o homem.

Karú-Sakaibê, o grande criador, ao perceber que o povo que ele tinha criado para enfeitar a terra e cuidar de toda a sua obra estava brigando muito, decidiu voltar e lembrá-lo de como havia sido trazido lá do fundo da terra.

Assim contam os velhos sobre a vinda dos Munduruku pro mundo de cima:

Karú-Sakaibê, andava pelo mundo sempre com seu amigo fiel, Rairu, que embora fosse muito poderoso, gostava de brincar e se divertir. Um dia, Rairu fez um tatu com folhas, galhos e cipós. Ficou tão igual ao tatu de verdade que Rairu resolveu cobri-lo com uma resina feita de mel de abelha pra que ele nunca desaparecesse. Pra que a resina secasse, Rairu enterrou o tatu e deixou apenas o rabo de fora. Mas, ao tentar tirar sua mão, viu que ela tinha ficado grudada no rabo do tatu!

Como era poderoso, Rairu deu vida à imagem de tatu que, em vez de sair do buraco, foi se enterrando cada vez mais, cada vez mais, levando com ele Rairu, preso ao rabo. O tatu foi cavando cada vez mais fundo, cada vez mais fundo... Quando chegou ao fundo do fundo do mundo, Rairu viu muita gente, gente de tudo quanto era jeito: bonita, feia, boa, má, preguiçosa... Rairu ficou tão impressionado que decidiu voltar rapidamente pro mundo de cima e contar tudo pra Karú-Sakaibê, que já devia estar preocupado com seu sumiço.

Karú-Sakaibê ficou tão bravo com seu amigo que bateu nele com um pedaço de pau. Rairu, pra se defender, falou da aventura ao centro da terra e das gentes que viu por lá.

Karú resolveu então trazer toda essa gente pro mundo de cima. Começou a fazer uma pelota e a enrolá-la na mão. Depois, jogou a pelota no chão. Imediatamente, nasceu um pé de algodão. Karú colheu o algodão e com ele fez uma corda que amarrou na cintura de Rairu, ordenando-lhe que fosse ao centro da terra buscar as gentes que viu por lá.

Rairu desceu pelo buraco do tatu. Lá embaixo, reuniu todas as gentes e falou das maravilhas do mundo de cima, convencendo todos a subir pela corda. Os primeiros que subiram foram os feios e os preguiçosos, pois achavam que iam encontrar comida com muita facilidade e nunca mais precisariam trabalhar. Depois subiram os bonitos. Mas quando eles estavam quase chegando lá em cima, a corda arrebentou e muita gente bonita caiu no buraco e ficou pra sempre lá embaixo, no fundo da terra.

Como era muita gente, Karú-Sakaibê resolveu diferenciar cada povo, pintando uns de verde, outros de vermelho, outros de amarelo e outros de preto. Mas enquanto Karú pintava um por um, os feios e preguiçosos caíram no sono.

Isso fez com que Karú ficasse muito bravo. E o grande criador resolveu transformá-los em passarinhos, porcos-do-mato, borboletas, bichos-preguiça e outros bichos da floresta.

Mas, aos que não eram preguiçosos, ele disse:

- Vocês serão o começo de novos tempos e seus filhos e os filhos dos seus filhos serão valentes e fortes.

E deu-lhes um presente: preparou um campo, semeou e mandou chuva pra regá-lo. E assim que a chuva caiu, nasceram a mandioca, o milho, o cará, a batata-doce, o algodão, as plantas medicinais e muitas outras que até hoje alimentam essa gente.

Contam os velhos que foi assim que Karú-Sakaibê transformou a grande nação Munduruku num povo forte, valente e poderoso.

Fonte:
Munduruku, Daniel. Contos indígenas brasileiros. 2ª ed. São Paulo: Global; 2005. Versão: Roda de Histórias Indígenas

Daniel Munduruku (Literatura Indígena e o Tênue Fio entre Escrita e Oralidade)


A escrita é uma conquista recente para a maioria dos 230 povos indígenas que habitam nosso país desde tempos imemoriais. Detentores que são de um conhecimento ancestral aprendido pelos sons das palavras dos avôs e avós antigos estes povos sempre priorizaram a fala, a palavra, a oralidade como instrumento de transmissão da tradição obrigando as novas gerações a exercitarem a memória, guardiã das histórias vividas e criadas.

A memória é, pois, ao mesmo tempo passado e presente que se encontram para atualizar os repertórios e encontrar novos sentidos que se perpetuarão em novos rituais que abrigarão elementos novos num circular movimento repetido à exaustão ao longo de sua história.

Assim estes povos traziam consigo a memória ancestral. Essa harmônica tranqüilidade foi, no entanto, alcançada pelo braço forte dos invasores: caçadores de riquezas e de almas. Passaram por cima da memória e foram escrevendo no corpo dos vencidos uma história de dor e sofrimento. Muitos dos atingidos pela gana destruidora tiveram que ocultar-se sob outras identidades para serem confundidos com os dasvalidos da sorte e assim poderem sobreviver. Estes se tornaram sem-terras, sem-teto, sem-história, sem-humanidade. Estes tiveram que aceitar a dura realidade dos sem-memória, gente das cidades que precisa guardar nos livros seu medo do esquecimento.

Por outro lado – e graças ao sacrifício dos primeiros – outro grupo pode manter sua memória tradicional e continuar sua vida com mais segurança e garantia. Estes povos foram contatados um pouco mais tarde quando os invasores chegaram à Amazônia e tentaram conquista-la como já haviam feito em outras regiões. Tiveram menos sorte, mas também ali fizeram relativo estrago nas culturas locais e as tornaram dependentes dos vícios trazidos de outras terras. Foram enfraquecidos pela bebida, entorpecidos pela divindade cristã e envergonhados em sua dignidade e humanidade.

Estes povos – uns e outros – estão vivos. Suas memórias ancestrais ainda estão fortes, mas ainda têm de enfrentar uma realidade mais dura que de seus antepassados. Uma realidade que precisa ser entendida e enfrentada. Isso não se faz mais com um enfrentamento bélico, mas através do domínio da tecnologia que a cidade possui. Ela é tão fundamental para a sobrevivência física quanto para a manutenção da memória ancestral.

Claro está que se estes povos fizeram apenas a “tradução” da sociedade ocidental para seu repertório mítico, correrão o risco de ceder “ao canto da sereia” e abandonar a vida que tão gloriosamente lutaram para manter. É preciso interpretar. É preciso conhecer. É preciso se tornar conhecido. É preciso escrever – mesmo com tintas do sangue – a história que foi tantas vezes negada.

A escrita é uma técnica. É preciso dominar esta técnica com perfeição para poder utiliza-la a favor da gente indígena. Técnica não é negação do que se é. Ao contrário, é afirmação de competência. É demonstração de capacidade de transformar a memória em identidade, pois ela reafirma o Ser na medida em que precisa adentrar no universo mítico para dar-se a conhecer ao outro.

O papel da literatura indígena é, portanto, ser portadora da boa noticia do (re)encontro. Ela não destrói a memória na medida em que a reforça e acrescenta ao repertorio tradicional outros acontecimentos e fatos que atualizam o pensar ancestral.

Há um fio muito tênue entre oralidade e escrita, disso não se duvida. Alguns querem transformar este fio numa ruptura. Prefiro pensar numa complementação. Não se pode achar que a memória não se atualiza. É preciso notar que ela – a memória – está buscando dominar novas tecnologias para se manter viva. A escrita é uma dessas técnicas, mas há também o vídeo, o museu, os festivais, as apresentações culturais, a internet com suas variantes, o rádio e a TV. Ninguém duvida que cada uma delas é importante, mas poucos são capazes de perceber que é também uma forma contemporânea de a cultura ancestral se mostrar viva e fundamental para os dias atuais.
Pensar a Literatura Indígena é pensar no movimento que a memória faz para apreender as possibilidades de mover-se num tempo que a nega e que nega os povos que a afirmam. A escrita indígena é a afirmação da oralidade. Por isso atrevo-me a dizer como a poeta indígena Potiguara Graça Graúna:

Ao escrever,
dou conta da minha ancestralidade;
do caminho de volta,
do meu lugar no mundo.

Diversidade e riqueza cultural

O Brasil é detentor de uma riqueza cultural muito expressiva quando falamos das populações indígenas. São reconhecidos atualmente 230 povos diferentes habitando todos os estados brasileiros com exceção do Piauí. São faladas 180 línguas e dialetos divididos em troncos, famílias e línguas isoladas.

Segundo o IBGE existem cerca de 750 mil indígenas por todo o Brasil e a situação de cada povo é peculiar com relação ao tempo de contato, situação fundiária, atendimento às necessidades básicas.

A Funai acredita que ainda haja entre 30 e 50 grupos indígenas considerados isolados do contato com a sociedade brasileira.

As principais dificuldades que enfrentam estão ligadas à terra, mas hoje há uma crescente demanda por cursos superiores e projetos de economia autosustentável.
A literatura indígena é um fenômeno relativamente recente, mas já é possível identificar vários autores com projeção nacional e internacional. Alguns livros já fazem parte de acervos de bibliotecas internacionais.

Alguns autores com destaque nacional e internacional:
Daniel Munduruku, Yaguarê Yamã, Olívio Jekupé, Kaká Werá Jekupé, Kanátyo Paraxó, Ailton Krenak.

Fonte:
http://www.rodadehistoriasindigenas.com.br/historias/literatura_indigena.pdf

Héber Sales (Livro de Poesias)


A FELICIDADE

é tão delicado
quanto cuidar de um pedaço de céu

estar de acordo com o ar
o fogo
a água da estação

e não tocar a terra
com ambição

A COLHEITA

guardar a palavra
que apenas a brisa conhece

ser por montanhas apascentado

quando a fruta madura estiver
um vale
sem esforço algum
a recolherá

LIVRE

o céu e a terra
não riem
não choram
com a chegada e a partida
de cada estação:

ser triste ou feliz
é pequeno demais

BOA SORTE

Já é outono por aqui. O céu
está a todo tempo encoberto.
Tem chovido muito. A casa
a praia andam cheias de sono
e à noite há sempre as pessoas
que buscam em vão as estrelas.

Mas eu hoje cedo, bem de manhã
acordei com a algazarra dos cães.
Lá fora os jasmins floresciam
a lembrança de outra estação.

O SENTIDO

Há rastros do silêncio
nas palavras, eu sinto
o predador informe
que nos respira -

uma selvageria me percorre.

Eu adivinho o êxtase
da refrega, o verso
que me acomete de vertigens

o olhar imponderável
da mais antiga fera.

* Releitura do poema publicado na Diversos Afins de novembro/2007.

O VELHO LIMOEIRO

À chuva bastou apenas
cuidar de um verde para a manhã.
O dia está de ave desde o arrebol.

O palavrário eu pus no quarador
para ver se pega cor de riso.
As horas, para ensaiar felicidade.

Em dias assim, o velho limoeiro
se toma um pouco mais de azul
acaba arremedando estrelas.
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Geraldo Lima (Zezão)



A figura atravessou a ponte e veio no rumo de casa. Menos que um homem visto assim mais de perto: um espantalho, um bicho.

Corremos pra dentro de casa. De lá, espiando pela greta da janela o ser desgrenhado especado ali no terreiro. Nosso pai veio lá do curral e se aproximou dele. Com certa alegria, a voz do nosso pai: Ora, mas se não é o Zezão de guerra! Quem é vivo sempre aparece... Abrimos então a janela: ali, à nossa frente, no ser maltrapilho, a lendária figura de Zezão. Com quantas festas acabara? Havia roubado a mulher de quem? Duas mortes nas costas, nenhum peso na consciência.

Louco. Andara pelas estradas e pelos ermos. Nos campos, entre o gado, roendo coco e chupando ingá — João Batista, no deserto, sobrevivendo com quase nada. Noção nenhuma de vida e morte. De cócoras, quase nu diante da nossa casa. Por pudor, as mulheres lá na cozinha. Em troca da roupa limpa, a mão suja estendida cheia de coco indaiá. Um quase sorriso em meio à barba cerrada. Ruína de dentes. Tudo o que lhe restara: o silêncio e uma generosidade insana.
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Sobre o Autor
Geraldo Lima nasceu em Planaltina, GO. Professor e escritor, é autor dos livros A noite dos vagalumes (contos, Prêmio Bolsa Brasília de Produção Cultural, FCDF), Baque (contos, LGE Editora/FAC), Nuvem muda a todo instante (infantil, LGE Editora) e UM (romance, LGE Editora/FAC). É um dos colunistas do site O Bule

Fonte:
http://diversos-afins.blogspot.com/

Revista Cultural Eletrônica da Diversos Afins


Conheça a Revista Cultural Eletrônica do Blog http://diversos-afins.blogspot.com/
Ativa desde junho de 2006.

Contos, Poesias, Entrevistas.

Editores: Fabrí­cio Brandão & Leila Andrade

Entrelinhas

Desengavetando expressões, um mundo novo de caras e formas ganha corpo aos olhos e sentidos daqueles que devoram bem mais do que a si mesmos. Seja em palavras, imagens e outros tantos signos, a cultura fascina por suas proporções ilimitadas. Entre caminhos e palavras, a vida pulsa nas revelações urgentes da alma.
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Extraído da primeira postagem

Eis que aparece um projeto tão esperado por mim. Depois de algum tempo, consigo pôr em prática um espaço de publicações onde a palavra se faz mestra. E o Diversos Afins surge em meio às febres das enxurradas de textos diversos e soltos pela grande rede. Nasce com vontade própria e deseja caminhar por entre as gentes. A proposta principal é a de deixar marcadas as impressões e vestígios deixados pela cultura em nosso imaginário. Falo nosso, porque este baú de artefatos mil não é apenas meu, mas um porto onde quem quiser chegar e ancorar suas idéias, desde já, sinta-se abraçado. Saudações aos nossos leitores e colaboradores!

Fabrício Brandão


http://diversos-afins.blogspot.com/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.20)


Trova do Dia

Um ditado muito certo
- e dos mais inteligentes -:
Mais vale um amigo perto
que dez parentes ausentes!
HÉRON PATRÍCIO/SP

Trova Potiguar

Casar, ainda que seja
a busca de ser feliz,
nasce nos braços da igreja
morre nos pés do juiz...
HELIODORO MORAIS/RN

Uma Trova Premiada

2000 > Ribeirão Preto/SP
Tema > SUFOCO > Menção Honrosa

Que lua-de-mel aquela!
Faltou luz, foi um sufoco:
a noiva queria vela
e o noivo só tinha um toco...
WANDA DE PAULA MOURTHÉ/MG

Uma Trova de Ademar

Pra “namorar”, numa boa,
sem Viagra ou injeção,
não basta ser um coroa...
Tem que ser um cinquentão!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Alto lá, diz a franguinha
para o frangão maltrapilho:
- eu não vou sair da “linha”
- em troca de um grão de milho.
P. DE PETRUS/RJ

Estrofe do Dia

Hoje em dia estou sofrendo
procuro e ninguém me quer,
sem carinho de mulher
já estou esmorecendo,
só porque não tô fazendo
o que eu sempre fazia,
ovo que a galinha espia,
se não deitar ele gora;
do jeito que eu tô agora
se ela voltasse eu queria.
ZÉ CARDOSO/RN

Soneto do Dia

Glauco Mattoso/SP
SONETO MALOCATÁRIO

Soneto é um apertado apartamento
num vasto condomínio de inquilinos.
A mesma planta e vários seus destinos:
um drama urbano em cada pavimento.

Dois quartos, pouca luz e muito vento,
que podem ser alcovas ou cassinos,
paróquias parcas, clubes clandestinos,
abrigo do autor brega ou do briguento.

Agora virou zona, mas um dia
foi casa de família e regra tinha:
conversa só começa se o pai pia.

Além da comezinha escrivaninha,
só tem privada, cama, mesa e pia.
Sem sala, o papo acaba na cozinha.

Fonte:
Ademar Macedo

Ponto de Leitura no Maurílio Biagi, de Ribeirão Preto (Programação de domingo 17 de outubro)


Programação reunirá diversas atividades culturais, em comemoração ao dia Nacional do Poeta e do Livro

O Instituto do Livro, grupo Amigos da Fotografia e Secretaria Municipal da Cultura organizaram diversas atrações, envolvendo fotografia e leitura, para este domingo, dia 17, no Ponto de Leitura, localizado no Parque Ecológico Maurílio Biagi. Com a participação do cordelista Nilton Manoel, realizando a leitura de cordel e presenteando leitores com Trovas da Juventude, será comemorando o Dia Nacional do Poeta e Dia do Livro.

Durante o encontro, será lançado o livro "O Passado manda lembranças III", do Grupo Amigos da Fotografia. Após o sucesso dos lançamentos dos dois primeiros volumes, o livro reunirá mais 75 fotos antigas e 75 recentes, clicadas por dezenas de fotógrafos do grupo no decorrer do ano de 2009, acompanhadas de versos do poeta Antonio Carlos Tórtoro e legendas da escritora Fernanda Ripamonte.

Enquanto isso, uma equipe do Grupo Amigos da Fotografia estará fotografando meninas, jovens e mulheres, presentes ao evento, com roupas antigas, e que poderão levar, em CD, suas respectivas fotos como lembrança. Já a Tenda dos Contadores de Histórias está preparada para levar muitas histórias infantis às crianças, com o acompanhamento de monitoras Cassiana de Freitas e Adriana Paim.

Doação - Na oportunidade, o orientador do Colégio Anchieta, Antonio Tórtoro, entregará oficialmente, ao presidente do Instituto do Livro, Edwaldo Arantes, exemplares do livro “30 anos de Boa Educação”, composto por poemas de 40 alunos do Anchieta.

Fonte:
Nilton Manoel

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.19)


Trova do Dia

Depois que desce a cortina,
quando o amor desata os laços,
não é um show que termina...
é a vida feita em pedaços
MARISA VIEIRA OLIVAES/RS

Trova Potiguar

A menina seminua,
presa, disse ao detetive:
– eu não me queixo da rua,
mas do lar que nunca tive!
JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN

Uma Trova Premiada

1990 > Sete Lagoas/MG
Tema > CASCATA > Menção Honrosa

A cascata em que se espelha
resplandecente beleza,
é o rio que se ajoelha
ante o altar da Natureza!
DIVENEI BOSELI/SP

Uma Poesia livre

João Batista Xavier/SP
CARÍCIAS

As nossas mãos nem se tocam...
e os olhos trocam dardos deslizantes
percorrendo nas veias lavas
e em nossos corpos leves
o suor lânguido, sereno.
A seda dos dedos nos envolvem
paulatina e ternamente
e os olhos cerrados e errantes
dizem-se nos pensamentos
os anseios fugazes então calados.
A eternidade do momento
paira nas carícias dadivosas
e a súplica intempestiva
delineia nossas peles, nossos nervos,
nossos atos e recatos.

Uma Trova de Ademar

Na cruz, Jesus quase exangue,
mesmo assim ele sentia
escorrer gotas de sangue
no manto azul de Maria.
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Não sei porque, quando canto,
por mais alegre a canção,
tem uma gota de pranto
que vem do meu coração.
ADELMAR TAVARES/PE

Estrofe do Dia

Já plantei minha semente
no roseiral da saudade,
já gozei a mocidade
nessa vida inconseqüente,
deixei de ser imprudente
amando quem não devia,
arranquei a alegria
no calabouço da dor;
onde se planta uma flor
nasce um pé de poesia.
HÉLIO CRISANTO/RN

Soneto do Dia

Diamantino Ferreira/RJ
UMA DÁDIVA DE AMOR.

Passei a minha vida, entre percalços,
tão só pela desdita de haver-te amado.
Corri o mundo afora, transtornado,
buscando outros amores: porém, falsos!

Decênios já passaram; mas, em vão,
ninguém achei que te lembrasse a imagem,
ou que ao menos trouxessem de passagem,
um lampejo de ti, meu coração!

E se nós, um de nós, talvez errados,
culpa dos molestos já passados
já não nos cabe, agora, pesquisar.

A minha dor, no entanto, apenas quero
e no seu fundo, amor! Eu te assevero:
eu vou morrer, te amando sem cessar!...

Fonte:
O Autor

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Projeto 4 em 1) numero 2

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (São Fidélis/RJ)
RUMO DA VIDA

Tirei o traço na trena,
Toquei fogo na fornalha,
Saí de foco, de cena,
Rezei com fé a novena,
Dei flores pra namorada...

Afinei minha viola,
Recitei o meu poema
Confessei o meu dilema,
Pra vida eu nem dei bola.
Fugi cedo da escola
E o filme da minha vida
Projetei no meu cinema...

Arrumei as minhas tralhas,
Fiquei perdido na trilha,
Refugiei-me na ilha
Desse mundo de ilusão.
Doei pra você todinho
O meu pobre coração!

José Antonio Jacob (Juiz de Fora/MG)
ALMINHA

Desperto, pois que o sol já está lá fora,
E ainda zonzo de sono e de esperança,
Deixo pular pela janela afora
A minha inquieta alminha de criança.

Que corre alegre, rodopia e trança
Entre o florado que a manhã decora,
Depois, como uma folha, vai embora
Seguindo a brisa que na tarde avança.

Não se descuide minha alminha boa
Que vai anoitecer, (a tarde é breve!)
O sol logo declina e o tempo voa!...

E, antes que o dia, ao alto, se deforme,
Ela retorna dócil, meiga e leve,
E acomoda-se, no meu colo, e dorme...

Luiz Caetano Pereira Guimarães Junior (1847 / 1898)
VISITA À CASA PATERNA

Como a ave que volta ao ninho antigo
Depois de um longo e tenebroso inverno,
Eu quis também rever o lar paterno,
O meu primeiro e virginal abrigo.

Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,
O fantasma talvez do amor materno,
Tomou-me as mãos, olhou-me grave terno,
E, passo a passo, caminhou comigo.

Era esta a sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)
Em que da luz noturna à claridade
Minhas irmãs e minha mãe... O pranto

jorrou-me em ondas... Resistir quem há-de?
Uma ilusão gemia em cada canto,
Chorava em cada canto uma saudade.

Pedro Emílio (São Fidélis/RJ)
Planta um beijo em meu Jardim
meu amor, quando te fores,
que ao ver teu beijo florir
murcharão as outras flores!

Fonte:
Antonio Manoel Abreu Sardenberg

Nilto Maciel (Aquela Dor no Peito)

Charles James Lewis. Mulher lendo à janela (1830)
Após o almoço, costumo ler. Sempre as novidades. Deixo os clássicos para a noite. Desde ontem folheio o novo livro de Wilson Gorj: Prometo ser breve. Mas nunca leio numa tarde um livro todo. Não por preguiça. Prefiro ler aos goles: vou à copa, beberico umas gotas d’água, caminho pela casa, volto ao assento, reabro o volume. E assim passo uma hora.

Esse sossego, no entanto, é quase todo dia quebrado. Vez por outra, sou despertado pelos telefones – esses objetos quase totêmicos para muitos de nós. Oferecem planos de saúde e morte súbita, automóveis voadores, viagens aos confins do mundo (nosso, meu). Invento histórias terríveis, para me livrar desses vendedores de ilusões: ontem meu filho (não tenho filho) caiu do segundo andar; assaltaram minha casa e me levaram quase tudo.

Também os carteiros – esses portadores de cobranças bancárias – me chamam à realidade. Há, ainda, os vendedores de frutas e verduras, em carrinhos puxados a mão. Gritam, na calçada: Olha o limão verde, freguesa. Hoje tem abacaxi doce.

Às vezes, minha tranquilidade é roubada por jovens leitores. E eu muito me regozijo com esse roubo. Como se me levassem a angústia toda que me cose os retalhos da tarde.

Hoje recebi a visita da estudante Jéssica Morais. Quer ser escritora. Mostrou-me uns poeminhas. Como soube de mim? Buscava poesia na Internet e terminou encontrando meu nome. Deve ter sido no Jornal de Poesia, de Soares Feitosa. Na primeira mensagem escreveu: “Li umas poesias do senhor e gostei muito”. Foram mais de dez comunicações, minhas e dela. Na mais recente, se encheu de coragem: “Quero muito conhecer o senhor. Nunca vi um escritor de perto”.

Com vergonha de falar de mim, perguntei-lhe se conhecia Dante, Camões, Shakespeare. Sim, tinha lido um “resumo” da Divina Comédia, uns sonetos do luso, Romeu e Julieta. Como não sou conhecedor deles, temi meter-me numa enrascada dos diabos e decepcionar a garota. Preferi falar dos novos escritores: “Você conhece Wilson Gorj?” Não, não conhecia. Lembrou-se de Gorki. E falou de Dostoiévski, Gogol, Tolstói, Tchekhov. Fiquei embasbacado. Como esses jovens sabem de tudo!

Abri o livrinho do moço de Aparecida (nasceu em 1977, ano em que a revista O Saco se findou e me mudei para Brasília) e li em voz alta: “Wilson Gorj é um dos expoentes da nanoliteratura.” São palavras de Cairo Trindade, na apresentação do volume. Jéssica me interrompeu: “O que é nanoliteratura?”

As epígrafes de Wilson são do mestre inglês: uma de A tragédia do Rei Ricardo II, outra de Hamlet. O livro é dividido em “Microcontos” (38 narrativas curtíssimas, numeradas e sem títulos, e outras com títulos), “Reinações no reino da palavra” (algumas de uma linha, sem título; outras com título) e “Doses homeopoéticas” (todas com título, algumas mais longas: quatro, cinco, seis linhas).

A tarde morria. Lembrei-me de Castro Alves: “A tarde morria! Nas águas barrentas / As sombras das margens deitavam-se longas” (...). Minha sede aumentava. Meu medo passava, escorria para o quarto, calava-se debaixo da cama. “Quer ouvir algum continho do Gorj?” Eu não esperava resposta tão áspera: “Prefiro Homero, mas gosto do mesmo modo desses meninos de hoje”.

Li o primeiro: “O carro era zerado. Mas a namorada... Como era rodada!” Olhei para a cara dela. Fazia careta. Mas uma careta tão engraçada, tão bonita, que tive ímpetos de beijá-la. Contive-me. Não estou mais na idade desses arroubos. “Parece piada”. Ri, envergonhado. “Ouça este, então: ‘Aquele teria sido o sono mais longo de sua vida. Não tivesse acordado a sete palmos debaixo da terra’. Jéssica sorriu: “Este é bem melhor. O senhor não acha?” Irritei-me: “Por que você me trata assim, menina?” Ela se mostrou surpresa: “Porque o senhor me lembra meu avô”. Que pirralha mais atrevida! Tive até vontade de lhe dar umas palmadas. “Leia outro”. Li, agastado: “Perdeu a fé nos homens. Desde então se devota às mulheres”. O título é “Padre”. Riu, sem querer me ofender. De propósito, continuei a leitura e passei ao igualmente brevíssimo “Ondas”: ‘Teu corpo, praia deserta. Minha língua, o mar’. Ela entendeu tudo: “Esse Wilson Gorj é bem criativo”. Concordei com ela. E li uma frase de Mayrant Gallo, nas abas do livro: “E, se tudo é brincadeira, é preciso lembrar que, freudianamente, não existe brincadeira”.

Sedento, ofereci água à menina. Enquanto sorvia o líquido, ela vasculhava a pequena biblioteca da sala. Súbito, me pediu, por empréstimo, os dois volumes dos contos reunidos de Moreira Campos. Saciado, não pude dizer não. Afinal, literatura é entrega.

Ao se despedir, disse, rindo: “Enfim, consegui realizar mais um sonho: conhecer um escritor pessoalmente”. Dei-lhe um beijo na testa e, sem saber o que dizer, balbuciei: “Moreira Campos é o nosso Tchekhov.” Ela saiu, muito séria e faceira. Voltei ao livro de Wilson Gorj: “Aquela dor no peito, quem dera fosse poesia... Mas era crônica”.

Fortaleza, 8 de outubro de 2010.

Fonte:
Colaboração do Autor. Disponível em seu blog: http://literaturasemfronteiras.blogspot.com/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.18)


Trova do Dia

Das alegrias passadas
que o tempo ingrato perdeu,
guardo lembranças mofadas,
relíquias do meu museu.
DOROTHY JANSSON MORETTI/SP

Trova Potiguar

A força do sertanejo
pelo seu trabalho medra:
é um trovão em arpejo
em cada cerca de pedra!
GILDA MOURA/RN

Uma Trova Premiada

2009 > Niterói/RJ
Tema > PRÊMIO > Menção Especial

Fez-me este amor de erros crassos
um prêmio sem expressão:
foste “hors-concours” em meus braços;
fui nos teus...consolação!
EDMAR JAPIASSÚ MAIA/RJ

Uma Poesia livre

Jania Souza/RN
CORAÇÃO DE MENINO.

(...) Leve nuvem no céu
doce bombom de mel
alegria, arco-íris em festa.
Às vezes, saudade, barquinho de papel.
Sempre é carinho, ternura de mãe.
Amor autêntico sem discriminação
carrega no peito, bem a o lado esquerdo
vontade infinita de conhecimento
para compreender os caminhos do mundo
o segredo da rosa e da borboleta
o brilho das estrelas
lá, longe, no infinito
e, aqui, nos olhos da tristeza.

Uma Trova de Ademar

A Mãe guarda tanto amor,
que não encontra empecilho
para ocultar sua dor
em respeito a dor do filho...
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Desgosto grande, profundo,
que me entristece e consome,
é o de saber que, no mundo,
crianças morrem de fome.
REINALDO AGUIAR/RN

Estrofe do Dia

Hoje o meu itinerário
É de casa pra igreja,
Comprei até um rosário,
Parei de comprar cerveja.
Nem fumo e nem bebo mais,
Até os meus ideais
Têm mais solidariedade.
Vivo dizendo aos netinhos:
- Minhas rugas são caminhos
Traçados pela saudade.
WELLINGTON VICENTE/PE

Soneto do Dia

Eliane Couto Triska/RS
QUEM SOU.

Sou a pobre... a pequena cantareja
De desejos e amor sobrepujantes
Sou começo do que há, a que flameja
Dos acenos que saúdam visitantes.

Pergunto-me: sou encontro ou partida?
Se poema, se um conto ou uma prosa
Quando escrevo o meu nome com a rosa
Do perfume que te trago à minha vida.

Compreender-me é fugir do igual conceito
Das métricas do soneto quando eleito
Que proíbem o verso à compaixão.

E tu que me lês.. sou como escrevo
Um sonho que liberto no relevo
Das letras como bolhas de sabão.

Fonte:
O Autor

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.17)


Trova do Dia

Saudade, que dor enorme,
é triste o nosso sentir:
você se deita e não dorme
e nem me deixa dormir!
JOSÉ VALDEZ C. MOURA/SP

Trova Potiguar

Esta inclusão social,
não é se dar uma esmola;
é auto-estima pessoal,
documento, emprego, escola.
FRANCISCO MACEDO/RN

Uma Trova Premiada

2007 > Petrópolis/RJ
Tema > MÃE > 4º Lugar

A mãe é o mais evidente
exemplo de chão fecundo,
nutre de amor a semente
e entrega os frutos ao mundo.
WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ/PR

Uma Poesia livre

Roberto Pinheiro Acruche/RJ
SEDUÇÃO.

O seu corpo que passou
a seduzir a minha imaginação,
levando-me ao devaneio,
acelerando as batidas do meu coração,
aquecendo todo o meu ser;
fez-me delirar caprichosamente,
e assim, no auge da imaginação
e da fantasia,
foi como despi-la de seus trajes,
e vê-la, da forma mais encantadora e desejada...
Simplesmente nua...
Maravilhosamente nua...
Expondo toda a graça do seu corpo,
e eu, a conduzindo num bailado perfeito,
na dança fascinante,
de ritmo sinuoso, maravilhoso,
e sublime, do amor.

Uma Trova de Ademar

A árvore, quando orvalhada,
duplica os encantos seus
e abriga em cada galhada
os seresteiros de Deus...
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Há muita gente sem pão
que tem amarga a saliva,
porque mastiga a ilusão
para sonhar que está viva!...
FERNANDO COSTA/SP

Estrofe do Dia

Quem é grato nessa vida
mais na frente é contemplado
por gratidão concedida
terá ponto ao ser julgado
noutra vida terá paz
porque se mostrou capaz
de dizer muito obrigado.
(Marcos Medeiros/RN)

Soneto do Dia

Cruz e Sousa/SC
SORRISO INTERIOR

O ser que é ser e que jamais vacila
Nas guerras imortais entra sem susto,
Leva consigo este brasão augusto
Do grande amor, da grande fé tranqüila.

Os abismos carnais da triste argila
Ele os vence sem ânsias e sem custo...
Fica sereno, num sorriso justo,
Enquanto tudo em derredor oscila.

Ondas interiores de grandeza
Dão-lhe esta glória em frente à Natureza,
Esse esplendor, todo esse largo eflúvio.

O ser que é ser transforma tudo em flores...
E para ironizar as próprias dores
Canta por entre as águas do dilúvio!

Fonte:
O Autor

Fórum Cultura 2010 (Portugal)


Grupo de Promoção Sócio-Cultural de Montargil e Centro de Estudos Politécnicos da Golegã

Data:
23 de Outubro de 2010

Local:
Auditório da Misericórdia de Montargil

Sinopse:

O Grupo de Promoção Sócio – Cultural de Montargil, através deste FORUM CULTURA, pretende contribuir para o desenvolvimento do espírito crítico e para a consciencialização da importância da promoção sócio - cultural, que, indiscutivelmente, possui implicações no modelo de desenvolvimento regional e nacional.

A apresentação dos dois temas centrais, “Cultura – o que é?” e “A importância da Cultura Tradicional”, através das comunicações presentes no programa, assim como a realização de um debate para cada um dos temas, são contributos estruturantes que, certamente, muito enriquecerão o resultado final desta iniciativa. A presença de especialistas no domínio da Cultura, representantes de organizações e instituições de renome, contribuirá, indiscutivelmente, para reforçar a qualidade dos conteúdos partilhados neste espaço de discussão e reflexão.

Espera-se que este FORUM consiga proporcionar a todos os participantes a oportunidade de adquirirem ou reforçarem conhecimentos técnicos e científicos e que se fomente, cada vez mais de forma intensiva, a discussão, a reflexão e a partilha de competências institucionais e empresariais na área da Cultura.

O Grupo de Promoção Sócio – Cultural de Montargil acredita que é possível fomentar esta e outras iniciativas técnicas e científicas, como componentes estratégicas da sua missão institucional, nomeadamente, no âmbito da salvaguarda, valorização e promoção do cultural.

Objectivos:

- Debater a definição de Cultura e a importância da Cultura Tradicional.
- Assumir a Cultura como um eixo estratégico do desenvolvimento de base territorial.
- Fomentar as parcerias e cooperações entre os diversos actores, numa óptica do trabalho desenvolvido em rede.

Público - Alvo:
• Estudantes;
• Investigadores;
• Agentes culturais;
• Público em geral.

Os interessados devem formalizar a sua participação para o (contacto da organização – mail ou telefone).

Secretariado
Lino Mendes
António Mendes
gpmontargil@gmail.com

Programa:

14h00 – Recepção dos convidados e participantes do FORUM CULTURA

14h30 – Abertura do FORUM CULTURA.

Cultura – O que é?

15h00 – DRAMATURGIAS EMERGENTES
Prof. Doutor Avelino Bento - Director da licenciatura em Animação Sóciocultural da Escola Superior do Instituto Politécnico de Portalegre

15h20 – CRUZAMENTO ENTRE CULTURA E PERSPECTIVAS CULTURAIS
Dr.Tiago Antunes - Director da Agência INATEL de Portalegre

15h40—INCURSÃO PELO IMAGINÁRIO—Cultura e Cultura Popular
NICOLAU SAIÃO - Poeta, publicista, actor-declamador e artista plástico Com trabalhos em diversos países da Europa, Américas e Oceania

16h00 - Debate

16h20 – Coffee - Break

A Importância da Cultura Tradicional
Moderador Dr. Aurélio Campos

16h30 – "O MUSEU DECOMUNIDADE E O DESENVOLVIMENTO DE BASE TERRITORIAL"
Prof. Doutor Luís Mota Figueira - Director de Departamento de Gestão Turística e Cultural da Escola Superior de Gestão de Tomar do Instituto Politécnico de Tomar.

16h50 – “TRADIÇÃO E REPRESENTAÇÃO; DIFICULDADES E ESTRATÉGIA
Dr.Aurélio Lopes - Antropólogo, Investigador e Professor do Ensino Superior

17h10 - Aguarda-se informação da Direcção Regional da Educação do Alentejo

17h30 – Debate

18h00 – Encerramento do FORUM CULTURA

Fonte:
Lino Mendes
Imagem = montagem por José Feklman

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.16)


Trova do Dia

Certas crianças, Messias,
que puseste em nossos chãos,
olham tristes, de mãos frias,
os caprichos de outras mãos...
MILTON SOUZA/RS

Trova Potiguar

Faminta e desprotegida,
vagando em busca de nada,
ganha o mundo e perde a vida
a criança abandonada!
JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN

Uma Trova Premiada

2005 > Niterói/RJ
Tema > ENCONTRO > Vencedora

Na mesma rua onde os nobres
desfilam pompa e capricho,
se encontram crianças pobres
entre montanhas de lixo.
ÉLEN DE NOVAIS FÉLIX /RJ

Uma Poesia livre

Gislaine Canales/SC
ABISMO.

No fundo de um abismo,
lá bem embaixo,
tão pequenina,
vislumbro uma flor
singela,
linda como uma criança.
Esse abismo
é minha vida.
essa flor,
minha esperança!

Uma Trova de Ademar

Quando chove no terreiro,
crianças brincando ao léu,
se banham nus no chuveiro
da caixa d’água do céu!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram:

Vem palhaço, sem tardança,
com teus trejeitos, teus chistes
e acorda a alegre criança
que dorme nos homens tristes...
ELTON CARVALHO/RJ

Estrofe do Dia

Eu queria de novo ser menino
Pra brincar com galinha de pereiro,
Pra correr e brincar pelo terreiro
E na igreja poder bater o sino;
Me encantar com os bois de vitalino,
Tomar banho de chuva numa enchente,
Com cordão extrair meu próprio dente,
Ir ao baile escondido olhar a dança;
Eu queria de novo ser criança,
Pra brincar de criança novamente.
ADEMAR MACEDO/RN

Soneto do Dia

Sá de Freitas/ SP
INGÊNUA ESPERANÇA.

Hoje lembrei-me um pouco da infância...
E retornei ao tempo em que eu brincava,
Naquele verde intenso da invernada,
A vencer com vigor qualquer distância.

Meu coração remorso algum portava;
Saudade alguma me fazia assédio;
Nem solidão, para trazer-me o tédio
Havia, quando a sós eu me encontrava.

Mas da vida ao sentir fortes açoites,
Vendo meus dias se tornarem noites,
Nesta luta sem fim para viver:

Penso: (mas que ingênua essa esperança!)...
"Ah! Se eu voltasse, um dia a ser criança.
E assim ficasse, sem jamais crescer!"

Fonte:
O Autor

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O Amor na Passarela I

Vicência Jaguaribe
POEMA-DE-AMOR

Relutei em fazer um poema de amor.
Escapou-me o tom e atropelei o ritmo.
As palavras se esconderam encabuladas
E a sintaxe embaralhou-se escandalizada.

Mas desdobrava-se um dia tão bonito!
– Um mar azul encontrando o infinito
Pássaros desafiando o pequeno espaço verde
Crianças conquistando os últimos recantos livres –
Que resolvi, se preciso, desafiar a morte.

As lembranças, lá, arrumadinhas nas gavetas.
Nas prateleiras, o aroma e o humor da juventude.
No cofre, a sete chaves, as últimas palavras ouvidas.
Os últimos beijos e as últimas carícias trocados.
As últimas cartas recebidas. Sim, palavras de amor.
Cartas de amor, ridículas, sim, pois
(Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.)

Foi só dispor o material em cima da mesa.
Sem muito esforço, recuperei o tom e o ritmo
Encontrei as palavras antes escondidas
Consegui, sem custo, descontrair a sintaxe.
De repente, olhei para o monitor. Vi o poema lá,
Adquirindo vida, a fazer-se quase sozinho.
Minutos depois, eis o poema de amor.
Ridículo. Sim.
Pois não seria poema de amor se não fosse
Ridículo.

Vicência Jaguaribe
AS RIMAS DO AMOR

Quis fazer um poema de amor.
Inútil tentativa, esforço vão.
As palavras escorregaram da página virtual
E, com a ironia habitual, olharam-me do chão.

Recolhi as palavras esparramadas.
Tentei fazer um poema de forma fixa.
Rimei, então, amor com flor.
Ouvi uma risadinha safada.
Riso de quem critica a ingenuidade
E a ignorância dos percalços da vida.

Então, rimei amor com dor.
A risadinha safada mudou de tom:
- Não dá para ser mais original?

Para falar de amor convém saber que o amor
– que nem sempre merece loas –
Rima não com palavras, mas com pessoas.
E, como todas as rimas, as do amor
Podem ser perfeitas ou imperfeitas.

Bom ter em mente – chocante embora –
Que as do amor são, em geral, imperfeitas.
E, para usá-las, paga-se juro de mora.
Raramente o amor, ipso facto,
Rimas perfeitas encontra.
O amor se realiza mesmo é na 25ª hora.

Silviah Carvalho
QUANDO CHEGA O AMOR

Chega o amor
E com ele o sofrimento,
O desalento a dor, a solidão...
Chega o amor


E vem trazendo a duvida;
E com medo de perder
O que nem sempre se possui
Vamos vivendo de ilusão,

Mas ele chega,
Quando não esperamos
Sempre acompanhado de coragem!
Alegria, temor e paz...

É uma força sobrenatural,
Que ignora a distancia,
Estado civil, raça, cor
Ou condição social,

Misto de sentimentos!
Que ultrapassa barreiras,
Para viver de momentos.
Entranhável afeto,

Ora paz ora guerra,
Conflitante, envolvente!
E quase sempre
Não chega a lugar algum

Insiste em ser dois, e às vezes,
Por muitas vezes! Tem que ser apenas um,
O amor é isso, ninguém explica,
A si mesmo se justifica

É como um pássaro cego
Que voando sem direção
Pousa em qualquer lugar...

E esse qualquer lugar,
Chamamos de coração.

Silviah Carvalho
TUDO POR VOCÊ

Já vi milagres acontecerem,
Desejos concretizados,
Já vi corações partidos,
De amores despedaçados.

Sonhos ressuscitados,
Amizades reconstruídas,
Mas nunca vi tanta mudança,
Desde que chegaste a minha vida.

Passas em meio ao meu coração,
Dominando minhas forças,
E não consigo me mover,
Como se minha vida esperasse por você.

Nascem flores onde passas em mim,
Nunca vi milagre assim...
Eu que tinha o sonho perdido no tempo,
E um coração vazio em mim.

Vejo-me agora a sonhar com você,
Esperar pelo momento de te ter,
A viver de você - tudo por você...

Me perguntas: Com o que te conquistei?
Eu, já não cria no amor! E agora vivo de amar-te!
Com as cordas do amor eterno me conquistastes,

Peço-te, não desate as cordas do amor,
Não tente compreende-las, nem discerni-las,
Deixa-me amá-lo, assim como amo!

Pois de qualquer forma amar-te-ia,
Mesmo se não visse seu rosto e não ouvisse sua voz,
...mesmo, se apenas lesse sua poesia.

Mesmo se no tempo não houvesse mais tempo,
E minha esperança houvera de novo perdida,
Amar-te ia mesmo assim... Por toda minha vida.

Miguel Russowski
ESPERANÇA

Esperança!... Não falhes, vem comigo!
Tu que és capaz de colorir o vento,
vem! – te peço - adoçar meu pensamento
com os favos de mel do amor antigo!

Esperança! Não deixa o desalento
se intrometer nesta ilusão que abrigo.
Não ponhas aqui dentro este inimigo
chamado:- “ Não te quero!” - não o aguento.

Esperança !... Perfuma meu agora
com a certeza que nuca se evapora
uma promessa feita à luz da lua.

Esperança!... Ó mentira deliciosa!
tu que anulas espinhos de uma rosa,
me faz, mais vez ouvir..: - Sou tua!

Vinicius de Moraes
SONETO DO AMOR TOTAL

Amo-te tanto meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te enfim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Adalgisa Nery
POEMA DA AMANTE

Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos,
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.
Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.
Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.
Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
E em tudo que ainda estás ausente.
Eu te amo
Desde a criação das águas,
desde a idéia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.
Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.

Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)
O AMOR É UMA COMPANHIA

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.

Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

Florbela Espanca
OS VERSOS QUE TE FIZ

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

Cesário Verde
Eu e ela

Cobertos de folhagem, na verdura,
O teu braço ao redor do meu pescoço,
O teu fato sem ter um só destroço,
O meu braço apertando-te a cintura;

Num mimoso jardim, ó pomba mansa,
Sobre um banco de mármore assentados.
Na sombra dos arbustos, que abraçados,
Beijarão meigamente a tua trança.

Nós havemos de estar ambos unidos,
Sem gozos sensuais, sem más ideias,
Esquecendo para sempre as nossas ceias,
E a loucura dos vinhos atrevidos.

Nós teremos então sobre os joelhos
Um livro que nos diga muitas cousas
Dos mistérios que estão para além das lousas,
Onde havemos de entrar antes de velhos.

Outras vezes buscando distração,
Leremos bons romances galhofeiros,
Gozaremos assim dias inteiros,
Formando unicamente um coração.

Beatos ou pagãos, vida à paxá,
Nós leremos, aceita este meu voto,
O Flos-Sanctorum místico e devoto
E o laxo Cavalheiro de Flaublas...

Armando C. Sousa
TROVAS DE AMOR

Vida que vive com mágoa
Precisa muita atenção
Como rio procura água
O amor um coração

Teus beijos e adoração
Mostra o quanto me ama
Faz-me sentir emoção
De um amor que não engana

Aperta-me com um abraço
Deixa nele teu carinho
Duas bocas sem espaço
Seladas com um beijinho

União de duas bocas
Dois pensamentos chegados
Nossas paixões são loucas
Não há amor sem pecados

Estende-me a tua mão
Vamos caminhar vida fora
Eu dou-te meu coração
Tu dás-me o teu sem demora.

Humberto de Campos
TU

Quando alguém me pergunta, por ventura,
Quem me faz de outros tempos diferente,
Pensas tu que teu nome se murmura,
Que o exponho à ânsia voraz de toda gente?

Não; digo apenas o seguinte: é pura,
Casta, simples e meiga: é uma dolente
Cauta rola de tímida candura,
Flor que menos se vê do que se sente.

Mimo de graça e de singeleza;
Clara estrela arrancada a um céu profundo:
Doce apoteose da Delicadeza...

Nesse ponto, de súbito, me calo;
E, sem dizer teu nome, todo mundo
Fica logo sabendo de quem falo!

Olegário Mariano
VOCÊ NUNCA ESTÁ SÓ…

Você nunca está só. Sempre a seu lado
Há um pouquinho de mim pairando no ar.
Você bem sabe: o pensamento é alado...
Voa como uma abelha sem parar.

Veja: caiu a tarde transparente.
A luz do dia se esvaiu... Morreu.
Uma sombra alongou-se a seus pés mansamente...
Esta sombra sou eu.

O vento ao pôr do sol, num balanço de rede,
Agita o ramo e o ramo um traço descreu.
Este gesto do ramo na parede
Não é do ramo: é meu.

Se uma fonte a correr, chora de mágoa
No silêncio da mata, esquecida de nós,
Preste bem atenção nesta cantiga da água:
A voz da fonte é a minha voz.

Se no momento em que a saudade se insinua
Você nos olhos uma gota pressentiu,
Esta lágrima, juro, não é sua...
Foi dos meus olhos que caiu...

Antonio Manoel Abreu Sardenberg
ALMA

Quando a vida vem sussurrar baixinho
Dizendo coisas que se quer ouvir,
Deixe o recado chegar de mansinho,
Que toda a alma também quer sentir.

Prepare o peito para uma festa,
Faça um convite para ela entrar,
Reparta o resto todo que inda resta,
Pois dividir é muito mais que dar.

E deixe o amor enaltecer a vida
Dando guarida ao pobre coração.
Quando chegar a hora da partida,
Que nos sussurre a voz da emoção.

E que o acalanto de linda cantiga
Deixe que venha a paz que tanto acalma
Trazendo junto a esperança antiga
Que ainda vive dentro dessa alma.

Ialmar Pio Schneider
SONETO DA ESPERA

O que me falta nesta vida, penso...
são uns carinhos sempre desejados.
É ter, enfim, um forte amor imenso
que contenha recíprocos agrados.

Pois assim cada vez mais me convenço
quanto sofreram os desenganados
e como foi triste o caminho extenso
dos que viveram sempre abandonados.

Uma esperança ainda me seduz
nestes momentos em que logro vê-la
cercada de resplandecente luz.

E meu olhar a fita ansiosamente
como quem busca na distante estrela
um lenitivo ao que sua alma sente...

Fontes:
Colaboração de Antonio Manoel Abreu Sardenberg