sábado, 6 de março de 2021

Varal de Trovas 484

 


Contos e Lendas do Mundo (A Flor Solitária)


Em um deserto distante, vivia uma solitária flor. Tão bela, delicada e com um perfume tão bom que a própria areia desviava-se com a ajuda do vento para não molestá-la.

Afinal, era a única flor do deserto...

Ela dava à paisagem árida um toque de vida e luz.

- Por que nasci assim? - pensava ela - tão longe de minhas irmãs e primas?

Olhava ao redor e só via areia clara e o céu azul. Os grãos de areia adoravam visitá-la.

Ela, tão linda e colorida, alegrava e dava vida àquele deserto.

Alguns grãos de areia viajavam dias e dias para conhecê-la. Comentavam entre si como era mais bela a paisagem graças à presença daquela flor.

Mas a flor, por não entender sua missão, sentia-se muito só. Se existia um motivo para a sua vida, qual seria ele?

Os grãozinhos de areia tentavam se comunicar com ela, mas por pertencerem a dimensões, ou reinos diferentes (vegetal e mineral), eles não conseguiam transmitir à flor o quão importante e necessária era a sua presença ao deserto.

Em cada amanhecer, a flor olhava ao redor em busca de algum sinal de vida.

Deprimida, ela, então, definhou e morreu.

Os grãos de areia, que nada puderam fazer, entristeceram-se. Já não queriam mais passear e até o vento, naqueles dias, desistiu de soprar...

Perguntavam eles:

- Será que a flor que procurava vida ao seu redor não percebeu que ela era a própria vida? Ela era a alegria e o colorido da paisagem! Por que insistiu em procurar fora aquilo que estava dentro dela?

Fonte:
Universo das Fábulas

Professor Garcia (Quintilhas Decassilábicas Agalopadas) I


Agradeço a infinita divindade
pela graça de um mundo tão bonito;
pelo pão que não falta em minha mesa,
pela paz, a saúde e a luz acesa
que me inspira nos rumos do infinito.
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Deus me fez desprovido de vaidade
mas me deu um tesouro sem medida:
a mulher e três filhas, certamente,
dois netinhos sorrindo, de presente,
eis o orgulho maior de minha vida!
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Esta nossa quintilha potiguar
em dez pés é bonita e diferente;
cada verso é uma pedra preciosa
com o perfume e a beleza de uma rosa
encantando o romper do sol nascente.
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Eu não sei até quando eu vou lutar,
porque Deus é quem traça a minha agenda,
mas enquanto houver gás no candeeiro,
vou fazer desta luz o meu roteiro;
da quintilha em galope, uma oferenda.
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O que dói mais na vida, é a dor que fica,
dos momentos felizes que passamos:
quando a foice da morte tão malvada
interrompe uma longa caminhada
retirando sem dó, quem mais amamos!

Fonte:
Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020.
Livro enviado pelo autor.

Lima Barreto (Uma Conversa Vulgar)


O meu conhecimento com aquele venerável velho me viera devido às relações que mantive com um seu neto, que fora meu colega de colégio. Isto que se passou comigo e ele, e conto agora, deu-se há anos.

Tinha eu totalmente, por aquela época, abandonado os estudos, o neto já havia falecido; e, abandonando os estudos, como se diz, procurara e já ocupava um emprego público. Apesar da irremediável falta do meu antigo colega, continuava a frequentar a casa do velho Florêncio, cujas conversas muito apreciava. A sua residência era fora da cidade, em um sítio lá pelas bandas de Campo Grande, bem tratado, com muita laranja, galinhas, perus; e a casa de moradia era vasta e tinha muitos cômodos.

Ele morava com a filha, mãe do meu antigo colega, uma mocetona, irmã deste, e um seu irmão, que poderia ter ai os seus cinquenta e poucos anos, um tipo acabado de pequeno proprietário rural das nossas terras.

Este irmão, o mais moço dos quatro, sendo que dois já eram mortos, tinha tido uma mocidade acidentada; e, aos quarenta e poucos anos, sossegara, fazendo-se o mais plácido roceiro que se pode imaginar.

Aposentando-se Florêncio no lugar de escrivão do almoxarifado da Marinha, viera ele morar com o irmão ali, acompanhado da filha, viúva com dois filhos, um dos quais, o homem, como já disse, fora meu colega no internato secundário. Quando cismava, sem mesmo me anunciar, ia aos sábados para lá, dormia e todo o domingo, fosse a cavalo pelos arredores, fosse jogando o solo, nós três — ele, o irmão e eu — passava-o eu na maior satisfação.

Não era lugar bonito, mas era são, e toda a gente do velho Florêncio era de uma meiguice para mim de me encher de saudades quando saía de manhã, segunda-feira, para vir para a morrinha da repartição.

Calhou aquela segunda-feira cair em dia que era do recebimento da sua aposentadoria no Tesouro. Florêncio disse-me logo, pela manhã, na segunda-feira:

— Você, Bandeira, acompanha-me até o Tesouro, que quero ir com você até ao Pão de Açúcar, no tal bonde aéreo.

Sendo os primeiros dias do mês e eu não tendo faltado até ali, podia bem acompanhá-lo no passeio que premeditava.

Florêncio contava perto de setenta anos mas ainda era forte, pisava com liberdade e segurança e a sua conversa tinha o pitoresco e o encanto singular de ser como as "memórias" vivas do Rio de Janeiro.

Muito observador, com uma memória muito fiel para data e fisionomias, tendo vivido em certas rodas de algum destaque, podia-se, conversando com ele, saber a vida anedótica do Rio de Janeiro, quase desde a coroação e sagração de Pedro II, em 1841, até nossos dias.

Apreciava-o muito por isso, e, sem precisar provocá-lo, bastava um incidente qualquer, uma velha casa avistada, em qualquer parte, um encontro, um sobrenome, para ele me contar histórias pitorescas da vida social, política, sentimental ou escandalosa do Segundo Reinado.

Saímos do Tesouro logo que recebeu o seu dinheiro, e fomos em demanda do largo de São Francisco.

Notei que ele olhava para um lado e outro, como procurando alguém. Quase no meio da praça, quando a atravessamos, em direção à rua do Ouvidor, veio a seu encontro um homem, não muito velho, orçando aí pelos quarenta e poucos, mas avelhantado, sujo mesmo, barba por fazer. Era mulato claro, de feições regulares.

Logo que se apertaram as mãos, Florêncio disse ao outro:

— Você não foi ao Tesouro!

— Atrasei-me...

E gaguejou, sem encontrar desculpa.

O velho meu amigo não esperou que ele a encontrasse e foi dizendo:

— Você não toma juízo... Onde você está morando?

— No mesmo quarto, "seu" Florêncio.

— Por que não vai para casa descansar um pouco?

— “Seu” Florêncio, é longe... Aqui sempre faço os meus biscates...

— Bem. Tome lá, Ernesto.

E puxou uma nota de dez mil-réis e a deu-lhe.

Senti no olhar do Ernesto uma doida vontade de ir-se, logo que sentiu o dinheiro na algibeira.

Afinal deixamos o rapaz e reencetamos o caminho da rua do Ouvidor. Eram quase duas horas da tarde e o largo de São Francisco, se bem que decaído do antigo movimento, quando todas as linhas de bondes de São Cristóvão e Tijuca nele paravam, tinha alguma agitação.

Emparelhávamos com a estátua, quando o velho Florêncio me disse:

— Você conhece esse homem?

— Não.

— É filho do visconde de Castanhal.

— Como? O capitalista?

— Sim; o capitalista.

— Não se acredita.

— Vou contar a você como ele o é. Quando Castanhal chegou aqui era simplesmente José da Silva. Homem tenaz, abriu, onde hoje é a luxuosa rua Gonçalves Dias, antiga dos Latoeiros, uma casa para vender leite em copos, em garrafas e laticínios. Não havia dessas casas na cidade e logo foi a dele se afreguesando. Silva atendia à freguesia na sala; e no interior, para encher as garrafas, lavar os copos, cozinhar para ele e tratar da sua roupa, tinha uma preta com quem vivia amasiado. Na rua Gonçalves Dias, canto da do Ouvidor, naquela época, vinham parar os bondes do Jardim Botânico, cujo título era então em inglês.

“ José da Silva lembrou-se de gelar o leite, isto é, por certo número de garrafas mergulhadas no gelo, que vinha da América do Norte, nos porões dos navios, pois ainda não se havia descoberto o processo de fabricá-lo artificialmente. O leite gelado "pegou", como se diz; e sendo o lugar frequentado, em breve José da Silva viu-se obrigado a aumentar a casa que até aí só tinha duas portas.

“ Um outro seu patrício invejou-lhe a sorte e Silva, finório que era, tratou logo de passar o estabelecimento adiante com grande lucro. Mas... eu não contei a você uma coisa.”

— Qual é?

— O Silva e a crioula tiveram um filho e o mulatinho cresceu até aos cinco ou seis anos, na leiteria de Silva, conhecido dos fregueses como filho dele. Assim o conheci. Passaram-se cinco ou seis anos sem que eu soubesse do Silva, crioula e filho, quando, indo a Catumbi e passando na porta de uma estalagem, vejo aproximar-se de mim uma crioula que me tratava pelo nome. Disse-me que era a rapariga de José da Silva, em cuja casa de laticínios me conheceu. Há três anos — é ela a falar — ele, o Silva, a abandonara, para casar-se convenientemente. Nada dera a ela nem ao filho; e a sua vida, com o pequeno Ernesto, havia sido até aquele dia um tormento de angústia e de misérias. Mandei que me procurasse em casa.

“Morava por esse tempo com minha mãe e irmãos na rua do Senado, numa casa de altos e baixos, com uma chácara que dava para o morro já desaparecido. Falei a minha mãe que a admitisse em casa ao que ela acedeu; e, por minha vez eu, que já estava na Marinha, consegui colocar o molecote no arsenal como aprendiz. Minha mãe morreu, etc., etc... O pequeno prosperou, aprendeu a ler, fez-se em breve oficial; e, quando acabamos com a casa paterna, ele pôde armar a sua e sustentar a mãe. Parecia marchar muito bem e Ernesto nunca me deixou de procurar.

“Gostei sempre dele, pois era bom filho, honesto, zeloso, e digno de toda a proteção. Há não sei que desgosto recalcado nessa gente, não sei que ponto fraco, que rachadura, que eles acabam sempre arrebentando de alguma forma. Este Ernesto depois da morte da mãe deu em beber. Perdeu o emprego e vive agora como você vê. Tenho muita pena dele, dou-lhe dinheiro, sabendo mesmo que é para beber; mas não sei que coisa me diz, que tenho alguma culpa nas carraspanas que transformaram esse rapaz ou na razão da transformação que o levou a bebedeiras contínuas, que me apiedo dele, do seu vicio e lhe dou dinheiro."

— Que pai!

— Não há muito que censurá-lo. Hoje, não sei; mas, naquele tempo, essas ligações preliminares, intróito e prefácio do venerável casamento com bênção sacerdotal e sacramental da igreja, eram admitidas; e as suas rupturas simples, inflexíveis, assim como a do Silva com a mãe do Ernesto, não vexavam ninguém. Os futuros sogros, para dar o “sim" aos futuros genros, só admitiam uma coisa: e que elas, as rupturas, se realizassem e os seus genros futuros nunca mais procurassem, não só as raparigas, o que era justo, mas o filho ou filhos também...

Nós tínhamos chegado à avenida Central. A moderna via pública tinha o movimento do costume: os mesmos mirones, os mesmos estafermos com as mesmas caras idiotas para as mulheres e moças que passavam. Subitamente, Florêncio pega-me pelo braço e, apontando, diz:

— Você sabe quem é aquela moça que vai ali?

— Onde?

— Com aquelas duas senhoras?

— Quem é?

— É a filha mais moça do Castanhal; é irmã do Ernesto que acabamos de deixar.

Ainda me demorei olhando pelas costas a moçoila que seguia em direção à rua do Ouvidor; e considerei bem o seu vestuário caro, na moda, de cujo corpete surgia o pescoço bem modelado e de uma linda tinta moreno-claro.

Fonte:
Lima Barreto. Histórias e sonhos. Belém/PA: Unama. Publicado originalmente em 1920.

Isabel Furini (Lançamento do E-Book “Mulheres poetizam”)


E-book reúne trabalhos de grandes poetas no mês da mulher

Na década de 70, a Organização das Nações Unidas oficializou o 08 de março como "Dia Internacional da Mulher". Valorizar a mulher, sua luta, seu trabalho, seu caminho é o objetivo da comemoração desse dia. Sustentar que a mulher não nasceu só para cozinha, ela pode ocupar espaços no mundo político, cultural, científico, econômico, jurídico, educacional e outros.

Neste mês lançaremos o e-book "Mulheres Poetizam" com a participação de maravilhosas poetas convidadas. São 26 poetisas, cada uma das delas participa com 3 poemas inéditos.

Veja abaixo os títulos dos poemas que estarão no e-book:

Adriane Garcia:
Leve
Paixão e anjo caído
Estampidos

Anna Apolinário:
Revés
Os olhos catastróficos de Louise Brooks
Carmen

Barbara Lia:
o centauro no jardim
Poema sem título
Outono

Carla Ramos:
Nos Sussurros da Alma
Morro em aparência
Renasço em Essência

Devora Dante:
2021
Los Samanes
Árbol#1

Elciana Goedert:
Expectativa
Reforma íntima
Trem da saudade

Elieder Corrêa da Silva:
Realidade
Natureza
Hoje

Etel Frota:
Le couteau dans la bottine
Trágico
Pequeno tratado das delicadezas

Flavia Quintanilha:
Como água
estrela
notas envelhecidas

Isabel Furini:
Espelho, espelho meu
Francesca Woodman
Antonela

Jessica Iancoski:
Aglutinação
Silepses
Sem a palavra o amor não acontecer

Jeovania P.:
deuses
trem surrealista
dor de poeta

Juliana Meira:
Poema sem título 1
Poema sem título 2
Poema sem título 3

Juliana Oliveira Nascimento:
Brasil
Maturidade
Entusiasta

Marcela González:
Hastío
Anhelo
Despertar

María Antonieta Gonzaga Teixeira:
Tempo
Lições
Sonhar é preciso

Maria da Glória Colucci:
Iguais
elas por “elas”
quisera

Maria Teresa Marins Freire:
Rever
Prisão
Passado

Marílis de Assis:
Vale das águas
Versos
Solidão

Marli Terezinha Andrucho Boldori:
Metamorfose
Toque invisível
Súplica

Regina Bacellar:
Repentino adeus – fragmentos de 2020,

O Palhaço

Rita Delamari:
Mulheres da Vitória
Anjo
Prece

Sheina Lee:
Camino a la igualdad
El bosque de los pinos
La magia de los libros

Solange Rosenmann:
Que procura é esta?
Sou caminho
corpo-alma

Sonia Andrea Mazza:
A mis rosas
corazón torturado
a mis sueños

Vanice Zimerman:
escombros
aracne
haicai

Fonte:
Revista Carlos Zemek. 5 mar. 2021
http://revistacazemek.blogspot.com/

sexta-feira, 5 de março de 2021

Silmar Böhrer (Croniquinha) 18


Nas minhas andanças pelos caminhos do sem fim tenho visto duas espécies de seres humanos. Uma delas é como o candeeiro, facho de luz reverberando para todo lado. A outra caiu no planeta como um meteoro, que chega aparentando luz, mas não passa de um lampejo instantâneo. A primeira ilumina e inspira; a outra não deixa vestígios.

A menos que estejamos alienados de tudo, eu sempre lembro das palavras do romancista, que nos sugere viver atentos "numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, segurando firme o facho de luz, iluminando as misérias do mundo, combatendo a escuridão, a despeito da incompreensão, da náusea, do horror".

Sejamos pontos de luz alumiando constantemente.

Fonte:
Texto enviado pelo autor

Caldeirão Poético XXXVII

Elisa Alderani

Ribeirão Preto/SP

MALAS


Quanta gente arrumando malas.
Desmanchando malas...
Fabricando sonhos, arquivando histórias.
Olhando ao longe a sua bela Terra...
Lágrimas como rios descem a serra.

Tempo para partir, tempo para chegar.
Tempo... Para mudar de vida.
Corações partidos, suspensos no ar.
Caminhos atrapalhados, desconhecidos.
Brasil, Santos, São Paulo.
Imigrantes chegando; navios repletos de sonhos.
Cheiro de malas velhas trazendo esperanças.
Chão estrangeiro: Brasil da verde serra.

Sou última imigrante...
Procuro minha mala entre tantas...
Mala transformada. Eu, artista da vida.
Fotografias, cartas...
Histórias novas e antigas.
Coração partido, tristeza e pranto,
Por ter deixado minha Pátria amada...
Ilusões de riquezas nunca realizadas.

São Paulo... Malas abertas.
Quanta gente trazendo artes escondidas,
Por entre chapéus e jornais.
Imagens de santos e castiçais.
Trajes tão diferentes...
Espelhos, refletindo a vida.

Relógios regulando o tempo...
Correndo por entre arranha-céus.
Pontes novas, e antigas.
Multidões desconhecidas,
com sonhos iguais, enlaçadas.

Ilusões no túnel do passado...
É o caminho do imigrante Italiano...
Povo de um só coração, fazendo história,
Uma realidade que não seja só memória.
Difundindo novas esperanças.
Na Verde Terra Brasileira...
Acolhedora e bela!
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Clarisse da Costa
Biguaçu/SC

HORA DO ADEUS


Meu anjo negro
É hora de eu me desligar desse amor
Dizer adeus ao passado
E as marcas que ficaram
No corpo
Com o toque de suas mãos;
Sei que em algum momento
Você me amou;
Foi um breve instante
Entre a fantasia e a realidade;
Mas eu não posso
Viver de breves momentos;
Quero ter uma noite inteira
Só pra mim;
Quero ter o dia inteiro pra mim;
Então eu vou seguir;
Não espere que eu olhe pra trás;
É bem mais difícil não lhe amar.
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Ógui Lourenço Mauri
Catanduva/SP

APRENDE A SER


Sem alarde, sem vanglória de teu feito,
Sê fraterno, segue os passos de Jesus.
Coração, pulsando o amor dentro do peito,
Planta Fé no Irmão Maior que te conduz!

Pugna sempre pelo "ser" antes do "ter",
Pois, dos bens materiais, não compensa o acúmulo.
Faze da fraternidade teu haver,
O tangível, tu não levas no além-túmulo.

Atitudes caridosas e que tais
São as rotas do bem em rumo bendito.
Prioriza teus valores, os morais,
Que te seguem a caminho do Infinito.

Essas provas, por ti foram escolhidas;
Recupera tua senda com vantagem!
Deixa o lodo que criaste noutras vidas,
Aproveita, para acerto, esta passagem!

Verte os olhos aos carentes e te integra;
Do Divino Mestre, segue Sua obra.
"Humildade sem ganância", tens a regra;
Com o irmão, divide tu o que te sobra!
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Olivaldo Júnior
Mogi-Guaçu/SP

O ENCONTRO DAS ÁGUAS

(Encontro das Águas do Rio Negro com Rio Solimões)

Eras um rio, eu era outro,
e, num golpe do destino,
eu, menino, em desatino,
encontrei em suas águas
um consolo para mágoas
que já não movem,
nem comovem
nenhum dos meus
céleres moinhos.

Eras um rio, eu era outro,
mas, no mapa da história
que nos leva ao “tesouro”,
tive das águas meu ouro,
tive dos sonhos a glória,
tive das barcas meu rumo,
pretexto pra ver se arrumo
um tempo pra nós dois.

Assim, ao pé das casas
que anseiam ter asas,
ribeiras palhoças beira
rio, beira rua líquida
que leva ao mar, sereia
de água doce nos guia,
nos livra de sermos
tão sós a ponto de não
nos encontrarmos
e deixarmos um vagão
de esquecimento
nos levar toda a alegria.

Eras um rio, eu era outro,
cada qual em seu curso,
cada qual com o discurso
mais afiado e cercado
de peixes, caranguejos
que, no mangue ao lado,
careciam de mil beijos
pra ressuscitarem,
pra repaginarem
tantas páginas em branco,
tantas lágrimas em si.

Eras um rio, eu era outro.
Isso talvez tudo resuma.
Isso talvez jamais assuma
que éramos rio no corpo
e mar na alma, atlântico
que se curva ante o sopro
que empurra as águas
para o mesmo cais.
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Pedro Du Bois
Balneário Camboriú/SC

CONFLITO

O homem traz o conflito de ser a imagem
acondicionada antes. O novo despreparado
negado na origem da altivez na fala
assumida pela estampa: reflexo calado
ao entrevisto. Conflitos atritam e luzes
esquecem ritos: gritos são escutados
ao longe que além da construção repousa
o bruxo e nele habita o homem em conflito.

Ser ele mesmo e o outro acreditado
em palavras e normas em números
e estatísticas em linguagens estrangeiras e livros
não abertos. Ter a cor e a descoloração dos anos
no adiantamento e carregar o atraso: por acaso
o homem aflito deixa na água cristalina do copo
o alívio por ser sedento em autonomia
e castigo: tem o conflito em geradas luzes
necessárias aos encontros no anacrônico
senso de o futuro despender o passado.
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Vivaldo Terres
Itajaí/SC

ÍNDIA


Índia és das brasileiras a mais bela,
Das brasileiras, és a mais singela.
Cheia de simplicidade e amor.
És a flor que perfuma o ambiente,
És o sol que ilumina esta gente,
Enchendo o coração de luz e calor.

Este teu corpo moreno!
Que o belo sol irradia.
Transmite luz e alegria.
Para todos os teus irmãos.

És a fonte da humildade,
Banhada de esperança.
Com os cabelos soltos ao vento...
Pedindo apoio cristão.

Pois o teu povo sofrido!
Até então quase extinguido,
Vê em ti a salvação.
Sabem que és guerreira forte.
E que não temes a morte,
Com o bodoque na mão!
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Fonte:
Todos os poemas foram enviados pelos respectivos/as poeta/isas

Júlia Lopes de Almeida (O Voto)


As pitangueiras, garridas com as suas frutinhas de coral, estavam ainda molhadas da chuva da véspera. O sol, que ia subindo, punha uma larga barra cor de laranja no céu, de um azul violeta; cantava um bem-te-vi na copa alta de uma paineira, e a aragem da manhã vinha toda perfumada de manacá e de ervilhas-de-cheiro.

Com o samburá na mão, a saia redonda mostrando-lhe os tornozelos finos, a Ginoca, saltitante e mimosa como a juriti, enterrava na grama orvalhada os pezinhos delicados, sem pena de molhar as suas meias vermelhas e os seus sapatos amarelos.

Ela passava risonha, cantando num débil, mas agradável fio de voz uma cantiga da roça.

Das grandes folhas das bananeiras rolavam, como contas, os pingos d’água, e de fragmento em fragmento as formigas iam levando para as suas tocas os araçás de que a chuva tinha alastrado o chão.

Ginoca escolheu com cuidado os melhores marmelos e os figos mais maduros. Suspendeu-se depois, alegre e ágil, num galho de pitangueira, e foi então uma chuva de corais e de orvalho sobre a sua
blusa de linho branco e sobre os seus cabelos corredios e negros.

Cheio o samburá, ela subiu o pomar até perto de casa.

O pai, um homem atlético, estava de pé no meio do terreiro, saboreando um copo de leite. Ao pé dele a vaca silenciosa esperava submissa, com o focinho voltado para a luz. Ginoca deu-lhe um figo. O animal estava acostumado àquelas gulodices, comeu a fruta e lambeu a mão da moça.

Acabado o leite, o pai entregou o copo à filha, e esta, abaixando--se, tomou na palma da mão a teta da vaca e ia mungi-la para encher novamente o copo, quando o pai exclamou:

– Olha, Ginoca, aquele que vem acolá, é o Camundongo! Ora se é! conheço-o perfeitamente pelo trote!

Ginoca levantou-se de um salto; estendeu a mão sobre as sobrancelhas para ver melhor, e depois de um segundo de observação disse com ar de triunfo:

– É, papai! lá vem Maurício!... assobie para ver se ele ouve!...

O velho assobiou estridulamente. Não se ouviu resposta. Houve um bater de asas apressadas no pomar, e o bem-te-vi calou-se. Ginoca respirou com força, enchendo o peito com o ar impregnado de manacá e de ervilhas-de-cheiro. O coração batia-lhe, as faces cor de jambo maduro fizeram-se-lhe vermelhas como rosas de Alexandria.

– Pois você não vê como o pobre Camundongo vem depressa! Aposto em como o diabo do Maurício traz esporas! Vai abrir a cancela, que o teu noivo não tarda... Também, se ele tiver esporeado o Camundongo, há de se haver comigo!

– De Friburgo até aqui é longe... respondeu ela, desculpando o noivo.

– Longe! Duas léguas mal medidas... Deus me dê anos de saúde, como de vezes as tenho andado a pé... Quando tua mãe era viva...

Não continuou; o rumor das patas do cavalo aproximava-se, e a Ginoca deitou a correr para a cancela; o pai seguiu-a sorrindo, e a vaca avançou vagorosamente para o samburá esquecido no chão, e, com toda a calma, devorou os figos.

Maurício era noivo e primo da Ginoca; estudava medicina e só pelas férias ia passar um tempo em casa do tio. Ginoca adorava-o, e o pai aceitava com alegria aquele casamento, porque era doido pelo sobrinho. “Um rapaz de mão cheia! dizia ele aos amigos, e sabe tantas coisas! Tem ciência para dez!”

O que ele temia era que o moço se corrompesse com os livres–pensadores...

Religioso, arraigado à igreja, ele queria para genro um homem de crenças seguras no poder infinito do Ser Supremo...

– Ora, viva o Sr. Maurício! gritou ele ao sobrinho, que era todo olhos para a Ginoca.

– Tio Guilherme... murmurou, abraçando-o, o moço.

Trocadas as primeiras expansões, entraram. Na pequena sala de jantar, alegre e rústica, alvejavam a toalha e a louça para o almoço; na parede caiada, ao fundo, sobre uma prateleira de pinho coberta de crochê, um boião de barro sustinha um ramo de rosas de todo o ano, de hortênsias azuis e de alecrim cheiroso. No alto, um quadro da Virgem, em oleografia, com a sua túnica branca e o manto flutuante, sorria no meio daquela pobreza alegre. O tio Guilherme benzeu-se antes de sentar-se à mesa; a filha rezou de mãos postas, e Maurício desviou o olhar para a janela, onde uma borboleta azul batia de encontro aos vidros.

O tempo das férias voou alegremente.

Às vezes iam a uma propriedade vizinha, de uns sitiantes suíços, comprar manteiga fresca ou assistir à colheita das batatas. Ginoca levava sempre uma cestinha que enchia das framboesas da estrada, para dar às crianças que encontrasse. Maurício auxiliava-a, e o pai ria-se, alegrado pelo amor e a mocidade de ambos. Era bem certo que Deus tinha criado aqueles dois um para o outro!

Na maior parte das manhãs não saíam do sítio, mas nem por isso se levantavam mais tarde. Quando abriam as janelas, as montanhas de Friburgo estavam ainda envoltas num nevoeiro espesso, que o sol ia desfazendo numa polvilhação dourada. A estrada, vermelha, serpeava ao longe entre a verdura dos campos e o espreguiçar azulado e frio das águas da cachoeira. Os carneiros balavam à distância, e no ar fresco e leve cruzavam-se cantos de aves e aromas de flores.

Ginoca, lépida como uma cabrita, descia ao curral e vinha puxando a vaca, a grande vaca branca e preta, que a seguia com olhar melancólico e meigo.

Daí eram as partidas no pomar; os assaltos às pitangueiras. Maurício trepava à árvore, Ginoca aparava as frutas no avental; enfeitava a trança negra com as pitanguinhas vermelhas, desfolhava no seio as flores dos limoeiros, e era tudo alegria e risadas. Quando voltavam para o almoço, iam impregnados do aroma das ervas e com o rosto ainda úmido da agua, muito transparente e fria, que atravessava a horta, levando na corrente um ou outro junquilho ou as florinhas douradas dos pés de hortaliça.

Expirado o tempo das férias, Maurício voltou ao Rio, e a Ginoca começou a trabalhar com afinco no enxoval.

Iam as coisas assim, quando tiveram notícia de que o estudante estava à morte no Rio, com febre amarela!

Foi um terror imenso!

Ginoca suplicava ao pai que a levasse para junto do noivo; o pai negava-se, e as horas passavam lentas e amarguradas. Cessaram as notícias e o pressentimento da morte tolheu os corações do pai e da filha; ele queria disfarçar, mas não o conseguia, e a Ginoca, já sem lágrimas, muito pálida, parecia uma louca. Uma noite, enquanto o pai dormia, ela ajoelhou-se em frente ao quadro da Virgem e fez, com toda a fé da sua alma castíssima, uma promessa à Mãe de Deus. Quando se levantou, os seus olhos resplandeciam de lágrimas, mas havia uma expressão enérgica de confiança e de paz no seu belo rosto moreno.

Nem um soluço quebrou o silêncio da noite.

No outro dia de manhã receberam uma carta. Maurício estava salvo.

Rebentaram os risos. O velho disse à filha que escrevesse ao noivo, dizendo-lhe para ir convalescer em sua casa. Ginoca ria, relendo e beijando a carta.

– Sabes que mais? disse-lhe o pai, o casamento vai fazer-se já... isto de cuidados e demoras não são coisas do meu agrado. Ele que venha e trataremos disso. O padre Benedito aí está e um altar arma-se num momento!

Ginoca suspendera subitamente o riso e tornou-se branca como o linho.

– Casar?...

– Então?!

– É impossível! Oh! não me pergunte por que, papai; é impossível!

– Ora esta!

O velho supôs que a filha delirasse e tomou-lhe o pulso. A moça correu para o interior da casa, e ele, atônito, ficou olhando para o buraco vazio da porta por onde ela tinha fugido.

Passou todo o dia aflito.

Que teria a Ginoca? Resolveu-se a chamar o médico; mas antes disso quis ainda consultar a filha.

Às Ave-Marias desceram ambos ao pomar. No galho florido de um pessegueiro cantava um sabiá, e no fundo azul pálido do céu as montanhas de Friburgo desenhavam-se muito escuras.

– Olha, Ginoca... por que é que já não queres casar com teu primo?... perguntou o tio Guilherme, com ar constrangido e tímido.

A filha baixou a cabeça, silenciosa, vencida pela comoção.

– Ele fez-te algum mal, ofendeu-te?

– Oh! não!

– Então que teima é essa?! o pobre moço adora-te, e eu, francamente, estava satisfeito...

– Eu já não posso casar!

– Hein!? Já não podes casar! que diabo de linguagem é essa?!

Ginoca parou, ergueu para o pai os olhos úmidos e murmurou:

– Fiz um voto... prometi a Nossa Senhora que, se salvasse Maurício da morte, eu ficaria solteira a vida toda...

O pai recuou, como se tivesse levado uma pedrada no coração.

Rolaram no ar sereno da tarde as badaladas das Ave-Marias; ele, respeitoso e triste, tirou o chapéu. A Ginoca apoiou-se a um tronco de
árvore, soluçando alto.

Extinta a última vibração do Angelus, o velho disse tremulamente à filha:

– Já que fizeste um voto... tens de cumpri-lo...

Ela abanou afirmativamente a cabeça.

Voava por todo o pomar o doce aroma das ameixeiras em flor.

Fonte:
Júlia Lopes de Almeida. Ânsia eterna. 2. ed. rev. Brasília : Senado Federal, 2020. Publicada originalmente em 1903.

Coletânea de Contos Infantis - Centenário de Maria Clara Machado (Prazo: 15 de Março)


Realização do Projeto Apparere (www.apparere.com.br)


Queremos convidar você e seus amigos a participarem de nossa Coletânea de Contos Infantis - Centenário de Maria Clara Machado (Tema sugerido por: Conceição Maciel e Equipe PerSe).

As inscrições, que já estão abertas, podem ser feitas até o dia 15 de Março. Veja mais informações abaixo!

Esta é uma Coletânea de Contos Infantis em homenagem ao Centenário de nascimento de Maria Clara Machado, comemorado agora no mês de Abril. Maria Clara Machado, foi escritora e dramaturga, autora de famosas peças e livros infantis, e para homenageá-la buscamos Contos Infantis (seu universo), que poderão ser 100% de autoria dos Autores participantes ou releituras dos maravilhosos contos de Maria Clara Machado, e neste caso deve-se mencionar em qual conto se baseou a releitura.

IMPORTANTE:
Os contos desta coletânea serão compostos somente de Textos, não conterão nenhuma imagem ou ilustração. Conheça todos os detalhes no link https://bit.ly/3pyqp7G

Nessa Coletânea os Artistas Plásticos e Designers de capa, também podem participar, enviando sugestões de Capa para a Coletânea. Conheça todos os detalhes no link https://bit.ly/3ax7w0P

Já recebemos várias inscrições e ainda estamos aguardando ansiosamente a sua! Importante lembrar que sua participação é Gratuita.

Após recebermos os Textos, faremos uma seleção/avaliação dos melhores e publicaremos um livro com eles. Essa Coletânea ficará à venda na Loja Online da PerSe, com impressão sob demanda, para quem quiser adquiri-la.

Como dissemos, sua participação não terá nenhum custo!

Você encontra todos os detalhes para sua inscrição nos links abaixo:

1) Quero enviar meu texto: https://bit.ly/3pyqp7G​

2) Quero enviar sugestão de capa: https://bit.ly/3ax7w0P

Você não pode ficar fora desta homenagem à Maria Clara Machado. Inscreva-se já!

Forte abraço,
Equipe Apparere

Fonte:
Texto enviado pelo Projeto Apparere

quinta-feira, 4 de março de 2021

Arquivo Spina 28 - José Airton Oliveira

 


A. A. de Assis (Maringá Gota a Gota) JG e Maringá


Houve tempo em que os bons poetas conseguiam status de celebridades no Brasil, quase tanto quanto os mais famosos atores, cantores e atletas. Gonçalves Dias, Castro Alves, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meirelles e mais alguns são lembrados ainda hoje, porém como gente do passado. Os dois últimos bastante conhecidos em todo o país foram Mário Quintana e Manoel de Barros.

Nenhum deles alcançou, no entanto, um nível de popularidade semelhante ao de JG de Araújo Jorge, que aliás nem aparecia nos manuais de literatura adotados pelas escolas. Porém seus versos eram publicados em todos os jornais e revistas, o que lhe garantia uma multidão de leitores. Com isso, enquanto os autores mais ilustrados vendiam no máximo 5 mil exemplares dos seus livros, JG vendia mais de 50 mil. Foi o único dos nossos escritores a fazer alguma fortuna vendendo poesia. Tinha até um programa semanal na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que dava o maior ibope.

Toda a geração que viveu entre os anos 1940 e 1970 lia e curtia os versos do chamado “poeta das moças”. Os críticos em geral nutriam preconceito conta ele, mas nada disso abalava seu prestígio. Escrevia para o povo, especialmente para o público jovem. Sonetos, poemas livres, trovas, sempre numa linguagem simples, que todo mundo entendia. Daí o sucesso.

Em três ocasiões JG de Araújo Jorge esteve em Maringá – 1966, 1970 e 1972. Na primeira vez, veio como atração principal num grupo de cerca de 50 outros poetas, para um dos maiores eventos literários já realizados na cidade. O então prefeito Luiz de Carvalho, que também gostava de poesia, mandou armar um coreto em frente à antiga biblioteca e ali se reuniram milhares de pessoas para ouvir os menestréis. Foi um “comício de poesia”, disseram.

Em 1972, JG conheceu aqui o professor Renato Bernardes, que na época era o vice-prefeito e secretário da Educação e Cultura, no governo do prefeito Adriano Valente. Alguns anos mais tarde Renato se elegeu deputado federal. Em Brasília ele reencontrou JG, que havia sido eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro. O poeta conseguira transformar seus leitores em eleitores e assim, sem gastar praticamente nada, obteve uma votação enorme.

Numa determinada ocasião, Renato Bernardes andava labutando para conseguir a liberação de um recurso importante para Maringá. Precisava convencer o ministro responsável pela verba a apressar a tramitação do processo. Contou isso ao colega deputado JG, que de pronto se dispôs a ajudar. Foram os dois juntos ao gabinete do ministro, que por acaso ou por sorte era fã do poeta. A assinatura do documento saiu na hora, seguida do convite para um cafezinho em meio a uma roda de funcionários que vieram pedir o autógrafo do famoso homem de letras. Em resumo: o carinho que JG de Araújo Jorge dedicava a Maringá, mais a amizade com o Renato, renderam bons proveitos para o município. Viva a poesia!
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 25-02-2121)

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Álvares de Azevedo (Poemas Escolhidos) – 4 –

XI


Formosa é Daliana; o seu cabelo,
A testa, a sobrancelha é peregrina;
Mas nada tem, que ver co’a bela Eulina,
Que é todo o meu amor, o meu desvelo:

Parece escura a nove em paralelo
Da sua branca face; onde a bonina
As cores misturou na cor mais fina,
Que faz sobressair seu rosto belo.

Tanto os seus lindos olhos enamoram,
Que arrebatados, como em doce encanto,
Os que a chegam a ver, todos a adoram.

Se alguém disser, que a engrandeço tanto
Veia, para desculpa dos que choram
Veja a Eulina; e então suspenda o pranto.
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XII

Fatigado da calma se acolhia
Junto o rebanho à sombra dos salgueiros;
E o sol, queimando os ásperos outeiros,
Com violência maior no campo ardia.

Sufocava se o vento, que gemia
Entre o verde matiz dos sovereiros;
E tanto ao gado, como aos pegureiros
Desmaiava o calor do intenso dia.

Nesta ardente estação, de fino amante
Dando mostras Daliso, atravessava
O campo todo em busca de Violante.

Seu descuido em seu fogo desculpava;
Que mal feria o sol tão penetrante,
Onde maior incêndio a alma abrasava.
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XIII

Nise? Nise? onde estás? Aonde espera
Achar te uma alma, que por ti suspira,
Se quanto a vista se dilata, e gira,
Tanto mais de encontrar te desespera!

Ah se ao menos teu nome ouvir pudera
Entre esta aura suave, que respira!
Nise, cuido, que diz; mas é mentira.
Nise, cuidei que ouvia; e tal não era.

Grutas, troncos, penhascos da espessura,
Se o meu bem, se a minha alma em vós se esconde,
Mostrai, mostrai-me a sua formosura.

Nem ao menos o eco me responde!
Ah como é certa a minha desventura!
Nise? Nise? onde estás? aonde? aonde?
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XIV

Quem deixa o trato pastoril amado
Pela ingrata, civil correspondência,
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado.

Que bem é ver nos campos transladado
No gênio do pastor, o da inocência!
E que mal é no trato, e na aparência
Ver sempre o cortesão dissimulado!

Ali respira amor sinceridade;
Aqui sempre a traição seu rosto encobre;
Um só trata a mentira, outro a verdade.

Ali não há fortuna, que soçobre;
Aqui quanto se observa, é variedade:
Oh ventura do rico! Oh bem do pobre!
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XV

Formoso, e manso gado, que pascendo
A relva andais por entre o verde prado,
Venturoso rebanho, feliz gado,
Que à bela Antandra estais obedecendo;

Já de Corino os ecos percebendo
A frente levantais, ouvis parado;
Ou já de Alcino ao canto levantado,
Pouco e pouco vos ides recolhendo;

Eu, o mísero Alfeu, que em meu destino
Lamento as sem razões da desventura,
A seguir vos também hoje me inclino:

Medi meu rosto: ouvi minha ternura;
Porque o aspecto, e voz de um peregrino
Sempre faz novidade na espessura.

Fonte:
Álvares de Azevedo. Poesias. Livro publicado em 1853.

Carla Rejane Silva (Sobressaltos....)


Acordei meio assustada, talvez o que me tenha despertado do sono profundo tenha sido um sonho horrível, um sonho inóspito do qual eu havia me esquecido há tempos. Não sei, mas me vi entremeada, estranha, como um balão cheio demais e pronto para explodir a qualquer momento.

E aquela dor incômoda, vinda das minhas entranhas – ou seria do meu coração – afligido por um mal súbito que, até então, eu desconhecia a razão e o porquê. Não atinei com a resposta, pelo menos de imediato. O fato é que esta dor foi aumentando, e a cada minuto que  passava já não sabia distinguir o porquê de tamanha e confusa depreciação.  

Dito de forma mais clara. Não saberia explicar exatamente o que sucedia comigo. Levantei-me cambaleante, ainda atordoada, quase não me sustendo sobre os pés. Me sentia perdida, esfacelada, completamente transtornada, numa consumação interior inexplicável.

Meu Deus! Olho agora através do espelho de meu quarto e espio, compridamente, a minha grotesca imagem. Ela está  assustadora,  amedrontada, assombrada, como num filme de terror à la Hitchcock. Apavorada e fora de mim, corro ao banheiro e lavo meu rosto, tentando desfazer o que vejo, e ao mesmo tempo apaziguar esta loucura insana que povoa meu semblante espavorido e intimidado que só sabe me fazer mal.

Sinto-me neste momento como se fosse a Rainha Má -, aquela  bruxa antagonista saída de um conto clássico dos irmãos Grimm que oferece uma maçã envenenada para a mais bela entre as mais belas, “Branca de Neve”. À guisa deste pensamento, não me deixa formar um sorriso. Tampouco, me permite abrir a boca num ‘o’ de pura estupefação.

No entanto, um semblante macabro se faz presente, inundando meu rosto. Este  mesmo rosto que mais parece um genipapo (fruta que madura, se deteriora enrugada). Fujo, pois, às pressas ou, pelo menos, tento me afastar deste momento maligno que reflete através de minha imagem, de meu amanhecer completamente sombrio...

A janela, à minha frente, se me apresenta como um cenário digno dos deuses ungidos. Há flores, árvores e pássaros cantando em derredor. Todavia, por mais que tente ver, e não só ver, captar, capturar, prender e sentir todas estas belezas, me inebriar com o sol maravilhoso que me convida para um abraço quentinho... Nada consigo!

Apesar disto, algo que não sei exatamente o que seja, me desconecta do agora e não me autoriza enxergar nada além de sombras difusas. Sombras dilatadas, extensas, que me ofuscam os passos a serem seguidos em direção ao Encantado. Esta dor alucinante, não me permite ter a visão beatificada do que é Belo e arroubado, entusiasmado, a ponto de me deixar cativa de estar viva.  

Sinto-me, por tudo o que estou vivenciando agora, ou melhor, não só me sinto, me flagro sorumbática, fechada, escudada por detrás  de altos muros, como um bichinho enjaulado, preso a um  desespero funesto, em busca de liberdade. Liberdade que busco incessantemente desde as primeiras horas do dia.

O que devo fazer? O que preciso fazer? O que careço por em prática?  O que, enfim, não posso deixar para depois? Bem sei, o inimigo ganha terreno e pior, se espalha. Este inimigo horrendo que não visa outra coisa a não ser me destruir por inteira. Esta loucura, não é de hoje, está  me tirando o sossego, a tranquilidade.

Este inimigo me obstrui a afeição do Onipotente. Não me deixa ver a felicidade plena.  Como larvas de  um vulcão ensandecido, me mantém cativa, me tolhe, me cerca para que eu jamais consiga escapar. Preciso tomar uma atitude urgente. Esta dor infernal que dilacera meus dias, meus momentos de glórias pode vencer.

Por minha parte, não posso me dar por vencida. Preciso me concentrar, analisar, usar todas as minhas armas e conter estes instantes de pura indigestão que me deixa pra baixo, quase à pique. Tenho que, urgentemente jogar fora o que insistentemente me tortura e me aniquila.

Ao fechar os olhos, por um breve instante, me sinto desaparecida de mim mesma, distanciada de minhas quimeras, divorciada de meus objetivos a serem alcançados. De súbito, inopinadamente, um ‘buuuuummmmm’ se faz ouvir e eu me vejo retornando à crosta terrestre da minha existência. Nada, absolutamente nada sinto. Nada de nada, igual a coisa nenhuma. Incrível...  No fim, eram apenas gases intestinais aprisionados dentro de meus próprios medos e receios.

Fonte:
Texto enviado pela autora.

quarta-feira, 3 de março de 2021

Varal de Trovas 483

 


Gregório Duvivier (Saudades de sentir que estamos indo pro mesmo lugar né, minha filha)


Minha vida foi radicalmente transformada numa terça-feira, lá pelas cinco da tarde, do ano de 1996. Tinha dez anos e um pavor social disfarçado de desinteresse pela humanidade. Morria de medo de tudo e sabia que ninguém nunca iria me compreender —e nem valia muito a pena tentar, porque eu não pensava mesmo nada que prestasse.

Tivesse nascido um pouco depois, teriam me chamado de emo. Não existindo ainda o termo, me considerava um jovem Werther, mesmo sem nunca ter lido o livro. Bastava-me o texto da contracapa. A contracapa era o Wikipédia da época. “Um jovem que inspirou muitos jovens de sua época a cometerem suicídio.” Pronto. Entrava no bate-papo do UOL como “Jovem Werther”. Sim, era eu.

Meu avô Carlos, analista junguiano, sugeriu que me botassem no teatro e no futebol —“atividades socializantes”. Entrei pro Gavea Gol, o futsal do Corpo de Bombeiros da Major Rubens Vaz, onde quase apanhava dos colegas de time —o pereba se destaca dos demais jogadores por gerar mais ódio nos colegas que nos adversários.

No teatro, tudo indicava que seria pior. Subi no palco do Tablado, pela primeira vez, numa aula da professora Aracy Mourthé. As pernas tremiam. Quando disse meu nome em voz alta, todos riram, ao mesmo tempo. Não entendi se riam da minha voz de criança, ou do meu nome de velho, ou do cabelo de cuia, ou da união de todas as coisas. Mas eu passei a vida tentando repetir aquilo.

Existe algo de mágico em fazer pessoas que nunca se viram antes rirem da mesma coisa, no mesmo momento, sem combinar —mesmo que essa coisa da qual estejam rindo seja você. Nunca me recuperei da sensação de provocar esse laço imediato entre pessoas que não se conhecem. Toda amizade começa com uma piada interna. Fazer rir é fazer amigos, percebi. E nunca mais quis outra coisa.

Sei que muita gente encontrou sentido, como eu, na comoção. Aliás, que palavra bonita, essa, comover mover, coletivamente. O teatro funciona, quando funciona, como um ônibus, que desloca um grupo de pessoas de um lugar pro outro. Quando não funciona, é como o trem do Alckmin pro aeroporto, que não vai até o aeroporto.

Sei também que o teatro não vai voltar tão cedo. E sei que tem que ser assim. Mas que pena. Como nos faria bem essa sensação de que estamos todos indo, pelo menos por alguns minutos, pro mesmo lugar.

Fonte:
Folha de São Paulo. Seção Colunas. 9 junho 2020.

Cecília Meireles (Antologia Poética) III

         EXCURSÃO

Estou vendo aquele caminho
cheiroso da madrugada:
pelos muros, escorriam
flores moles da orvalhada;
na cor do céu, muito fina,
via-se a noite acabada.

Estou sentindo aqueles passos
rente dos meus e do muro.

As palavras que escutava
eram pássaros no escuro...
Pássaros de voz tão clara,
voz de desenho tão puro!

Estou pensando na folhagem
que a chuva deixou polida:
nas pedras, ainda marcadas
de uma sombra umedecida.
Estou pensando o que pensava
nesse tempo a minha vida.

Estou diante daquela porta
que não sei mais se ainda existe...
Estou longe e fora das horas,
sem saber em que consiste
nem o que vai nem o que volta...
sem estar alegre nem triste,

sem desejar mais palavras
nem mais sonhos, nem mais vultos,
olhando dentro das almas,
os longos rumos ocultos,
os largos itinerários
de fantasmas insepultos...

— itinerários antigos,
que nem Deus nunca mais leva.
Silêncio grande e sozinho,
todo amassado com treva,
onde os nossos giram
quando o ar da morte se eleva.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

MOTIVO

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

MÚSICA

Noite perdida,
Não te lamento:
embarco a vida

no pensamento,
busco a alvorada
do sonho isento,

puro e sem nada,
— rosa encarnada,
intacta, ao vento.

Noite perdida,
noite encontrada,
morta, vivida,

e ressuscitada...
(Asa da lua
quase parada,

mostra-me a sua
sombra escondida,
que continua

a minha vida
num chão profundo!
— raiz prendida

a um outro mundo.)
Rosa encarnada
do sonho isento,

muda alvorada
que o pensamento
deixa confiada

ao tempo lento..
Minha partida,
minha chegada,

é tudo vento...

Ai da alvorada!
Noite perdida,
noite encontrada…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

NOITE

Úmido gosto de terra,
cheiro de pedra lavada
— tempo inseguro do tempo! —
sombra do flanco da serra,
nua e fria, sem mais nada.

Brilho de areias pisadas,
sabor de folhas mordidas,
— lábio da voz sem ventura! —
suspiro das madrugadas
sem coisas acontecidas.

A noite abria a frescura
dos campos todos molhados,
— sozinha, com o seu perfume! —
preparando a flor mais pura
com ares de todos os lados.

Bem que a vida estava quieta.
Mas passava o pensamento...
— de onde vinha aquela música?
E era uma nuvem repleta,
entre as estrelas e o vento.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

RETRATO

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Fonte:
Cecília Meireles. Viagem. Lisboa: Império, 1938.

Aparecido Raimundo de Souza (Parte 34) Papo careta


Texto integrante de Comédias da Vida na Privada.

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BIFE MARCOS PASSADO, amigo íntimo do Eduardo Camaleão, marido da inebriante e formosa Laurinda, se encontrou com ela quando a beldade saia da padaria do bairro onde moravam. Extremamente galanteador e metido a ter todas as mulheres a seus pés, principalmente as jovens, não pensou duas vezes e se abriu em mesuras e reverências, feito mala velha imprestável:

— Dona Laurinda, que prazer enorme em lhe encontrar!

Dona Laurinda, vinte e três anos, se formara uma mulher bela e encantadora, capaz de virar a cabeça de qualquer homem que tivesse gosto apurado e rigoroso pelo sexo oposto. Seus cabelos compridos, caídos até a cintura, lhe davam ares de uma boneca feita sobre medida pelas mãos hábeis de um artista nato, que pensara em concentrar tudo de maravilhoso num ser humano único, tornando o inimitável e assombradamente fagueiro e mavioso:

— O prazer é todo meu, seu Bife.

— E como está o meu amigo Eduardo Camaleão?

— Neste momento se aprontando para o trabalho.

— Legal. Faz tempo que não vou à casa de vocês. Estou com saudades de seus bolos de chocolate.

— Não seja por isto, amigo Bife. Apareça quando quiser... Sempre será bem vindo.

— Tomei conhecimento, pelo Pingolino, o porteiro do seu prédio, irmão do vigia do meu edifício, que vocês comemoraram um ano de casados?

— De fato. Pensei que fosse contar com a presença do senhor. Fizemos uma brincadeira rápida, de última hora. Assamos uma carninha, entornamos algumas cervejas... Abrimos um champanhe. Até falei para o Camaleão: ‘Amor, está faltando o Bife’.

Risos de ambas as partes:

— Ele esqueceu de me chamar. Acontece. Não faltará ocasião.

— Independentemente disto, poderia ter ligado. Tudo bem. Me perdoa. Peço desculpas por nossa falha. Afinal, o senhor faz parte do seleto círculo de amigos. Sempre nosso cantinho estará ao seu inteiro dispor.

— Agradeço o seu carinho. Isto muito me lisonjeia.

— Não por isto.

— A Bebel, sua empregada, me disse num encontro que tivemos na feira de quarta, que a senhora está pensando em ter um filho?

— Nossa, as noticias correm. Penso, de fato, em aumentar a família. Acho que está na hora de arranjarmos um herdeiro...

Bife Marcos Passado não era de perder uma chance, por menor ou por mais insignificante que fosse. Neste pé, aproveitou a deixa e caiu matando:

— Uau, dona Laurinda! Que excelente notícia. Me avisa quando quiser colocar esta ideia em prática. Lembra de mim. Não esqueça que os amigos... Os verdadeiros amigos são para estas coisas...

Laurinda mandou um bom dia, meio que enviesado, fechou o rosto numa carranca furiosa e entrou, de vez, padaria adentro.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Concurso de Trovas para uma Vida Melhor (6ª Etapa - 3º Concurso) Prazo: 15 de abril


Tema: - DESAFIO

Calendário: de 01/03/2021 à 15/04/2021

Resultado e entrega de diplomas: a partir de 01/06/2021

CRITÉRIOS:

1. Uma trova inédita por trovador

2. O Tema tem que constar no corpo da trova: ABAB.

3. A Inscrição pode ser por e-mail ou por envelope (dentro do envelope grande, endereçado ao responsável pelo recebimento, virá um envelope menor lacrado, com os dados do trovador – nome, endereço, telefone e e-mail, - tendo na frente do envelopinho a trova colada).

4. A Comissão de Julgadores é soberana.

5. Em língua portuguesa:

Grupo 1: Nacional  (Veterano e Novo Trovador)

Grupo 3: Estudantil (Alunos de 12 a 18 anos).

ENVIO:

1)Inscrição por e-mail:
Helio = helio.@gmail.com. (sem acento)

2)Inscrição por carta, envelope:

Gloria Tabet Marson
Rua Major Dietrich Ott, 71 - Jardim das Colinas
CEP: 12242-111 – São José dos Campos, SP.


Mifori
CBT Seção de São José dos Campos - SP - Brasil