Trova de
ARI SANTOS CAMPOS
Balneário Camboriú/ SC
Não se vá, não, por favor,
não me faça essa maldade!
Se de fato você for,
eu vou morrer de saudade.
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
Buscando a luz da madrugada pura
(Sophia de Mello Breyner Andresen in "Mar novo")
Buscando a luz da madrugada pura
Vou perseguindo o rasto desta aurora
Do sol, o raio primo não demora
A dividir em duas a planura.
O sol, quebrando a noturna clausura
Nos montes crava a ardente e rubra espora
E queima o céu e traz a fúlvida hora
Em que a anemia desce à sepultura.
Pleno, sento-me à beira do crepúsculo
Saboreando o dom de ser minúsculo
Mas peça deste mundo singular.
Desponta a branca lua, como gesso
E eu cerro os olhos lassos e adormeço
À espera já de um novo despertar.
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Poetrix de
RAFAEL NORIS
Pedreira/SP
Arritmia
o músico bêbado
leva à noite
emoções violadas
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
Três sílabas
Noite outonal -
Estava a três passos
De reencontra-lo,
Antigo piano -
Debussy...
Durante as aulas
Ficava com meu caderno
Próximo de ti
Tínhamos
Conversas
(Segredos) -
E, em silêncio
Nos olhávamos...
Não tivemos
Tempo de despedidas,
Estava a três passos
De ti, mas há
Um mundo de distância
Entre nós -
Solidão,
Apenas, três sílabas
Contidas em um universo
De saudade...
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Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP
- Ai, doutor, não acredito...
Picada por um "barbeiro"?
Veja só, pois o maldito
me disse que era engenheiro!
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Poema de
ANGELA TOGEIRO
Belo Horizonte/MG
Mulher
Sou mulher,
sou todas as mulheres:
sou Afrodite, Amélia, Angela, Eva, Diana, Joana,
Madalena, Maria, Raquel, Rita, Sara,
Salomé, Tereza, Vênus, Zênite...
Tenho na genética
a herança dos tempos,
que me dá todos os nomes,
que me tira todos os nomes,
quando me desdobro em outra mulher.
Nasci em todas as raças,
tenho todas as cores puras e miscigenadas.
Pratico todos os credos.
Nasci em todos os cantos deste planeta.
Vivi em todas as eras.
Registrei meus gritos em todos os rincões,
mesmo se expulsos da alma
no mais profundo silêncio.
Vim de todos os lugares,
nasci em berço de ouro, em choupana,
na rua, nas matas, hospitais, templos...
Fui vestida, fui enrolada,
despida, jogada.
Gerada num útero que me amou,
ou num que me recusou.
Pouco importa, se rica ou pobre,
se esculpida no Belo ou no Feio,
preciso cumprir meu destino,
meu destino de Mulher.
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Trova de
GERSON CÉSAR SOUZA
São Leopoldo/RS
Num show que bem poucos olham,
no palco das noites calmas,
chuvas de estrelas não molham,
mas lavam as nossas almas...
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Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918
Desterro
Já me não amas? Basta! Irei, triste, e exilado
Do meu primeiro amor para outro amor, sozinho...
Adeus, carne cheirosa! Adeus, primeiro ninho
Do meu delírio! Adeus, belo corpo adorado!
Em ti, como num vale, adormeci deitado,
No meu sonho de amor, em meio do caminho...
Beijo-te inda uma vez, num último carinho,
Como quem vai sair da pátria desterrado...
Adeus, corpo gentil, pátria do meu desejo!
Berço em que se emplumou o meu primeiro idílio,
Terra em que floresceu o meu primeiro beijo!
Adeus! Esse outro amor há de amargar-me tanto
Como o pão que se come entre estranhos, no exílio,
Amassado com fel e embebido de pranto...
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Trova de
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN
Chega a causar agonia,
uma visita sacana,
que vem pra passar um dia,
passa mais de uma semana!
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Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ ES
Eterno motivo
A tua vida,
na minha vida,
foi um tempo lindo.
Havia esperança,
na minha ilusão,
e em teu querer,
um gostar infindo...
Mas, de repente,
sem que alguém pedisse,
tu foste embora
para sempre
e eu fiquei triste...
E ainda hoje,
aqui estou.
Depois
de todo
tempo
que passou,
aqui estou
ainda, a esperar
tua volta.
Compreendo,
o amor
acabou,
meu coração
não se conformou,
e a tua ausência
não suporta.
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
Cara cheia...Perna bamba,
ele mesmo se conforta,
olha a rua e diz: - "Caramba!"
Nunca vi rua mais torta!...
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Soneto de
LUCIANO DÍDIMO
Fortaleza/CE
A luz
A luz da Estrela Azul, que é tão brilhante
Adoça a roxa fé como um licor,
Abrindo os nossos olhos para a cor
Que apaga o tempo cinza já distante:
Do tão avermelhado Sol do Amor,
Do verde da esperança ali adiante.
A luz que resplandece radiante
Nos mostra um novo mundo e seu primor.
As águas cor de prata descem rio,
Varrendo a negra cor da noite escura
E dissipando a dor com cortesia.
A luz clareia tudo o que é sombrio,
Fazendo a paz mostrar sua brancura
E rebrilhar o ouro da poesia!
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Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN
Larga a tristeza e acalanta
teus sonhos, por onde fores.
Nada no mundo suplanta
teus lindos sonhos de amores!
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Hino de
IÚNA/ ES
Na minha terra, tem lindos campos
Cidade cheia de tradições
Na minha terra, tem lindos pássaros
Que cantam ao ar livre, lindas canções
Minha Iúna,
Você me viu nascer
Minha Iúna
Sou filho de você
Eu gosto muito, muito do meu lugar
Dos meus amigos que vivem lá
A minha Iúna, terra querida
Onde eu nasci, onde aprendi amar
Minha Iúna,
Você me viu nascer
Minha Iúna
Sou filho de você
A minha escola, no fim da rua
A minha casa, frente ao jardim
A minha Iúna, fica bem perto
Das cachoeiras do Itapemirim
Minha Iúna,
Você me viu nascer
Minha Iúna
Sou filho de você
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Dobradinha Poética (trova e soneto) de
LUCÍLIA A. T. DECARLI
Bandeirantes/PR
Fruta da Semente
Não meças nela o trabalho,
pois colheita é contingente,
mas quanto, de orvalho a orvalho,
tu já plantaste… em “semente”…
De sol a sol, firmando as mãos no arado,
suor pingando, ao solo se entregava…
– Hoje, um trabalho rude e ultrapassado
do lavrador, que a terra cultivava.
Com grande afinco e sempre atarefado,
fazia os sulcos, com as mãos semeava
e, esperançoso a capinar, cansado,
o agricultor, temente a Deus, rezava…
Pedia chuva para aquela empreita,
o pensamento firme na colheita,
depois que via germinando o grão…
E desejava, então, ardentemente,
ver pão na mesa, fruto da semente,
que enverdecera todo aquele chão!
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Trova de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP
Abro a porta, enxugo o pranto
e fico a esperar teus braços,
mas para o meu desencanto
os passos não são teus passos.
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Soneto de
DIAMANTINO FERREIRA
Campos dos Goytacazes/ RJ
Inveja
- Como invejo as estrelas!… Como invejo
a placidez da lua, o brilho intenso
dos astros cintilantes… Quando penso
no que existe de belo e malfazejo!…
Ausente das disputas de um pretenso
mundo estéril, malévolo e sem pejo,
sua apatia é tudo quanto almejo
para esquivar-me aos que não têm bom senso…
Desejo vão!… Porém, fosse verdade…
Pudesse olhar, do céu, toda a maldade…
As coisas vis, de lá pudesse vê-las!…
Como seria bom!… Infelizmente,
Tais coisas acontecem tão somente
Quando a mente vagueia entre as estrelas…
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Haicai de
GUILHERME DE ALMEIDA
Campinas/SP, 1890 – 1969, São Paulo/SP
O boêmio
Cigarro apagado
no canto da boca, enquanto
passa o seu passado.
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Poema de
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira/MG (1902 - 1987) Rio de Janeiro/RJ
Imortalidade
Morre-se de mil motivos
e sem motivo se morre
de saudade,
morreu o poeta
sem morrer à eternidade
ele que fez de uma pedra
louvor para sua cidade
gauche*, grande destro
sem querer celebridade
pelos mil que era
num só se fez único
ficando no seu primeiro
caráter de bom mineiro
jamais morrerá
e sempre será.
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* Gauche = tímido
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Trova de
CAROLINA RAMOS
Santos/SP
Deu a tantos seu carinho
que no enlace, em confusão,
deu o sim para o padrinho
e o beijo no sacristão!
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Décimas em Cordel de
DALINHA CATUNDA
Ipueiras/CE
O sumiço do vaqueiro
Quando o vaqueiro partiu
Minha dor doeu no peito
Com saudades do sujeito
Que minha vida floriu
Minha alegria sumiu,
E nesta situação
Olhando pro seu gibão
Eu renego meu destino
Pois meu maior desatino
Foi perder minha paixão.
Tão garboso ele passava
Bem em frente ao meu portão
Com uma rosa na mão,
Que beijava e me jogava.
Eu toda prosa ficava
Com aquele moço Trigueiro
Que rondava meu terreiro
E me chamava de flor,
Por merecer meu amor
Entreguei-me ao tal vaqueiro.
Uma viagem esticada
Ele foi e não voltou.
Meu coração palpitou,
E chorei desesperada.
Olhos grudados na estrada,
E aperto no coração
Murchava a flor do sertão
Que hoje se chama saudade
Perdeu a felicidade
Ao perder sua paixão.
Nem vaqueiro nem boiada,
Só saudade e solidão
Passando pela estrada
Que corta o meu sertão.
Não tem aceno de mão,
Nem levantar de chapéu,
Pois hoje mora no céu
Aquele viril vaqueiro,
Que tacava o tempo inteiro
Boiadas de déu em déu.
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Parcela de
RUBENIO MARCELO
Campo Grande/MS
1.
no azul do poema
a luz da canção
agora um clarão
antes tão pequena
não mais quarentena
que se encastela
agora eu e ela
no leme do dia
rumo à escadaria
cantando parcela...
2.
assim, infinito
nessa plenitude
meus pés, amiúde,
procuram o grito
perpassam o mito
ardente aquarela
aurora e estrela
que já predestinam
sazões que sublimam
à luz da parcela...
3.
oh tempo-verdade
gravando o eterno
já não mais hiberno
a outra metade
oh fertilidade
que tudo revela
com justa cautela
quero ressurgir
para refletir
cantando parcela...
4.
no bico do corvo
deixei o meu múnus (1)
e os importunos
punhais do estorvo
agora não sorvo
profana querela
há porta, há cancela
colunas, mansão
adeus solidão
no tom da parcela!
5.
permanentemente
honrarei o rito
quesito a quesito
manhã, sol-poente
se dente é por dente
ardente é aquela
retina que zela
o perfeito instinto
no áureo recinto
do canto-parcela!
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(1) Múnus = obrigações
O esquema de distribuição rimática das Parcelas é abbaaccddc.
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Trova de
EMILIA PEÑALBA ESTEVES
Porto/Portugal
Nos seus ardentes amores,
consegue sempre o que quer:
rosa - a rainha das flores...
Rosa - a rainha mulher!
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