sábado, 24 de maio de 2025

José Feldman (A tempestade e a jornada)

T
exto baseado na trova de Jerson Lima de Brito (Porto Velho/RO)

Não tema sua jornada
se o céu estiver cinzento
que às vezes a trovoada
faz parte do ensinamento!

Na pequena cidade de Valverde, onde as colinas se encontravam com o céu em um abraço eterno, a vida seguia seu curso tranquila, mas repleta de desafios. Os moradores daquela cidade eram conhecidos por sua resiliência e força de espírito. No entanto, havia um jovem chamado Demétrio que frequentemente se deixava abater pelas nuvens cinzentas que pareciam pairar sobre sua vida.

Ele era um sonhador. Desde criança, alimentava grandes aspirações: queria ser escritor. Suas histórias eram recheadas de aventuras e heróis, mas à medida que crescia, as incertezas começaram a envolvê-lo. Ele se via diante de um dilema: como transformar seus sonhos em realidade em meio às dificuldades do dia a dia? A pressão para ter um emprego estável, a expectativa da família e o medo do fracasso o deixavam angustiado.

Em uma tarde particularmente nublada, decidiu que precisava de um tempo para pensar. Pegou seu caderno e saiu em direção ao parque da cidade, um lugar que sempre o inspirava. À medida que caminhava, o céu escurecia e um vento forte começou a soprar. Ele hesitou, mas a necessidade de encontrar respostas o levou adiante. Ao chegar ao parque sentou-se em um banco sob uma árvore frondosa e começou a escrever.

Enquanto suas ideias fluíam, ele percebeu que as nuvens no céu estavam se acumulando, e logo a chuva começou a cair. No início, as gotas eram suaves, quase como um sussurro. Mas, em poucos minutos, a tempestade se intensificou e o que antes era uma leve garoa transformou-se em uma verdadeira tempestade. Demétrio se viu preso, sem abrigo, e um sentimento de desespero começou a tomar conta dele.

No entanto, em meio ao caos, algo inesperado aconteceu. Ele observou as gotas de chuva batendo nas folhas, criando uma melodia única, um ritmo que parecia dançar com a natureza. As árvores, que antes pareciam temerosas, agora se erguiam majestosas, como se estivessem celebrando a tempestade. Ele sentiu uma onda de inspiração e em vez de se deixar levar pelo medo, ele decidiu se entregar àquele momento.

Sob a árvore que o protegia da chuva, com o caderno em mãos, começou a escrever freneticamente. As palavras fluíam como a chuva, e ele percebeu que a tempestade não era um obstáculo, mas uma oportunidade. A trovoada trazia consigo um ensinamento profundo sobre a vida: os desafios e as dificuldades são partes inevitáveis da jornada. Cada gota de chuva, cada relâmpago, representava uma lição, uma chance de crescimento.

Quando a tempestade finalmente começou a desvanecer, sentiu-se renovado. Ele olhou para o céu, que agora começava a clarear, e sorriu. As nuvens cinzentas não eram apenas um símbolo de desespero, mas também de transformação. Ele percebeu que, assim como a natureza, sua vida também passaria por ciclos, com momentos de sol e momentos de chuva. E que não deveria temer esses momentos difíceis, pois eram eles que o moldavam, que lhe ensinavam a ser forte e resiliente.

Ao voltar para casa, Demétrio sentiu-se leve. Ele sabia que o caminho à sua frente ainda seria repleto de desafios, mas estava determinado a enfrentá-los de cabeça erguida. A tempestade daquela tarde se tornara um marco em sua jornada, um lembrete de que o crescimento muitas vezes vem das experiências mais difíceis.

A vida, assim como o tempo, é cheia de surpresas. Não devemos temer a jornada, mesmo quando o céu estiver cinzento, pois às vezes a tempestade faz parte do ensinamento. E são essas tempestades que nos preparam para os dias ensolarados, nos ensinando a valorizar cada raio de sol que brilha em nossas vidas.
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JERSON LIMA DE BRITO, nasceu em Porto Velho/RO, em 1973, onde reside. Graduado em Administração e Direito pela Fundação Universidade Federal de Rondônia. Sonetista, trovador e cordelista, é membro fundador da Academia Brasileira de Sonetistas (Abrasso), integrante do Fórum do Soneto e Delegado da União Brasileira de Trovadores (UBT) em Porto Velho. Exerce o cargo de Técnico Federal de Controle Externo na SECEX-RO, tendo participado de algumas Mostras de Talentos do TCU. Neto de nordestinos, na infância teve os primeiros contatos com os versos, lendo os folhetos de cordel que seu pai comprava. Já na fase adulta, depois dos 30 anos, deu os primeiros passos na literatura escrevendo sobretudo cordéis. Posteriormente, aderiu aos sonetos e outras modalidades poéticas. Premiado em diversos concursos de trovas, sonetos e cordéis.
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JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Poeta, escritor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Casado com a escritora, poetisa, tradutora e professora da UEM, Alba Krishna, mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, e depois em Maringá/PR desde 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria, Voo da Gralha Azul e Gralha Azul Trovadoresca. Assina seus escritos por Floresta/PR. Publicou de sua autoria 4 ebooks.. Premiações em poesias no Brasil e exterior.

Fontes:
José Feldman. Gangorra do tempo. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

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