1
O ônibus vai pela estrada,
a quase oitenta por hora;
da janela,curioso,
observo no percurso,
o cenário verdejante.
com a lavoura que garante,
a troca, Brasil afora.
2
De trânsito, no caminho,
os sinais de acostamento,
trazem toda a orientação,
pondo o motorista atento,
nos veículos à distância,
alertando a estravagância,
que só traz constrangimento.
3
Apesar de todo o aviso,
não se respeita a lombada,
os motoristas à esmo,
com os sinais, em disparada,
na banguela sem limite,
costuram sempre o grafite,
mas a polícia é alertada.
4
Sobre o chão preto que pulsa,
o sangue deste Brasil,
conduções rodam contentes,
com nosso povo gentil,
plantando tudo dá pé,
quando o trabalho é de fé,
a riqueza é senhoril.
5
Eucaliptos nos caminhos...
Cana,arroz,café... Valores
da geografia humana,
braços de trabalhadores,
dos campos que não conheço,
de São Paulo que enalteço
nos meus versos de louvores.
6
Ao longe num pasto rico,
esparsas vão as boiadas,
´por vaqueiros à cavalo,
de perto sendo cuidadas;
uma imagem de poesia
com toque de valentia,
ao viajante das estradas...
7
Ao pé da cerca farpada,
árvores de nossa flora,
pássaros de nossa fauna.
um João de Barro que chora
a traição de sua amada
que, ele fechou na morada.
são coisas que o povo adora.
8
Da terra pelos traçados]
feitos pela agrimensura,
a rigor coloca a lida,
curvas de níveis,á altura,
planejando a plantação;
da colheita a proteção
garante a sua fartura.
9
Enquanto os quadros mudam,
com as belezas naturais,
de uma repreza, uma praia,
com gente por todo o canto...
ao longe uma garça voa
com medo de uma canoa
que, rasga da água um recanto..
10
Num trecho da rodovia,
no saibro cresce o capim...
até uma árvore erótica,
tão nova e frondosa, assim...
com a previdência do aceiro,
queimadas feitas com esmero
varrem da terra o ruim...
11
Duas horas de viagem,
logo mais, uma parada
para esticar-se as pernas,
tirando o pó da estrada,
passando água pelo rosto,
comer o que for de gosto,
tomando uma laranjada.
12
Ao longe uma casa velha,
de adobo ... Parece foto,
encaixada na colina...
É de um passado remoto,
cheira a terra, mato e sol,
mercerizado lençol...
fico ao cenário, devoto.
13
Sinto-me até pioneiro,
envolvido em tal beleza
do reinado sertanejo.
Convenções da natureza:
bica dágua, cruz da estrada...
pela noite enluarada,
assombrações com certeza
14
Placas falam de distâncias,
com suas nomenclaturas
indicam quaisquer contornos,
só da vida nas agruras,
não se tem caminho de volta,
não adianta ter revolta,
nos dias de desventuras.
15
À beira da estrada, uma casa
com plantação no quintal,
em água de irrigação
que, serpenteia corrente,
enquanto um galo em pampeiro,
com a franga do terreiro,
desperta a atenção da gente.
16
A chaminé fumegante,
em fumaça de primeira.
Ah! Panelas no fogão,
talvez água na chaleira
e um forno sempre presente,
cheirando tudo o que a gente
tem saudades sem canseira.
17
Do galinheiro,ovos frescos,
o frango morto no dia.
A horta, o pomar, tudo o mais,
cuidado com alegria.
O cultivar com carinho,
o chão como se toca o pinho
de manhã ao fim do dia.
18
A porcada no chiqueiro,
cada um com data certa,
Para uma recepção.
um pra casa, outro de oferta...
O toucinho não congelado,
no feijão tão procurado
na casa de porta aberta.
19
De repente o solo muda,
É barro a dar com pau.
vejo uma cidade obreira
de cerâmica especial;
tijolos,telhas e piso,
fazem tudo o que é preciso
para o consumo geral.
20
Pelo trânsito da viagem,
de uma cidade, na entrada,
uma torre de tevê.
também a roda dentada
do Rotary Internacional;
vejo o que disse um jornal,
a cidade é bem cuidada!
21
Nessa rápida passagem
pelas ruas do lugar,
até a rodoviária,
procuro bisbilhotar,
pelo meu rádio “Parceiro”
amazonense matreiro,
que do mundo põe-me a par.
22
Logo mais já prosseguindo,
limpa, apesar da poeira,
uma casa de colônia,
antiguíssima e faceira...
Além, a igreja imponente
para receber toda gente,
para a missa domingueira.
23
Torres de eletricidade
por cima do canavial
é uma corrente que enfeita
a geografia local,
demonstrando que o progresso
da hidroelétrica é sucesso
pelo Brasil atual.
24
Olho e fico encantado
com esta jornada e até berro:
-fios de telégrafo no espaço?
Não vi estrada de ferro!
poucas mantém a rigor,
a tradição e valor
neste estado, se não erro.
25
Em meio a longas viagens,
quanta história, geografia
E, contatos sociais...
problemas de todo o dia
desta terra que progride,
mesmo que alguém duvide,
com trabalho,noite e dia.
26
É pena que o progresso,
sacrifique a geografia
e tire dos olhos da gente
Sete Quedas de poesia,
riqueza do paisagismo
que propicia turismo
em grande romaria.
27
Afinal a vida é curta
quem vive parado é ´poste
diz um ditado popular
eu não conheço quem goste
de viver mau e sem sorte,
esperando pela morte
como qualquer barbalhoste.
28
Por isto, tenho certeza
que pelo norte e nordeste
vou conhecer os sertões.
quero andar pelo agreste
pelas vilas e cidades,
conhecendo à vontade
como a geografia se veste.
29
Quanta gente pela vida
vive longe de emoção,
do trabalho para casa,
servo da televisão.
aí logo cai o sonho,
deixando-se no abandono
longe de outra distração.
30
Feliz daquele que pode
viajar, constantemente,
Conhecer novos lugares,
conhecendo nova gente,
mesmo sendo de excursão.
Viagem traduz emoção
fazendo a vida contente.
31
As cenas são fulgurantes
como um filme especial,
são arquivadas na mente
para a consulta informal
de quem nos cobra noticiais
das possíveis delícias
de um mundo sensacional.
32
Voltei a cidade em que moro!
como o verde anda ralinho.
tudo o que há é ornamental...
a habitação de mansinho,
enveredou-se pelos campos
e as casas são pirilampos...
e a saudade é o lume e o espinho!
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Via Anhanguera, set. 1981
mais Literatura de Cordel declamada pelo próprio autor, neste domingo, em Ribeirão Preto
Fonte:
O Autor
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