Em Como e porque sou romancista, José de Alencar tenta responder denotativamente a pergunta que tantas vezes se faz aos autores. A maioria dos escritores parece dar respostas metafóricas, poéticas, até românticas. Neste livro de seus livros, nosso arqui-romancista se pergunta se não teria sido a “leitura contínua e repetida de novelas e romances que primeiro [lhe] imprimiu no espírito” o desejo de ser escritor dessa forma literária de sua predileção.
Ora ou outra esbarro também na pergunta, embora eu seja um projeto de escritor. Escrevo meus versinhos, uns continhos curtos, agora crônicas e tenho cá uns esqueletos de romances. No meu blog/site, a indicação escritor é mais um desejo, uma pretensão e uma presunção que necessariamente uma verdade. Mas fico tentado a refletir sobre esta pergunta, feita nestes termos ou de forma parafrásica: Por que você escreve?
Se digitar a pergunta no google, você vai encontrar mais de meio milhão de links. É uma pergunta recorrente. Para mim, foi Oscar D’Ambrósio, da Rádio UNESP, quem mais recentemente me perguntou isso numa entrevista que concedi ao programa Perfil Literário. Ele me perguntou como foi meu primeiro contato com o objeto livro e se eu venho de uma família de leitores.
Na resposta, eu aponto três tipos de leituras que potencialmente tenham impresso em mim esta vontade de escrever. A coleção Vagalume que eu pegava de empréstimo nas bibliotecas das escolas onde estudei em Marabá (especialmente a Biblioteca da Escola Jonathas Pontes Athias), os best-selleres de Sidney Sheldon, que meu irmão Ezequiel me motivou a ler, e os discos da Coleção Taba Cultural, que ganhei de minha mãe. Na verdade, são leituras de três momentos diferentes. A Taba mais na infância, Vagalume entre a segunda e a quarta séries e Sidney Sheldon de quinta série em diante. Depois da entrevista lembrei de outras leituras que fizeram parte de meu cotidiano de criança e adolescente e que poderiam ingressar na resposta de modo a deixá-la mais completa. Por exemplo: minha alfabetização em Coroatá e a forma como a professora Elza me motivou a ler placas de ruas, cartazes, etc. e, na adolescência, o contato com uns exemplares da coleção Verbo, em que encontrei e li textos incompreensíveis para mim à época, como Tartarin de Tarascon e Bispo Negro. Poderia acrescentar ainda que minhas escolhas entre a compra de um objeto utilitário (um tênis, um relógio ou uma camisa) e a compra de um livro, muitas vezes me levaram a escolher o livro.
Existem dois longos períodos que me fizeram conviver hodiernamente com a leitura de textos literários. Um deles foi o tempo que passei trabalhando na biblioteca Goncalves Dias, da Escola Salomé Carvalho, em Marabá (de 96 a 2002). Fazia parte de minha rotina diária a leitura de um livrinho de história infantil, capítulos de livros de infanto-juvenis e algumas páginas de romance. Se a biblioteca estivesse muito cheia, ia para uma narrativa curta (conto ou crônica) ou para leitura de poemas. O outro, antes deste (de 92-97), foi o período em que participava ativamente do circuito alternativo literário, escrevendo, recebendo e respondendo cartas, recebendo livros e devorando-os tão logo chegassem, escrevendo poemas e mandando-os para revistas, jornais e fanzines, além de participar de concursos literários.
Este decênio, que ocorreu em parte antes de eu ingressar no curso de Letras, deve ter sido o maior responsável pelo meu desejo de ser escritor. Foi principalmente durante meu período missivista que mais escrevi (além das cartas, poemas, muitos poemas, rascunhos de romances, coisas que foram para o lixo), pois paralelamente ao trabalho de bibliotecário, eu já lecionava, fazia graduação e tinha essas preocupações de casa que acabam com qualquer estro.
O desejo de ser escritor foi também cultivado por duas premiações ocorridas pouco antes de eu começar a trabalhar em biblioteca: o primeiro lugar num concurso nacional de poemas e um primeiro lugar num concurso municipal de redação. Ambas premiações ocorridas quando eu tinha 17 anos (depois talvez dedique uma crônica apenas a isto).
Meu caminho na literatura começou, mais ou menos assim. É provável que eu ainda dê respostas desencontradas sobre minha formação de leitor e escritor. Fale, por exemplo, da motivação escolar, das poucas vezes em que a redação era uma coisa prazerosa (especialmente na 2ª e na 6ª série). Certo é que, exceto os concursos literários dos quais participei (mesmo os que não me renderem premiação alguma), a gênese de minha formação de escritor está diretamente relacionada com minha história de leitor. Diferentemente do romancista de Mecejana, não me é possível apontar uma única motivação ou a motivação principal. Talvez seja melhor eu começar a preparar umas respostas metafóricas, menos denotativas. Afinal, amanhã tem outra entrevista.
Belém, 19 de outubro de 2010.
Fonte:
http://abiliopacheco.com.br/category/criacao-cronicas/
Ora ou outra esbarro também na pergunta, embora eu seja um projeto de escritor. Escrevo meus versinhos, uns continhos curtos, agora crônicas e tenho cá uns esqueletos de romances. No meu blog/site, a indicação escritor é mais um desejo, uma pretensão e uma presunção que necessariamente uma verdade. Mas fico tentado a refletir sobre esta pergunta, feita nestes termos ou de forma parafrásica: Por que você escreve?
Se digitar a pergunta no google, você vai encontrar mais de meio milhão de links. É uma pergunta recorrente. Para mim, foi Oscar D’Ambrósio, da Rádio UNESP, quem mais recentemente me perguntou isso numa entrevista que concedi ao programa Perfil Literário. Ele me perguntou como foi meu primeiro contato com o objeto livro e se eu venho de uma família de leitores.
Na resposta, eu aponto três tipos de leituras que potencialmente tenham impresso em mim esta vontade de escrever. A coleção Vagalume que eu pegava de empréstimo nas bibliotecas das escolas onde estudei em Marabá (especialmente a Biblioteca da Escola Jonathas Pontes Athias), os best-selleres de Sidney Sheldon, que meu irmão Ezequiel me motivou a ler, e os discos da Coleção Taba Cultural, que ganhei de minha mãe. Na verdade, são leituras de três momentos diferentes. A Taba mais na infância, Vagalume entre a segunda e a quarta séries e Sidney Sheldon de quinta série em diante. Depois da entrevista lembrei de outras leituras que fizeram parte de meu cotidiano de criança e adolescente e que poderiam ingressar na resposta de modo a deixá-la mais completa. Por exemplo: minha alfabetização em Coroatá e a forma como a professora Elza me motivou a ler placas de ruas, cartazes, etc. e, na adolescência, o contato com uns exemplares da coleção Verbo, em que encontrei e li textos incompreensíveis para mim à época, como Tartarin de Tarascon e Bispo Negro. Poderia acrescentar ainda que minhas escolhas entre a compra de um objeto utilitário (um tênis, um relógio ou uma camisa) e a compra de um livro, muitas vezes me levaram a escolher o livro.
Existem dois longos períodos que me fizeram conviver hodiernamente com a leitura de textos literários. Um deles foi o tempo que passei trabalhando na biblioteca Goncalves Dias, da Escola Salomé Carvalho, em Marabá (de 96 a 2002). Fazia parte de minha rotina diária a leitura de um livrinho de história infantil, capítulos de livros de infanto-juvenis e algumas páginas de romance. Se a biblioteca estivesse muito cheia, ia para uma narrativa curta (conto ou crônica) ou para leitura de poemas. O outro, antes deste (de 92-97), foi o período em que participava ativamente do circuito alternativo literário, escrevendo, recebendo e respondendo cartas, recebendo livros e devorando-os tão logo chegassem, escrevendo poemas e mandando-os para revistas, jornais e fanzines, além de participar de concursos literários.
Este decênio, que ocorreu em parte antes de eu ingressar no curso de Letras, deve ter sido o maior responsável pelo meu desejo de ser escritor. Foi principalmente durante meu período missivista que mais escrevi (além das cartas, poemas, muitos poemas, rascunhos de romances, coisas que foram para o lixo), pois paralelamente ao trabalho de bibliotecário, eu já lecionava, fazia graduação e tinha essas preocupações de casa que acabam com qualquer estro.
O desejo de ser escritor foi também cultivado por duas premiações ocorridas pouco antes de eu começar a trabalhar em biblioteca: o primeiro lugar num concurso nacional de poemas e um primeiro lugar num concurso municipal de redação. Ambas premiações ocorridas quando eu tinha 17 anos (depois talvez dedique uma crônica apenas a isto).
Meu caminho na literatura começou, mais ou menos assim. É provável que eu ainda dê respostas desencontradas sobre minha formação de leitor e escritor. Fale, por exemplo, da motivação escolar, das poucas vezes em que a redação era uma coisa prazerosa (especialmente na 2ª e na 6ª série). Certo é que, exceto os concursos literários dos quais participei (mesmo os que não me renderem premiação alguma), a gênese de minha formação de escritor está diretamente relacionada com minha história de leitor. Diferentemente do romancista de Mecejana, não me é possível apontar uma única motivação ou a motivação principal. Talvez seja melhor eu começar a preparar umas respostas metafóricas, menos denotativas. Afinal, amanhã tem outra entrevista.
Belém, 19 de outubro de 2010.
Fonte:
http://abiliopacheco.com.br/category/criacao-cronicas/
Imagem obtida na internet, de autoria de J. Robson.
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