NOSTALGIA
Amo
os
casais
Ombro
a
ombro
Pisando a mesma calçada
Amo os casais que
atravessam
ruas
estações
Seguram as
mãos
não
o tempo
Amo
os
casais
Que permanecem
(poema publicado no site "escritoras suicidas" - convidadas - edição 36
INICIAL
mudar a sombra e a árvore
da terra do mar mudar
ser par
mudar o risco e o cabelo
o lado de dormir e o de sonhar
(do livro "Mudança de lua", Scortecci Editora, 1986 – São Paulo/SP)
ESQUECI
o meu
caminho de casa
o sono úmido
útero
o nome dos sentimentos
as mãos
dadas às praças
as flores
as estações, esqueci
o rosto de minha mãe
(poema sobre xilogravura de Valdir Rocha)
CLANDESTINIDADE
Vivi na clandestinidade
anos
No escuro nos bares na periferia
-------------------------------anos a fio
-------------------------------escondida
-------------------------------envolvida
em fumaças
teorias
Na paixão. Na clandestinidade
Até que um dia me entregaram
à vida
(do livro "Mudança de lua", João Scortecci Editora - São Paulo, 1989)
GABRIEL
a duras penas
o tempo parou:
enterramos o morto
nos misturamos à terra
a
duras penas
conhecemos o nosso verdadeiro nome
(do livro "Gabriel:" - Massao Ohno Editor, 1990, São Paulo/SP)
MULHERES
Mulheres
mecanizadas
simulam
vozes
De passos duros
e roupas leves
alargam a tarde
de fumaça e
objetivos
Têm pressa – não
sonhos
Mulheres mecanizadas
geram filhos e
criam o
abstrato
(do livro "Invenções do desespero", São Paulo / SP, 1973)
TÃO TRANQÜILA
Tão tranqüila a sala
A tarde caminha lenta impune
Portas fechadas
ressoam vozes
lá fora
um telefone jamais chama
Talvez chova ainda hoje
mas agora
nenhum risco ou relâmpago
Posso dormir neste barco
há árvores à margem sombreando o rio
É tão tranqüila a sala
na tarde seguindo lenta
E vibra
ardente
como uma palma de mão
Aqui descanso do sim e do não
(do livro "Risco" - Nankin Editorial, 1998 – SP)
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