ATÍLIO ANDRADE
Curitiba/PR
A todas as mulheres
O dia amanheceu, iluminado.
Mesmo com um… céu carrancudo
até o sol está, ainda distante
mas, a alegria está no mundo
brilhando como diamante.
Você!!! Sim, você!
Você que é mãe, menina, mulher
linda como sempre, do teu jeito,
sempre buscando a paz
em dias tão violentos…
Você Mulher, ilumina com raios
de alegria, os dias que seguem
mostrando sempre os caracóis
a desenrolar nesta teia chamada vida
e sem você tudo para… (acredite)
Você é luz, brilho, sabedoria…
É Mulher… e hoje é seu dia.
Parabéns… Parabéns
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Trova de
PAULO ROBERTO OLIVEIRA CARUSO
Niterói/RJ
Deus criou o mundo inteiro
em seis dias de trabalho;
do Seu suor derradeiro
foi que nos surgiu o orvalho.
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Poema e Trova do Folclore Africano de
MARLY RONDAN
São Paulo/ SP
Ossanha
Ossanha. Orixá das Ervas…
Guarda as folhas na cabaça.
Muitos segredos preservas.
Pões sucos na minha taça…
Orixá das folhas, ervas:
Alecrim, Boldo e Cidrão.
Proteje nossas reservas.
Livra a Terra da agressão.
É o Orixá da cor verde.
Ossanha habita a floresta.
Quem não a conhece perde…
Da Natureza essa Festa!
Senhor - Senhora das folhas,
Comanda as ervas sagradas.
Tira com elixir as falhas…
Elixir que dá vigor.
Protege nossa saúde.
Ossanha cura esta dor!
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Poema de
SALOMÓN DE LA SELVA
Nicarágua (1893 – 1958)
A bala
A bala que me fira
será bala com alma.
A alma dessa bala
será como seria
a canção de uma rosa
se cantassem as flores
ou o olor de um topázio
se cheirassem as pedras
ou a pele de uma música
se nos fosse possível
as cantigas tocar
desnudas com as mãos.
Se o cérebro me fere
me dirá: Eu buscava
sondar teu pensamento.
E se me fere o peito
me dirá: Eu queria
dizer-te que te quer
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Soneto de
LUIS VAZ DE CAMÕES
Coimbra/Portugal (1524/25 – 1580)
Soneto 5
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
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Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN
Esta distância tão triste,
entre nós dois, na verdade,
mede a distância que existe
entre o amor e a saudade!
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Poema de
AFONSO SCHMIDT
Cubatão/SP (1860 – 1964) São Paulo/SP
O Poema da Casa Que Não Existe
Onde a cidade acaba em chácaras quietas
e a campina se alarga em sulcados caminhos
achei a solidão amiga dos poetas
numa casa que é ninho, entre todos os ninhos.
Térrea, branquinha, com portadas muito largas,
desse azul português das antiquadas vilas
e uma decoração de laranjas amargas
que perfumam da tarde as aragens tranquilas.
Ergue-se no pendor suave da colina,
escondida por trás dos eucaliptos calmos;
tem jardim, tem pomar, tem horta pequenina,
solar de Liliput que a gente mede aos palmos ...
Neste ponto, a ilusão, a miragem, se some;
olho para você, eu triste, você triste.
Enganei uma boba! O bairro não tem nome,
a estrada não tem sombra, a casa não existe!
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Trova de
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN
Com certa preponderância
eu impus esta verdade:
Quem inventou a distância
não conhecia a saudade!...
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Poema de
AMAURY NICOLINI
Rio de Janeiro/RJ
Onde Estava Você?
Onde estava você quando eu andava
sem um norte pra guiar os meus caminhos
que acabaram em lugar nenhum?
Não tive com quem dividir o meu carinho,
que nas curvas da estrada ao chão deixava
como de traste inútil apenas um.
Onde estava você, que surge agora
com a luz e o esplendor de uma aurora
que promete vida, amor, bonança e sorte?
Você chegou quando eu estou indo embora,
e eu, que tanto esperei por essa hora,
sinto que junto também me chegue a morte.
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/ RS, 1932 – 2013, São Paulo/ SP
Com seu valor aumentado,
saudade é a restituição
do que já nos foi cobrado
pelos sonhos e a ilusão...
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Hino de
AFOGADOS DE INGAZEIRA/ PE
Terra de sol de encantos mil
Do Pajeú a nobre princesa
De Pernambuco e do Brasil
És do progresso a chama acesa.
O teu nome da lenda surgiu
De um casal que no rio sumiu
Hoje és tu, Afogados da Ingazeira
No Sertão o estandarte de glória
Os teus filhos fizeram história
Que enobrece a nação brasileira.
Brava terra de amor e de luz
Que nasceu sob a sombra da cruz
Grandioso será teu porvir
E abraçado ao símbolo da fé
A lutar sempre firme de pé
O progresso e a riqueza hão de vir.
Na esperança de um mundo melhor
Construindo uma pátria maior
Um teu filho não foge ao dever
Dedicado ao estudo e ao trabalho
Com o livro, o arado ou o malho
A certeza terá de vencer.
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP
Escrevo, mas sou discreta,
me anulo, libero a mente
e deixo solto o poeta
que só fala o que ele sente.
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Poema de
SYLVIA PLATH
Boston/ EUA (1932 – 1963) Londres/ Inglaterra
Palavras
Golpes
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.
A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
Sobre a rocha
Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro
Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.
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Trova de
GERALDO PIMENTA DE MORAES
São Sebastião do Paraíso/MG (1913 – 1997) Passos/MG
Saudade é livro à distância,
que o tempo vive escrevendo,
enquanto a gente, com ânsia,
de olhos fechados, vai lendo…
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Quadra Popular
Não penses que pela ausência
eu de ti me hei de esquecer;
quanto mais longe estiver,
mais firme te hei de ser.
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Soneto de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
Só se chora por quem parte
Choremos por quem parte sem voltar
A ser presença viva à nossa mesa
E desse imenso reino da tristeza
Desça à terra num raio de luar.
Ausente, para sempre, em nosso olhar
Terá em nosso peito a fortaleza
Que guarda a delicada vela acesa
Da memória que brilha em seu altar.
De saudade será a sua imagem
Que se esvai como um barco na viagem
No denso nevoeiro, rumo ao norte.
Só quando a sua face tão inteira
Não nos assomar, sem que a gente queira
Só então foi levada pela morte.
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Glosa de
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS
Nossa guerra de amor...
MOTE:
Ah, o amor...O amor fascina,
quando na cama o combate
triunfalmente termina
num belo e gostoso empate!
A. A. de Assis
(Maringá/PR)
GLOSA:
Ah, o amor...O amor fascina!
Sempre tontos de emoção,
estouram, a adrenalina,
nossos beijos de paixão!
É quase uma guerra fria,
quando na cama o combate
usa as armas da euforia
e com elas se debate!
Com gemidos em surdina
a guerra do amor se faz...
Triunfalmente termina
na calmaria da paz!
Nessa luta incontrolada,
ninguém exige resgate,
e ela é sempre terminada,
num belo e gostoso empate!
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Haicai de
WAGNER MARQUES LOPES
Pedro Leopoldo/MG
Passa o tempo frio.
É pé... Mais pé de aguapé
que acoberta o rio.
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Soneto de
RAIMUNDO CORREIA
Cururupu/MA, 1860 – 1911, Paris/França
Fim de comédia
O pano sobe, e o povo, satisfeito,
Aplaude a farsa, e ao riso não resiste;
“Gosta um moço da filha de um sujeito,
E este não quer que a filha case; ao triste
No fundo do jardim promete a amante
Um rendez-vous, longe do pai tirano;
Mas pilha o velho o escândalo flagrante,
E ambos vão casar-se… e cai o pano.”
Dizem os velhos que o teatro ensina.
Então tu podes sem pesar, menina,
Seguir este conselho: solta a rédea
Deste amor, que é o meu e o teu tormento,
Que há de a nossa comédia em casamento
Findar, como findou a tal comédia.
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Aldravia de
AMÉLIA LUZ
Pirapetinga/MG
Fui
linha
e
ponto
tecendo
remendo
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Martelo Agalopado, de
MARCO HAURÉLIO
Riacho de Santana/BA
Galopando o cavalo pensamento
(duas estrofes de cordel)
A Senhora dos Túmulos observa
O vaivém da tacanha mocidade,
Que despreza a virtude e a verdade
E dos vícios se mostra fiel serva,
Porém nada no mundo se conserva:
Sendo a vida infindo movimento,
É a Morte um novo nascimento
A inveja é o túmulo dos vivos —
O herói repudia esses cativos,
Galopando o Cavalo Pensamento.
Das trombetas ecoam novo som,
O tinido das armas me atordoam,
O rufar de tambores longe soam,
Destruindo o último Panteon
Será esse sinal o Armagedon?
Ou apenas mais um renascimento
De um ciclo que traz o advento
Duma aurora de brilho sem igual,
Sem início, sem meio e sem final,
Galopando o cavalo pensamento.
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Epigrama de
ROBERTO CORREIA
Salvador/BA, 1876 – 1937
Burro, a cegueira da sorte
Elevou-te e, ao sol, espelhas
Mas guardas o mesmo porte
E as mesmíssimas orelhas.
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Soneto de
ARTUR DE AZEVEDO
São Luis/MA, 1855 – 1908, Rio de Janeiro/RJ
Tertuliano, o paspalhão
Tertuliano, frívolo peralta,
Que foi um paspalhão desde fedelho,
Tipo incapaz de ouvir um bom conselho,
Tipo que, morto, não faria falta;
Lá um dia deixou de andar à malta
E, indo à casa do pai, honrado velho,
A sós na sala, diante de um espelho,
À própria imagem disse em voz bem alta:
— Tertuliano, és um rapaz formoso!
És simpático, és rico, és talentoso!
Que mais no mundo se te faz preciso?
Penetrando na sala, o pai sisudo,
Que por trás da cortina ouvira tudo,
Severamente respondeu: — Juízo!
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Poema de
ROBERTO PINHEIRO ACRUCHE
São Francisco de Itabapoana/RJ
Quem sou eu
Eu sou um caso,
um ocaso!
Eu sou um ser,
sem saber quem ser!
Eu sou uma esperança,
sem forças!
Eu sou energia,
ora cansada!
Eu sou um velho,
ora criança!
Eu sou um moço,
ora velho!
Eu sou uma luz,
ora apagada!
Eu sou tudo,
não sou nada!
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Soneto de
EDMAR JAPIASSÚ MAIA
Miguel Couto/RJ
A missa do compadre
Ia vivendo meio aposentado,
celibatário que era por vontade,
por ter sofrido, em plena mocidade,
uma desilusão de amor frustrado…
Porém, um dia, foi comunicado
da morte do compadre na cidade,
e este fato lhe trouxe, na verdade,
a esperança deixada no passado…
O infausto passamento deu-lhe o ensejo
de sentir despertado um só desejo,
que trazia no peito adormecido…
E foi durante a missa do compadre,
que, amparando em seus braços a comadre,
baixinho, agradeceu ao falecido!
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Trova de
ALEXANDRE RODRIGUES FERNANDES
Vila Nova de Gaia/Portugal
Quem me dera ser quem era,
em vez daquilo que sou...
Voltas sempre, primavera.
Minha infância... não voltou!
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Poema de
VITÓRIO NEMÉSIO
Ilha Terceira/Açores, 1901 – 1978, Lisboa/Portugal
A concha
A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.
Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.
E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.
A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.
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Quadra Popular
Hoje não venhas tarde
Dizes-me tu com carinho
Ou compras um relógio novo
Ou amanhã vai de carrinho.
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Décima de
JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN
Até parecem mentira
Certas coisas deste mundo:
Numa fração de segundo
A roda do tempo gira;
Um instante se retira,
Outro pula no tablado;
O tempo é tão apressado
Que passa pisando a gente…
Futuro é quase presente,
Presente é quase passado.
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Poema de
WASHINGTON DANIEL GOROSITO PÉREZ
Irapuato/ Guanajuato/ México
O alquimista
O homem se vê fragmentado, mutilado
é um ser esmagado pelas circunstâncias
dias de incertezas constantes,
de quebra-cabeças, sem cabeças,
onde faltam peças.
O silêncio quebrado por vozes lamentosas,
rodeia tudo,
alvoroço da extinção no tempo.
O homem está suspenso,
a escuridão irremediável o habita.
Numa fenda de impotência,
o alquimista sonha...
A tristeza está presente,
em seus profundos olhos cinzentos,
nos sulcos de sua testa.
É marcado por uma fenda de impotência
que cheira a sono eterno.
Ideologias adormecidas,
no espaço e tempo existenciais.
Ele fica atordoado com a imagem
que simboliza a oclusão do pensamento.
(tradução do espanhol: José Feldman)
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Trova de
LUCILIA A.T. DECARLI
Bandeirantes/PR
Com saudade, nunca esqueço
da atenção que ela nos dava…
Tinha valor, mas não preço,
o amor de mãe que ofertava.
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Poema de
CÉLIA EVARISTO
Lisboa/ Portugal
Sou feita de amor
Sou feita de esperança,
do pó do caminho.
Sou o olhar de uma criança
que habita cada ninho.
Sou mar,
doce maresia,
onda em que navega
um barco com mestria.
Sou feita de sonhos,
de abraços,
de emoção,
de sorrisos,
de beijos,
de inspiração.
Sou feita de amor.
Um amor puro e sincero,
fugaz e eterno.
Uma flor
que desabrocha destemida,
sem receio de florir.
Sou feita de lágrimas
que penetram a terra
e regam o jardim.
Sou feita de amor,
Sou feita de mim.
= = = = = = = = =
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