Era uma noite fria e nebulosa quando três personagens ilustres se encontraram em uma biblioteca esquecida pelo tempo. O aroma de livros antigos pairava no ar, e as prateleiras, repletas de volumes empoeirados e teias de aranha, pareciam sussurrar segredos de eras passadas. No centro da sala, uma mesa de madeira marrom escura possuía um candeeiro com uma luz suave, iluminando os rostos de H. P. Lovecraft, Arthur Conan Doyle e H. G. Wells.
Lovecraft: (encarando uma edição de “O Chamado de Cthulhu”) “É fascinante como o desconhecido pode instigar o medo nas profundezas da mente humana. Meus leitores, ao se depararem com o que não compreendem, são confrontados com suas próprias limitações.”
Doyle: (sorrindo levemente) “Ah, mas o que é o medo senão um reflexo do que não conseguimos explicar? Em meus contos, como em ‘O Cão dos Baskerville’, busco uma explicação lógica para o sobrenatural. O verdadeiro terror reside na razão que falha.”
Wells: (ajustando os óculos) “Ambos tocam em aspectos fundamentais da condição humana, mas os meus escritos, como ‘A Máquina do Tempo’, exploram o potencial da ciência e suas consequências. O futuro é tão aterrador quanto o desconhecido, mas também repleto de possibilidades. Não é só sobre o que tememos, mas sobre o que podemos alcançar.”
Lovecraft: “Mas, H. G., e quando essas possibilidades se tornam uma arma de destruição? A ciência pode revelar verdades que o homem não está preparado para enfrentar. O que acontece quando a curiosidade ultrapassa os limites da moralidade?”
Doyle: “Certa vez, um amigo meu, um detetive, disse que a verdade é muitas vezes mais estranha do que a ficção. E o que dizer das verdades ocultas que você apresenta, Lovecraft? O que o homem deve fazer quando confrontado com o abismo que você tão eloquentemente descreve?”
Wells: (pensativo) “E se o abismo for apenas uma porta para novas realidades? A ficção científica não é apenas um aviso, mas um convite. O que você teme pode ser a chave para um novo entendimento.”
Lovecraft: “Certa vez, escrevi que o medo do desconhecido é uma das emoções mais primitivas do ser humano. O que proponho é que, ao explorar o desconhecido, devemos ter cautela. A curiosidade pode ser uma bênção ou uma maldição.”
Doyle: “Mas sem a curiosidade, nunca teríamos feito as descobertas que moldaram nosso mundo. Sou grato por Sherlock Holmes ter me ensinado que, mesmo no caos, há ordem a ser encontrada. E mesmo a escuridão pode ser iluminada pela razão.”
Wells: “Sim, mas também devemos considerar o papel da imaginação. Quando escrevi sobre a guerra dos mundos, queria alertar sobre as consequências do imperialismo. A imaginação nos permite ver o que poderia ser, não apenas o que é. O que você, Lovecraft, acha que representa a sua obra para o leitor?”
Lovecraft: “Para mim, é uma reflexão sobre a insignificância do ser humano no vasto cosmos. O leitor deve sentir a fragilidade de sua própria existência. É um lembrete de que não estamos sozinhos, e que há forças além da nossa compreensão que podem nos consumir.”
Doyle: “E, no entanto, há sempre esperança. Mesmo em suas histórias mais sombrias, há um fio de resistência. O homem busca compreender e sobreviver, mesmo quando confrontado com o horror.”
Wells: “Talvez isso seja o que nos une a todos. Se a ciência e a imaginação podem coexistir, então nossas histórias também podem. O leitor deve sair não apenas aterrorizado, mas movido a agir, a entender, a transformar.”
A conversa prosseguiu, enquanto as horas se arrastavam. Ideias se entrelaçavam, e o som das vozes ecoava por toda biblioteca, ressoando nas sombras. Cada autor trouxe à tona suas visões únicas, e a noite se tornou um diálogo atemporal sobre a natureza da literatura e o papel do homem diante do desconhecido.
Quando a primeira luz do amanhecer começou a surgir, os três escritores perceberam que, embora seus estilos fossem diferentes, todos partilhavam a mesma paixão: a busca pela verdade, seja ela aterradora ou sublime. E assim, com um aceno de cabeça e um brilho nos olhos, eles se despediram, cada um retornando ao seu próprio tempo, mas com a certeza de que suas palavras ecoariam em gerações futuras.
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H. P. Lovecraft (1890–1937)
Howard Phillips Lovecraft nasceu em Providence, Rhode Island, em 20 de agosto de 1890, morreu em 15 de março de 1937. Ele teve uma infância marcada por dificuldades familiares e problemas de saúde. Lovecraft passou a maior parte de sua vida em Providence, onde desenvolveu suas habilidades de escrita. É conhecido por seu estilo de horror cósmico, que explora temas de insignificância humana diante de forças cósmicas desconhecidas. Seus contos, como “O Chamado de Cthulhu” e “Nas Montanhas da Loucura”, introduzem criaturas e mitologias que influenciaram o gênero de terror.
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Arthur Conan Doyle (1859–1930)
Sir Arthur Conan Doyle nasceu em Edimburgo, Escócia, em 22 de maio de 1859, faleceu em 7 de julho de 1930. Formou-se em medicina e trabalhou como médico, mas sua verdadeira paixão sempre foi a escrita. É mais conhecido por criar o icônico detetive Sherlock Holmes, cujas histórias, como “Um Estudo em Vermelho” e “O Cão dos Baskerville”, revolucionaram o gênero de mistério. Ele também escreveu ficção científica, romances históricos e obras sobre espiritualismo.
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H. G. Wells (1866–1946)
Herbert George Wells nasceu em Bromley, Inglaterra, em 21 de setembro de 1866 e morreu em 13 de agosto de 1946.. Ele teve uma educação modesta e trabalhou como professor e jornalista antes de se dedicar à escrita. Wells é considerado um dos pais da ficção científica moderna, com obras como “A Máquina do Tempo”, “A Guerra dos Mundos” e “A Ilha do Dr. Moreau”. Seus escritos frequentemente abordam questões sociais e científicas, refletindo suas preocupações sobre o futuro da humanidade.
Fontes:
José Feldman. Gangorra do tempo. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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