sexta-feira, 3 de abril de 2009

Biblioteca Comunitária Barca dos Livros (Florianópolis/SC)


A Barca dos Livros é uma biblioteca comunitária, mantida pela SOCIEDADE AMANTES DA LEITURA, com sede na Lagoa da Conceição, em Florianópolis, que defende a importância da leitura para o desenvolvimento comunitário e individual.

Inaugurada em 02 de fevereiro de 2007, a Biblioteca possui um acervo de mais de 7.500 livros já catalogados e 3.000 em fase de catalogação. Nesses dois anos de atividade, a Biblioteca é referência na área do livro e da leitura, e presença constante na mídia local e nacional.

A Barca dos Livros foi finalista do Prêmio Vivaleitura 2007 (Minc/MEC e OEIAE e Grupo Santillana), recebeu em 2006 o 2° lugar no 11° Concurso FNLIJ/Petrobrás – Melhores Programas de Incentivo à Leitura junto a Crianças e Jovens de todo o Brasil. Em 2008 foi reconhecida como “ação destaque” no II Fórum do Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL/MinC) e I Encontro Internacional de Bibliotecas Comunitárias em São Paulo.

Em 2006 o Projeto foi aprovado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura /Minc (Lei Rouanet – Artigo 18) e contou com importantes incentivos da Eletrobrás, Eletrosul, Tractebel, BRDE e BADESC, o que permitiu equipar o espaço, contratar profissionais qualificados, atendendo às necessidades de funcionamento da sede/porto. O objetivo principal sempre foi o de facilitar o acesso ao livro e à leitura e a formação do leitor, através do atendimento diário e gratuito à comunidade e do programa mensal de incentivo à leitura, com a qualidade de um acervo de livros escolhidos.

Nesses dois anos de atividades, a Barca dos Livros atingiu uma média de 1.800 visitantes/mês (beneficiando escolares de todas as idades e público em geral da comunidade da Lagoa da Conceição e região, Florianópolis, Grande Florianópolis e também do interior do Estado).
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O Barco – Biblioteca Itinerante

A implantação do barco-biblioteca (biblioteca itinerante), concretizará na totalidade os objetivos do projeto Barca dos Livros. Montada a bordo de um barco especialmente adaptado, respeitando as condições geográficas, o meio-ambiente e as tradições culturais da população da Lagoa da Conceição, a biblioteca-itinerante cumprirá um roteiro de visitas, quando emprestará livros, receberá devoluções e servirá de base para atividades de estímulo à leitura diretamente nos núcleos das comunidades ribeirinhas da Lagoa da Conceição. Contadores de histórias, autores e oficinas de formação do leitor e mediadores de leitura complementarão e marcarão sua passagem.

Nas margens e proximidades da Lagoa da Conceição, vivem cerca de 40 mil habitantes espalhados em vários núcleos, com cerca de 20 mil crianças, adolescentes e jovens matriculados desde creches até o ensino médio e universitário. Linhas regulares de barcas servem a algumas comunidades ribeirinhas, como a Costa da Lagoa, cujo único acesso é a via aquática. É um microcosmo construído em torno da Lagoa, onde o barco é meio de transporte cotidiano e os 23 trapiches públicos são pontos de contato incorporados aos usos e costumes. Com o Barco - Biblioteca em funcionamento, ampliará em 50% o número de pessoas (adultos e crianças) que serão beneficiadas com as atividades de incentivo à leitura e acesso à Biblioteca.

O Projeto Barca dos Livros - Fase II - consta da circulação do barco-biblioteca e a realização das atividades de incentivo à leitura diretamente nas comunidades. Estamos trabalhando na captação de recursos para a compra e implantação do Barco-biblioteca, ainda em 2009. Enquanto isso, foram realizadas, desde a abertura da Biblioteca, a atividade mensal de incentivo à leitura chamada “Histórias na Barca dos Livros” – três passeios à bordo de um barco na Lagoa da Conceição, com livros, narração de histórias e música numa viagem encantadora.

Rua Senador Ivo d'Aquino, 103
Lagoa da Conceição, frente ao trapiche
(048) 3879-3208
Horário de funcionamento
De 3ª a 6ª das 10h às 20h
Sábados e domingos das 14h às 20h

Fonte:
http://www.amantesdaleitura.org/

Lançamento da Coletânea XXI Poetas de Hoje em Dia(nte)

Clique sobre a imagem para melhor visualização

Fonte:

Emílio de Meneses (Caldeirão Literário do Paraná)


L.M.

De uma magreza de evitar chuvisco,
Tem a altura fatal de um pára-raio.
Tão alto que, se o aspecto lhe rabisco,
Na vertigem da altura até desmaio.

Hoje é o senhor do cobiçado aprisco
De tenros diplomatas em ensaio;
Astuto, na rijeza de obelisco,
Não nos encara, espia de soslaio.

De alma arguta e sagaz, nada quimérica,
Feita de tino e de sabedoria,
Tudo a seu ver é uma função numérica.

Mas de andar e viajar, tem a mania.
Cometa diplomático da América,
Judeu errante da diplomacia.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

P.C.

Tão pequenino e trêfego parece,
Com seu passinho petulante e vivo,
A quem o olha, assim, com interesse,
Que é a quinta-essência do diminutivo.

Figura de leiloeiro de quermesse,
Meloso e parecendo inofensivo,
Tem de. despeitos a mais farta messe,
E do orgulho é o humílimo cativo.

Não há talento que ele não degrade,
Não há ciência e saber que ele, à porfia,
Não ache aquém da sua majestade.

Dele um colega, há tempos, me dizia:
É o Hachette ilustrado da vaidade,
É o Larousse da megalomania!
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

C.M.

Lá na terra dos pampas tem o nome
De chimarrita, diz o Leal de Souza,
E este apelido afirmam que o consome
E é o que o há de levar à fria lousa.

Se lho repetem briga e já não come,
Não pára, não descansa, não repousa,
Agüenta a sede, suportando a fome,
Dando o estrilo feroz por qualquer cousa.

Entretanto, não tem os dotes falhos;
Do talento gaúcho é um belo adorno
E tem brilhantes feitos e trabalhos.

Rapadurescamente espalha em tomo,
Uma impressão de cheiro a vinha-d'alhos,
De um leitãozinho mal tostado ao fomo.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

R.A.

Era ministro então. O Olavo e o Guima
Diziam que ele era o Morfeu da pasta,
E o dorminhoco andava em metro e rima
Na pilhéria que a tanta gente agasta.

Mas galgando o Catete, escada acima,
Num despertar febril, Morfeu arrasta
Todas as forças que a vontade anima,
Nos vastos planos de uma idéia vasta.

Tudo revive! A atividade é infrene.
São mutações de sonho! É o Eldorado,
É o Dinheiro na Estética e na Higiene!

Hoje, glorioso e um tanto fatigado
Não se deixa ficar calmo e solene
A dormir sobre os louros do passado.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

R.

Pedra preciosa de um tamanho imenso.
(Pois que o nome é um rubi deste tamanho
Que à sorte e à fortuna traz apenso),
Eis mais ou menos o seu vulto estranho.

Escravo cauteloso do bom senso
Fugidio ao espírito tacanho,
Quando entra em luta diz: Ou morro ou venço!
E é difícil que alguém lhe tome o ganho.

Desdobrado em trabalho multiforme,
Em finança e política não dorme,
E numa ou noutra. nunca perde a audácia.

Sendo do Bananal, não é um banana:
Tocou rumo a S. Paulo a caravana,
E ei-Io Rubião, em honra da rubiácea.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

J.DE M.

Com este agora a musa não contava!
Nem a musa mordaz, nem a brejeira,
Em certo dia o vejo a deitar lava,
Aproximo-me e encontro uma geleira.

Quando a aparência é fria, a alma está brava.
Se aquela é tormentosa, esta é fagueira.
E assim, da vida. o rumo, a sós, desbrava,
E, a sós, colima o termo da carreira.

Por muito que o humorismo o prenda e engrade.
Ele não esbraveja nem se irrita,
Mas se lhe escapa com facilidade.

A golpes de talento o laço evita
E ao ridículo opõe a habilidade.
Eis, mal pintado, o Júlio de Mesquita.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

W. L.

E um bandeirante novo, sem as botas
De andar em carrascais, ou serras brutas,
De penetrar nas mais profundas grotas
Ou se internar nas mais soturnas grutas.

É o bandeirante urbano nas devotas
Ânsias de ver em formas resolutas,
O esplendor das metrópoles remotas
Em plintos, colunatas e volutas.

Ele antevê. nas cores mais exatas
Da Paulicéia as graças infinitas,
No áureo fulgor de mágicas palhetas.

Porém, depois dos bons tempos de pratas,
Ele que é homem que detesta as fitas,
Sente a falta do arame nas gavetas.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

A. A.

Dizem que às vezes, quer se achar bonito,
Mas, nem sendo Amadeu e sendo amado,
Mas muito amado mesmo, eu não hesito:
Se não é feio é bem desengraçado.

Entretanto se o vejo (isto é esquisito)
Através de um soneto burilado,
É mais que belo, afirmo em alto grito,
É o próprio Apoio que lhe fica ao lado.

Mais comprido que a universal história,
Este Leconte com seu ar caipira,
Me deixa uma impressão nada ilusória.

Quando ele ao alto, a inspiração atira,
Com a cabeça a topar no céu da glória,
É um guindaste a guindar a própria lira.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

V. DE C.

Fraco e doente, se solta algum gemido,
Ou sai um verso ou brota uma sentença.
Se como Juiz sempre é acatado e ouvido,
Como poeta não sei de alguém que o vença.

Se nas Ordenações presta sentido,
Tem, nas regras de Horácio, parte imensa.
Não se lhe sabe o culto preferido:
Se na Arte ou no Direito, tem mais crença.

Tendo defeito, nunca teve alcunha.
Quando aparece, num reencontro à liça,
O que nos antagonistas acabrunha,

É ver que, sem fraqueza nem preguiça,
Numa só mão, com o mesmo gesto empunha,
A áurea lira e a balança da Justiça!. ..
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

F. G.

Este é por certo o verdadeiro espelho
Das maiores derrotas e conquistas
Que o regime vem tendo, e o seu conselho,
Tem sempre o cunho das mais largas vistas.

Foi das molas mais rijas do aparelho
Que deu cabo das hostes monarquistas.
Foi o Moisés do novo Mar Vermelho,
A égua madrinha dos propagandistas.

Calmo, risonho, perspicaz, cordato,
Todos sentem no Ilustre veterano,
Do político arguto o fino tato.

Mas o Matusalém republicano,
Tem orgulho infantil de ser, de fato,
O bisavô dos netos do Herculano!
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

L. DE F.

O rosto escuro em pontos mil furado,
Se lhe move da boca em derredor.
Não consegue um segundo estar calado
E é de S. Paulo o tagarela-mor.

Traz, de nascença. o todo avelhantado
De um macróbio infantil e, - coisa pior, -
Dá idéia de que já nasceu usado
Ou de que foi comprado no belchior.

Tudo nele é exagero, até a atitude
De saudar elevando o diapasão:
"Nobre amigo! Mui fuerte e de salude?"

No mais é um excelente amigalhão.
Mas que voz! É o falsete áspero e rude .
De um gramofone de segunda mão.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

L. G.

Este vale, em toicinho, a inteira Minas;
Derretê-lo, seria um desencargo
Para a atual crise das gorduras suÍnas.
(O Monteirinho a isso põe embargo).

Arrota francos, marcos, esterlinas,
Mas uma alcunha o faz azedo e amargo:
Senador tonelada. Usa botina
Cinqüenta e quatro, à sombra, bico largo.

Tem uma proverbial sobrecasaca,
Cujo pano daria, em cor cinzenta,
Para o Circo Spinelli uma barraca.

Da do Oliveira Lima ela é parenta
Pois só o forro das mangas dá, em alpaca.
Para o novo balão do Ferramenta.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

M. DE S.

Conhecem, por acaso, o Monteirinho
Que é Antônio, que é Monteiro e que é de Souza?
Pois não é para aí um qualquer cousa
De baixo preço ou de valor mesquinho.

Assim mesmo tostado e mascavinho,
Numa poltrona do Monroe repousa,
Calado e quedo qual funérea lousa,
A apanhar perdigotos do vizinho.

Cabritinho de mama já esgotada,
No tapete não solta as azeitonas
E só espera o momento da marrada.

Dele, a exibir as alentadas lonas,
Diz o Lopes Gonçalves Tonelada :
Ai! cabrito cheiroso do Amazonas !
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Fonte:
MENESES, Emílio de. Mortalhas. em Meneses, Emílio de. Obra reunida. RJ: José Olympio,1980.

Emilio de Meneses (1866 – 1918)


Curitiba, 4 de julho de 1866 — Rio de Janeiro, 6 de junho de 1918

Emílio Nunes Correia de Meneses nasceu em Curitiba, Paraná. Jornalista e poeta, foi eleito para a Academia brasileira de Letras mas faleceu antes de tomar posse. . Escreveu sonetos e poemas satíricos tão mordazes que o comparavam a Gregório de Mattos. Considerado boêmio e excêntrico para os padrões da época.

Era filho de Emílio Nunes Correia de Meneses e de Maria Emília Correia de Meneses, único homem dentre oito irmãs. Seu pai era também um poeta. Faz seus estudos iniciais com João Batista Brandão Proença, e depois no Instituto Paranaense. Sem ser de família abastada, trabalha na farmácia de um cunhado e, ainda com dezoito anos, muda-se para o Rio de Janeiro, deixando em Curitiba a marca de uma conduta já distoante ao formalismo vigente: nas roupas, no falar e nos costumes.

Boêmio, na capital do país encontra solo fértil para destilar sua fértil imaginação, satírica como poucos. A amizade com intelectuais, entretanto, fez com que tivesse seu nome afastado do grupo inicial que fundara a Academia. Torna-se jornalista e, por intercessão do escritor Nestor Vítor, trabalha com o Comendador Coruja, afamado educador. Em 1888 casa-se com uma filha deste, Maria Carlota Coruja, em 1888, com quem tem no ano seguinte seu filho, Plauto Sebastião.

Mas Emílio não estava fadado para a vida doméstica: neste mesmo ano separa-se da esposa, mantendo um romance com Rafaelina de Barros.

Autor de versos mordazes, eivados de críticas das quais não escapavam os políticos da época, mestre dos sonetos, Emílio de Meneses é portador de uma tradição - iniciada com o Brasil, em Gregório de Matos.

Tendo sido nomeado para o recenseamento, como Escriturário do Departamento da Inspetoria Geral de Terras e Colonização, em 1890, Emílio aposta na especulação da falácia econõmica do Encilhamento, criada pelo Ministro da Fazenda Ruy Barbosa: como muitos, fez rápida fortuna, esbanja e, terminada a farsa, como todos os outros investidores, vai à falência. Não muda, entretanto, seus hábitos. Continua o mesmo boêmio de sempre, a povoar os jornais da época com suas percucientes anedotas.

Sobre o poeta

"Os que conheceram Emílio de Meneses ainda estão a vê-lo, com aquela bigodeira a Vercingectorix e aquele amplo chapéu, ora brandindo o bengalão retorcido, a expedir raios sobre a iniquidade dos pigmeus que o irritavam; ora sufocado num riso apopléctico de intenso gozo mental, rematando uma sátira com que, destro, arrasava a empáfia dos potentados e a impertinência dos presunçosos; ora bonacheirão, carinhoso, entalando uma fatia de pão-de-ló na boca de um de seus fiéis cães de raça; ora ainda transfigurado, olímpico, dizendo, com inspiração extraterrena, 'Os Três Olhares de Maria' ou o 'Ibiseus Mutabilis'. (...)" - Mendes Fradique, no Prefácio de "Mortalha - Os deuses em ceroulas".

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS

Apesar de preterido pelo silogeu nacional, Emílio veio finalmente a ser eleito (15 de agosto de 1914) segundo ocupante da Cadeira 20, cujo Patrono é Joaquim Manuel de Macedo, e na qual jamais veio a tomar assento, falecendo em 1918. Seria saudado por Luís Murat.

Na versão oficial, disponível no sítio da ABL, Emílio deixara de tomar posse por conta da sua teimosia em manter críticas no discurso de posse:

Emílio compôs um discurso de posse, em que revelava nada compreender de Salvador de Medonça, nem na expressão da atuação política e diplomática, nem na superioridade de sua realização intelectual de poeta, ficcionista e crítico. Além disso, continha trechos argüidos, pela Mesa da Academia, de “aberrantes das praxes acadêmicas”. A Mesa não permitiu a leitura do discurso e o sujeitou a algumas emendas. Emílio protelou o quanto pôde aceitar essas emendas, e quando faleceu, quatro anos depois de ter sido eleito, ainda não havia tomado posse de sua cadeira. (do sítio da Academia).

Sobre o episódio do discurso de Emílio, o Imortal Afrânio Peixoto, que por muitos anos presidiu a Casa, consignou:

Emílio de Meneses quisera descompor a Oliveira Lima, ao que se opôs Medeiros e Albuquerque, que então presidia, ordenando a supressão dos tópicos alusivos e ofensivos: à insistência do neófito, em dizê-los, ameaçou-o com o comutador da luz elétrica, desde aí ao alcance da mão do presidente. Não foi preciso usar deste obscuro meio coercitivo, porque o acadêmico recalcitrante não chegou a ser recebido, e seu discurso apenas tardiamente publicado nos jornais, razão por que não figura na coleção da Academia.

Obras

Emílio escrevia não apenas com o próprio nome: diversos pseudônimos foram por ele utilizados, tais como Neófito, Gaston d’Argy, Gabriel de Anúncio, Cyrano & Cia., Emílio Pronto da Silva.

Trabalhos publicados
Marcha fúnebre - sonetos - 1892
Poemas da morte -1901
Dies irae - A tragédia de Aquidabã - 1906
Poesias - 1909
Últimas rimas - 1917
Mortalha - Os deuses em ceroulas - reunião de artigos, org. Mendes Fradique - 1924
Obras reunidas - 1980

Fontes:
http://pt.wikipedia.org
Foto = Academia Brasileira de Letras

Dicionário de Folclore (Letra H)



HARMÔNICA. Veja FOLE.
HERMILO BORBA FILHO nasceu no dia 2 de junho de 1917, no Engenho Verde, Palmares, PE. Concluiu o curso de bacharel em Ciências Jurídicas e sociais na Universidade Federal de Pernambuco. Homem plural, foi diretor do Departamento de Documentação e Cultura e da Divisão de Extensão Cultural da Secretaria de Educação e Cultura da Prefeitura da Cidade do Recife, chefe do Departamento de Teatro da Universidade Federal de Pernambuco, diretor do Museu de Arte Popular do então Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, secretário-geral da Comissão Pernambucana de Folclore, Diretor de Argumentos da Kino Filmes (São Paulo), presidente da Associação Paulista de Críticos Teatrais, produtor de TV e secretário da revista VISÃO (São Paulo), romancista teatrólogo, contista, folclorista, professor universitário. Na área do Folclore, publicou: Arte popular nordestina (1966), Fisionomia e espírito do mamulengo (1966), Espetáculos populares do Nordeste (1966), Apresentação do bumba-meu-boi (1967), Três espetáculos populares de Pernambuco (1967), Cerâmica popular do Nordeste (1969) e Um problema de cultura popular (1970). Faleceu no dia 2 de junho de 1976, na cidade do Recife, PE.
HIPOCAMPO. O hipocampo é um monstro que é metade cavalo e metade peixe.
HOMEM-DA-MEIA-NOITE (O). Fundado em 1931, na cidade de Olinda, PE, o Homem-da-Meia-Noite começou, inicialmente, como uma troça da qual participava um boneco com três metros de altura. O nome foi tirado de um seriado de muito sucesso, de igual nome, no tempo do cinema mudo. Em 1937 a troça passou a ser bloco.
HOMEM-DOS-PÉS-DE-LOIÇA. É um fantasma que costuma aparecer na Ilha Grande, Mangaratiba, Estado do Rio de Janeiro. Dizem que a assombração é a alma dos pescadores que estão pagando seus pecados; outros acreditam ser o espírito de náufragos. Tem o corpo igual ao dos demais homens, mas os pés são diferentes, são de louça.
HORAS. As horas têm a finalidade de dividir o dia e a noite. As horas abertas são aquelas em que as coisas más podem acontecer. Os demônios e os fantasmas estão livres. É durante a madrugada e o anoitecer que as pessoas morrem. Meio-dia e meia-noite e pelas trindades, são horas misteriosas, horas de aparições e de bruxedos.
HUMULUCU. Veja FEIJÃO AZEITE.

Fontes:
LÓSSIO, Rúbia. Dicionário de Folclore para Estudantes. Ed. Fundação Joaquim Nabuco
Imagem = http://www.terracapixaba.com.br/

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Adelina Lopes Vieira (Contos Infantis em Versos)


Chuva e sol

Junta ao pendor do abismo e suster-se sozinha;
quase a tombar no mal, lutar vencendo o mal,
é difícil, é belo! Eu vi exemplo igual
na ingênua candidez de linda criancinha.

Disse a mamãe, um dia, à loura Georgeana:
— Se até anoitecer, eu não te ouvir chorar,
nem dar gritos, prometo, amor, ir-te comprar
uma nenê gentil, d'olhos de porcelana.

Apenas isto ouviu, a bela pequenita
dança e salta a cantar, com tal sofreguidão,
que entontecendo, cai, ao comprido, no chão.
Esqueceu-lhe a promessa. Ei-la que chora e grita.

— Prantos? adeus boneca. Ouvindo esta ameaça,
ergue-se Georgeana e diz muito ligeira,
mudando o choro em riso, e com imensa graça.
— Chorei... por brincadeira…
––––––––––––––-

Dom Quixote

Paulo tinha seis anos incompletos;
tinha só quatro o louro e gentil Mário.
Foram à biblioteca, sorrateiros,
e ficaram instantes, mudos, quietos,
a espreitar se alguém vinha; então, ligeiros
como o vento, correram p'ra o armário,
que encerrava os volumes cobiçados:
eram dois grandes livros encarnados,
cheios de formosíssimas gravuras,
mas pesados, meu Deus!
0s pequeninos
porfiavam, cansados, vermelhitos,
por tirá-los da estante. Que torturas!
'Stavam tão apertados, os malditos!
Enfim, venceram não sem ter lutado...
Paulo entalou um dedo, o irmãozinho,
ao desprender os livros, coitadinho!
cambaleou, e foi cair... sentado.
Não choraram: beijaram-se contentes
e Paulo disse a Mário: Que bellote!
vamos ver à vontade o D. Quixote,
sem os ralhos ouvir, impertinentes,
da avó, que adormeceu. Oh! que ventura!
Mário, tu não te mexas, fica atento:
eu vou mostrar-te estampas bem pintadas
com uma condição: cada figura
há de trazer ao nosso pensamento
uma dessas partidas engraçadas,
que eu sei fazer. Serve-te assim?
— 'Stá dito.
Oh! que homenzinho magro! Que esquisito!
Quem é?
— É D. Quixote.
— o barrigudo
é dona Sancha, que a mamãe me disse.
— Dona Sancha é mulher. Oh! que tolice!
O nome que ele tem, bobo, é Pançudo.
— Que está fazendo o padre na cadeira,
a entregar tanto livro à rapariga?
— São livros maus, que vão para a fogueira.
— Quais são os livros maus?
— Não sei, mas penso
que devem ser os que não têm dourados
nem pinturas. Por mais que o papai diga
que o livro é sempre bom, não me convenço.
— Ouves? Chamam por ti, fomos pilhados!
— Meu Deus, como há de ser? Mário, depressa,
vamos arrumar isto; assim.
— Não cessa
De chamar-nos a avó!
— Pronto.
— Inda faltam
três livros.
— Já não cabem.
— Que canseira!
— Têm figuras?
— Não têm.
— Capas bonitas?
— Também não têm.
— Então são maus e saltam
pela janela: atira-os à fogueira.
Eram Sêneca, Eurico e Os jesuítas.
Escaparam do fogo os condenados,
ficando um tanto ou quanto amarrotados.
Salvou-os o papai, mas impiedoso,
fechou a biblioteca, e rigoroso
condenou os dois réus, feroz juiz!
A soletrar... os Contos Infantis
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Meiguice

Deram à linda Clarisse
uma gatinha mimosa,
tão branca, tão carinhosa,
tão engraçada, tão mansa
que a encantadora criança
por nome lhe pôs — Meiguice.

Tinha bom leite ao almoço
e biscoitos e bolinhos;
dormia em sedas e armarinhos,
e ronronava fagueira
quando sentia a coleira
de fita azul, no pescoço.

Clarisse amava deveras
a bichinha cor de neve
e a gata, nervosa e leve,
adorava a pequenita;
e tinham graça infinita,
estas amigas sinceras!

Veio Raul, o mais louro
e traquinas dos rapazes,
forte e audaz entre os audazes,
fanfarrão e desordeiro;
correu a casa ligeiro
indo encontrar o tesouro,

a doce e branca Meiguice,
deitada comodamente
na cama fofinha e quente
da prima, e gritou: — Que vejo?
um bicho tão malfazejo,
sobre o leito de Clarisse!

E... zás, suspendeu a gata
pela coleira de fita,
atirou a pobrezita,
ao jardim e, satisfeito,
à priminha o heróico feito
foi contar como bravata.

Debatia-se Meiguice,
no lago, fria, transida,
a morrer.
O gaticida
sentiu remorso pungente
ao ver o pranto tremente
no olhar azul de Clarisse.

E... correndo, denodado,
deitou-se ao lago profundo,
(dois palmos d'água); do fundo
tirou Meiguice, e ofegante
disse em tom dilacerante:
— Salvei-a!
— Estou perdoado?
–––––––––––––––––––––-

O ramo verde

Frederico era estouvado,
não aceitava conselhos;
ria e zombava, coitado!
das sábias lições dos velhos.

Sofia, meiga criança,
era o contraste perfeito
do irmão, uma pomba mansa
sem o mais leve defeito.

Dera o papai aos pequenos
dois canteiros bem plantados,
em tudo iguais; mas em menos
de um mês estavam mudados.

O de Sofia, que encantos!
Tinha fartura de rosas,
cravos, baunilha, agapantos,
e violetas perfumosas.

No outro havia mamona,
urzes, trifólios, urtigas
e uns restos de manjerona
já roída das formigas.

Foram à tarde a passeio
no jardim os dois; Sofia
colhia rosas; em meio
disse ao irmão: — que alegria!

Vou dar à mamãe um ramo
das minhas amadas flores!
a sua alcova embalsamo
e alcanço beijos e amores!

— Dás-me esta rosa encarnada,
Sofia, p'ra o seu cabelo?
— Dou, mas não levas mais nada;
corrige o teu desmazelo.

Trabalha, meu preguiçoso!
Ouro é o tempo que se perde
não deves ser ocioso,
nem pôr pé em ramo verde.

Só assim terás emenda!
— Tens graça, linda agoireira;
vais ver, minha doce prenda,
se a sentença é verdadeira.

Disse, e subiu apressado
a verde acácia frondosa,
e lá, de um ramo delgado,
gritou à irmã receosa:

— Não vês o ramo... sensata?
o pisá-lo não me aterra...
Mal acabara a bravata,
partiu-se o ramo, ei-lo em terra.

Na queda quebrou um braço,
Sofia teve um fanico...
Mas deixou de ser madraço
o pequeno Frederico.
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Adelina Lopes Vieira (1850 – s.d.)


Adelina Amélia Lopes Vieira, nasceu em Lisboa, Portugal, 1850. Não se conhece a data de falecimento. Formou-se professora pela Escola Normal no Rio de Janeiro, por volta de 1870. Em 1886 ocorreu a publicação de seu livro Contos Infantis, escrito com a irmã Júlia Lopes de Almeida, reunindo 31 contos em verso de sua autoria. Em 1899 atuou como colaboradora de A Mensageira, "revista literária dedicada à mulher brasileira", dirigida por Presciliana Duarte de Almeida. No começo do século XX, escreveu as peças teatrais A Virgem de Murilo, As Duas Dores, Expiação, e traduziu a comédia teatral A Terrina, de Ernesto Hervelly. Adelina Lopes de Almeida escreveu obra pioneira da poesia infantil brasileira; junto a outros intelectuais, como Francisca Júlia e Olavo Bilac, ajudou a criar literatura para crianças genuinamente nacional.

Fontes:
http://pt.wikisource.org/wiki/Autor:Adelina_Lopes_Vieira
Imagem = http://www.antoniomiranda.com.br/

Plágio em Concursos (Dúvidas)



1 - Se numa trova ou numa poesia eu colocar uma das estrofes "o poeta é um fingidor" (que é de conhecimento geral ser do Fernando Pessoa), mas todo o resto for diferente, pode ser considerado como um plágio? Ou perdem seu direito a participar de um concurso?

R= Não tem como implicar com uma trova porque tem um verso igual ao verso de outra. No entanto, em um concurso, os julgadores poderão desconsiderar a mesma, caso este verso seja extremamente conhecido, como o de Fernando Pessoa.

2 - Se as estrofes forem formadas de gente conhecida, mas cada uma de um outro autor. Exemplo: 1ª. Estrofe é do Castro Alves, a 2ª. Do Manuel Bandeira, a 3ª. Do Cláudio Manoel da Costa a 4ª. Do Ouverney, e assim por diante. Isto é considerado plágio?

R= Este caso se aplica ao exemplo anterior. Versos do conhecimento geral não tem como "assumirmos a paternidade" em um concurso.

3 - Se eu participar com uma trova em um concurso e nem me classificar com ela e quiser envia-la para outro, posso ou não é permitido isto, pois de repente os julgadores podem ser deste e lembrar desta trova?

Pode. Em Pouso Alegre, no ano 2000, Waldir Neves foi 1º lugar no tema "Noite:

Cai a noite ... Seu negrume,
mercê de um mistério estranho,
faz de um ínfimo queixume
um lamento sem tamanho ...

Quando eu o parabenizei pela belíssima trova (muito bem elaborada), ele me disse que ela havia sido enviada, anos atrás, para Friburgo e não pegou nada lá. O julgador poderá até lembrar-se dela mas o que vale é não ter sido publicada em lugar nenhum, ser inédita em termos de divulgação.

4 – Se eu haver divulgado uma trova na Internet, posso participar de concurso com ela, ou por estar ao publico perde direito?

R= Se ela está divulgada, deixou de ser inédita. Já vi casos, até recentes (em que o autor arrisca pois, afinal, pouca gente o acessou na Internet. Manda para o concurso e ganha. Eu, particularmente, acho mais grave o autor premiar com uma trova já premiada. O que também ocorre. Veja o exemplo abaixo:
http://www.falandodetrova.com.br/2008/miltonloureiro

5 - Até quanto de uma trova ou poesia é considerado plágio?

Exemplo:
Naqueles tempos de antanho,
De escribas e fariseus,
Conheci um homem tacanho,
Que consertava pneus.

As duas primeiras é do Durval Mendonça (o restante seria: Um homem do meu tamanho/ tinha o tamanho de Deus) e as 2 ultimas muito mal feitas (horrorosas) (só como exemplo), são minhas. É plágio isto?

São dois versos extremamente conhecidos, seriam caracterizados como plágio. Acho que não é bem o tamanho do que se copiou mas é quando se atinge a parte chamada "achado", o diferencial da composição. Conheço trovas que têm até três versos parecidos, mas são tão comuns que todo dia tem alguém escrevendo algo igual, ou quase.

6 – Reforçando, até quanto de uma trova ou poesia é plágio?

R= Acho que foi respondido no item anterior. Nesse caso agora, que deu polêmica, uma trova, premiada em 1992, foi:

Ontem rompemos os laços
e a saudade, por magia,
me faz ouvir os teus passos
por toda a casa vazia!...

E a outra, premiada, em 2006 (autores diferentes) foi:

Ontem rompemos os laços...
Numa utópica magia,
a saudade pôs teus passos
por toda a casa vazia...

Pedro Du Bois (Funções)

Nascer
crescer e se transformar
longe dos olhos

desaparecer como quem
se oferece ao esquecimento

lembrar exige repetir
o esforço de manter
os olhos sobre o instante

repetir o momento decomposto
em funções momentâneas.
----
Fonte:
Colaboração do Autor

Estação Cultura em Canoas/RS (Projetos)


Projetos sob a Coordenação de Neida Rocha

1) 2ª TERÇA-FEIRA do mês:

SARAU

Com a apresentação do Gilson Goulart e com a presença de um convidado.
Sempre com uma temática diferente.

Inicio: dia 14/4.

A convidada será Maria dos Santos Rigo - Presidente da Casa do Poeta de Canoas.

2) Última SEGUNDA-FEIRA do mês:

CINETERAPIA.

Filme e depois um debate sobre as mensagens do filme, com a mediação de um Psiquiatra.

Fonte:
Colaboração de Neida Rocha.

Francisco Sinke Pimpão (Lançamento do Livro “O dia em que a Muiraquitã virou gente”)


O livro conta a história de João Batista Souza Lino Sotto Maior, filho de imigrantes portugueses estabelecidos no Brasil em fins do século XIX, tradicional família ligada ao ramo da tecelagem. Inteligente, bem educado e culto, João decide ser médico a tomar a frente dos negócios da família. A princípio contrariado, seu pai vê com orgulho o sucesso e o reconhecimento do filho, no Brasil e no exterior, como um grande cirurgião. Uma tragédia pessoal vai mudar de maneira drástica o destino desse homem apaixonado pela vida e pela profissão. Abandonando tudo que construíra e deixando de lado tudo aquilo em que acreditava, João vai se embrenhar e buscar refúgio nos confins da Amazônia, muito distante daquilo que comumente chamamos civilização. É nesse cenário, povoado por lendas e histórias que o povo da região ribeirinha acredita que João vai viver sua maior aventura. Da resistência ao passado, que o transformara num homem rude e cético, ao reencontro com a vida e com o amor, João verá, mais uma vez , seu destino ser mudado pela presença de uma mulher; menina-moça inocente e pura, que irá confrontá-lo com suas dores, pecados e mazelas.

A Editora
A Pró-Infanti Editora, de Curitiba, possui uma linha editorial voltada às questões mais polêmicas do nosso tempo. Com textos instigantes e com autores arrojados, a editora está tratando questões que até então pareciam já esgotadas, por terem sempre o mesmo foco e serem discutidas na mesma perspectiva, de uma forma inovadora e impar. A Editora pretende contribuir para o desenvolvimento do pensamento contemporâneo brasileiro motivando a mudança de foco. Nesta esteira, um dos autores que mais nos chama atenção é justamente este que agora lança seu livro por nosso selo: Francisco Sinke Pimpão.

O Autor
Francisco Sinke Pimpão
Francisco José Sinke Pimpão, nascido em Curitiba no ano de 1953, é Bacharel em Administração e sócio de uma empresa de consultoria. Nos últimos anos tem-se dedicado ao estudo e aplicabilidade da Gestão de Processos nas Organizações, fruto de 27 anos de atuação no mercado. Com pós-graduação em Marketing e tendo concluído diversos cursos no Brasil e exterior, escreveu diversos artigos publicados em livros e revistas especializadas. Atualmente é redator e coordenado de web sites.

Contatos
Francisco Sinke Pimpão
pimpaofjs@uol.com.br

Amir J. Pidluznyj
Assessor de Comunicação
sacproinfanti@bol.com.br
www.proinfantieditora.com.br

PRÓ-INFANTI EDITORA
Rua Francisco de Paula Guimarães, 234 CEP 80 540 - 040
Bairro - Ahú Curitiba - Paraná
Tel. (41) 30770606
www.proinfantieditora.com.br

Fonte:
Colaboração de Valter Martins de Toledo

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Dia Internacional do Livro Infantil - 2 de Abril



A literatura infantil surgiu no século XVII, no intuito de educar as crianças moralmente.

Em homenagem ao escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, foi criado o dia internacional do livro infantil, que é comemorado na data de seu nascimento; em virtude das inúmeras histórias criadas por ele.

Dentre as mais conhecidas mundialmente estão “O Patinho Feio”, “O Soldadinho de Chumbo”, “A Pequena Sereia” e “As Roupas Novas do Imperador”.

A data é conhecida e comemorada mundialmente, em mais de sessenta países, como forma de incentivar e despertar nas crianças o gosto pela leitura.

Tanto os clássicos da literatura infantil quanto os livros somente ilustrados, proporcionaram o desenvolvimento do imaginário das crianças, bem como o aspecto cognitivo, desenvolvendo seu aprendizado em várias áreas da vida.

As histórias reportam valores morais e éticos, que levam o sujeito a repensar suas atitudes do cotidiano, numa reflexão que pode modificar sua ação, tornando-a melhor enquanto pessoa.

Segundo Umberto Eco – escritor, filósofo e linguista italiano – a literatura infantil traz sentido aos fatos que acontecem na vida, envolvendo as crianças. Dessa forma, "qualquer passeio pelos mundos ficcionais tem a mesma função de um brinquedo infantil.

As crianças brincam com a boneca, cavalinho de madeira ou pipa a fim de se familiarizar com as leis físicas do universo e com os atos que realizarão um dia".

Todos os anos a Internacional Board on Books for Young People, oferece o troféu “Hans Christian”, como sendo o prêmio Nobel desse gênero, algumas escritoras brasileiras já foram homenageadas, como Lygia Bojunga, no ano de 1982, e Ana Maria Machado, em 2000.

Fontes:
Jussara de Barros. Revista Brasil Escola. Disponível em http://www.brasilescola.com/datacomemorativas/dia-internacional-do-livro-infantil.htm
Imagem = http://substante.blogspot.com/

Hans Christian Andersen (1805 – 1875)



Hans Christian Andersen (Odense, 2 de Abril de 1805 — Copenhague, 4 de Agosto de 1875) foi um poeta e escritor dinamarquês de histórias infantis. O pai era sapateiro, o que levou Andersen a ter dificuldades para se educar, mas os seus ensaios poéticos e o conto "Criança Moribunda" garantiram-lhe um lugar no Instituto de Copenhague. Escreveu peças de teatro, canções patrióticas, contos, histórias, e, principalmente, contos de fadas, pelos quais é mundialmente conhecido.

Sua maior obra foram os contos de fadas (Eventyr og Historier, ou Histórias e Aventuras) que publicou de 1835 à 1872), onde o humor nórdico se alia a uma bonomia sorridente, e onde usa simultaneamente a base constituída por contos populares e uma ironia dirigida aos contemporâneos.

Vida, história e literatura

Hans Christian Andersen nasceu no seio de uma família dinamarquesa muito pobre. O seu pai era um sapateiro de vinte e dois anos, instruído mas de saúde fraca, e de uma lavadeira vários anos mais velha. Toda a família vivia e dormia num único quarto. O pai adorava o seu filho a quem fomentou a imaginação e a criatividade, deixando-o aprender a ler, contando-lhe histórias e, mesmo, fabricando-lhe um teatrinho de marionetas. Hans apresentava no seu teatro peças clássicas, tendo chegado a memorizar muitas peças de Shakespeare, que encenava com seus brinquedos.

A infância pobre deu a Andersen a chance de conhecer os contrastes de sua sociedade, o que influenciou bastante as histórias infantis e adultas que viria a escrever.

Em 1816, seu pai morreu e ele, com apenas onze anos de idade, foi obrigado a abandonar a escola.

Andersen nasceu e viveu numa época em que a Dinamarca regressava ao nacionalismo ancorado em valores ancestrais. De certa forma graças à sua infância pobre, Andersen teve a chance de conhecer os contrastes da sua sociedade, o que influenciou bastante as histórias infantis e adultas que viria a escrever quando mais velho.

Aos catorze anos, em 1819, Andersen saiu de casa e foi para Copenhague, uma grande cidade e capital da Dinamarca, com o objetivo de se tornar um cantor de ópera. Em Copenhague as suas atitudes diferentes, depressa o isolaram como um lunático. Apesar da sua voz lhe ter falhado, foi admitido no Teatro Real pelo seu diretor, Jonas Collin, de quem se tinha aproximado e que seria seu amigo para o resto da vida. Andersen trabalhou no teatro como ator e bailarino, para além de escrever algumas peças.

O rei Frederico IV interessou-se por tão estranho rapaz e enviou-o para a escola de Slagelse. Apesar da sua aversão aos estudos, Andersen permaneceu em Slagelse e Elsinor até 1827, embora tenha confessado mais tarde que estes foram os anos mais escuros e amargos da sua vida. Durante esse período, Collin financiou os seus estudos.

Em 1828, foi admitido na Universidade de Copenhague. Em 1829, quando os seus amigos já consideravam que nada de bom resultaria da sua excentricidade, obteve considerável sucesso com Um passeio desde o canal de Holmen até à ponta leste da ilha de Amager, e acabou por alcançar reconhecimento internacional em 1835, quando lançou o romance O Improvisador, na sequência de viagens que o tinham levado a Roma, depois de passar por vários países da Europa.

Contudo, apesar de ter escrito diversos romances adultos, livros de poesia e relatos de viagens, foram os contos de fadas que tornaram Hans Christian Andersen famoso. Especialmente pelo fato de que, até então, eram muito raros livros voltados especificamente para crianças.

Ele foi, segundo estudiosos, a "primeira voz autenticamente romântica a contar histórias para as crianças" e buscava sempre passar padrões de comportamento que deveriam ser adotados pela nova sociedade que se organizava, inclusive apontando os confrontos entre "poderosos" e "desprotegidos", "fortes" e "fracos", "exploradores" e "explorados". Ele também pretendia demonstrar a idéia de que todos os homens deveriam ter direitos iguais.

Entre 1835 e 1842, Andersen lançou seis volumes de Contos, livros com histórias infantis traduzidos para diversos idiomas. Ele continuou escrevendo seus contos infantis até 1872, chegando à marca de 156 histórias. No começo, escrevia contos baseados na tradição popular, especialmente no que ele ouvia durante a infância, mas depois desenvolveu histórias no mundo das fadas ou que traziam elementos da natureza.

Em suas histórias Andersen buscava sempre passar padrões de comportamento que deveriam ser adotados pela sociedade, mostrando inclusive os confrontos entre poderosos e desprotegidos, fortes e fracos. Ele buscava demonstrar que todos os homens deveriam ter direitos iguais.


No final de 1872, Andersen ficou gravemente ferido ao cair da sua própria cama, e permaneceu com a saúde abalada até 4 de agosto de 1875, quando faleceu, em Copenhague, onde foi enterrado.

Entre os títulos mais divulgados da obra de Andersen encontram-se: "O patinho feio", "O soldadinho de chumbo", "A roupa nova do Imperador", "A pequena sereia" e "A Menina dos Fósforos". São textos que fazem parte do imaginário da maioria das crianças do mundo desde sua publicação até a atualidade, tendo sido adaptados para o cinema, o teatro, a televisão, o desenho animado, etc.

Importância atual

Graças à sua contribuição para a literatura infanto-juvenil, a data de seu nascimento, 2 de abril, é hoje o Dia Internacional do Livro Infanto-Juvenil. Além disso, o mais importante prêmio internacional do gênero, o Prêmio Hans Christian Andersen, tem seu nome.

Anualmente, a International Board on Books for Young People (IBBY) oferece a Medalha Hans Christian Andersen para os maiores nomes da literatura infanto-juvenil. A primeira representante brasileira a ganhá-la foi Lygia Bojunga, em 1982.

Foi feito um filme no qual foi romanceada a história de Hans, mesclando trechos de seus contos com sua vida, cujo título no Brasil foi A vida num conto de fadas (no original em inglês, Hans Christian Andersen: My Life as a Fairy Tale).

Fontes:
http://pt.wikipedia.org
http://educacao.uol.com.br/

Hans Christian Andersen (A Roupa Nova do Imperador)



Há muitos e muitos anos havia um Imperador tão apaixonado pelas roupas novas, que gastava com elas todo o seu tesouro. Pouco se incomodava com seus soldados, com o teatro, com o lazer, com o povo, com a saúde de seus súditos, contanto que pudesse desfilar seus trajes, um diferente para cada hora do dia.

Sua vaidade era tão famosa que ao invés, das pessoas procurá-lo em seu gabinete despachando com seus ministros, iam direto procurá-lo para seu quarto de vestir, pois sabiam: “ O Imperador está se vestindo”.

Em seu país, a vida era muito alegre; todos os dias chegavam multidões de forasteiros para conhecer as maravilhas da natureza, e, entre eles, certa ocasião chegou dois vigaristas. Fingiram-se de tecelões, dizendo-se capazes de tecer os tecidos mais maravilhosos do mundo.

E não somente as cores e os desenhos eram magníficos, como também os trajes que se faziam com aqueles tecidos, os quais possuíam a qualidade especial de serem invisíveis para qualquer pessoa comum ou pessoas tolas e presunçosas que não tivessem as qualidades necessárias para desempenhar suas funções.

- Devem ser trajes magníficos - pensou o Imperador. - E se eu vestisse um deles, poderia descobrir todos aqueles que em meu reino carecessem das qualidades necessárias para desempenhar seus cargos. E também poderei distinguir os tolos dos inteligentes. Sim, estou decidido a mandar tecer uma roupa para mim, a qual me servirá para tais descobertas.

Entregou a um dos tecelões uma grande quantia como adiantamento, a fim de que os dois pudessem começar imediatamente com o trabalho.

Os dois vigaristas prepararam os teares e fingiram entregar-se ao trabalho de tecer, mas o certo é que no mesmo não havia nenhum fio nas lançadeiras. Antes de começar pediram o material mais requintado: a melhor e mais fina seda e fios de ouro da maior pureza e guardaram tudo em seus alforjes e depois começaram fingir que estavam trabalhando na roupa do Imperador.

- Gostaria de saber como vai o trabalho dos tecelões - pensou um dia o bondoso Imperador. Mas para não sentir-se bobo diante das pessoas do reino, porque não conseguir ver o tal tecido invisível resolveu enviar o seu fiel Primeiro Ministro para inspecionar o trabalho dos tecelões.

Porém, este lá chegando nada conseguiu enxergar porque não havia nada para ver.

- Deus me proteja! - pensou o ancião, abrindo os braços e os olhos. - Mas se eu não vejo nada! No entanto, evitou dizê-lo para não passar por tolo.

Os dois vigaristas pediram-lhe que fizesse o favor de aproximar-se um pouco mais e rogaram-lhe que desse a sua opinião a respeito do desenho e do colorido do tecido. Mostraram o tear vazio e o pobre ministro, por mais que se esforçasse para ver, não conseguia enxergar coisa alguma, porque não havia nada para ver.

- Deus meu! - pensava. - Será, possível que eu seja tão tolo assim? Nunca me pareceu e é preciso que ninguém o saiba. Talvez eu não esteja capacitado a desempenhar a função que ocupo.

0 melhor será fingir que estou vendo o tecido.

-Não quer dar a sua opinião, senhor? - perguntou um dos falsos tecelões.
E’ muito lindo! Faz um efeito encantador - exclamou o velho ministro, fitando através de seus óculos. - 0 que mais me agrada são o desenho e as maravilhosas cores que o compõem.

Asseguro-lhes que direi ao Imperador o quanto gosto de seu trabalho, muito bem aplicado e... Lindíssimo.

- Ficamos muito honrados em ouvir tais palavras de vossos lábios, senhor ministro - replicaram os tecelões.

A seguir os dois vigaristas pediram mais dinheiro, mais seda e mais fio de ouro, para que pudessem prosseguir com o trabalho. Porém, assim que receberam o solicitado, guardaram-no como antes. Nem um só fio foi colocado no tear, embora eles fingissem continuar trabalhando apressadamente.

O tempo passou, o Imperador ficou impaciente para vestir a roupa nova que estava demorando muito a ficar pronta, e então, resolveu enviar outro ministro para ver o progresso do trabalho dos falsos tecelões.

Porém, aconteceu a mesma coisa, isto é, o ministro enviado mirou e remirou o tear vazio, sem ver tecido algum.

- Não acha que é uma fazenda maravilhosa? - perguntaram os vigaristas mostrando e explicando um desenho imaginário e um colorido não menos fantástico, que ninguém conseguia ver.

O enviado do Imperador agiu tal qual o primeiro, não quis passar por bobo e fingiu ver o lindo e maravilhoso trabalho dos tecelões.

Mas o tecido não ficava pronto, demorava bastante e o Imperador achou que devia ir conferir o trabalho pessoalmente, enquanto ainda estivesse no tear.

E assim, acompanhado por um escolhido grupo de cortesãos, entre os quais, o ministro que havia fingido ver o tecido foi fazer uma visita aos falsos tecelões, que com o maior cuidado trabalhavam no tear vazio, em meio à maior seriedade.

- E’ magnífico! - exclamaram todos. - Que cores maravilhosas! E apontavam para o tear vazio, pois não tinham dúvidas de que as outras pessoas viam o tecido.

- Mas o que é isto? - pensou o Imperador. - Não estou vendo nada! Isso é terrível! Serei um tolo? Não terei capacidade para ser Imperador? Certamente não poderia acontecer-me nada pior.
- E’ realmente uma beleza! - exclamou logo depois. - 0 tecido merece a minha melhor aprovação.
Manifestou a sua aprovação por meio de alguns gestos, enquanto olhava para o tear vazio. Todos os outros cortesãos olhavam por sua vez. Mas não viam nada. Porém, como nenhum queria dar parte de tolo ou de incapaz, fizeram coro com as palavras de Sua Majestade.

- E’ uma beleza! - exclamaram em coro.

E aconselharam o Imperador que mandasse fazer uma roupa com aquele tecido maravilhoso, a fim de estreá-la numa grande procissão que devia realizar-se daí a alguns dias.
Os elogios corriam de boca em boca e todos estavam entusiasmados. E o Imperador condecorou os dois vigaristas com a ordem dos cavaleiros, cuja insígnia poderia usar e concedeu-lhes o título de “Cavaleiros Tecelões”.

Finalmente no dia da grande festa, os tecelões fingiram tirar a fazenda do tear, cortaram-na com tesouras enormes e costuraram-na com agulhas sem linha de espécie alguma. Finalmente disseram:

- Já está pronto o traje de Sua Majestade.

E o Imperador tirou a roupa que vestia e vestiu a roupa nova com a ajuda dos tecelões...

- ótimo. Já estou pronto - disse o Imperador. - Acham que esta roupa me assenta bem?

- Que bem assenta este traje em Sua Majestade. Como está elegante. Que desenho e que colorido! É uma roupa magnífica!

E novamente mirou-se no espelho, a fim de fingir que se admirava vestido com a roupa nova. Ninguém via a roupa, mas também não se atreviam a dizer que não viam coisa alguma.

Ao desfilar por entre seus súditos, diante de toda multidão que acompanhava a procissão, ouvia os comentários seguidos:

- Como está bem vestido o Imperador! Que cauda magnífica! A roupa assenta nele como uma luva!

Porém, um garoto que grita em voz alta em meio do povo:

- Ih! Olha lá, o Imperador ta pelado! Olha o bumbum dele! Ta peladinho, peladinho. -exclamou então um menino.

- Ouçam! Ouçam o que diz esta criança inocente! -observou seu pai aos que o rodeavam.

Imediatamente todo mundo resolveu se pronunciar.

- 0 Imperador está sem roupa! - começou a gritar o povo.

0 Imperador fez um trejeito, pois sabia que era verdade, mas pensou:

- A procissão tem de continuar. E assim, continuou mais impassível que nunca e os seus súditos continuaram segurando a sua cauda invisível...

Fonte:
http://virtualbooks.com.br

Hans Christian Andersen (O Rouxinol e o Imperador)



A inspiração para o conto "O rouxinol do imperador" surgiu de um fato real. Conta-se que um homem muito importante na Suécia estava muito doente e pediu como ultima vontade que a cantora Jenny Lind fosse cantar para ele. Ela era uma cantora sueca muito famosa na época e era conhecida como "O rouxinol". Dizem que era tão belo o seu canto que o homem depois de ouví-la melhorou muito, recuperando-se.

A partir dessa história Andersen escreveu este conto. Andersen conheceu Jenny Lind e se apaixonou por ela, mas não foi correspondido. Trata-se de um belo e comovente conto que fala sobre a beleza da arte e da música e também da amizade e do sentimento.

O ROUXINOL E O IMPERADOR

Sabem com certeza que na China o imperador é chinês e que todas as outras pessoas são chinesas também. Esta história aconteceu há muitos anos, mas é precisamente por isso que devem ouvi-la agora, antes que seja esquecida.

O palácio do imperador era o melhor do Mundo, todo ele construído da mais rara porcelana — não tinha preço, mas era tão frágil e delicado que era preciso tomar todo o cuidado quando se andava lá dentro. O jardim do palácio estava coberto de flores maravilhosas, nunca vistas em outro lado; as mais bonitas de todas tinham sininhos de prata, que tocavam para se saber sempre que passava alguém.

Sim, tudo no jardim do imperador tinha sido muito bem planeado, e ele estendia-se até tão longe que nem o jardineiro fazia a menor ideia onde acabava. Se se fosse sempre andando chegava-se a uma bela floresta com árvores muito altas e lagos muito fundos. A floresta ia até ao mar, que era azul e também muito fundo; grandes navios podiam navegar mesmo por baixo dos ramos das árvores. Nesses ramos vivia um rouxinol que cantava tão bem que até o pobre pescador, com todas as suas dificuldades, parava de deitar as redes todas as noites para o ouvir.

— Ah, que maravilha! — dizia ele.

Mas depois tinha de continuar a trabalhar e esquecia-se da ave. Contudo, na noite seguinte, assim que o rouxinol tornava a cantar, o pescador erguia os olhos das redes e dizia mais uma vez:

— Ah, que maravilha!

Vinham viajantes de todos os países do Mundo para admirar a cidade, o palácio e os jardins do imperador. Mas, assim que ouviam o rouxinol, todos diziam:

— Isto é o melhor de tudo!

E, quando voltavam aos seus países, continuavam a falar da ave. Sábios escreveram livros sobre a cidade e o palácio, mas o rouxinol era elogiado mais do que todas as outras maravilhas, e poetas escreveram emocionantes poemas sobre a ave da floresta perto do mar.

Estes livros eram lidos em todo o mundo, e, um dia, alguns deles chegaram às mãos do imperador. Lá ficou ele, sentado na sua cadeira dourada, a ler sem parar; de vez em quando acenava com a cabeça. Estava contente com as esplêndidas descrições do seu reino. Então, chegou à frase: "Mas, apesar de todas estas maravilhas, nada se compara ao rouxinol."

— Que é isto?! — exclamou o imperador. — O rouxinol? Nunca ouvi falar dele. Imaginem! As coisas que aprendemos nos livros!

Então mandou chamar o camareiro.

— Vi aqui neste livro que temos uma ave admirável chamada rouxinol — disse o imperador. — Parece que é a melhor coisa do meu vasto império. Por que é que ninguém me falou dele?

— Bem — respondeu o camareiro —, nunca ouvi ninguém falar nessa criatura. De certeza que nunca foi apresentada na corte.

— Quero que venha aqui esta noite cantar para mim — disse o imperador. — É uma vergonha que toda a gente saiba o que possuo e eu não!

— Nunca ouvi falar nele — repetiu o camareiro —, mas vou procurá-lo e hei-de encontrá-lo!

Sim, mas onde? O camareiro subiu e desceu todas as escadas, andou por todos os salões e corredores, mas, de todas as pessoas que encontrou, nenhuma tinha ouvido falar do rouxinol. Voltou apressado à presença do imperador e disse-lhe que aquilo devia ser uma história inventada pelos escritores.

— Vossa Majestade Imperial não deve acreditar em tudo o que aparece escrito. As coisas que os autores inventam! É mesmo magia negra!

— Mas o livro onde eu soube da ave — afirmou o imperador — foi-me enviado pelo poderoso imperador do Japão, portanto não pode ser mentira! Quero ouvir o rouxinol! Quero ouvi-lo esta noite.

— Tsing-pe! — respondeu o camareiro.

E lá foi ele outra vez escada abaixo e escada acima, por todos os salões e corredores; metade da corte andava a correr atrás dele. Por fim, encontraram uma pobre rapariguinha na cozinha.

— O rouxinol? — perguntou ela. — Meu Deus! Claro que sei! Que bem que ele canta! A maior parte das noites deixam-me levar para casa alguns restos de comida para a minha mãe, que está doente. Vivemos perto do lago, do outro lado da floresta. E quando volto para o palácio, cansada, sento-me um bocadinho e fico a ouvi-lo cantar.

— Rapariguinha! — exclamou o camareiro —, ofereço-te um lugar permanente na cozinha e dou-te licença para veres o imperador a jantar se nos levares até ao rouxinol. A sua presença é exigida esta noite na corte.

Então, partiram em direcção à floresta onde o rouxinol costumava cantar; mais de metade da corte foi com eles. Enquanto iam andando, uma vaca mugiu.

— Oh! — exclamou um pajem. — Já estou a ouvi-lo! Para um animalzinho tão pequeno faz um barulho extraordinário. Mas, sabem, tenho a certeza de já o ter ouvido.

— Não, não, aquilo é uma vaca mugindo! — exclamou a mocinha. — Ainda temos de andar muito.

As rãs começaram a coaxar num charco.

— Maravilhoso! — exclamou o capelão do imperador. — Já estou a ouvir a canção! Parecem mesmo sininhos de igreja!

— Não, não, isso são rãs — disse a mocinha da cozinha. — Mas devemos estar quase a ouvi-lo.

Então, o rouxinol começou a cantar.

— Lá está ele! — disse a mocinha. — Ouçam! Olhem! Está ali! — e apontou para um passarinho cinzento por entre os ramos.

— Será possível? — exclamou o camareiro. — Nunca pensei que fosse assim. Parece tão vulgar! Tão simples! Talvez tenha perdido a cor quando viu todas estas visitas importantes.

— Rouxinolzinho! — chamou a mocinha. — O nosso gracioso imperador gostaria muito que cantasses para ele.

— Com o maior prazer — disse o rouxinol, continuando a cantar tão bem que era um encanto ouvi-lo.

— Parecem mesmo sinos de vidro — disse o camareiro. — Não percebo como é que nunca o tínhamos ouvido. Vai ser um êxito na corte!

— Querem que torne a cantar para o imperador? — perguntou o rouxinol, que pensava que uma das visitas era o imperador.

— Excelentíssimo rouxinol — disse o camareiro —, tenho a honra e o prazer de o convidar para um concerto no palácio esta noite, onde encantará Sua Majestade Imperial com as suas lindas cantigas.

— Soam melhor na floresta — afirmou o rouxinol.

Apesar disso, foi com eles de boa vontade quando ouviu dizer que era desejo do imperador.

Entretanto, que limpezas iam pelo palácio! As paredes e o soalho de porcelana brilhavam, lustrosos, à luz de milhares de luzes douradas. Mesmo no meio do grande salão, junto do trono do imperador, estava um poleiro dourado para o rouxinol. Toda a corte estava presente, e a pequena criadinha da cozinha teve autorização para ficar atrás da porta, porque já tinha o título oficial de Verdadeira Criada de Cozinha. Todos os olhos estavam postos no passarinho cinzento quando o imperador lhe fez sinal que começasse.

Então, o rouxinol cantou tão bem que o imperador ficou com os olhos cheios de lágrimas, que lhe escorreram pelas faces; e o rouxinol continuou a cantar ainda melhor, de modo que cada nota foi direitinha ao coração do imperador. Este ficou muito satisfeito; o rouxinol, declarou ele, iria receber o seu sapato dourado para usar ao pescoço. Mas este agradeceu e recusou, porque já se sentia recompensado.

— Vi lágrimas nos olhos do imperador. Pode lá haver alguma dádiva maior do que essa? As lágrimas de um imperador têm um poder estranho. Já fui suficientemente recompensado.

E cantou mais uma canção com a sua voz maviosa.

— Muito espirituoso, muito divertido; a criatura é namoradeira — diziam as damas da corte, enchendo as bocas de água para fazerem um ruído de gargarejo.

Por que é que não haviam de ser também rouxinóis? Até os lacaios e as criadas de quarto acenavam, com ar de aprovação, o que significa muito, porque estes são sempre os mais difíceis de contentar. Não havia dúvida: o rouxinol era um êxito.

Ficaria na corte e teria uma gaiola só para si, com autorização para ir apanhar ar duas vezes durante o dia e uma vez à noite. Seria acompanhado, em cada excursão, por doze criados, cada um a segurar firmemente uma fita de seda atada a uma patinha da ave. Não, essas saídas não eram muito divertidas.

Um dia, chegou um grande embrulho para o imperador. Trazia uma palavra escrita por fora: ROUXINOL.

— Olha! Outro livro sobre a nossa famosa ave! — exclamou o imperador.

Mas não era um livro; era um pequeno brinquedo mecânico dentro de una caixa, um rouxinol de corda. Tinha o feitio de um verdadeiro, mas estava coberto de diamantes, rubis e safiras. Quando se lhe dava corda, cantava uma das canções que o verdadeiro passarinho costumava cantar, e a sua cauda andava para baixo e para cima, brilhando em prata e ouro. A volta do pescoço trazia uma fita, onde estava escrito: "O rouxinol do imperador do Japão nada vale comparado com o rouxinol do imperador da China."

— Que maravilha! — disseram todos.

E o mensageiro que tinha trazido o presente recebeu o título de Principal Portador Imperial de Rouxinóis.

— Agora têm de cantar juntos. Que dueto que vai ser!

Então os dois passarinhos tiveram de cantar juntos, mas não foi um êxito. O problema era que o verdadeiro rouxinol cantava à sua maneira e a canção do outro saía de uma máquina.

— Isto não é vergonha nenhuma — afirmou o Mestre da Música Imperial. — Está perfeitamente afinado: na realidade, ele até podia ser um dos meus alunos.

Então, o pássaro de corda foi posto a cantar sozinho. Agradou quase tanto à corte como o verdadeiro, e evidentemente que era muito mais bonito à vista, todo brilhante, como uma pulseira ou um alfinete de peito. Cantou a mesma canção trinta e três vezes sem se cansar. Os cortesãos não se importariam de a ouvir mais umas vezes, mas o imperador achou que era a vez do verdadeiro.

Mas onde estava o rouxinol? Tinha voado pela janela, para a sua floresta verdejante, sem ninguém dar por isso.

— Tch, tch, tch! — fez o imperador, aborrecido. — Que significa isto?

E os cortesãos resmungavam e franziam as testas.

— Mas temos aqui o melhor! — disseram.

E o rouxinol de corda teve de cantar outra vez.

Era a trigésima quarta vez que o ouviam, mas ainda não sabiam bem a canção. Era difícil de aprender. E o Mestre da Música Imperial teceu à ave os mais altos elogios: era superior ao rouxinol vivo, não apenas na aparência exterior, mas também no que tinha lá dentro.

— Sabem, senhores e senhoras e, acima de todos, Vossa Majestade Imperial, com o verdadeiro rouxinol nunca se sabe o que vai acontecer, mas com a ave de corda tem-se a certeza; é tudo fácil: podemos abri-la e ver como pensa, como cada nota segue a outra com precisão!

— Era isso mesmo o que eu estava a pensar — ouviu-se aqui e ali.

E, na segunda-feira seguinte, o Mestre da Música Imperial foi autorizado a mostrar publicamente o pássaro ao povo. Também ele devia ouvi-lo cantar, tinha declarado o imperador. E assim foi. E ficaram todos tão entusiasmados como se estivessem tontos de beberem muito chá, um antigo costume chinês. Disseram todos:

— Ah!

E levantaram os indicadores e acenaram com as cabeças.

Mas o pobre pescador, que tinha ouvido o verdadeiro rouxinol, afirmou:

— Lá bonito é... e até parece o rouxinol... Mas parece que falta qualquer coisa, não sei bem...

O verdadeiro rouxinol foi banido do reino do imperador.

O pássaro artificial recebeu um lugar especial numa almofada de seda junto da cama do imperador; empilhados à volta estavam todos os presentes que lhe tinham dado, todo o ouro e jóias. Foi distinguido com o título de Principal Trovador Imperial da Mesa-de-Cabeceira, Primeira Classe à Esquerda, porque até os imperadores têm o coração do lado esquerdo. O Mestre da Música Imperial escreveu um solene trabalho em vinte e cinco volumes sobre o pássaro mecânico. Era muito extenso e erudito, cheio das mais difíceis palavras chinesas. Mas toda a gente fingiu que o tinha lido e compreendido. Ninguém queria passar por estúpido!

Tudo isto continuou durante um ano, até que o imperador, a corte e o resto do povo chinês sabiam de cor cada notazinha da canção do passarinho de corda; mas, por isso mesmo, cada vez gostavam mais dela. Podiam cantá-la em coro — e faziam-no.

Os rapazitos da rua andavam por todo o lado a cantar: rrr, trrr, piu, piu, piu, e o imperador também cantava — um som maravilhoso, não havia dúvida.

Mas, uma noite, precisamente quando o pássaro de corda estava a cantar e o imperador, deitado na cama, o ouvia, qualquer coisa fez "crac!" dentro do pássaro. Brrrr! O mecanismo continuou a rodar, e a música parou. O imperador saltou da cama e mandou chamar o seu médico. Mas de que servia o médico? Então foram buscar o relojoeiro, e este, depois de muitas resmungadelas e mexidelas no pássaro, conseguiu arranjá-lo mais ou menos. Mas preveniu toda a gente de que tinha de ser usado muito poucas vezes; as peças estavam quase gastas por completo e não era possível substituí-las sem estragar o som.

Que golpe horrível! Não se atreviam a pôr o pássaro a cantar mais do que uma vez por ano, e mesmo isso já era um risco. Contudo, nessas ocasiões anuais, o Mestre da Música Imperial fazia sempre um discurso cheio de palavras difíceis, dizendo que o pássaro estava tão bom como sempre — e, claro, uma vez que ele dizia que sim, era porque ele estava tão bom como sempre...

Passaram cinco anos, e uma grande tristeza abateu-se sobre o país. O povo era muito amigo do imperador, mas ele estava gravemente doente e não se esperava que sobrevivesse. Já tinha sido escolhido novo imperador, e a multidão esperava nas ruas que o camareiro lhe desse notícias. Como estava o imperador? O camareiro abanava a cabeça.

Frio e pálido, o imperador jazia no seu leito real. Na verdade, a corte achava que já tinha morrido e foi a correr saudar o seu sucessor. Os criados de quarto foram a correr coscuvilhar uns com os outros e as criadas juntaram-se todas para beberem café,. Tinham sido estendidos panos pretos em todos os salões e corredores para amortecer o som dos passos, de maneira que o palácio parecia muito, muito sossegado.

Mas o imperador ainda não tinha morrido. Pálido e imóvel, jazia na sua magnífica cama com longos cortinados de veludo e pesados cordões dourados. Através de uma janela aberta lá no alto, a Lua brilhava sobre o imperador e o pássaro artificial.

O pobre imperador mal podia respirar; sentia como se tivesse qualquer coisa a pesar-lhe sobre o coração. Abriu os olhos e viu a Morte sentada sobre ele. A Morte tinha a coroa de ouro do imperador na cabeça, numa das mãos segurava a espada imperial de ouro e na outra a esplêndida bandeira imperial. E, por entre os cortinados de veludo, espreitavam estranhos rostos: alguns horríveis e outros belos e bondosos. Eram as boas e as más acções do imperador, que olhavam para ele, enquanto a Morte se sentava sobre o seu coração.

— Lembras-te?... Lembras-te?... — diziam os rostos baixinho, um a seguir ao outro.

E contaram e lembraram tantas coisas que a testa do imperador acabou por ficar coberta de suor.

— Nunca soube... nunca percebi... — gritou ele. — Música, música! Toquem o grande tambor da China! Salvem-me destas vozes!

Mas as vozes não se calavam. Continuavam sempre, enquanto a Morte acenava com a cabeça, como um mandarim, a tudo o que diziam.

— Música! Dêem-me música! — pedia o imperador. — Belo passarinho dourado, canta, peço-te que cantes! Dei-te ouro e coisas preciosas; pendurei o meu sapato dourado ao teu pescoço com as minhas próprias mãos. Canta, peço-te, canta!

Mas o pássaro estava silencioso; não havia ninguém para lhe dar corda, e sem corda não tinha voz. E a Morte continuava a olhar fixamente para o imperador com as grandes órbitas vazias. Tudo estava calado, terrivelmente calado.

Então de repente, perto da janela, soou a mais bela canção. Era o verdadeiro rouxinol, que se tinha empoleirado num ramo lá fora. Sabendo do mal do imperador, o passarinho tinha voltado para o confortar e trazer-lhe esperança.

À medida que cantava, as firmas fantasmagóricas foram desaparecendo, até se desvanecerem. O sangue começou a correr mais depressa pelo corpo do imperador. A própria Morte ficou presa à canção.

— Canta mais, canta mais, pequeno rouxinol! — pediu a Morte.

— Canto, se me deres a grande espada de ouro... sim, e a bandeira imperial... e a coroa do imperador...

E a Morte devolveu cada um dos tesouros em troca de uma canção e o rouxinol continuou a cantar. Cantou sobre o calmo adro da igreja onde cresciam as rosas brancas, onde as flores do sabugueiro cheiravam tão bem, onde a erva fresca está sempre verde por causa das lágrimas dos que ali choram os seus mortos. Então, a Morte encheu-se de saudades do seu jardim e saiu pela janela, flutuando como um nevoeiro gelado.

— Obrigado, obrigado! — disse o imperador. — Passarinho celestial, sei quem és! Eu bani-te do meu reino e, no entanto, só tu vieste ajudar-me, e afastaste os horríveis fantasmas da minha cama e libertaste o meu coração da Morte. Como hei-de recompensar-te?

— Já me recompensaste — respondeu o rouxinol. — Quando cantei para ti da primeira vez caíram-te lágrimas dos olhos e essa dádiva não posso esquecer. Essas são as jóias que não se compram nem se vendem. Mas agora tens de dormir para ficares bom e forte. Olha, vou cantar para ti.

E cantou e o imperador caiu num sono calmo e reparador.

O Sol brilhava sobre ele através da janela quando acordou, restaurado, desaparecidas a fraqueza e a doença. Nenhum dos criados tinha lá entrado ainda, porque todos pensavam que ele estava morto.

— Tens de ficar sempre comigo — disse o imperador. — Mas só cantas quando quiseres. E, quanto ao pássaro de corda, vou parti-lo em mil bocados.

— Não faças isso — respondeu o rouxinol. — Fez o que pôde por ti. Guarda-o. Eu não posso morar num palácio, mas deixa-me ir e vir à minha vontade, e à noite empoleiro-me neste ramo, junto da tua janela, e canto para ti. Hei-de trazer-te felicidade, mas também pensamentos sérios. Hei-de cantar sobre as pessoas felizes do teu reino, mas também sobre os que se sentem tristes. Cantarei sobre o bem e o mal, que têm estado sempre à nossa volta, mas que têm sempre escondido de ti. Os passarinhos voam em todas as direcções, até ao pescador, à casinha do trabalhador, até junto de tantos que estão longe de ti e da tua corte magnífica. Amo o teu coração mais do que a tua coroa, apesar de a coroa ter algo de mágico. Sim, hei-de voltar, mas tens de me prometer uma coisa.

— O que quiseres! — exclamou o imperador.

Tinha-se levantado e vestido as suas roupas imperiais e segurava a espada dourada junto do coração.

— A única coisa que te peço é isto: não digas a ninguém que tens um amigo passarinho que te conta tudo. É melhor guardar segredo.

E, com estas palavras, o rouxinol voou para longe. Os criados vieram ver o amo morto, mas ficaram ali espantados!

— Bom dia! — disse o imperador.

Fonte:
http://www.beatrix.pro.br/

Caco Xavier (Quadrinho Quadrado 1)

Fonte:
http://www.releituras.com

Janaína Lauxen (Um drink para a posteridade)


Estava tomando minha oitava cerveja, mas já estava bêbado desde a segunda. Beber com o estômago vazio faz mal, e eu sei, mas não tenho fome. Tenho sede, e de cerveja. Ainda mais depois que Ana me trocou por um sujeito que usa sapatos marrom-claros e gel no topete. Perdi completamente o apetite e o controle.

Larissa falava sem parar sobre como sua mãe era má, e seu namorado era um grosso, e seu emprego era uma porcaria, e sobre como era incompreendida, sofrida e maltratada.

Foi quando um estrondo lá fora emudeceu todo o bar — inclusive o Iggy Pop, que cantarolava na JukeBox.

Eu estava de costas para a porta, e num primeiro momento acreditei que alguém houvesse caído um tombo. Todos os dias os bêbados e os adolescentes bebem e lá pelas tantas caem tombos.

Só que não era um bêbado, nem era um tombo.

Alguma coisa havia despencado de algum apartamento, do prédio onde, no térreo, funcionava o bar. Só não alcançou o chão porque foi freado pelo telhado de lona, que cobria a porta de entrada do estabelecimento.

Ninguém estava sentado lá fora por causa da chuva. E demorou alguns segundos até que alguém resolvesse levantar e ir conferir o que, de fato, estava acontecendo. Mas bastou um se movimentar, após aquele compelido silêncio, para que todos se acotovelassem até a porta, desesperadamente curiosos.

— Que medo, meu! O que deve ser aquilo? — perguntava, aflita, Larissa, enquanto agarrava-se ao meu braço como se eu — logo eu — pudesse lhe proteger de alguma coisa.

— Devem ter jogado alguma coisa pela janela. Um sofá, talvez — respondi, sem prestar muita atenção no que estava falando.

— Porque alguém atiraria um sofá pela janela?

— Nunca se sabe.

Então alguém gritou:

— É uma mulher!

Uma mulher?

Levantamos alvoroçados. Por mais que atirar sofás pela janela não seja exatamente comum, por essa ninguém esperava: uma garota, com cerca de 20 e poucos anos, era retirada do toldo, agora parcialmente destruído.

— Ela está viva?

— Acho que sim, o toldo amorteceu a queda.

Abriram passagem, e o garçom já telefonava para a ambulância quando a infeliz recobrou os sentidos:
— O que...?

Todo mundo parou em pé a sua volta, calados, esperando.

Ela olhou para os lados, e finalmente pareceu entender o que havia acontecido:

— Com certeza eu não morri e isto aqui não é o céu, certo?

— Pode ter certeza que não — respondeu alguém.

— Merda — ela socou o chão sem muita força — Tentar se matar e não conseguir é o auge do fracasso.

Ninguém disse nada porque ninguém sabia o que dizer.

A ambulância estacionou espalhafatosa, e a moça levantou, aparentemente inteira:

— Mandem a ambulância de volta — falou, desagradada — Estou mais viva do que quando saltei.

O garçom explicou a situação para os médicos que, desconfiados, foram embora.

A garota, cujo nome nunca soube, caminhou até o balcão e pediu um conhaque: “Para a posteridade”, disse alto e sarcasticamente, já parecendo embriagada.

Talvez já estivesse.


Aos poucos, as pessoas foram voltando aos seus lugares, e não demorou para a JukeBox voltar a tocar. Voltei a pensar em Ana e Larissa voltou a resmungar. O garçom voltou a servir as mesas, e os bêbados voltaram a encher os copos.

Alguns minutos depois, parecia que nada havia acontecido.

Como se nenhuma garota de vinte e poucos anos tivesse tentado se matar, feliz ou infelizmente sem sucesso.

Como se esta garota não estivesse agora mesmo sentada ali, há poucos metros, furiosa pelo suicídio frustrado e certamente por todas as frustrações da vida de alguém com vinte e poucos anos.

Como se ela não estivesse com o copo de conhaque intocado na sua frente, há tempos observando seu fundo, como se quisesse ali se afogar.

Talvez não estivesse.

Nunca se sabe.
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Sobre a Autora
Janaína Lauxen (1985) é natural de Passo Fundo (RS). Participou de diversas antologias e, em 2009, lança seu primeiro livro, "Uma carta por Benjamin", pela editora Multifoco.


José Pinto (Lançamento do livro SANTINHO – Uma Vida Breve)



Tendo como pano de fundo, por um lado o regime militar, de triste memória, e por outro, os deslumbrantes cenários do Rio de Janeiro e das belíssimas paisagens de Cuba, desenrola-se a saga de SANTINHO Uma Vida Breve.

O ponto central da narrativa é a história de uma criança, nascida numa favela da Cidade Maravilhosa, que adotada por um casal de jornalistas, com eles forma uma família muito feliz. Até que forças ocultas da repressão, por motivos desconhecidos, lhes impõem uma implacável perseguição, culminando com a prisão do jornalista, sua degradação e a conseqüente expulsão do país. A violência, que atinge em cheio também sua família, desarticula suas vidas separando-os e jogando-os em um universo cruel e desconhecido. O jornalista encontra asilo em Cuba, onde por dez anos vive como um pária, cercado por um grupo de latino-americanos, que como ele, amargam a incerteza do destino e sofrem a humilhação do exílio. Sua mulher e o filho, que ficaram no Brasil, vivem o drama de suas próprias histórias! Histórias cheias de percalços, torturas, desesperanças e superação. São anos de intenso sofrimento, mas mesmo assim não lhes faltou coragem para continuar lutando contra a adversidade e cada um, desconhecendo o destino do outro, tenta se libertar daquela dramática sina que lhes foi imposta.

A volta do exílio, dez anos depois, a busca pelo que deixara para trás, e a tentativa de se readaptar e recomeçar uma nova vida é narrada pelo próprio jornalista de forma intensa e emocionante. E o final é surpreendente! Esta é uma história de ficção, mas os acontecimentos são tão reais, que poderiam ter sucedido com qualquer brasileiro que viveu naquela época. Para escrever esta saga foram feitas centenas de entrevistas e levantados fatos e acontecimentos que jamais chegaram ao conhecimento público. O autor pretende compartilhar com o leitor essas descobertas e também sua grande emoção ao compor esta obra.

SANTINHO, Uma Vida Breve, de José Pinto (402 pp., R$ 43,90), está disponível somente pela internet. O leitor deve acessar www.biblioteca24x7.com.br , para adquirir seu exemplar.

O livro está à venda também na Amazon.com: http://www.amazon.com/Santinho-Vida-Breve-José-Pinto/dp/8578930657/
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Sobre o autor

José Pinto, ou Zépinto, profissional vinculado à área de comunicação por mais de trinta anos. Fotógrafo, Diretor de filmes publicitários, Produtor de longas metragens e Roteirista. Começou a carreira no final da década de 50 como Repórter Fotográfico no jornal Diário de Minas, em Belo Horizonte. Foi cinegrafista na extinta TV Itacolomy e na Minas Filmes. Atuou como Repórter Fotográfico free-lancer para jornais do Rio: O Dia, Ultima Hora e outros. Em São Paulo, trabalhou para Ultima Hora e para a Revista Claudia da Editora Abril, e outras. Fez parte da lendária equipe da Revista REALIDADE.

Na década de 70 montou um estúdio fotográfico dedicado à publicidade que logo se transformou numa produtora de filmes publicitários. Em quase três décadas de atividades produziu mais de dois mil comerciais, centenas de filmes institucionais, dezenas de curtas-metragens e alguns longas-metragens, entre eles,

O Rei da Noite, de Hector Babenco;
Nasce Uma Mulher, de Roberto Santos;
Pixote, de Hector Babenco.

Teve dezenas de filmes premiados em todos os festivais nacionais:
Premio Colunistas, Profissionais do Ano da Rede Globo, Festival Rio de Publicidade, Clube de Criação SP; Clube de Criação Rio; Fiap, Festival Latino Americano de Publicidade; Marketing Rural, e muitos outros concorreram e foram premiados nos festivais internacionais: Festival Internacional de Filmes Publicitários de Cannes; Clio; London Festival; Festival de Veneza; New York Festival e outros.

Desde 1995 trabalha como roteirista para o mercado publicitário e editorial. Tem mais de trinta roteiros de curtas e longas metragens escritos. Entre eles:
Amarga Decisão – longa-metragem.
Trágica Paixão - longa-metragem sobre a vida de Peixoto Gomide.
Maria Quitéria – longa-metragem sobre a heroína baiana da Independência.
Vôo Curto - curta-metragem de John Porciúncula-.
Em fase de acabamento curta-metragem de Ana Paula Bergo.
E Agora... – curta-metragem de Antonio Graco.

Tem também inúmeros contos à espera de edição, tais como:
Os Últimos Raios do Sol. Concorrendo a Talentos da Maturidade do Banco Real
Agulhas e Canções; O Canivete Suisso; Tudo por uma bola; O Afastado.

SANTINHO concorreu ao PAC- Programa de Apoio Cultural da Secretaria da Cultura de São Paulo, 2007 Prêmio Edição do Livro Pelo Escritor ficando com Menção Honrosa entre mais de 200 concorrentes.

Fonte
Douglas Lara. http://www.sorocaba.com.br/acontece

Estação Cultura em Canoas/RS


O Estação Cultura é um antigo sonho que se torna realidade e reúne em um só lugar: música, livros, café e cultura.

Tem a proposta e o desafio de proporcionar, também, lazer cultural à cidade de Canoas. Boa música para um happy hour aconchegante, espaço cyber café e ótima literatura.

Eletrônicos portáteis, presentes e papelaria completam o mix, além, é claro, de uma livraria com acervo de qualidade, o que garante sofisticação e bom gosto.

O Estação Cultura não é apenas mais um lugar em Canoas/RS. É o Lugar que você merece há muito tempo!

Projetos sob a coordenação da escritora Neida Rocha.

Se você procura um local para passar bons momentos, ler um bom livro e ou escutar música de qualidade, acompanhado de um delicioso café: Seja bem vindo, será um prazer atendê-lo!

Rua Gonçalves Dias, 88 loja 4 – Canoas/RS

Fontes:
– E-mail de Neida Rocha
http://www.estacaocultura.com.br/