sábado, 19 de maio de 2012

A. A. de Assis (Estados do Brasil em Trovas) Tocantins

Wagner Marques Lopes / MG (O PERDÃO em trovas), parte 9


33

Vizinho contra vizinho -
trocando o “sim” pelo “mas”.
Chega o perdão... De mansinho
propondo o acordo de paz.

34

Encontrei ave canora
a saltitar de alegria!...
Era o perdão que, lá fora,
a todos dava um bom dia!

35

Eu descobri o endereço
da convivência perfeita:
Rua do Perdão sem Preço,
Quadra da Paz Bem Aceita.

36

Estendo bandeiras brancas:
seja a paz a minha lei.
Reato amizades francas
que um dia contrariei.

Fonte:
Trovas enviadas pelo autor

Danilo Souza Pelloso (Seis "ladrão")


Aquela cadeira continuava a balançar na profunda insensatez. A certeza da ausência de vovó estava no meu pensamento.

No repentino lembrar do não saber o que, aquele calmo semblante fazia meus problemas parecerem mera tolice do cotidiano.

Vovô era mais carrancudo. Jogador patológico do carteado. Truco seis rato. Assim ele se divertia.

Vovó gostava de ouvir suas peripécias, principalmente quando ele pensando ganhar esperava um truco para gritar: “Seis ladrão”.

O tempo passava, assim como minhas preocupações. Vovó, de sorriso faceiro, mostrava o quanto me preocupava à toa.

– Apenas deveres de casa. – Dizia ela, em gargalhadas, a caminhar passos lentos no continuar da confecção dos biscoitinhos.

Seu comportamento fazia-me pensar que os monstros criado por mim não eram tão horripilante assim. Ela gostava do chacoalhar da cadeira, sorrindo, no ranger da madeira já envelhecida, no longo percurso de não sair para onde. Vai e vem incontido. Para companhia fazia-se o sobe e desce daquelas agulhas. Um ponto aqui, outro acolá. Assim surgiam figuras, no bordado torpe, que fazia-me pensar tratar-se da grande anônima artista.

– Seis ladrão. - Eram essas as palavras de vovô naquele intrépido jogar de cartas em destilada bebida.

Aquela velha senhora, sem pressa para uma boa prosa, gostava de provocá-lo. E como seus olhinhos brilhavam ao som do deboche.

Agora com escuro olhar, vovó continuava postada em negro vestido, rosto a maquiar em tristeza, na abrupta partida. Um caixão de fino compensado, sem brilho, esfarelando ao som da despedida. Caixa de madeira ordinária. Vovó encarcerada. As alças eram de plástico grosso, como taças em popular comemoração do espumante a não possuir o tilintar. Assim concedeu seu derradeiro.

Algo acontecera com vovó, mas o que seria? Perícia em morte acidental. Aos olhos dos oficiais, vovó com turva visão concedeu o desprazer da escorregadela na grande escadaria, açoitando a cabeça em um só golpe. Aquele brum ecoava entre paredes e versos, tentando lembrar do acontecido. Um incidente?

– Pernas a bambear a apagada carne. – Comenta a perícia.

Recordações de vovô a grande mulher. Mãos inquietas a manusear o baralho. Uma tortuosa compulsão.

Vovó continuava naquele cômico caixão de compensado. As lembranças atordoam minha mente, apoderando-se do meu pensar. Recordo-me de vovó, com sorriso afável, no enrolar da macia massa, que viraria os famosos biscoitinhos de nata. Grande idade com destreza a criação. Já vovô não esquecia o baralho: “Truco? Seis ladrões”.

Quando era açoitado no ensinar, surgia num choramingar desmedido. Vovó, no escutar, pronta para explicações. Respondia minhas indagações, ensinando-me em jabs e cruzados de direita, a me defender daqueles peraltas bambinos. Ensinava-me a arte de fazer-me entender. Bem ou mal eles iriam compreender a linguagem do gancho no queixo.

Hoje compreendo. Vovó? Uma preciosa gema. Já vovô, compulsivo no jogar. Seis ladrão. Aos gritos essas eram suas palavras. Um despautério. Vovó se divertia com a boba preocupação de vovô. De fácil zangar. Desde o sutil cair das águas, em nuvens a cometer peripécias, até a incompreensível nhem, nhem, nhem, daquele velho veículo. Tudo motivo para desabrochar seu nervosismo.

Assim vinha o jogo. Seis ladrão. Vovô nasceu, entre socos e pontapés, com enfermeiros e doutores. Intempestivo. Não aceitava ser contrariado, mas continuava a contrariar. Aquele branco fio, de andar inconstante, trazia a vovó sorrisos. Diversão da grande idade a mexer com ele. Sempre que vovô estava distraído em seus pensamentos, vovó, de mansinho, dizia para o velho escutar.

– Truco.

Ele respondia de imediato:

- Seis ladrão,- batendo na mesa.

Era uma algazarra. Não compreendia o porquê. Era seis ladrão e pronto. Lembro-me daquela vez, em que vovô entretido com as cartas na varanda, concentrado na grande partida. Eram cartas em cima de cartas quando de repente um participante gritou a fatídica palavra. Vovô era a resposta no grito que ecoou a vizinhança.

– Seis ladrão.

Neste momento a polícia interveio na tranquilidade do nosso lar. Armas em punho. Caça ao ladrão. Nervoso, vovô balbuciava, na tentativa de explicar coisa alguma. Inexistia explicação. O que falaria? Apenas um jogo de cartas? Assim vovô calado, auxiliava os policiais, na tentativa de encontrar os possíveis ladrões.

Passaram as lembranças. Ficaram os fatos. Vovó? Naquele caixão de madeira compensado. Vovô, em pé, ao lado de vovó, passando a mão no branco rosto pálido, despedindo-se, no incontido choro, do triste pensar na perda. De repente, vovó com os lábios entreabertos, num simples empurrar dos ventos, em palavras e versos, sussurra apenas para vovô.

– Truco. Seu velho safado!

Na forma incontida do emocional descontrole, vovô sem saber o que estava fazendo, bate a mão no compensado caixão, em turbulentas palavras.

– Seis ladrão.

E assim vovó sorriu e partiu, tendo a certeza do incompreensível compreender de toda a situação.

Fonte:
Painel 2012 de Novos Autores Brasileiros - Contos - Maio de 2012. Câmara Brasileira de Jovens Escritores.

Brasilidades (Versos do Povo da Gente) 1


ANGÉLICA MATOS FERREIRA (Guapimirim / RJ)
Dias sem mais


Dias roubados,
sonhos estagnados.
A tristeza persiste solitária.
A alma acorrentada
em uma felicidade imaginaria.
Vida passada, desgastada.
Dias iguais...
... dias sem mais.

ANTONIO FERNANDO SODRÉ JÚNIOR (São Luís / MA)
Cordel de estrelas


Os poetas nordestinos
Versam para além de algum prestígio
Cantar do grande Sertão a vida
E nas rimas que fazem, encontram mais belezas
De um rincão de natureza aguerrida
Quase invencível em suas dores e pelejas.

No poema, na fala do repentista
Há raridades que o sofrimento ofusca
A ignorância e o preconceito ocultam...
O Sertão é todo o mundo e um mundo só
Chão lavrado de graças, cinzelado de riquezas...

O homem forte curva-se à terra:
É sequidade latente, almas vivas de aridez
É banho de lua, canto de revoada
Contas de conchas, nuvens, lençóis d’areia
Engenho, resistência e luta...

É na franqueza da gente simples,
Na união dos seus que a terra é reerguida
Do solo estéril, persiste dele a querença
Todas armas contra as lágrimas e a injustiça
O Sertão é cidadela que guarda mistérios
É triunfo que desponta no céu escuro
Feito cordel de estrelas.

BIA WEISER (Viena / Áustria)
Gente que se basta


Tem gente tão completa
que se basta no presente
não projeta nada além
não anseia dimensões
e que vive tão somente
a vida como ela vem.

É gente toda, por inteiro
sem mágoas, sem frustrações,
sem anseios, sem angústias.
É gente que não programa
e aceita o que há de vir
se de bom ou de mau, tanto faz,
pois viver é que é bom.

É gente que vive a vida
que se basta em sua lida,
vida que vai em frente,
é destino, é passageiro.

CARLOS MARCOS FAUSTINO (Tupã / SP)
Velhos tempos
(Quando eu voltava pra casa)


Passar o pontilhão, cair na avenida
Que se abre alegre, simples e bonita
Dobrar no terceiro quarteirão,
De madrugada então, era uma poesia
Os passos na rua silenciosa e calma
O tic tac do coração... uma melodia
Arfar no peito, ânsia pela chegada
Abrir o portão, adentrar à varanda
Os passos lá dentro, o abrir da porta
Choros, risos e abraços, não importa
Uma aquarela de alegrias estampada
O cheiro forte do café tudo invadia
A vida naquele dia mais cedo, vibrava
Ninguém mais dormia, ninguém mais queria
As saudades todas eram despejadas
As saudades todas eram esquecidas.
Como eram tão doces aqueles velhos tempos,
Velhos tempos quando eu voltava pra casa..

CECÍLIA MARIA DE LUCA S. DE NORONHA (Belo Horizonte / MG)
Intimidade


Quem é esta menina que não reconheço?
Quem é esta menina que me desafia, querendo dançar, saltar, correr?
Ela me encara e me escancara e ri....ri despudoradamente.
De repente, mostra a língua para quem não gosta,
Faz birra e chora desconsoladamente...

Esta menina me desalenta. Louca, me enlouquece.
Canta, sua voz desafinada me entristece.
Cria e suas criações me exasperam.
Sonha e seus sonhos me desesperam.
Ah, menina, que não percebe minha senilidade!
Eu não a reconheço e ela não reconhece sua inutilidade.

Peço-lhe que vá embora, ela insiste em ficar.
Digo-lhe que tudo se acabou, ela insiste em recomeçar.
Quem é esta menina que sempre me alcança e que eu não consigo alcançar?

Sigo ridícula e impotente com esta menina solta dentro de mim.
Menina persistente...não se cansa de esperar.
Criança teimosa...não acredita no meu fim. Enfim!....

Afinal, quem é esta menina que me vira pelo avesso?
Eu não mais a conheço, eu não a reconheço.
Quero me lembrar, mas não tem jeito...
Quem é? Esquece. Esqueço.

DANIELLI RODRIGUES (Londrina / PR)
Patativa do Assaré


Dentre o cultivo de terras
surge o poeta do Ceará
de seus envolventes repentes
o maravilhoso desafio do improviso
o casamento da poesia e da música
o delicioso canto de criação de versos.

Ó ave Patativa
que beleza de canto, de poesia
de fineza, de melodia
de uma oralidade marcante
cheia de significações e sensações.

Entre a voz e a entonação
as pausas
entre o ritmo e o pigarro
a expressão
com perfeição sua ironia, veemência e hesitação.

De sonetos clássicos
à décima e a sextilha nordestina
ora linguagem culta
ora linguagem do dia a dia
emerge a poesia matuta.

Antônio Gonçalves da Silva
agricultor, improvisador
compositor, cantor
poeta popular
nossa ave brasileira.

GRACIANA MENESES (Fortaleza / CE)
Simpatia


Sentimento sincero
Fruto do coração,
Trocas de olhares
Pela magia da atração.

Simpatia é como ramos
Unidos, que aos poucos
Vão se entrelaçando
Pelas chamas da emoção.

Simpatia é um dom singelo
Fluente do nosso coração,
E nos proporciona conforto,
Bem estar e boa emoção.

Simpatia é pura afinidade,
É um toque de admiração
Que nos causa confiança
Pela sua própria reação.

Simpatia é quase amor,
Um envolvimento natural,
Cumplicidade, boas energias
Geradoras, é troca de atenção.

TERESA CRISTINA CERQUEIRA DE SOUSA (Piracuruca / PI)
A maçã


A menina tinha um lápis.
Um lápis cor de sangue.
Apenas um lápis na hora do recreio.
Mal se consegue ouvir o som do lápis no chão.

Eis, ali, num dia comum, súbito, uma maçã.
Uma maçã que logo amadurece.
Apenas uma maçã na calçada do pátio.
Ah, menina, você não pode comer essa maçã!

Fonte:
Câmara Brasileira dos Jovens Escritores. "Brasilidades / vol.3" - Edição Especial - Maio de 2012.

Darlene da Costa Diniz /PR (Nos Dois Lados do Vento)


Darlene é de Londrina/PR

Que Vento é este que me puxa para cá e me empurra para lá?

Decida Vento amoroso, pois de tanto ir para cá e para lá tonta até já fiquei.

Vou para cá só beleza vejo, vou para lá vejo tristeza. Até no meio já fiquei.

Assim no mesmo dia dava muitas gargalhadas e em seguida chorava.

Olha Vento amigo, resolva que lado quer me fazer ficar, pois nestes dois lados poderá virar uma poesia de dois horizontes.

Assim, muito sol e muita chuva e, de quebra, um presente feito arco-íris, colorida toda vou ficar.

Decida Vento, pois este arco-íris você levando o está para dois lados do rio.

Onde começa o arco-íris e onde termina.

Igual quando você, Vento camarada, me puxa para cá e me empurra para lá.

E neste puxa-puxa até deste lindo sonho despertei…

Fonte:
Câmara Brasileira dos Jovens Escritores. "Brasilidades / vol.3" - Edição Especial - Maio de 2012.

Esopo (Fábula 15: A Andorinha e os Outros Pássaros)


Uma andorinha, tendo visto um lavrador semear visco no campo, mandou reunir todos os pássaros e disse-lhes que o visco servia para fazer redes de passarinhos e armadilhas. A andorinha pediu-lhes para que a ajudassem a apanhar as sementes e destruí-las. Embora ouvissem o que ela lhes disse, os outros pássaros não fizeram nada e, assim, com o tempo, o visco rebentou, ganhando raízes no solo. Mais uma vez, a andorinha avisou-os, dizendo-lhes que ainda não era tarde para evitarem as complicações se actuassem imediatamente. Mas os pássaros continuaram a ignorá-la e a andorinha deixou os bosques e foi viver na cidade.

O visco cresceu alto e forte e foi colhido. Mais tarde, a andorinha viu alguns dos pássaros que tinham sido apanhados recentemente nas redes feitas com o visco contra o qual ela os avisara. Agora, eles tinham aprendido a lição, mas era demasiado tarde.

Moral da história

Os homens sábios sabem prever os efeitos de certas causas, mas os loucos nunca acreditarão neles, até ser demasiado tarde para impedir o desastre. Demoram-se e arriscam-se.


Fonte:
Fábulas de Esopo. Coleção Recontar. Ed. Escala, 2004.

Cláudio Manuel da Costa (Vila Rica)


Epopéia escrita por Cláudio Manuel da Costa em 1773, inspirado pelo poema O Uraguai, de Basílio da Gama. Poemeto épico-clássico, à maneira de Os Lusíadas, de Camões.

Atente aos comentários de Hélio Lopes, sobre o poema Vila Rica:

A estrutura labiríntica do Vila Rica se realiza quando Albuquerque inicia sua viagem pelo interior de Minas, o herói está diante do desconhecido e tudo parece se opor à conclusão da sua jornada, mas a medida que ele vai conhecendo os segredos da terra, que em suas ações diante dos conflitos demonstra justiça e inteligência, o desconhecido vai se revelando e o herói acaba por encontra o lugar ideal para fundar sua cidade.

Vimos a Terra, a Natureza e os Mitos criando o labirinto. O mesmo poema, no entanto, assim construído, vem a desnortear também o leitor pela construção de várias narrativas que de súbito se interrompem, depois mais adiante retomam o fio ou tomam outro aspecto como o do amor de Garcia e Aurora para, encontrado o 'centro', desembocar no Canto, onde apenas se acaba vendo o Itamonte, o Gênio da Terra e Albuquerque irmanados na alegria de conquistado o alvo. Esta confusa estrutura, essencial, no entanto, à obra, foi e continua o motivo para considerar o Vila Rica defeituoso, ininteligível e mal composto.

O poema tem um enredo que foge aos padrões clássicos exatamente por ter uma estrutura de rapsódia, onde três principais focos narrativos se cruzam. Primeiro, o drama de Garcia, em segundo, a missão pacificadora e organizadora de Albuquerque e o terceiro foco narrativo, a luta dos revoltosos. Esse cruzamento de focos narrativos é que compõe o labirinto do poema. Observa Hélio Lopes como a estrutura do poema parece confusa a uma leitura menos atenta do poema:

A construção literária de Vila Rica desnorteia. Os cortes violentos dos episódios, justificados no desenrolar da ação, depois as retomadas do fio partido ocasionam natural perplexidade e causam no leitor a imagem de um texto caótico. Os acontecimentos caminham entre paradas súbitas e recuperam a linearidade sem aparente justificativa. Cria-se o desequilíbrio. A visível instabilidade do texto deixa, evidentemente, o leitor por sua vez jogado de um a outro ponto.

A Associação entre mitologia helênica e aspectos da selva brasileira dá um tom de tentativa de colocação da terra bárbara na esfera da tradição clássica, uma tentativa de valorização da terra, só que segundo os padrões clássicos vigentes:

"Quando Cláudio exila para as serranias mineiras sanguinolentos filhos da terra, sacraliza helenicamente o território onde os indígenas haviam já descoberto, nas pedras, a origem mítica daquela parte do mundo: o menino de pedra junto à mãe, mas não iam além do que os olhos pareciam mostrar."
(LOPES, Hélio. Introdução ao Poema Vila Rica. p.78- 79)

Outra figura criada por Cláudio Manuel da Costa é o Gênio da Terra, que a certa altura é nomeado como Filiponte, Philos, do grego: amigo, Pons-tis, do latim: ponte. Seu nome é assim composto só por elementos linguísticos greco-romanos. Não havendo no seu nome partícula de origem tupi, não apresentará esse personagem nenhum aspecto dúbio quanto à sua posição no poema, é um ser que trabalha pelo sucesso da expedição de Albuquerque. Efetivamente, é a figura que terá como função unir os desbravadores com a terra selvagem. Gênio da concórdia que auxilia decisivamente o herói Albuquerque na tarefa de conciliar os revoltosos e de encontrar o caminho procurado.

Outra figura mitológica e híbrida criada pelo autor é a ninfa Eulina, que primeiramente comparecera no poema Fábula do Ribeirão do Carmo. Um aspecto identificador de sua hibridez é sua aparência, ninfa, abandonada por Apolo, tem semelhança com o mito indígena da Mãe D'água, pois encanta Garcia e o leva para o fundo dos rios onde esconde seus tesouros. É a sereia indígena Ipupiara, nome aportuguesado depois para Iara.

"Ouve Garcia o canto, e não atina
De onde tanto prodígio, mas de Eulina
A delicada face está patente:
Fita os olhos, e vê desde a corrente
Lançar a mão à praia a Ninfa bela,
Toma uma areia de ouro, e já com ela
Pulveriza os cabelos: neste instante,
O sonho de Albuquerque o faz avante
Passar, os braços abre, a Ninfa chama;
Ela o vê, e não teme, e já se inflama
De amor por ele: aos braços o convida,
E abrindo o seio o rio, uma luzida
Urna de fino mármore os sepulta
Recebendo-os em si: ficou oculta
A maravilha a quantos o acompanham.
Em busca de Garcia já se entranham
Pelo matos mais densos; mas perdida
A esperança de achá-lo, e recolhida
Volta ao herói a esquadra aventureira."
(Vila Rica. Canto VII)


Essas criações mitológicas de Cláudio Manuel da Costa conferem ao poema algum brilhantismo que tem passado despercebido à crítica. Se por um lado seus mitos são uma transposição do ideal clássico sobre a terra bárbara, o que permite acusá-lo de submissão cultural aos modelos da metrópole, ao colonizador, por outro também representam uma tentativa de colocação de nossa literatura dentro do panorama da tradição épica através da criação de mitologia própria, mas aparentada com a grega e com um enredo original e de caráter moderno, associado à figura de um herói que não se destaca pelo poder bélico mas por sua capacidade administrativa.

Ora, para a época, só com essa hibridez mitológica poderia o autor aproximar do gosto árcade do leitor europeu seu poema com sabor de "espremido licor nos fundos cobres"(Canto X)[4] , enobrecendo a terra brasileira com uma relação fraternal e cosmopolita com a mitologia greco-romana. Não foi Lisboa fundada por Ulisses, nem é Adamastor um gigante de origem helênica? Sendo nossas terras colonizadas e dominadas por Portugal seria justo que sua mitologia fosse híbrida, fruto da associação dos povos que formaram nosso povo. As figuras mitológicas do autor são personagens da selva, de estirpe nobre e que auxiliam, de um modo ou de outro, o herói na sua tarefa, tendo este como principal obstáculo não o Itamonte, mas sim a desunião entre seus compatriotas.

"Estamos, disse, em uns países novos,
Onde a polícia não tem ainda entrado,
Pode o rigor deixar desconcertado
O bom prelúdio desta grande empresa.
Convém que antes que os meios da aspereza
Se tente todo o esforço de brandura.
Não é destro cultor, o que procura
Decepar aquela árvore, que pode
Sanar, cortando um ramo, si lhe acode
Com sábia mão a reparar o dano;
Para se radicar do soberano
O conceito, que pede a autoridade,
Necessária se faz uma igualdade
De razão e discurso; quem duvida,
Que de um cego furor corre impelida
A fanática idéia desta gente?
Que a todos falta um condutor prudente
Que os dirija ao acerto? Quem ignora
Que um monstruoso corpo se devora
A si mesmo, e converte em seu estrago
O que pensa e medita? Ao brando afago
Talvez venha ceder: e quando abuse
Da brandura, e obstinados se recuse
A render ao meu Rei toda a obediência,
Então porei em prática a violência;
Farei que as armas e o valor contestem
O bárbaro atentado; e que detestem
A preço do seu sangue a torpe idéia.
Disse; e deixando a todos a alma cheia
De uma nobre esperança, já passava
A saber de Garcia, nem lhe dava
Notícia dele algum dos três Pereiras."
(Vila Rica, Canto VII)


A terra a ser desbravada guarda segredos que somente os mais venturosos têm condições de revelar, de conhecer. No Vila Rica, o motivo histórico, a fundação da cidade, parece um mero pretexto para o conhecimento da nova terra. Nesse sentido soam proféticas os versos finais do poema:

"Enfim serás cantada, Vila Rica,
Teu nome impresso nas memórias fica.
Terás a glória de ter dado o berço
A quem te faz girar pelo universo."
(Canto X, v.199-202)


Comparece ainda no poema um personagem mitológico legitimamente indígena, o Curupira, que tem os pés virados pra trás. Apresentado pelo poeta como "deus destes tesouros", conforme nota 58 do poema. Este personagem falava aos desbravadores da expedição de Albuquerque que Itamonte era figura monstruosa e horrível, buscava assim dissuadi-los de sua empreitada. Com a conquista do Itamonte desfaz-se o encanto do Curupira. O personagem da mitologia indígena é um personagem a tentar impedir o domínio e o conhecimento da terra por parte do herói.

"Já desde quando no projeto vinhas
De encontrar as preciosas esmeraldas,
Eu te esperava deste monte às faldas.
O Deus destes tesouros impedia
Até aqui descobrí-los, e fingia
Meu rosto aso homens tão escuro e feio
Por que infundisse em todos o receio."
(Vila Rica. Canto VIII, v.189-195)


O poema épico de Cláudio Manuel da Costa parece que apresenta uma matéria mítica que suplanta à matéria da narrativa histórica e, de tal modo, que se não atentarmos para ela e ficarmos somente avaliando esse poema em função de características como distância histórica do fato narrado, importância do fato narrado, características do herói, ou ainda, se ficarmos a comparar a linguagem da epopéia no autor com os seus versos da lírica, teremos que compactuar com a posição daqueles críticos que consideram tal obra menor, de importância apenas documental.

Podemos também dizer que o poeta perdeu uma boa oportunidade de construir um poema épico sobre os bandeirantes ao transformar o episódio de Borba Gato, p.ex.,em algo menor dentro da estrutura do poema.

Vejamos os versos do episódio no Canto VI em que o poeta exalta os bandeirantes paulistas. Notemos como o poeta, após enumerar os nomes dos bandeirantes, diz que se as ninfas do Tejo exaltam a viagem de Vasco da Gama (referência indireta aos Lusíadas), o poeta diz que dos paulistas honrará a fama, embora o Vila Rica não tenha se efetivado como um poema sobre as Bandeiras. Parece que em algum momento da composição do poema o autor pensou em torná-lo obra representativa, na literatura, das expedições bandeirantes, porém o poema apresenta como herói Albuquerque, enviado da corte portuguesa, e não um aventureiro paulista em busca de riquezas. Não é a corrida do ouro o seu mote, mas a fundação da cidade natal do poeta. Os bandeirantes, no poema, preenchem o episódio de Borba Gato e participam auxiliando Albuquerque na conquista das Minas.

"Levados de fervor, que o peito encerra
Vê os Paulistas, animosa gente,
Que ao Rei procuram o metal luzente
Co'as próprias mãos enriquecer o erário.
Arzão é este, é este, o temerário,
Que da Casca os sertões tentou primeiro:
Vê qual despreza o nobre aventureiro,
Os laços e as traições, que lhe prepara
Do cruento gentio a fome avara.

A exemplo de um contempla iguais a todos,
E distintos ao rei por vários modos
Vê os Pires, Camargos e Pedrosos,
Alvarengas, Godóis, Cabrais, Cardosos,
Lemos, Toledos, Paes, Guerras, Furtados,
E os outros, que primeiro assinalados
Se fizeram no arrojo das conquistas,
Ó grandes sempre, ó imortais Paulistas!
Embora vós, ninfas do Tejo, embora
Cante do Lusitano a voz sonora
Os claros feitos do seu grande Gama;
Dos meus Paulistas honrarei a fama.
Eles a fome e sede vão sofrendo,
Rotos e nus os corpos vem trazendo,
Na enfermidade a cura lhes falece,
E a miséria por tudo se conhece."
(Vila Rica, Canto VI)


Notemos como o poeta usa os pronomes pessoais "meus" e "seu" ao contrapor os bandeirantes paulistas com Vascoda Gama. São versos como esses que confirmam explicitamente o sentimento nativista que já se fazia sentir no imaginário do poeta.

Parece que existe um jogo nessa obra entre o real e o imaginário, de modo que as principais ações são mediadas pelo mágico, haja visto entre tantos exemplos que podemos citar, como o momento em que os revoltosos são assombrados por terríveis figuras na noite, ou a revelação de Filiponte na gruta perante Albuquerque, ou ainda o episódio em que Eulina leva Garcia para o fundo das águas, mas pretendo destacar nesse sentido o episódio em que Argasso mata Aurora. Julgando ver no lugar de sua amada, que fora, aliás, motivo de disputa entre o índio e Garcia, uma fera, e estando em caçada, flechando o animal visto, descobre após, tratar-se de sua amada. Não podemos deixar de comparar esse episódio com o da morte de Lindóia em O Uraguai.

"Terifea a ocasião julga oportuna,
Põe os olhos no Céu, alta coluna
Levanta, e firma em terra; já sobre ela
se ergue e murmura e nota cada estrela
Com o dedo, depois desce e riscando
Muitas vezes em roda, vai tocando
A coluna, que treme e que se move:
Tolda-se em sombra o ar, troveja e chove:
E o tronco de entre a nuvem que o cobrira,
Sai figurando um tigre, que respira
Fogo e veneno pelos olhos; passa
Com ele ao monte, e o guia onde a caça
Se tenta e busca; aqui dormia Aurora;
Dormia; e junto aos pés branda e sonora
Fontesinha o repouso convidava;
O peito em grande parte debruçava
Sobre uma penha, e ao gesto brando e lindo
De encosto o mole braço está servindo,
Chega a Maga cruel, põe-lhe diante
A fera, que conduz, e ao mesmo instante
Se oculta em parte, onde o sucesso veja:
O cuidado de a ver, ou fosse a inveja
Aquele sítio encaminhava os passos
Do destemido Argasso; entre embaraços
De mal distintos ramos já descobre
O mosqueado tigre, ao braço nobre
O crê despojo, e de matá-lo espera,
Firme o pé desde longe aponta a fera,
E atrás puxando o braço a seta envia,
Que vai cravar no monstro a ponta fria.

Corre gritando, ó Césa, e vê passado
De Aurora o peito; em vão busca assombrado
O tigre, que não há: já desfalece
A pouco e pouco a bela: a mágoa cresce
No mísero homicida, clama e grita,
Atroa aos Céus, e contra os Céus se irrita,
Nem mais a vida, que estimara, preza;
Arroja o arco, e à infeliz beleza
Consagra de seu corpo o último resto."
(Vila Rica, Canto VI)


Nesse momento vemos como os segredos mágicos da terra são tais que apresentam mal fado até aos nativos, desde que imprudentes. Argasso fora enganado pelo sentido da visão.

Tal engano de Argasso ocorre devido à magia da feiticeira Terifea, que assim procede atendendo ao pedido da também pretendente ao amor de Argasso, Eulinda, que oferece à feiticeira duas crianças para que a bruxa faça com estas um ritual de antropofagia que lhe apraz. Esse motivo parece ser de uma lenda indígena que, como aponta Hélio Lopes inclusive, aparece em Macunaíma, de Mário de Andrade. Nesse episódio vemos como a matéria mítica do poema fornece elementos que definem a estrutura do poema. E de tal modo há no enredo um conjunto de mitos criados pelo poeta ou de mitos retirados do fabulário nativo, que o poema parece mais uma épica em forma de rapsódia do que o poema que apenas canta a fundação de uma cidade. Propositadamente ou circunstancialmente, não vem muito ao caso, o poema de apresenta algumas características que transgridem o modelo.

Fonte:
Passeiweb

2º Mutirão Artístico Maringaense (19 a 26 de Maio)


Democráticos Bar, Rua Paranaguá, Nº 78 Zona 07. Maringá/PR (Av. Colombo, ao lado do posto de gasolina)

19 de Maio – Sábado

A partir das 17hs


MÚSICA: Rael Toffolo apresentando duas obras eletroacústicas e Ingazeiro representando a cultura nordestina com o seu maracatu

TEATRO: Taaly Segatti "Mundo Moderno" (Chico Anisio) e "Jesus no Xadrez" (Chico Pedrosa), além de poema musicado pelo grupo Cordel de Fogo Encantado.

ESCULTURA: Marcelo Monteiro irá demonstrar algumas técnica da escultura em tempo real criando peças em miniatura em bastões de giz tipo escolar.

GRAFITE: René Meyring e sua criação visual em tempo real

MESA DE LITERATURA E QUADRINHOS: Damien Campos, Ângela Ramalho e Vera Margutti

CINEMA: curta-metragens de Hygor Zorak

LITERATURA: Exposição permanente dos textos dentro dos menus e nas camisinhas de cerveja com todos os artistas (Alexandre Gaioto, Ângela Ramalho, Cléia Garcia, Damien Campos, Hygor Zorak, Luigi Ricciardi, Marcelo Aires, Marcio Domenes, Marco Hruschka, Miriam Ramalho, Nelson Alexandre, Roberth Fabris, Thays Pretti e Vera Margutti)

FOTOGRAFIA: Exposição fotográfica dos artistas Alessandra Lopes, Amanda Antunes, Ana Luíza Verzola, Bárbara Neves, Carolina Justi, Fernanda Inocente, Hygor Zorak, Isa Angeliotto, Izadora Amaral e Bruna Siena & Venilson Santos.

PINTURA: Exposição das pinturas dos artistas Cristiane Inokuma, Marcos Molinari, Sara Vieira e Wagner Dantas.

MÁSCARAS: Andy Ferrari e sua exposição de máscaras.

21 de Maio – Segunda

A partir das 20hs


CINEMA: Curta-metragem do grupo de artistas (Tamires Belluzzi Freitas, Fernanda Eda, Gabriela Petrucci, Karina Azevendo e Patrícia Adrian)

MESA DE LITERATURA E QUADRINHOS: Marcele Aires e Miriam Ramalho. Marcele Aires irá expor seus livros “Que transpõe o halo (poesia, 2010)” e “Ausências em monólogos (ficção, 2011)”.

LITERATURA: Exposição permanente dos textos, poemas e contos dos os artistas Alexandre Gaioto, Ângela Ramalho, Cléia Garcia, Damien Campos, Hygor Zorak, Luigi Ricciardi, Marcelo Aires, Marcio Domenes, Marco Hruschka, Miriam Ramalho, Nelson Alexandre, Roberth Fabris, Thays Pretti e Vera Margutti.

FOTOGRAFIA: Exposição permanente dos trabalhos dos artistas Alessandra Lopes, Amanda Antunes, Ana Luíza Verzola, Bárbara Neves, Carolina Justi, Fernanda Inocente, Hygor Zorak, Isa Angeliotto, Izadora Amaral e Bruna Siena & Venilson Santos.

PINTURA: Exposição permanente com todos dos artistas Cristiane Inokuma, Marcos Molinari, Sara Vieira e Wagner Dantas.

MÁSCARAS: Exposição permanente com Andy Ferrari

22 de Maio – Terça

A partir das 20hs


CINEMA: Curta-metragens de Hygor Zorak

MESA DE LITERATURA E QUADRINHO: O quadrinista Diego Jolly irá expor seus trabalhos ao estilo “narrativas gráficas”. O quadrinista Hálisson Júnior da Silva e Cléia Garcia e seus trabalhos em zines, blogs, folder e quadrinhos.

DANÇA: Júnior Paiva irá apresentar uma performance, dança contemporânea, da canção “Imagine” do Jhon Lennon (versão Glee)

MÚSICA: Najara Nogueira

LITERATURA: Exposição permanente dos textos, poemas e contos dos os artistas Alexandre Gaioto, Ângela Ramalho, Cléia Garcia, Damien Campos, Hygor Zorak, Luigi Ricciardi, Marcelo Aires, Marcio Domenes, Marco Hruschka, Miriam Ramalho, Nelson Alexandre, Roberth Fabris, Thays Pretti e Vera Margutti.

FOTOGRAFIA: Exposição permanente dos trabalhos dos artistas Alessandra Lopes, Amanda Antunes, Ana Luíza Verzola, Bárbara Neves, Carolina Justi, Fernanda Inocente, Hygor Zorak, Isa Angeliotto, Izadora Amaral e Bruna Siena & Venilson Santos.

PINTURA: Exposição permanente dos trabalhos dos artistas Cristiane Inokuma, Marcos Molinari, Sara Vieira e Wagner Dantas.

MÁSCARAS: Exposição permanente com Andy Ferrari

23 de Maio – Quarta

A partir das 20hs


MÚSICA: Contos musicalizados de Dalton Trevisan na performace vocal de Alexandre Gaioto. Damien Campos, violão voz e violoncello, declamando seus poemas e canções.

MESA DE LITERATURA E QUADRINHOS: Exposição dos poemas e textos impressos de Hygor Zorak e Thays Pretti

CINEMA: Curta do grupo de artistas Tamires Belluzzi Freitas, Fernanda Eda, Gabriela Petrucci, Karina Azevendo e Patrícia Adrian.

LITERATURA: Exposição permanente dos trabalhos dos artistas Alexandre Gaioto, Ângela Ramalho, Cléia Garcia, Damien Campos, Hygor Zorak, Luigi Ricciardi, Marcelo Aires, Marcio Domenes, Marco Hruschka, Miriam Ramalho, Nelson Alexandre, Roberth Fabris, Thays Pretti e Vera Margutti.

FOTOGRAFIA: Exposição permanente dos trabalhos dos artistas Alessandra Lopes, Amanda Antunes, Ana Luíza Verzola, Bárbara Neves, Carolina Justi, Fernanda Inocente, Hygor Zorak, Isa Angeliotto, Izadora Amaral e Bruna Siena & Venilson Santos.

PINTURA: Exposição permanente dos trabalhos dos artistas Cristiane Inokuma, Marcos Molinari, Sara Vieira e Wagner Dantas.

MÁSCARAS: Exposição permanente com Andy Ferrari.

24 de Maio – Quinta

A partir das 20hs


MÚSICA: Paulinho Schoffen

MESA DE LITERATURA E QUADRINHOS: Alexandre Gaioto e Roberth Fabris

CINEMA: Curta-metragens de Hygor Zorak

LITERATURA: Exposição permanente dos trabalhos dos artistas Alexandre Gaioto, Ângela Ramalho, Cléia Garcia, Damien Campos, Hygor Zorak, Luigi Ricciardi, Marcelo Aires, Marcio Domenes, Marco Hruschka, Miriam Ramalho, Nelson Alexandre, Roberth Fabris, Thays Pretti e Vera Margutti.

FOTOGRAFIA: Exposição permanente dos trabalhos dos artistas Alessandra Lopes, Amanda Antunes, Ana Luíza Verzola, Bárbara Neves, Carolina Justi, Fernanda Inocente, Hygor Zorak, Isa Angeliotto, Izadora Amaral e Bruna Siena & Venilson Santos.

PINTURA: Exposição permanente dos trabalhos dos artistas Cristiane Inokuma, Marcos Molinari, Sara Vieira e Wagner Dantas.

MÁSCARAS: Exposição permanente com Andy Ferrari.

25 de Maio – Sexta

A partir das 20hs


MÚSICA: Tapa na Macaca e Corda Crua

TEATRO: Taaly Segatti "Mundo Moderno" (Chico Anisio) e "Jesus no Xadrez" (Chico Pedrosa), além de poema musicado pelo grupo Cordel de Fogo Encantado.

MESA DE QUADRINHOS E LITERATURA: Nelson Alexandre e Marco Hruschka

CINEMA: Curta-metragens de Hygor Zorak

LITERATURA: Exposição permanente dos trabalhos dos artistas Alexandre Gaioto, Ângela Ramalho, Cléia Garcia, Damien Campos, Hygor Zorak, Luigi Ricciardi, Marcelo Aires, Marcio Domenes, Marco Hruschka, Miriam Ramalho, Nelson Alexandre, Roberth Fabris, Thays Pretti e Vera Margutti.

FOTOGRAFIA: Exposição permanente dos trabalhos dos artistas Alessandra Lopes, Amanda Antunes, Ana Luíza Verzola, Bárbara Neves, Carolina Justi, Fernanda Inocente, Hygor Zorak, Isa Angeliotto, Izadora Amaral e Bruna Siena & Venilson Santos.

PINTURA: Exposição permanente dos trabalhos dos artistas Cristiane Inokuma, Marcos Molinari, Sara Vieira e Wagner Dantas.

MÁSCARAS: Exposição permanente com Andy Ferrari

26 de Maio – Sábado

A partir das 17hs


MÚSICA: Rafael Morais e Média Clássica

TEATRO: Taaly Segatti "Mundo Moderno" (Chico Anisio) e "Jesus no Xadrez" (Chico Pedrosa), além de poema musicado pelo grupo Cordel de Fogo Encantado.

MESA DE LITERATURA E QUADRINHOS: Luigi Ricciardi, Márcio Domenes e Luciano Vidal

ESCULTURA: Marcelo Monteiro

DANÇA: Larisse Farias, Dança do Ventre

CINEMA: Curta do grupo de artistas Tamires Belluzzi Freitas, Fernanda Eda, Gabriela Petrucci, Karina Azevendo e Patrícia Adrian.

LITERATURA: Exposição permanente dos trabalhos dos artistas Alexandre Gaioto, Ângela Ramalho, Cléia Garcia, Damien Campos, Hygor Zorak, Luigi Ricciardi, Marcelo Aires, Marcio Domenes, Marco Hruschka, Miriam Ramalho, Nelson Alexandre, Roberth Fabris, Thays Pretti e Vera Margutti)

FOTOGRAFIA: Exposição permanente dos trabalhos dos artistas Alessandra Lopes, Amanda Antunes, Ana Luíza Verzola, Bárbara Neves, Carolina Justi, Fernanda Inocente, Hygor Zorak, Isa Angeliotto, Izadora Amaral e Bruna Siena & Venilson Santos.

PINTURA: Exposição permanente dos trabalhos dos artistas Cristiane Inokuma, Marcos Molinari, Sara Vieira e Wagner Dantas.

MÁSCARAS: Exposição permanente com Andy Ferrari

Fonte:
http://mutiraoartisticomaringaense.blogspot.com.br/p/programacao-cultural.html

Vicência Jaguaribe (A Matrioska)


Para a Andrea,
a menina que não conseguiu
ficar com a sua matrioska.


Era a primeira vez que ia ao apartamento da amiga. Uma amiga recente, com quem se afinara. Tinham gostos muito parecidos. Naquele momento, ela lhe mostrava os cômodos, cuja decoração misturava o antigo com o moderno, mistura de que ela também gostava.

Pararam em frente a um pequeno armário de parede, afixado no espaço que ficava entre dois dos três quartos. A amiga abriu as duas portas do pequeno móvel suspenso, no interior do qual, envolvida pela quase penumbra do ambiente, ela identificou uma forma inconfundível.

— Que bonequinha é aquela, lá no fundo? — a pergunta sendo mais um desejo de confirmação do que propriamente uma tentativa de identificar.

— Ah! É uma matrioska. Linda, não?

Ela não ouviu a resposta da amiga. Ouviu a voz da avó, que vinha do passado, de um passado tão distante, meu Deus! que ela não pensava que ainda se lembrasse daquele episódio, muito menos daquela conversa.

A avó abrira a cristaleira e tirara lá do fundo uma bonequinha feita de madeira e pintada de cores vivas. Aquele mimo sempre atraíra a neta — ela sabia. Sentou na cadeira de balanço e pôs a menina no colo. Ela tinha o quê? Quatro, cinco anos... talvez seis. Entregou-lhe a boneca:

— Abra! Ela é oca. Veja o que há dentro dela.

Com muito cuidado, a menina abriu a boneca — separada que era em duas partes por um corte horizontal na altura da região dos quadris — e viu, surpresa, que dentro dela havia outra boneca menor. A avó, então, mandou que ela continuasse abrindo as bonecas menores. A menina foi abrindo, abrindo, abrindo... A cada nova boneca seus olhos demonstravam mais surpresa e encantamento. A operação continuou até chegar a uma minúscula boneca compacta. Junto com a avó ela contou: uma, duas, três... sete bonecas! E elas se encaixavam umas dentro das outras de maneira tão perfeita que quem via a maior não suspeitava que dentro dela havia outras seis bonecas. Era como se fosse um mundo dentro do outro, mas cada um existindo por si próprio, independente, sem misturar-se.

— Sei que você gosta muito desta boneca. E um dia ela será sua, mas não pode ser agora. Vai ser a sua herança. O nome dela é matrioska, palavra russa que significa mãezinha. Algumas pessoas acham que ela representa a família, sempre protegida pela mãe. Contam que essas bonecas se originaram no Oriente: um pintor artesanal russo, chamado Sergei Maliuntin, viu no Japão uma peça representando os Shichi-fuku-jin, os sete deuses da fortuna, que se encaixavam uns nos outros como as bonecas feitas hoje. Ele, então, pensou em aproveitar a ideia dos japoneses, só que fazendo bonecas representando pessoas. Fez a primeira e pintou-a como uma camponesa russa. E nasceu a matrioska.

A menina ficou toda animada. Em suas visitas à casa da avó, passava pela sala da cristaleira e demorava longos minutos olhando a sua boneca. A boneca que era sua, mas com a qual não podia brincar.

Nos fins de semana, nas férias, a menina ia à casa da avó. Uma grande casa assobradada, no Benfica, com muitas e frondosas árvores, principalmente mangueiras, nas quais ela, seus irmãos e primos gostavam de brincar. Escanchavam nos galhos mais altos e faziam de conta que estavam num campo de batalha, montados em belos cavalos árabes.

Um dia, ela teve coragem e perguntou:

— Mãe, o que é uma herança?

— Uma herança é dinheiro ou bens que a gente recebe quando morre um parente rico.

A menina ficou de cara amarrada o resto do dia. Então, a vovó ia morrer? Ela dissera que a boneca russa ia ser a sua herança. Eu não quero que a vovó morra. Mas também quero a bonequinha, ela pensava. Era um grande conflito atormentando a cabecinha da menina. E ela só tinha seis anos.

Um ano depois, a avó morreu. Enquanto a família toda chorava, a menina sentia o coração bater em um compasso diferente. E não era propriamente vontade de chorar o que ela experimentava. Mas precisava parecer triste. Ninguém podia desconfiar que ela, apesar de sentir a morte da avó, estava feliz porque ia ganhar a matrioska. Três dias após o enterro, o pai chamou-a para ir com ele à casa do Benfica. A menina alegrou-se como se o pai a tivesse convidado para ir a um parque de diversões. Pronto, chegara o dia de receber a desejada herança. Era só abrir a cristaleira e de dentro dela tirar aquele mimo que tanto a fascinava.

Parou em frente ao móvel, mas antes de abri-lo olhou para a sua boneca. Quase desmaia. A matrioska não estava mais em seu lugar. E as lágrimas começaram a escorrer. E os soluços se fizeram ouvir por toda a sala. Os adultos a cercaram e tentaram consolá-la pela morte da avó. E quanto mais a família tentava consolá-la, dizendo que a vovó estava no céu, mais ela chorava. Chorava e sentia remorso: ela não chorava pela avó, chorava pela matrioska, que não mais seria sua. Alguém se antecipara e achara-se no direito de ficar com a sua boneca. E todas as vezes em que a família se reunia no casarão do Benfica ela chorava. Chorava pela boneca, mas todos pensavam que era pela avó. Ela sentia vergonha e remorso daquelas lágrimas.

— Uma matrioska! Foi sempre meu sonho possuir uma dessas bonecas. — Só agora ela respondia à observação da amiga.

A amiga impressionou-se com o tom de sua voz e com o ar triste e desconsolado que lhe cobria o rosto. Tirou a matrioska do armário e a pôs em suas mãos.

— Pronto. A boneca é sua.

Ela não pôde de imediato agradecer à amiga, porque estava novamente sentada no colo da avó, que lhe contava a história da matrioska e lhe dizia o que ela sempre quisera ouvir:

— Sei que você gosta muito desta boneca. E um dia ela será sua, mas não pode ser agora. Vai ser a sua herança. O nome dela é matrioska, palavra russa que significa mãezinha...

Fonte:
Câmara Brasileira de Jovens Escritores. Painel 2012 de Novos Autores Brasileiros - Contos - Maio de 2012

Nilto Maciel (Naomar de Almeida: O Homem como Natureza)


À medida que o tempo passa mais o homem se distancia do animal. E se aproxima da máquina. Em alguns mitos o animal chegou a ser divindade, como o fauno. Também entre os indígenas brasileiros vamos encontrar mitos em que o homem se confunde com o animal, como a caipora, gênio protetor dos animais.

Gisé, que ilustrou Ernesto Cão, visualizou magistralmente a personagem ambígua de Naomar de Almeida. A personagem aparece em flashes. Sendo uma história fragmentada (espelho estilhaçado), é composta também de fragmentos de muitas histórias de um cidadão comum que se enamora, se casa, trabalha, dirige carro. Na sua essência, um ser incomum que se perde nas ruas e nos becos, atraindo os cães da cidade. Diferentemente de Quincas Borba, que são dois: o homem e o cão, Ernesto é um ser dividido, espécie de Gregor Samsa em estado de pré-metamorfose. Homem-cão.

Diz-se metáfora o livro de Kafka. Entretanto, não se denominam assim as histórias fantásticas na literatura de cordel. Quem sabe, o criador de Joseph K. quis simplesmente escrever uma história extraordinária?

No capítulo final do Quincas Borba, Machado argumenta: “Mas, vendo a morte do cão narrada em capítulo especial, é provável que me perguntes se ele, se o seu defunto homônimo é que dá o título ao livro” (...) Naomar evitou a pergunta e deu ao seu romance o duplo título: Ernesto Cão. Não evitou, porém, a “questão prenhe de questões, que nos levariam longe”, como diz Machado no mesmo final do romance. Porque, quem há de dar resposta única a uma pergunta como esta: Ernesto era cão?

Como as divindades e os gênios, certos personagens são multiformes. Em alguns casos, porque os mitos variam de região para região. Em outros, porque, na narrativa em que o modo de narrar importa mais do que o tema, a personagem tende a se tornar como as cores na escuridão – e vai se “formar” segundo a “visão” de cada leitor.

Na idade dos reatores atômicos, qual o significado da caipora? Apenas muito maior do que quando os próprios índios cometiam o crime de fazer da caça mais do que uma forma de sobrevivência. Quando o homem se distancia cada vez mais do animal e da natureza, a história de um homem que adquire a natureza canina significa uma lição diante do desespero geral.

Fonte:
Nilto Maciel

2º CIELLI da UEM/PR (Resumo de Simpósio de Estudos Linguísticos) Parte 1


2º CIELLI - Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários

O resumo havia sido publicado na UEM em parágrafo único, mas para facilitar a leitura dos leitores do blog, dividi em parágrafos.

1
Edson Rosa Francisco de Souza
Ana Cristina Jaeger Hintze
A GRAMÁTICA DISCURSIVO-FUNCIONAL E OS ESTUDOS DE GRAMATICALIZAÇÃO - INTERFACES POSSÍVEIS


O objetivo deste simpósio é reunir diferentes estudos de orientação funcionalista que vêm sendo desenvolvidos por pesquisadores brasileiros. Especificamente, o propósito dos trabalhos é discutir questões de mudança gramatical/semântica em diferentes unidades linguísticas (orações, verbos, conjunções, advérbios), a partir de princípios teóricos provenientes tanto da Teoria da Gramaticalização (HEINE et alii, 1991; HOPPER & TRAUGOTT, 1993; TRAUGOTT, 1995, 1999; TRAUGOTT & KÖNIG, 1991; BYBEE et alii, 1994; BYBEE, 2003) quanto da Teoria da Gramática Funcional (DIK, 1997; NEVES, 2000; HENGEVELD & MACKENZIE, 2008).

Em termos gerais, a gramaticalização (GR, doravante) é definida aqui como um processo de mudança linguística de caráter unidirecional, no interior do qual itens ou “construções lexicais” (HOPPER & TRAUGOTT, 1993; TRAUGOTT, 2003) passam a exercer funções gramaticais ou, se já gramaticalizados, continuam a desenvolver funções ainda mais gramaticais. Trata-se de um processo de mudança linguística que pode afetar, de diferentes formas e em diferentes graus, a fonologia, a morfologia, a sintaxe e a semântica das línguas naturais. Como afirmam Traugott e Heine (1991), pode-se dizer que o termo se refere à parte da teoria da linguagem que tem por objeto a interdependência entre langue e parole, entre o categorial e o menos categorial, entre o fixo e o menos fixo na língua.

Na verdade, o estudo da gramaticalização põe em evidência a tensão entre a expressão lexical, por exemplo, relativamente livre de restrições, e a codificação morfossintática, mais sujeita a restrições, salientando a indeterminação relativa da língua e o caráter não discreto de suas categorias.

As análises aqui propostas, portanto, devem ser compreendidas como manifestações complexas que concebem as atividades linguísticas de sujeitos que, primordialmente, partem de escolhas comunicativamente adequadas e operam as variáveis dentro de condicionamentos ditados pelo processo de produção de enunciados em condições reais de uso. Ou seja, as investigações avaliam as condições dessas escolhas para o cumprimento de determinadas funções; as condições de produção dessas estruturas; as estratégias e os elementos que efetivamente operam para a construção textual/discursiva. Nesse caso, considera-se tanto a mudança que ocorre devido ao aumento gradual da pragmatização do significado, (inferência) quanto a que ocorre mediante o aumento de abstratização do item linguístico (estratégias metafóricas), evidenciando um processo que vai do uso mais concreto para um uso mais abstrato-expressivo.

Assim, considerando-se os pressupostos teóricos da Gramática Discursivo-Funcional, que muito se assemelha à proposta de Traugott e Hopper e Traugott, e que têm servido como modelo de descrição gramatical e interpretação do processo de mudança linguística, aceitam-se, no presente simpósio, trabalhos que possam apresentar e caracterizar esta possível interface. Mediante tais análises, objetiva-se compreender como as regularidades de certas escolhas podem alterar o sistema linguístico.

2
Alba Maria Perfeito
Terezinha da Conceição Costa-Hübes
CONCEPÇÃO INTERATIVA DE LINGUAGEM E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: ABORDAGENS E REFLEXÕES TEÓRICO-PRÁTICAS


Entende-se neste simpósio, de acordo com as OCEM (2006) que a política curricular deve ser interpretada como manifestação de uma política cultural, ao selecionar conteúdos e práticas de uma determinada cultura para serem abordados na instituição escolar. Isso implica, no que tange à disciplina de Língua Portuguesa na educação básica, a construção gradativa de saberes textuais, que circulam socialmente, no apuro das práticas de leitura e de escrita, de fala e de escuta e no desenvolvimento da capacidade de reflexão sistemática sobre a língua e a linguagem, em contínua ampliação, com a clareza de que, em um mundo de rápidas transformações, o aluno deve tornar-se sujeito construtor de sua história.

A linguagem, nesse sentido, deve ser concebida como meio de interação, como local das relações sociais em que homens atuam como sujeitos, ou, mais apropriadamente, constituem-se sujeitos. Em consequência, compreende-se que o papel da disciplina em questão é o de oportunizar ao discente, por meio de ações sistemáticas, o desenvolvimento das atividades de produção de linguagem em diversas situações interativas, perpassando formas de funcionamento da língua e modos de expressão da linguagem, ao construir seus saberes linguísticos em diferentes contextos.

Nessa perspectiva, faz-se necessário salientar, em termos de teorias linguísticas subjacentes, que a concepção de linguagem em foco recebeu contribuições de várias áreas de estudos mais recentes, buscando analisar a linguagem em situação de uso, como a Teoria da Enunciação de Benveniste, a Pragmática, a Semântica Argumentativa, a Análise da Conversação, a Análise do Discurso, a Linguística Textual, a Sociolingüística, a Enunciação Dialógica de Bakhtin. É relevante observar, inclusive, que, historicamente, há aproximadamente trinta anos, no Brasil, discute-se a visão interativa para o ensino, seja por meio da teoria piagetiana, na relação sujeito-objeto de ensino, seja pela vigostskiana: sujeito - mediador - via signo (ideológico).

Mais especificamente, em termos Língua Portuguesa, a concepção interativa no ensino foi inicialmente proposta, no país, por Geraldi (1984), sobretudo, na integração, sem artificialidade, das práticas de leitura, análise linguística, de produção e refacção textuais – fundamentado, no caso, pela teoria bakhtiniana. Após perpassarem documentos estaduais, na década de 90 do século passado, os estudos geraldianos e de seguidores foram incorporados e/ou ampliados/redimensionados em documentos nacionais e regionais e, nesse contexto, pesquisas teórico-práticas foram/são efetuadas em instituições de ensino superior.

É com essa breve configuração de abordagem da visão interativa da linguagem que se pretende no simpósio:

i) constituir um espaço congregador de propostas de ensino de Língua Portuguesa, na educação básica, que integrem as práticas de leitura, análise linguística e produção textual, subsidiadas pela concepção de linguagem em pauta;

ii) propiciar a reflexão sobre a heterogeneidade das perspectivas teóricas subjacentes à prática;

iii) analisar o processo de didatização, o qual envolve rupturas, deslocamentos e modificações - sendo, pois, (re)significado no contexto da ação.

3
Fernando Felício Pachi Filho
Renata Marcelle Lara Pimentel
DISCURSIVIDADES EM DIFERENTES SUPORTES MIDIÁTICOS


Este simpósio visa questionar se é possível delinear formações discursivas em que se inscrevem os diversos acontecimentos na mídia em relação aos suportes em que as informações circulam, sejam eles digitais, impressos ou eletrônicos, ou seja, busca-se explorar discursividades midiáticas, sejam elas impressas ou digitais, de acordo com as potencialidades específicas dos meios. Dessa forma, admiti-se a instabilidade dessas formações, sua permeabilidade e contradições que se formam em seu interior, que permitem a constituição de novos sentidos.

A produção de sentidos vincula-se às possibilidades enunciativas em períodos históricos, em relação ao que é dito, a sentidos anteriores, a não-ditos, ou seja, às condições de produção, entre as quais o suporte em que se inserem os enunciados. Há ainda uma variação do sentido que deve ser captada no movimento da história e da linguagem. Esta variação só é possível porque há rupturas nos sentidos dominantes, falhas (bloqueios da ordem ideológica) que abrem à possibilidade de polissemia, deslocando sentidos e fazendo emergir o novo, o diferente, o ressignificado, o reformulável. Pergunta-se, portanto, se e como o suporte midiático deve ser levado em conta em análises não apenas em termos de condição de produção dos discursos, mas também como determinantes para a constituição de novos sentidos, logo de formações discursivas.

A observação e análise dos diversos suportes midiáticos, em termos comparativos, permite compreender o funcionamento dos discursos, delimitando-se como as interpretações para os acontecimentos são constituídas. Pretende-se, dessa forma, compreender como objetos simbólicos, por definição não-transparentes, produzem sentidos, e os gestos de interpretação realizados pelos sujeitos. Tendo em vista que a formação de corpus é também uma construção do próprio analista, que seleciona o material de acordo com os objetivos de sua análise, questiona-se se, corpus abertos, formados com materiais de diferentes suportes midiáticos, apresentam propriedades discursivas diferentes ou semelhantes.

Além disso, busca-se compreender como os sentidos são homogeneizados em determinadas formações, de acordo com o jogo de forças presentes na sociedade, cristalizando interpretações em relação a formações ideológicas que as sustentam. As temáticas de interesse para este simpósio envolvem, entre outros, sujeitos, formações discursivas e ideológicas, memória e insconsciente, contradição e resistência. A explosão tecnológica e o acesso a dispositivos de tecnologia (celulares, laptops, etc.) levaram a uma potencialização crescente de produtores informais de enunciados midiáticos na internet e também fora dela e/ou não diretamente ligada a ela, mas que também se inscrevem como co-participantes das mídias impressas e eletrônicas (jornais, revistas, etc.). Ocorre, assim, uma fragmentação crescente dos discursos produzidos no espaço público.

Frente a isso, situa-se o interesse pelo funcionamento de discursos possíveis e em circulação em novos ou nos mesmos formatos, repetíveis, reorganizados e/ou modificados, ressignificados ou não.

4
Pedro Navarro
Carlos Piovezani
DISCURSO E SUJEITO: ABORDAGENS TEÓRICO-ANALÍTICAS EM TORNO DA SUBJETIVIDADE, DO CORPO E DA FALA PÚBLICA


Este simpósio, intitulado Discurso e sujeito: abordagens teórico-analíticas em torno da subjetividade, do corpo e da fala pública, tem por finalidade congregar pesquisadores que se debruçam sobre questões concernentes à formulação e à produção de discursos circulantes em espaços institucionais e em textos midiáticos. Assim, os trabalhos a serem apresentados devem girar em torno de dois eixos centrais à Análise de Discurso, quais sejam: o discurso visto como objeto histórico e em diferentes materialidades e o sujeito e as práticas discursivas de produção de identidades e de subjetivação.

Sobre o primeiro eixo, à concepção tão cara de discurso como algo da ordem da história e da língua, somam-se abordagens teóricas que consideram não somente o linguístico como parte integrante dos processos discursivos, mas também o nível imagético e sonoro. Nesse sentido, o caráter semiológico do enunciado, tal como podemos concluir do texto d’A arqueologia do saber, de Michel Foucault (1972) e as pesquisas empreendidas por Jean-Jacques Courtine (2008; 2006), sobre a história do corpo e da fala pública, configuram, atualmente, importantes dispositivos teóricos e metodológicos, com os quais é possível descrever discursos, não perdendo de vista a dispersão enunciativa que lhes é própria e a heterogeneidade de linguagens por meio das quais eles se realizam como acontecimento singular e repetível. No que concerne às pesquisas sobre a produção de subjetividade na relação com os jogos de saber/poder, considera-se oportuno discutir a produção de subejtividades, em um contexto marcado pela desestabilização das velhas identidades sólidas e pela liquidez das formações discursivas.

De um ponto de vista genealógico, a concepção de história em Foucault, pautada na filosofia de Nietzsche, não toma para si a tarefa de reencontrar aquilo que poderia ser raízes de nossa identidade. Pelo contrário, a função dessa história genealogicamente dirigida é dissipar aquilo que liga os homens a uma identidade, ao fazer aparecer todas as descontinuidades que os atravessam.

O alcance dessa perspectiva histórica para as análises discursivas impõe projetos de pesquisa que promovam uma espécie de dissociação sistemática das imagens de identidade que se projetam sobre os sujeitos, se consideramos, como o faz Foucault, que a identidade que tentamos assegurar e reunir sob uma máscara não passa de uma paródia: o plural a habita, inumeráveis almas nela disputam; sistemas se entrecruzam e dominam uns aos outros. Nesse sentido, esse segundo eixo contempla tanto a análise dos dispositivos de subjetivação, que, nos discursos, transformam os indivíduos em objeto e sujeito de um saber, por meio da regulação e do controle da vida, quanto as tecnologias do eu, por meio das quais se produz, discursivamente, a ideia de um sujeito “cuidadoso de si” (FOUCAULT, 1984).

Espera-se, assim, criar um espaço em que se discutam questões relativas à constituição, formulação e circulação de diferentes materialidades discursivas, bem como proporcionar debates acerca da produção do sujeito, a partir de enunciados que circulam nos meios de comunicação de massa.

Fonte:
http://www.cielli.com.br/programacao_geral

sexta-feira, 18 de maio de 2012

A. A. de Assis (Estados do Brasil em Trovas) Sergipe

Wagner Marques Lopes / MG (O PERDÃO em trovas), parte 8


29
Quem da luz se assenhoreia,
perdoando, incontinente,
traz na alma, em Lua cheia,
a bondade por presente.

30
Tem muita gente que pensa:
“O perdão é covardia”;
mas ele faz diferença –
sem ele, a guerra se amplia.

31
Forte chuva de granizo –
as plantações ressentidas.
O ódio traz prejuízos,
conturbando nossas vidas.

32
Quando a calúnia aparece
com seu chocalho estridente,
elevo a Deus uma prece;
abro o passo... E sigo em frente!

Fonte:
Trovas enviadas pelo autor

Ricardo Azevedo (Histórias que o Povo Conta) O Gambá e o Jarro de Leite


CONTO DE SABEDORIA

Também chamado de conto de exemplo. Apresenta, claramente, uma lição para a vida. Quase todos os contos populares fazem isso, mas no caso dos contos de sabedoria é mais evidente. É o que você vai perceber na história a seguir, que fala de um gambá muito sonhador.


O GAMBÁ E O JARRO DE LEITE

O gambá vivia escondido num buraco em cima de uma árvore.

Toda noite, depois que o fazendeiro ia dormir, o danado saía da toca e desandava a fazer coisa errada. Roubava e comia as frutas do pomar. Entrava na cozinha e bebia cachaça.

Brigava com o gato. Arrombava a porta do galinheiro, chupava os ovos e ainda matava um monte de galinhas.

Um dia, o gambá encontrou um jarro cheio de leite e logo teve uma idéia. Mandou fazer um paletó, botou o jarro na cabeça e foi embora para a cidade.

"Vou trocar o jarro por duas dúzias de ovos", pensou o gambá. "Dos ovos vão nascer vinte e quatro pintinhos. Os pintinhos vão crescer e virar vinte e quatro frangos. Vou vender meus frangos e com o dinheiro compro um boi e três vacas."

O gambá sorria andando pela estrada de terra com o garrafão no alto da cabeça.

"Do boi e das três vacas vão nascer muitos e lindos bezerrinhos. Vou criar os bezerros para vender e depois comprar mais bois e mais vacas. Quando a minha criação de gado ficar bem grande, vendo tudo e compro uma fazenda."

O gambá sonhava.

"Minha fazenda vai ser das grandes."

E o bicho andava, e andando via a fazenda na sua frente.

"Ali", apontava ele com o dedinho no espaço, "vai ser o pomar cheio de frutas deliciosas". "Mais pra lá", mostrava ele com a outra mão, "vou construir um curral. Em cima daquele morro, assim, vai ser o pasto para a criação de gado.

Minha casa vai ficar bem ali, perto do lago. Vou ter ovos, pois pretendo construir um galinheiro."

O gambá ria sozinho:

"Vou ficar rico. Vou ter um baú cheio de dinheiro".

E ria mais:

"Fora isso, vou mandar plantar bastante cana para fazer cachaça só para mim!".

E o malandro já se imaginava de bota de couro e chapéu de abas largas, fumando charuto e andando para lá e para cá, mandando e desmandando na sua fazenda imensa.

Sonhou tanto que acabou tropeçando numa pedra. O jarro escorregou e se espatifou no chão.

O gambá ficou parado olhando o leite derramado. Depois, voltou para o seu buraco em cima da árvore, pegou uma violinha de dez cordas e cantarolou:

Minha gente eu tive um sonho
Quis do nada fazer renda
Sonhei que de um simples jarro
Eu tirava uma fazenda

Sem trabalho nem esforço
Só na manha e na moleza
Quis ter dinheiro e fortuna
Que ser rico é uma beleza!

Mas foi tudo uma miragem
Bem no meio do caminho
Bem no meio da viagem
Uma pedra fez seu ninho

Que tristeza, minha gente
Por causa de um tropeção
Lá se foi minha esperança
Meu sonho quebrou no chão

Adeus, frutas do pomar
Adeus, gado e galinheiro
Adeus, fazenda e cachaça
Adeus, baú de dinheiro

Agora vivo a cantar
Que chorar não me consola
Perdi fazenda e dinheiro
Mas guardei minha viola!

Fonte:
Azevedo, Ricardo. Histórias que o povo conta : textos de tradição popular. São Paulo : Ática, 2002. - (Coleção literatura em minha casa ; v.5)

Esopo (Fábula 14: Os Galos Brigões e a Águia)


Uma vez, dois galos travaram um duelo para se decidir qual havia de ser o rei da capoeira. Por fim, um deles venceu o outro, que fugiu para um canto e se escondeu. O outro voou para cima do telhado da casa e fez um grande alarido, cantando e batendo as asas, a fim de celebrar a vitória.

O ruído atraiuuma águia, que desceu a pique e levou o galo. Como resultado, o outro galo tornou-se o rei da capoeira.

Moral da história

O vencedor duma disputa deveria ser sempre modesto na vitória, porque nunca se pode ter a certeza do que virá a seguir.


Fonte:
Fábulas de Esopo. Coleção Recontar. Ed. Escala, 2004.

2º CIELLI da UEM/PR (Resumo de Simpósio de Teoria Literária) Parte 5


2º CIELLI - Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários

O resumo havia sido publicado na UEM em parágrafo único, mas para facilitar a leitura dos leitores do blog, dividi em parágrafos.

24
Alba Krishna Topan Feldman
Sérgio Paulo Adolfo
TRANSCULTURAÇÃO E HIBRIDISMO EM LITERATURAS PÓS-COLONIAIS


Na sociedade atual, especialmente nos últimos séculos, observa-se que o sonho da cultura ideal ou mesmo da raça pura se desvaneceu em um conjunto de contatos, quase nunca pacíficos e certamente marcantes, entre culturas e etnias originado do fenômeno que se desenvolveu, principalmente, no século XVI, sendo denominado como ‘colonização’. Dentre estes contatos, pode-se mencionar o encontro do colonizador com os nativos ditos ‘selvagens’ das Américas, Caribe, África, etc., além da descoberta de civilizações já constituídas socialmente há vários séculos, como a China e a Índia.

Tais encontros propiciaram o desenvolvimento de novas relações não só interpessoais, mas também, no que diz respeito à cultura, costumes e políticas sociais dentro das novas comunidades, sem contar o aspecto biológico, responsável pelo surgimento da miscigenação e hibridismo. Entretanto, as transformações não operaram apenas no âmbito do colonizado; o mesmo ocorreu nas sociedades colonizadoras quando os sujeitos coloniais passaram a fazer parte delas através das diásporas causadas pela própria colonização.

A proposta deste simpósio é a análise de aspectos que se tocam, se modificam e que favorecem o surgimento de indivíduos cujas identidades dialogam com outros universos culturais e experiências pós-coloniais, identidades estas, invariavelmente fragmentadas pelas questões decorrentes dos processos de inclusão/exclusão coloniais fundamentados principalmente pelo fator dérmico e, consequentemente, pelo desrespeito às diferenças, tanto na literatura em língua portuguesa quanto em língua inglesa. Para isso, considera-se a construção da identidade em ambientes de transculturação, conforme o abordado por Pratt, os aspectos de hibridismo discutidos por Bhabha e aspectos de estudos sobre a identidade desenvolvidos por diversos críticos, como, por exemplo, Hall.

A definição do termo pós-colonial, sob esse viés, torna-se mais abrangente, referindo-se ao conjunto de ideologias subjacentes aos processos de colonização e dominação, além do discurso do Outro, calcado na representação negativa do termo \"differance\", desenvolvido por Derrida. Esse simpósio pretende discutir de que maneira os textos narrativos, poéticos, descritivos ou testemunhais representam os conceitos aqui expostos, e como demonstram a identidade em um contexto cada vez mais amplo de zona de contato, que, por vezes se mostra hostil e árido, levando em consideração as consequências advindas da ação colonizadora no que concernem todos aqueles sujeitos envolvidos nesse processo, sejam eles, homens ou mulheres, colonizados ou colonizadores.

Procura-se explorar, por meio da literatura pós-colonial, o modo como os sujeitos agem dentro de contextos multiétnicos e multiculturais para compreender, dessa forma, quais os efeitos provocados nas sociedades influenciadas pelo aparato colonial desde seus primórdios.

25
Jaime Ginzburg
Alamir Aquino Corrêa
VIOLÊNCIA E TRISTEZA NA NARRATIVA DE FICÇÃO DO SÉCULO XX


Um dos temas mais constantes da literatura é aquele da tristeza, quase imensurável, muitas vezes resultante do espaço da violência. A tônica que permeia queixas, lamentos e dores passa por perdas, depressões e estados melancólicos. A proposta do simpósio é discutir o tom lamentoso e tristonho em textos narrativos no recorte temporal do século XX, por seu aspecto mais revelador da emoção com toques de reflexão, especialmente em narrativas autodiegéticas, com particular interesse sobre as relações entre autoritarismo e violência.

Questões sobre o sentido da vida e sua representação estética, as profundidades dialéticas na relação matéria/espírito sobre a finitude, a memória dilacerada pela ausência do outro e a voz diante da violência são exemplos de abordagem comparatista. Deve predominar a leitura de textos enquanto textos, sem desprezar a fortuna crítica, fundada na detecção de relações intra e intertextuais; ou seja, o aparato teórico deve ser menos importante/evidente que a explicação do texto artístico.

Entre vários textos de suporte teórico, oriundos da Antropologia , da Sociologia, da Filosofia, da Psicologia/Psiquiatria ou da História, lembramos entre vários de Edgar Morin, Philippe Ariès, Norberto Elias, Mircea Eliade, Nicole Loraux, Sigmund Freud, Carl Jung, Georg Friedrich Hegel, Martin Heidegger, Abram Rosenblatt, Hannah Arendt, Primo Levi e Giorgio Agamben. Há de se tomar como premissa que o advento do Romantismo leva a percepção do tempo para outro nível - o do mundo que deveria ter sido. A tônica da fundação das nações modernas com a necessidade de construção de um pai e de uma mãe novos - um passado que possa ser glorificado a justificar o presente - vai encontrar especialmente na prosa de ficção o campo apropriado para sua efetivação. Por outro lado, essa relação com uma nova mátria ou pátria e sua afirmação também sinaliza embates entre o indivíduo e a vontade do Estado.

Há uma desvinculação do passado, substituído por outro - imaginado como objeto de consolação também. O olhar de Orfeu para o passado faz com que ele tenha de procurar, por compensação, outra saída, uma outra história, um outro tempo. A perda é irrecuperável - aquele passado não pode mais estar presente, pois não mais pertence ao mundo, Eurídice se desvincula por completo do mundo de Orfeu. Não mais em busca de uma glória divina, não mais a imagem e semelhança de Deus, há de se buscar no passado um Outro. A tristeza ou a melancolia daí resultante, própria de um passado idealizado e irrealizado, provoca a contemplação do mundo que deveria ter sido - o distanciamento ou a fuga dolorida em direção ao passado pensado se torna a saída compensatória diante do mundo que é. Busca-se assim ler o passado, não mais com a sua força normativa, para sustentar a compreensão histórica das coisas.

O mundo perfeito, idealizado da Antiguidade, não existe mais; imitar é normatizar, mas nisso reside a impossibilidade, pois não é possível reproduzir. No século XX, a prosa de ficção se torna cada vez mais capaz de lidar com o inimaginável - a ausência de consolo futuro diante da industrialização da guerra e seu forte conjunto de interesses econômicos, e com o imponderável - a presunção de fruição da arte e o desprezo pelo homem. As atitudes ou emoções são o arrependimento, o pesar, a confusão, a raiva, a ansiedade, a dúvida, a alienação e o desespero. Se a morte por si já era um mundo contrário aos desejos, as perdas e embates no século XX tornam tudo inconsolável, o que exige da voz literária uma dureza acima das forças antes pensadas.

Fonte:
http://www.cielli.com.br/programacao_geral

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A. A. de Assis (Estados do Brasil em Trovas) Santa Catarina

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Entre Poetas)


Caríssimos amigos e queridas amigas.

Hoje estamos apresentando mais um projeto do site www.sardenbergpoesias.com.br.

O objetivo desse projeto é divulgar poesias de amigos que possuem trabalhos no nosso site bem como de novos poetas que vamos conhecendo durante nossa caminhada.

Hoje temos conosco os seguintes poetas:

Antonio Manoel Abreu Sardenberg
Yeda Araújo Pereira
Zz Couto
Amilton Maciel Monteiro
Ciducha
Roberto P. Acruche.
Sandra Lúcia Ceccon Perazzo
Maria Nogueira Martinelli
Marise Ribeiro
Edla Feitosa Costa

Espero que gostem e nos ajudem a repassar esse projeto que é de todos nós.

Um abraço terno e amigo.
Antonio Manoel Abreu Sardenberg

Encruzilhada
ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG
São Fidélis "Cidade Poema"


Na encruzilhada da vida,
A dúvida bate tão forte
Que a gente perde o norte,
A reta, a rota, o rumo...
Perde o equilíbrio, o prumo,
O tino, o jeito, o porte.
Perde o fio da meada
E, para achar a estrada,
É preciso muita sorte.
=========
A razão com seu jeitinho
Fala pra gente baixinho
Qual o caminho mais certo,
Qual o atalho mais perto,
Onde fica o paraíso!
Aí vem o coração
Cheio de sonho e paixão
A discordar do juízo...
============
A incerteza aparece.
Nosso peito então padece,
Sem saber a quem ouvir.
E pra gente se encontrar,
Aonde devemos ir?
==============
Vamos partir para o norte,
O leste, o centro, o oeste
Ou esperar que, na noite,
Naquele céu todo azul
Brote o cruzeiro do sul
Nos apontando ao certo
O nosso porto seguro
E nos tirar do apuro,
Nos resgatar do deserto
===============
E com a lição aprender
Que, em toda encruzilhada,
Há uma direção errada,
E outra que é a certa,
Que nos conduz a chegada!

Quem Sou
YEDA ARAUJO PEREIRA


Em meio à multidão um exemplar apenas,
perdida entre olhares dispersos e distantes...

Mas sou única... Isto sim...
Eis o fato relevante!

Sou inédita a cada novo dia,
a cada instante... Assim como Você!

Minha história é única também...
Intransferível...

Ninguém mais viveu mesmo destino...
Ninguém mais trilhou idênticos caminhos...

Nenhum amor igual aconteceu por aí...
Nenhuma saudade teve a mesma dor...

Outro passado não tem iguais lembranças...
Outro futuro não será da mesma cor...

Minhas alegrias tão minhas!
Minhas tristezas também!

Até mesmo minhas crenças são originais,
ainda que meu Deus seja o mesmo pra Você!

Em meio à multidão, entre olhares dispersos e distantes,
sonho algum será igual ao sonho meu!

Quero Você
ZZ COUTO


Na incerteza do tempo,
viver mesmo que seja,
um curto momento,
sem juramento,
nem testamento,
em torno de ansiedades
e sem saudades...
Quero ficar com você!

Fazer da vida uma alegria,
um pacto de amor profundo
em busca de meus sonhos,
rumo ao não sei onde,
num vai e vem que não tem fim...
Só para ficar com você!

Quero sentir bem fundo,
num sorriso... num olhar...
Num beijo jogado no ar,
numa procura incessante
sem deixar de te pertencer...
Apenas quero você!

Abriguei-me nas
lembranças do vivido,
crendo haver te esquecido...
E mais e mais perto ficando,
eu de ti... pobre de mim...
Se a vida não é minha,
como querer você?

Parte de Nós
AMILTON MACIEL MONTEIRO/SP


Criar poema é qual plasmar um filho;
lhe damos todo o amor que houver na gente,
mas, depois que soltamos seu anilho,
quem toma conta dele... é o Onipotente.

Também, quando criamos sonetilho,
queremos que ele seja convincente,
correto, puro e tenha certo brilho;
... nem sempre ocorre isso, infelizmente.

Mas não importa. O que conta é só amá-lo!
Quer fique lindo, ou mesmo um pouco feio,
de porte soberano, ou de vassalo;

Pois é parte de nós, porção de amor,
que quisemos doar ao nosso meio,
por vocação do próprio Criador!

Divagando...
CIDUCHA


No tempo
no ontem
no passado...
- O que restou?
Apenas imagens amareladas
semi apagadas
velhos retratos,
e uma saudade
sem fim!

Queria que acontecesse alguma coisa,
que algo absorvesse meus pensamentos,
queria dominar as horas,
não cultivar mais demoras,
acima de tudo, queria libertar-me
das piores recordações do passado.
Mas minhas melhores recordações
são de um tempo
em que o sol brilhava
diuturnamente ...

Recordo-me dos amores
e recordo-me de um deles em especial ..
que fez especial a minha vida,
meus melhores momentos...

Mas tudo se transforma em esquecimento!
Até mesmo as lembranças...
vão fraquejando lentamente,
tornando-se transparentes...
diferentes...
até que não as reconheço mais.
E então fico mais só ainda!
Mais só...
só...
só...

Brumas da Velhice
ROBERTO P. ACRUCHE.


Os anos passam correndo,
e eu acumulando idade,
os cabelos brancos aparecendo,
desfigurando a face da mocidade.
Minha alma insiste, remoça!...
Resiste o tempo e não envelhece.
A dor chega, o corpo padece...
-Deveras!

É só saudade das primaveras,
que precederam a de agora...
E nesta hora:
Inédito encanto
livra-me do pranto
renovando-me a esperança
com um riso de moço.

Entretanto:
A idade avança,
atinge a minha alma
que cansa
depois de tanto esforço...
Fazendo-me sentir as brumas da velhice!

Partida e Chegada
SANDRA LÚCIA CECCON PERAZZO


Pousou serena sobre a flor
Brincou com o vento
Partiu invisível
Deixou sua sombra
Que ficou amando a luz da flor
Chegou brilhante
No mundo fantástico das borboletas...

Fim do amor
MARIA NOGUEIRA MARTINELLI
(Sapeka)


Palavras amargas, ecoando a solidão,
despertando velhos fantasmas há tanto tempo esquecidos,
abrindo antigas feridas, escondidas no canto escuro do coração.

Velhas lembranças... a lágrima ainda é a mesma,
ardendo lentamente, corroendo aos poucos os resquícios da ilusão,
como se assim pudesse lavar qualquer vestígio do amor.

A tristeza também é a mesma companheira que já seguiu junto,
conhece bem o longo caminho, insiste até virar uma lembrança
adormecida, a espera de um outro final de amor.

Os sonhos são esquecidos, esses são os primeiros que partem,
deixando apenas a vaga sensação de que um dia existiram,
não deixam promessas de retorno,... apenas abandono.

É o retrato do amor que se esvai em pinceladas de dor,
em cada palavra dita e repetida em ecos de amarguras,
relembradas em todos os momentos de solidão.

Disfarce
MARISE RIBEIRO


Passo a mão na face,
camuflo o riso da derrota,
riso nervoso, impreciso, sem siso...
Desvio o olhar para o lado,
olhar desnivelado, distraído, traído...
Mascaro a dor, deixo-a incolor,
desmaio no disfarce o temor...
Ergo a fronte como se fosse um monte
apontando ao norte...
... e só assim encaro a morte.

A Palavra
EDLA FEITOSA COSTA


A palavra permanece presa
No cárcere do pensamento
A boca cala
A mão só afaga.

Um dia a palavra cresce,
Transcende, extrapola, escapa.
A boca fala
Então a mão escreve.

A palavra, agora,
Que já foi pensada,
Depois falada
Se transforma em palavra escrita.

Fonte:
Colaboração de A. M. A. Sardenberg

Wagner Marques Lopes/MG (O PERDÃO em trovas), parte 7


25
Sol vibrante das manhãs -
esperança das colheitas,
o perdão em seus afãs
tornando as almas perfeitas.

26
(A neve... O gelo...) – o bloqueio...
Deixando as gentes retidas.
O perdão – o sol em cheio
liberando quantas vidas!

27
Há quem condene o lugar
de destaque do perdão,
mas treme só em pensar:
pedi-lo... E obter um não.

28
Tem brilho aquele minuto,
expressão mais radiosa,
quando o perdão, resoluto,
vence o espinho... E colhe a rosa.

Fonte:
Trovas enviadas pelo autor

Ricardo Azevedo (Histórias que o Povo Conta) A Tartaruga e a Fruta Amarela


CONTO DE ORIGEM

Esse tipo de história sempre tenta explicar como surgiu alguma coisa. Nisso, relaciona-se com os mitos, narrativas religiosas que contam como os deuses fizeram o mundo, como apareceram os homens, os animais, as plantas e tudo o que é conhecido.


A tartaruga e a fruta amarela

O tempo era de seca. O calor estava de rachar pedra. Sem chuva, a floresta quase secou. A bicharada andava para lá e para cá cheia de fome e de sede.

Um dia, ninguém sabe como, apareceu uma árvore carregadinha de frutas. As frutas eram lindas e amarelas mas os bichos ficaram com medo.

- E se for azeda? - disse o papagaio.

- E se for venenosa? - disse o macaco.

- E se for feitiço? - disse a capivara.

Com água na boca, a bicharada olhava aquelas frutas madurinhas mas ninguém tinha coragem de experimentar.

- A gente não pode comer a fruta sem saber o nome dela - ensinou a coruja.

Então, os bichos fizeram uma reunião e escolheram a anta.

- Vá até o céu - pediram eles -, e pergunte a Deus qual o nome dessa fruta.

A anta foi e Deus explicou tudo direitinho. Para não esquecer o nome da fruta amarela a anta voltou do céu cantando:

Carambola, carambola
Não posso esquecer seu nome
Carambola, carambola
Que meu povo está com fome

Acontece que no caminho morava uma bruxa malvada.

A mulher perguntou que cantoria era aquela e a anta explicou.

A bruxa deu risada e gritou:

Caranguejo, caramujo
Carapaça, carrapicho
Carrapato, carraspana
Carapeta, carabina

Ouvindo o canto da bruxa, a anta se confundiu. Ao chegar na floresta não conseguiu mais lembrar nome nenhum.

Os bichos fizeram outra reunião e escolheram o tatu.

- Vá até o céu - pediram eles -, e pergunte a Deus qual o nome dessa fruta.

O tatu foi e Deus explicou tudo direitinho. Para não esquecer o nome da fruta amarela, o tatu voltou do céu cantando.

Carambola, carambola
Não posso esquecer seu nome
Carambola, carambola
Que meu povo está com fome

No caminho, encontrou a bruxa malvada.

A mulher perguntou que cantoria era aquela e o tatu explicou.

A bruxa deu risada e gritou:

Caranguejo, caramujo
Carapaça, carrapicho
Carrapato, carraspana
Carapeta, carabina

Ouvindo o canto da bruxa, o tatu se confundiu. Ao chegar na floresta não conseguiu mais lembrar nome nenhum.

Outra vez, os bichos fizeram uma reunião e escolheram a tartaruga.

- Vá até o céu - pediram eles -, e pergunte a Deus qual o nome dessa fruta.

A tartaruga foi e Deus explicou tudo direitinho. Para não esquecer o nome da fruta amarela a tartaruga voltou do céu cantando:

Carambola, carambola
Não posso esquecer seu nome
Carambola, carambola
Que meu povo está com fome

No caminho, encontrou a bruxa malvada.

A mulher perguntou que cantoria era aquela. A tartaruga não disse nada e continuou cantando:

Carambola, carambola
Não posso esquecer seu nome
Carambola, carambola
Que meu povo está com fome

Mas a bruxa deu risada e gritou:

Caranguejo, caramujo
Carapaça, carrapicho
Carrapato, carraspana
Carapeta, carabina

A tartaruga nem ligou. Continuou pelo caminho cantando:

Carambola, carambola
Não posso esquecer seu nome

Carambola, carambola
Que meu povo está com fome

Então a bruxa gritou:

Carapina, carapuça
Caravela, caravana
Cara-suja, caradura
Carafuzo, carapinha

A tartaruga gritou mais alto:

Carambola, carambola
Não posso esquecer seu nome
Carambola, carambola
Que meu povo está com fome

A bruxa berrou:

Carapeba, carangola
Carandonga, caripora
Caraúba, caraíba
Carantonha, curupira

A tartaruga nem ligou. Continuou cantando sua música sem errar:

Carambola, carambola
Não posso esquecer o nome

Foi quando a bruxa perdeu a cabeça, agarrou a tartaruga, bateu e jogou no chão.

E a tartaruga:

Carambola, carambola
Que meu povo anda com fome

A bruxa atirou um monte de pedra em cima da tartaruga.

E a bichinha:

Carambola, carambola
Não posso esquecer o nome

No fim, a bruxa bateu na tartaruga com um pedaço de pau.

Depois, com um pedaço de ferro. Depois, atirou a coitada do alto do despenhadeiro. A tartaruga caiu lá embaixo no meio das pedras, levantou-se, sacudiu a poeira e continuou cantando:

Carambola, carambola
Não posso esquecer o nome
Carambola, carambola
Que meu povo anda com fome

Vendo isso, a bruxa desistiu de tudo e foi embora para sempre.

A tartaruga chegou na floresta cansada. Contou o nome da fruta amarela. A bicharada agradeceu, fez uma festa e matou a fome e a sede de tanto comer a fruta amarela.

Desde então o povo da floresta passou a conhecer a carambola.

Desde então, por causa de tantos tombos, pancadas e quedas, a tartaruga ficou com o casco enrugado e achatado na parte de baixo.

Fonte:
Azevedo, Ricardo. Histórias que o povo conta : textos de tradição popular. São Paulo : Ática, 2002. - (Coleção literatura em minha casa ; v.5)