sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Edy Soares (Manuscritos (Di)versos) – 24: Desumanidades

 

Sinclair Pozza Casemiro (Dia Universal da Paz)


Meu é só o jeito de contar

Era uma vez... uma espécie de concurso no mundo. Era preciso escolher o símbolo da paz. E era bem no início dos tempos, o mundo ainda não tinha tanta gente, tanto bicho, não. Um tempo em que os bichos também falavam.

Já se tinha certo de que seria uma pomba. Então, entre as pombas, teria que se escolher uma delas para simbolizar a paz.

E a notícia correu.

Bem...chegou o dia da escolha, muitas espécies de pomba compareceram. E todas estavam alvoroçadas, desejavam ser escolhidas como símbolo da paz.

O mundo parou para acompanhar o importante evento. Todo tipo de bicho. Da mata, do céu, das águas e do ar, homens, mulheres, crianças, jovens, velhinhos e velhinhas, pararam tudo o que estavam fazendo para acompanhar o espetáculo. O maior de todos os sábios, o mais generoso, o mais amoroso e o mais justo de todo o mundo era quem daria o veredito da “pomba da paz”.

Juntaram-se muitas pombas e de todas as espécies. Com calma, o sábio as identificou, tinha que saber quais estariam participando dessa largada. Fez questão de memorizar cada uma para não prejudicar nenhuma delas.

Chegou finalmente a hora. Todas elas a postos, o grande sábio pediu-lhes que, dada a largada, voassem, escolhessem um ramo e ali retornassem com o tal ramo. Nada mais disse. Só que prestassem atenção ao sinal que ele daria com um gesto de largada. E com o corpo e a alma, gritou: “Já!”

Foi um alvoroço, algumas já ali mesmo se precipitaram, se atropelaram, mas se repuseram rapidinho. Nenhuma se entregou aos embaraços da partida. Houve uma delas que escolheu um ramo que estava mais próximo, fez um rápido caminho de voo e imediatamente lhe entregou.

-Venci?

O sábio lhe fez um gesto de espera e ela, folgadamente se acomodou, iria aguardar. Afinal, seu ramo era perfeito, foi a primeira a chegar, era, sim, a vitoriosa.

E foram chegando, cada uma com um ramo mais lindo que o outro, assim imaginavam. Algumas se demoraram mais, caprichosas, detalhadamente escolheram seu ramo. Outras demoraram mais, também, porque foram se banhar, ajeitar as penas, apresentar-se bem. Por muitos cuidados, enfim, se envolveram. Cada qual escolheu uma razão para ser escolhida: voo caprichoso, velocidade, aparência perfeita, enfim, cada uma fez, a seu modo, sua investidura.

Todas chegaram. Todas?

- Não, falta uma. – disse o sábio.

- Será?

-Sim, vamos aguardá-la.

Mas ela não chegava. O público ficou cansado de esperar; porém, não cedeu. Ficou por ali. As pombas, algumas delas, dormiram, outras conversavam. Outras reclamavam...que falta de respeito! Que fazer? O jeito, pensavam elas, era mesmo esperar. O sábio aguardava.

Quando se passaram muitas horas, passado o dia, a dúvida de que a pomba pudesse ter-se machucado incomodou algumas. Mas...que fazer?

A noite veio, chegou a manhã, muitas dormiam, eis que, lá longe, avistaram uma ave chegando,
seria ela?

O sábio postou-se para a receber. Era mesmo ela.

A pomba, estropiada, suja, aparência de desleixo, já foi logo se desculpando:

– Me perdoem, Mestre, companheiras. Só vim, mesmo, para não desonrar o compromisso.

- Por que se demorou? Perguntou o sábio.

- Ah... Escolhi meu caminho, voava feliz, com velocidade, beleza, peguei meu ramo, muito bonito. Encontrei um pássaro em queda. Segurei-o, levei-o até o chão, vi que era velho, estava cansado. Dei-lhe água, esperei que se recuperasse, se alimentasse e o conduzi até seu ninho, mas...não era perto! Pra ajudar, na volta, me deparei com um filhote no ninho, piava muito, esperei por seus pais, que não vieram! Por certo algum caçador os abatera. Nada fácil, consegui encontrar outro ninho para o filhote, que ficou bem, ficou seguro. Não longe, uma lebre estava ferida por um predador. Consegui conduzi-la a uma fonte, mas estava com muita sede, bebeu muita água, demorou-se, a infeliz. Deitou-se, mas logo que pude a deixei em casa. E assim, Mestre, foram acontecendo coisas inesperadas, umas atrás das outras! Também, de repente... me desculpe, percebi que não era tão importante assim ser um símbolo da paz. Porém lhe dou minha palavra, o mais rápido que pude, aqui estou. Acho que maldosos souberam desse evento, Mestre, e quiseram prejudicar nossa disputa, dificultando nossos trajetos. Até chegar aqui, foram muitas as desgraças espalhadas por aí! E creio que ainda haja muitos concorrentes por aí, há muito sofrimento, podem estar ainda a caminho, se atrasando, também... Faltam muitos para chegar, ainda? Perguntou e se amontoou, exausta.

O Mestre respondeu-lhe:

-Ninguém quer prejudicar nosso evento, não, distinta pomba! O que você viu, acontece sempre. Nos caminhos, são mesmo muitas as dores e sofrimento. Não pedi a ninguém velocidade, que estivesse com a melhor aparência, que chegasse com o ramo impecável. Pedi que fizessem um caminho e que retornassem me trazendo um ramo. Chegaram bem, com excelente aparência, aqui estamos todos. Só você demorou tanto... Ora, veja...você fez o caminho da forma mais certa, mais bela! Pensou nos que encontrou em sofrimento e deu-lhes sua atenção, seus cuidados. Sem se preocupar em ser honorável, sem desejar a glória para si, você distribuiu paz. Portanto, digníssima pomba, você é a vitoriosa! Você, sim, é símbolo da paz!
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Devem existir muitas versões dessa história, era criança quando a ouvi. Como contar exatamente do jeito que a ouvi? Mas jamais esquecerei o que foi realmente que fez aquela pomba se tornar o símbolo da paz!

Fonte:
Texto enviado pela autora.

Baú de Trovas LX


Depois de tomar uns "treco"
para aquecer a "moringa",
o trovador de boteco
"soluceia"... e a rima pinga!
A. A. de Assis
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Sempre que eu ponho em versos
as coisas do coração,
os pensamentos dispersos
tomam forma de oração.
Aldo Silva Junior
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Quem já foi homem de bem,
e se fez trapo na vida,
sabe as lágrimas que tem
cada copo de bebida...
Aloísio Alves da Costa
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É só da noite o luar;
dos pássaros, os gorjeios;
é do dia, o ensolarar,
mas do homem, os receios.
Apollo Taborda França
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Um pai ébrio. Um infeliz
vagão que foge dos trilhos,
deixando uma cicatriz
no coração de seus filhos.
Argentina de Mello e Silva
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Perto, sóis, ao longe, estrelas,
as mães não nos deixam sós.
Se vivas, moramos nelas,
se mortas, vivem em nós.
Barreto Coutinho
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Em trovas fui transformando
ideias e pensamento,
que agora seguem voando,
tais como plumas ao vento!...
Carolina Azevedo de Castro
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Dos jovens, dos anciãos,
de infantes em tenra idade,
a união de todas as mãos
faz o dom da caridade.
Cesar Augusto Sovinski
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Palmeira que o vento abana,
na praia à beira do mar...
Ao lado de uma cabana,
jogo trovinhas ao ar!
Dario Nogueira dos Santos
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Missa em curso e o sacristão
põe cachaça em vez de vinho,
e o vigário, no sermão,
chama o Papa de Chiquinho...
Dulcídio Moreira de Barros Sobrinho
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Até parece chalaça,
mas a vida é mesmo assim:
Eu não gosto de cachaça;
ela é que gosta de mim!
Durval Mendonça
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Beber com fé é o Manoel
quando aos seus santos se agarra:
De dia "San Raphael",
de noite..."São João da Barra"!
Edmar Japiassú Maia
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O sol com exuberância
já desponta e eu, comovida,
busco nas sombras da infância
a minha aurora perdida...
Élbea Priscila de S. Souza
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Triste a terra está incompleta
com a morte da floresta;
mas, ainda existe um poeta
cantando o pouco que resta.
Eleonora Brasil Pompeo
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A mística de uma trova
que se evola pelos ares
reside na boa nova
das quadras bem populares!
Flávio R. Stefani
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A mais bela experiência
que todo homem pode ter
é bem viver na decência
e na decência morrer.
Gilberto Ferreira
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A Pátria não é somente
o céu, o rio e o chão; é mais:
É a alma da gente
que vibra no coração.
Harley Clóvis Stocchero
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O céu de estrelas constela
o infinito azul de Deus,
mas, nenhum dos astros vela
o fulgor dos olhos teus…
Heitor Stockler de França
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A juventude é divisa
que a vida nos dá de graça,
e a gente só valoriza
muito depois que ela passa.
Helena Kolody
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Andávamos de mãos dadas
num amor lindo demais...
A poeira das estradas
hoje encobre nossos ais.
Janske Schlenker
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- Cachaça traz morte lenta!
Falou a esposa, possessa.
E o sujeito nem esquenta...
- Quem disse que eu tenho pressa?!
Jerson Lima de Brito
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A trova pra ser bonita
tal qual filhinha dileta:
traz sempre o laço de fita
da inspiração do poeta!
Joaquim Carvalho
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Se a cachaça é uma fraqueza,
adoro viver fraquinho!
E pra aumentar a moleza,
me bota mais um traguinho.
Josué Vargas Ferreira
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Nem mesmo o inverno mais triste,
dentro da noite enfadonha,
tira a distância que existe
entre a minha e a tua fronha.
Lourdes Strozzi
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Malabarista, a criança,
para mendigar o pão,
equilibra uma esperança,
com três bolinhas na mão.
Madalena Ferrante Pizzatto
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Poeta, a glória do dia
lhe seja bênção vibrante!
Busque em tudo a poesia
e faça o que sabe: cante!
Manuel M. Ramirez de Anguita
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Preso em flagrante arruaça,
diz num sonoro impropério:
-Prendam também a cachaça,
que é quem me tira do sério!
Maria Madalena Ferreira
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Há trovas que o vento leva;
outras, o fogo desfaz...
Mas, as minhas, sem reserva
são trovas que o vento traz.
Maria Nicolas
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As mãos na frente, coragem
de enfrentar o diferente,
juntas levam a bagagem
do bem ou do mal da gente.
Marilena Budel
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Depois do amor, me enternece
a vitória de ser dono
desta paz que transparece
no suspirar do teu sono!
Marina Bruna
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Sinto meu nome tão doce,
ao você chamar por mim,
escuto como se fosse,
o canto de um Querubim.
Marita França
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Minhas mãos em movimento
cantam a Deus uma prece.
Neste amor não há tormento,
o divino reconhece.
Marli Voigt
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Arte, uma expressão divina,
é prece, amor ou carinho,
que grandiosa ou pequenina,
enfeita o nosso caminho!
Nair Cravo Westphalen
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Com crianças tagarelas,
em meu rancho alegre e lindo,
até portas e janelas
vivem cantando e sorrindo!
Orlando Brito
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Vendo o meu retrato agora,
vejo que o tempo inclemente…
fez do meu rosto de outrora,
outro rosto no presente!
Professor Garcia
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Não me chames de senhor
que não sou tão velho assim,
e ao teu lado, meu amor,
não sou senhor nem de mim.
Rodrigues Crespo
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Da vida, no grande coro,
eis nosso destino atroz:
Seguimos de choro em choro,
até que chorem por nós!
Tasso da Silveira
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Fazer trova é dom... é graça...
Desce o Santo e me socorre...
E já que a trova é cachaça.
passo os meus dias... de "porre"
Therezinha Dieguez Brisolla
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A terra é sempre esperança,
dá ao homem tudo que cria;
e nela, por fim, descansa,
ele, que em vida a feria.
Vasco José Ribas
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Em minhas mãos tive as tuas
em tempos de doce união.
Mas minhas mãos, ora nuas
são tristeza e solidão!
Vera Rolim
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Bendito seja o Poeta
que na leveza do verso
enfeita, acalanta, aquieta,
toda a angústia do Universo.
Vera Vargas

Concursos Literários com Inscrições Abertas para 2023


37.º Concurso Literário Yoshio Takemoto
Prazo: 15 de Janeiro de 2023


A Associação Cultural e Literária Nikkei Bungaku do Brasil, com o apoio da Fundação Kunito Miyasaka, promove o 37.º Concurso Literário Yoshio Takemoto, em suas quatro categorias em língua portuguesa: Haicai, Poesia, Conto e Crônica.

REGULAMENTO

SOBRE O TEMA:
Os trabalhos para a modalidade haicai são de tema livre.

Os demais (poesia, conto e crônica) deverão seguir o tema “Japão”.

SOBRE AS MODALIDADES:

Para Haicai, deve ser enviado um conjunto de exatos cinco haicais, inéditos e de forma tradicional, por concorrente.

Para Poesia, serão aceitos até dois poemas inéditos por concorrente, com até trinta linhas ou versos cada.

Para Conto, será aceito um único trabalho inédito por concorrente, com até cinco páginas.

Para Crônica, será aceito um único trabalho inédito por concorrente, com até três páginas.

Entende-se por inédito o trabalho que não tenha sido publicado em meio impresso ou virtual até a data do encerramento das inscrições.

SOBRE A INSCRIÇÃO:

Poderão se inscrever pessoas residentes em qualquer país do mundo, desde que se expressem em língua portuguesa e que possuam endereço no Brasil para receberem o prêmio, incluindo conta bancária neste território. Membros da diretoria da associação não poderão participar.

Cada participante poderá se inscrever em uma ou em até todas as modalidades, porém, poderá ser premiado em primeiro lugar em apenas uma.

Todos os trabalhos devem ser encaminhados para o e-mail nikkeibungaku@gmail.com, com o campo do assunto preenchido com a modalidade (haicai, poesia, conto ou crônica). Cada e-mail deve conter em anexo um único arquivo (em word) com o texto, o título, o pseudônimo e a modalidade. No corpo do e-mail deverá constar os dados: nome completo, pseudônimo, título do trabalho, modalidade, endereço completo, telefone, e-mail e biografia com até cinco linhas. No caso da modalidade haicai os cinco trabalhos deverão ser enviados em arquivo único, sem necessidade de título. No caso da modalidade poesia, se o candidato enviar mais de um poema, deverá fazer o envio em dois arquivos, no mesmo e-mail.

É importante que cada modalidade seja enviada em e-mails separados. Para garantir o anonimato, é importante que não haja qualquer forma de identificação do(a) candidato(a) no texto literário, sendo que o pseudônimo escolhido pelo concorrente não poderá estar relacionado com o seu nome verdadeiro ou literário.

O prazo para envio dos trabalhos será até às 23h59 do dia 15 de janeiro de 2023 (horário de Brasília).

SOBRE A PREMIAÇÃO:

Serão selecionados três trabalhos de cada categoria para receberem diplomas de premiação.

O(a) autor(a) do trabalho escolhido em primeiro lugar de cada categoria receberá um prêmio no valor de R$ 1000,00. O primeiro lugar também receberá uma anuidade gratuita, com o envio de três revistas e participação em nossa antologia anual. Após este primeiro ano, o premiado poderá optar por continuar ou não em nossa associação.

Também serão selecionados mais doze trabalhos em cada categoria, que receberão menção honrosa, sendo publicados ao longo do ano em edições de nossa revista impressa Brasil Nikkei Bungaku.

Cada autor(a) premiado(a) ou selecionado(a) receberá um exemplar de cortesia da revista, enviado apenas para endereços no Brasil.

SOBRE AS CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÂO:

Os(as) autores(as) premiados(as) e selecionados(as) concordam em autorizar, desde já, de forma gratuita e NÃO exclusiva, a Associação Cultural e Literária Nikkei Bungaku do Brasil a utilizar os trabalhos correspondentes em suas publicações, com os devidos créditos, bem como se responsabilizam totalmente pela veracidade das informações fornecidas, bem como sobre questões autorais e de qualquer ordem legal, respondendo judicialmente pelos seus atos.

Casos omissos serão decididos pela diretoria.

A simples participação neste concurso implica na aceitação plena e irrestrita de todos os termos deste regulamento.

​SOBRE O RESULTADO:

O resultado será divulgado até o dia 01 de Março de 2023, em nossos sites: www.nikkeibungaku.org.br ou www.nikkeibungaku.com.br e em nossas redes sociais (Facebook e Instagram): @nikkeibungaku.

DÚVIDAS: nikkeisecretaria@gmail.com
Fonte:
https://nikkeibungaku.com.br/yoshiotakemoto.html

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II Concurso de Contos Curtos – Sebo do Edy - 2023”.

Prazo: 10/01/2023 a 15/03/2023.


O Sebo do Edy com o apoio do blog: www.edmilsonnaves.blogspot.com, lança o “ II Concurso de Contos Curtos – Sebo do Edy - 2023”.

O blog. www.edmilsonnaves.blogspot.com torna-se público o “II Concurso de Contos Curtos – Sebo do Edy – Resende/RJ - 2023.”

1) Objetivo

Apresentar textos na forma de narração – dois textos escritos em tema livre.

2) Concorrentes

Somente categoria adulta acima de 18 anos de idade, a inscrição é aberta para todo o território nacional e internacional. Para autores de língua portuguesa morando fora do país.

Cada concorrente pode se inscrever com até 2 (dois) Contos Curtos.

As inscrições serão feitas por e-mail: edmilsonnaves.escritor@gmail.com.

3) Prazos

As inscrições estarão abertas - 10/01/2023 a 15/03/2023.

Os resultados estarão disponíveis no Blog: edmilsonnaves.blogspot.com no dia 01/04/2023.

4) Categoria

Texto redigido em extensão. Word Doc;

Fonte Arial, tamanho 12, espaçamento entre linhas 1.5. Conter no máximo duas páginas A4. Não deve estar formatado e nem em PDF.

No arquivo da obra deve conter:

Título em negrito, nome do autor do trabalho. Não será aceito pseudônimo.

O arquivo deve ser anexado ao e-mail: edmilsonnaves.escritor@gmail.com

O título do assunto do e-mail: II concurso de Contos Curtos –  2023 - Sebo do Edy.

Texto do e-mail: Estou enviando meu (s) trabalho (s) para participar do concurso de Contos Curtos. Colocar nome completo, endereço para correspondência e e-mail.

E uma breve biografia do autor de até 5 linhas.

Os trabalhos que não estiverem de acordo, não serão aceitos.

5) Direitos

A simples inscrição do concorrente já autoriza a publicação do trabalho (caso) classificado em Livreto Antológico com o título do concurso em formato PDF, não podendo vir a ser comercializado.

Será de responsabilidades do (a) autor (a) o dever de garantir ser de sua própria autoria o texto – não plágio - podendo o participante responder judicialmente por infringir o artigo 9.610/98 de direitos autorais.

6) Premiação

Os primeiros 12 textos classificados receberão um diploma de Menção Honrosa.

Os Contos classificados serão editados em livreto Antológico com o título “II Concurso de Contos Curtos – 2023 - Sebo do Edy”.

Cada concorrente receberá o livreto em formato PDF como lembrança da participação e não será comercializado.

6) Julgamento

O julgamento encerra-se no dia  15 de março de 2023.

As avaliações serão feitas por uma comissão de 5 membros sem vínculos com os participantes.

7) Considerações finais

Qualquer dúvida poderá ser consultada pelo e-mail: edmilsonnaves.escritor@gmail.com

A organização do concurso pede aos amigos das redes sociais que compartilhem o máximo o regulamento desta edição, a fim de obtermos o maior número de participantes no ‘ II Concurso de Contos Curtos – 2023 - Sebo do Edy – Resende/RJ”.

Edmilson Naves de Oliveira – Organizador e proprietário Sebo do Edy.

Fonte:
https://edmilsonnaves.blogspot.com/

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Varal de Trovas n. 574

 


Filemon Martins (Um cara folgado)


Entrei no ônibus e só havia um lugar desocupado. Poltrona dupla, já havia um cidadão sentado na outra parte, mas com as pernas abertas ocupando todo o banco. É como se dissesse aqui é meu e ninguém tasca. Pedi licença e me sentei um pouco desconfortável, é verdade. Mas fiquei matutando: que cara folgado! Merece uma reprimenda. Este fato ocorreu muito antes do Coronavírus invadir a terra. Se fosse agora em tempo de pandemia, talvez, justificasse esse procedimento. De repente, entrou um cidadão com uma massa corpórea bem avantajada e veio vindo em minha direção e se postou bem em frente. Pensei: taí a reprimenda que eu queria. Fiz sinal para ele e cedi meu lugar para o cidadão mais forte do que eu, embora meio idoso e me encaminhei para trás do ônibus. Deixei o folgado se acertar com o recém-chegado. É o que se chama "tapa com luva de pelica".

Fonte:
Filemon Martins. Caminhos do Jordão da Bahia. SP: RG Editores, 2022.
Livro enviado pelo autor.

Humberto de Campos (O "bravo dos bravos")


Quando o tenente Felisberto regressou do "front", precedia-o a mais invejável das famas. Notícias dos jornais, telegramas do governo e cartas dos camaradas, haviam espalhado, realmente, pelo Brasil, os ecos da sua bravura. Em Verdun, no forte de Vaux, fora ele o herói por excelência, defendendo, uma a uma, as pedras daquele reduto. Na Champagne, comandando um pelotão de "poilus", operara prodígios, resistências assombrosas, a ponto de ser preciso arrancá-lo, às vezes, do seu entrincheiramento, rilhando os dentes, coberto de lama e de sangue. O seu heroísmo tornou-se, em suma, tão acentuado, tão famoso, tão evidente, que o seu nome se constituíra, em toda a extensão do setor, uma espécie de grito de guerra. A Morte passava por ele, medrosa, de asas fechadas, como se temesse cair ferida, ela própria, atingida pela sua espada.

Ao chegar ao Rio, eram conhecidos, já, de toda a cidade, os seus feitos, as suas investidas corajosas, o ímpeto das suas cargas de baioneta, a que correspondia, sempre, uma nova trincheira arrancada ao inimigo. E foi por isso mesmo que o seu desembarque teve o caráter de uma verdadeira apoteose, que envolvia na mesma auréola o glorioso exército nacional.

Festejado e querido, foi, aqui, o tenente Felisberto rodeado pelos amigos e, principalmente, pelos colegas de classe, que se disputavam, gentis, a sua companhia. E tanto o cercaram, tanto o arrastaram pelos lugares festivos da cidade, que ele foi acabar, uma noite, no Assírio, onde se realizava um ruidoso baile de Carnaval.

Desconfiado no meio daquele tumulto, que lhe entontecia mais os sentidos do que o perturbavam, na França, as tempestades de fogo e de fumo da formidável artilharia alemã, o tenente observava aquelas danças, aquela orgia, aquela alegria desordenada, quando um dos camaradas lhe pediu, insistente, à mesa da ceia:

- Conta as tuas aventuras de guerra, Felisberto! Que diabo! Tudo que nós sabemos de ti, é por intermédio dos outros. Ainda não nos contaste nada!

- Conta! - pediu outro, pondo-se de pé.

- Conta! Conta! - reclamaram todos.

O tenente sorriu modesto, mas, reclamado pelos colegas, começou a narrar singelamente os seus feitos.

- O que eu fiz, - começou - qualquer de vocês o faria, estando no meu lugar. Fui eu, efetivamente, quem defendeu o forte de Vaux, durante três dias, com pouco mais de duzentos homens. O rompimento da linha de Hindemburgo foi, também, obra minha, que obteve, como é sabido, os resultados mais felizes. Tomei, a arma branca, dezessete trincheiras; subjuguei algumas dezenas de soldados, corpo a corpo; conquistei, a sabre, oito canhões; destruí, em suma, todo o poder ofensivo do inimigo, no setor a meu cargo.

Nesse momento, alarmando a sala, ouve-se, a alguns metros de distancia, um tiro de revólver, e, em seguida, o barulho da multidão elegante, a precipitar-se no rumo da detonação. Ao segundo tiro, porém, o capitão, que se calara com o primeiro, empalidece, e, sem dissimular o seu pavor, põe-se a tremer, a ponto de se não poder sustentar nas pernas. Espantados com aquela modificação, os amigos entreolham-se, duvidando, já, da bravura do herói, quando um deles, indignado, pergunta:

- Está com medo?

- Estou! - confessou o bravo dos bravos.

E explicou:

- Imaginem que isto degenera em rolo, em barulho, em conflito...

E concluindo, aterrorizado, batendo o queixo:

- E minha mulher sabe... que eu vim aqui!...

Fonte:
Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925.

Paulo Leminski (Versos Diversos) 21

 
pergunte ao pó
 
cresce a vida
cresce o tempo
cresce tudo
e vira sempre
esse momento

cresce o ponto
bem no meio
do amor seu centro
assim como
o que a gente sente
e não diz
cresce dentro
* * * * * * * * * * * * * * * * * *

despropósito geral

Esse estranho hábito,
escrever obras-primas,
não me veio rápido.
Custou-me rimas.
Umas, paguei caro,
liras, vidas, preços máximos.
Umas, foi fácil.
Outras, nem falo.
Me lembro duma
que desfiz a socos.
Duas, em suma.
Bati mais um pouco.
Esse estranho abuso,
adquiri, faz séculos.
Aos outros, as músicas.
Eu, senhor, sou todo ecos.
* * * * * * * * * * * * * * * * * *

ler pelo não

    Ler pelo não, quem dera!
Em cada ausência, sentir o cheiro forte
    do corpo que se foi,
a coisa que se espera.
    Ler pelo não, além da letra,
ver, em cada rima vera, a prima pedra,
    onde a forma perdida
procura seus etcéteras.
    Desler, tresler, contraler,
enlear-se nos ritmos da matéria,
    no fora, ver o dentro e, no dentro, o fora,
navegar em direção às Índias
    e descobrir a América.
* * * * * * * * * * * * * * * * * *

m, de memória

Os livros sabem de cor
milhares de poemas.
Que memória!
Lembrar, assim, vale a pena.
Vale a pena o desperdício,
Ulisses voltou de Troia,
assim como Dante disse,
o céu não vale uma história.
Um dia, o diabo veio
seduzir um doutor Fausto.
Byron era verdadeiro.
Fernando, pessoa, era falso.
Mallarmé era tão pálido,
mais parecia uma página.
Rimbaud se mandou pra África,
Hemingway de miragens.
Os livros sabem de tudo.
Já sabem deste dilema.
Só não sabem que, no fundo,
ler não passa de uma lenda.
* * * * * * * * * * * * * * * * * *

Adeus, coisas que nunca tive,
dívidas externas, vaidades terrenas,
lupas de detetive, adeus.
Adeus, plenitudes inesperadas,
sustos, ímpetos e espetáculos, adeus.
Adeus, que lá se vão meus ais.
Um dia, quem sabe, sejam seus,
como um dia foram dos meus pais.
Adeus, mamãe, adeus, papai, adeus,
adeus, meus filhos, quem sabe um dia
todos os filhos serão meus.
Adeus, mundo cruel, fábula de papel,
sopro de vento, torre de babel,
adeus, coisas ao léu, adeus.
* * * * * * * * * * * * * * * * * *

objeto sujeito

você nunca vai saber
quanto custa uma saudade
o peso agudo no peito
de carregar uma cidade
pelo lado de dentro
como fazer de um verso
um objeto sujeito
como passar do presente
para o pretérito perfeito
nunca saber direito

você nunca vai saber
o que vem depois de sábado
quem sabe um século
muito mais lindo e mais sábio
quem sabe apenas
mais um domingo

você nunca vai saber
e isso é sabedoria
nada que valha a pena
a passagem pra pasárgada
xanadu ou shangrilá
quem sabe a chave
de um poema
e olha lá
* * * * * * * * * * * * * * * * * *

último aviso

caso alguma coisa me acontecer,
informem a família,
foi assim, assim tinha que ser

tinha que ser dor e dor
esse processo de crescer

tinha que vir dobrado
esse medo de não ser

tinha que ser mistério
esse meu modo de desaparecer

um poema, por exemplo,
caso alguma coisa me suceder,
vá que seja um indício

quem sabe ainda não acabei de escrever
* * * * * * * * * * * * * * * * * *

v, de viagem

Viajar me deixa
a alma rasa,
perto de tudo,
longe de casa.

Em casa, estava a vida,
aquela que, na viagem,
viajava, bela
e adormecida.

A vida viajava
mas não viajava eu,
que toda viagem
é feita só de partida.
* * * * * * * * * * * * * * * * * *

incenso fosse música

isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
* * * * * * * * * * * * * * * * * *

gardênias e hortênsias
não façam nada
que me lembre
que a este mundo eu pertença
deixem-me pensar
que tudo não passa
de uma terrível coincidência
* * * * * * * * * * * * * * * * * *

À glória sucede
o que sucede à água:
por mais água que beba,
qual lhe sacia a sede?
Diverso o sucesso,
basta-lhe um verso
para essa desgraça
que se chama dar certo.

Fonte:
Paulo Leminiski. Distraídos venceremos.  Publicado em 1987.

Malba Tahan (O Problema dos 35 Camelos)

Poucas horas havia que viajávamos sem interrupção, quando nos ocorreu uma aventura digna de registro, na qual meu companheiro Beremiz, com grande talento, pôs em prática as suas habilidades de exímio algebrista.

Encontramos, perto de um antigo caravançará (*) meio abandonado, três homens que discutiam acaloradamente ao pé de um lote de camelos. Por entre pragas e impropérios gritavam possessos, furiosos:

— Não pode ser!

— Isto é um roubo!

— Não aceito!

O inteligente Beremiz procurou informar-se do que se tratava.

— Somos irmãos — esclareceu o mais velho — e recebemos, como herança, esses 35 camelos. Segundo a vontade expressa de meu pai, devo receber a metade, o meu irmão Hamed Namir uma terça parte e ao Harim, o mais moço, deve tocar apenas a nona parte. Não sabemos, porém, como dividir dessa forma os 35 camelos e a cada partilha proposta segue-se a recusa dos outros dois, pois a metade de 35 é 17 e meio. Como fazer a partilha se a terça parte e a nona parte também não são exatas?

— É muito simples — atalhou “o homem que calculava”. Encarrego-me de fazer, com justiça, essa divisão, se permitirem que eu junte aos 35 camelos da herança, este belo animal que, em boa hora, aqui nos trouxe.

Neste ponto, procurei intervir na questão:

— Não posso consentir semelhante loucura! Como poderíamos concluir a viagem, se ficássemos sem o camelo?

— Não te preocupes com o resultado, ó bagdali! — replicou-me em voz baixa Beremiz — Sei muito bem o que estou fazendo. Cede-me o teu camelo e verás no fim a que conclusão quero chegar.

Tal foi o tom de segurança com que ele falou que não tive dúvida em entregar-lhe o meu belo “Jamal” (**), que, imediatamente, foi reunido aos 35 ali presentes, para serem repartidos pelos três herdeiros.

— Vou, meus amigos — disse ele, dirigindo-se aos três irmãos — fazer a divisão justa e exata dos camelos que são agora, como vêem, em número de 36.

E, voltando-se para o mais velho dos irmãos, assim falou:

— Deverias receber, meu amigo, a metade de 35, isto é, 17 e meio. Receberás a metade de 36 e, portanto, 18. Nada tens a reclamar, pois é claro que saíste lucrando com esta divisão!

E, dirigindo-se ao segundo herdeiro, continuou:

— E tu, Hamed Namir, deverias receber um terço de 35, isto é, 11 e pouco. Vais receber um terço de 36, isto é, 12. Não poderás protestar, pois tu também saíste com visível lucro na transação.

E disse, por fim, ao mais moço:

— E tu, Harim Namir, segundo a vontade de teu pai, deverias receber uma nona parte de 35, isto é, 3 e tanto. Vais receber uma nona parte de 36, isto é, 4. O teu lucro foi igualmente notável. Só tens a agradecer-me pelo resultado!

E concluiu:

— Pela vantajosa divisão feita entre os irmãos Namir — partilha em que todos três saíram lucrando — couberam 18 camelos ao primeiro, 12 ao segundo e 4 ao terceiro, o que dá um resultado (18 + 12 + 4) de 34 camelos. Dos 36 camelos, sobram, portanto, dois. Um pertence, como sabem, ao bagdali, meu amigo e companheiro, outro toca por direito a mim, por ter resolvido, a contento de todos, o complicado problema da herança!

— Sois inteligente, ó estrangeiro! — exclamou o mais velho dos três irmãos — Aceitamos a vossa partilha na certeza de que foi feita com justiça e equidade!

E o astucioso Beremiz — o “homem que calculava” — tomou logo posse de um dos mais belos “jamales” do grupo e disse-me entregando-me pela rédea o animal que me pertencia:

— Poderás agora, meu amigo, continuar a viagem no teu camelo manso e seguro! Tenho outro,
especialmente para mim!

E continuamos nossa jornada para Bagdad.
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* Caravançará - Refúgio construído pelo governo e por pessoas piedosas à beira do caminho, para servir de abrigo aos peregrinos. Espécies de “rancho” de grandes dimensões em que se acolhiam as caravanas.
** Jamal - Uma das muitas denominações que os árabes dão ao camelo.


Fonte:
Malba Tahan. O Homem que Calculava. Publicado em 1938.

Mais 2 Concursos de Trovas com Inscrições Abertas


X Jogos Florais de Campos dos Goytacazes/RJ 
(Prazo: 30 de abril de 2023)

Âmbito Nacional / Internacional:
Veteranos: ENREDO (L/F) valem palavras cognatas.
enviar para Catarina Santos    e-mail: catarina.ifcs@gmail.com

Novos Trovadores:  REGRESSO  (L/F) valem palavras cognatas.
enviar para Catarina Santos    e-mail: catarina.ifcs@gmail.com

Âmbito Estadual   (Estado do Rio de Janeiro):  
Veteranos: TRAMA (L/F) valem palavras cognatas.
enviar para Regina Rinaldi,    e-mail: ubtpariqueraacu@gmail.com

Novos Trovadores:  REGRESSO  (L/F) valem palavras cognatas.
enviar para Catarina Santos    e-mail: catarina.ifcs@gmail.com

Âmbito Municipal (Campos dos Goytacazes):  
CAMPISTÊS (L/F) valem palavras cognatas.
enviar para Regina Rinaldi,    e-mail: ubtpariqueraacu@gmail.com

Humorísticas (todos os âmbitos):  
RIVAL (valem palavras cognatas.)
enviar para Regina Rinaldi,    e-mail: ubtpariqueraacu@gmail.com

2 trovas por tema

Prazo: Trovas recebidas até 30.04.2023

as trovas devem ser escritas no corpo do e-mail acompanhadas dos dados de identificação do trovador e o tema a que concorrem. Não se aceitam anexos;

Na categoria “Novos Trovadores” é imprescindível identificar tal condição.
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XVIII Concurso de Trovas de Maranguape/CE 
(Prazo: 31 de março de 2023)

A palavra deve obrigatoriamente constar no corpo da trova.

NACIONAL/INTERNACIONAL: Uma trova por tema

Categoria Novo Trovador: Paz (L/F)
(Registrar Novo Trovador abaixo da trova)

Categoria Veterano: Gratidão (L/F)

Enviar para:  ubt.ceara@gmail.com  fiel depositário – Gutemberg Liberato.

ESTADUAL: – Duas trovas por tema

Sem distinção de categoria: Atitude (s) (L/F)

Enviar para:  ubt.ceara@gmail.com  fiel depositário – Gutemberg Liberato.
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quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Silmar Böhrer (Gamela de Versos) 33

 

Sammis Reachers (O sítio (mal-assombrado) de Seu Pedro)


Alguns dos melhores dias da infância aqui no Jardim Nazareth foram passados no Sítio do seu Pedro. O sítio era na verdade de um japonês misterioso – do qual seu Pedro era o caseiro. Ou semidono, pois o tal japonês quase nunca aparecia.

No grande sítio, tomei o primeiro contato – não numa gôndola de supermercado, não numa sacola de compras de meu pai, mas pegando nas mãos, no próprio pé – com diversas frutas como jambo, carambola, jabuticaba. Até um pé de caqui havia, e curiosidades como uma árvore de cortiça. Mas a principal “lavoura” ali eram as mangas: Dezenas de pés, um carnaval, um tsunami, um apocalipseragnarok-mahapralaya de tanta manga.

O sítio também possuía um equipamento esportivo misterioso para todos nós àquela época: Uma quadra de tênis, em saibro, e isso mais de década antes de Gustavo Kuerten popularizar nos meios de informação o que era o tênis, e, claro, o que era uma quadra de saibro.

Seu Pedro e sua família eram em geral simpáticos e tolerantes – deixavam, a quem pedia com educação, entrar no sítio. Havia regras básicas: Não podia quebrar galhos das árvores, e nem arrancar frutas e deixar no chão (pois limpar aquela imensidão era uma tortura, e desperdiçar comida, como hoje, já era duro pecado naquela época). O acesso livre dependia também da época do ano e de que temporada/ano era aquele. Tinha momentos em que não havia ainda mangas maduras, ou sequer manga alguma, nos pés. Mas, nos melhores anos e na alta temporada, já vi aquele velho senhor negro e franzino, de fala mansa e pausada, abrir covas profundas de uns quase dois metros de profundidade por dois de largura e bem uns quatro de extensão – ou seja, suficiente para sepultar quase um elefante! – apenas para jogar mangas podres (uma tonelada? Duas? Três!?), pois não havia o que fazer com tanta manga. Nem a população do bairro dava conta.

Bem, independentemente de haver mangas e outras frutas ali ou não, a molecada amava entrar no sítio e tentar peneirar alguma coisa. Por vezes a solicitação de entrada era negada, e então os mais afoitos não se faziam de rogados, adentrando no sítio por um dos muitos pontos de acesso “encobertos”.

Foi numa dessas abordagens ou penetrações não autorizadas que me vi, em companhia de Renato e mais uns quase quinze garotos, dentro do sítio, onde entramos lá pela extremidade oposta à daquela em que ficava a casa de seu Pedro.

Ah, como o tal “seu” Ciro do “hospital dos malucos” citado em capítulo anterior, seu Pedro também tinha sua espingarda de sal, e miseravelmente um cachorro que, de manso virava perdigueiro quando atiçado por seu dono.

Sinistro e opressor padrão!!! Assim, era preciso entrar no sítio bem “na encolha”, e estar atento. Ali estávamos todos embaixo de um pé de manga espada que, temporão, tinha já suas frutas. A árvore ficava em linha direta com a parte mais sinistra do sítio – Um pequeno casebre abandonado, construído ao lado da tal quadra de tênis. A casa era habitável, e não entendíamos por que ficava vazia, até que um dia um dos moleques ali daquela área – sim, a cada rua, poucos metros de distância, havia uma “galera” mais ou menos independente e, quando queria, hostil – nos informou que aquela casinha era mal assombrada. Para uma criança, aquela informação de mau agouro caía nas costas como uma jaca de inquestionável certeza e medo...

A hora era quase a do almoço, por volta das 11 da manhã, com o sol a pino. Foi quando o sexto sentido de Renato se manifestou, com garbo e brilhantismo. Me cutucando e a alguns outros moleques, ele apontava para um enorme pé de tamarindo, que fazia sombra sobre parte da quadra de saibro. É ridículo relatar isso e, acredite, foi ridículo naquele próprio momento: O que vimos foi uma sombra – sim, um ente perfeitamente translúcido – segurando uma vara de bambu e cutucando a árvore, como quem tranquilamente arrancasse tamarindos para chupar.

Não é piada, nem invenção. Eu VI – foi a única vez em minha vida que vi alguma manifestação do sobrenatural – e olha que hoje e há muito tempo sou um crente pentecostal, e alguns de nós veem com certa rotina coisas do arco da velha... Mas não eu. Aquela visão inacreditável, surpreendente, inoportuna, cozida e fervida em nonsense foi apontada a um por um dos moleques ali presentes. Todos viram. A sombra, impassível, continuava a lentamente mover aquele bambu.

Após uns breves segundos de incredulidade, de tentar divisar se aquilo era aquilo mesmo, a ficha caiu. O que se seguiu foi a mais espetaculosa corrida com obstáculos que o bairro Palha Seca já viu – e ele viu muitas! Todos voamos na direção contrária à sombra, de encontro à cerca de arame que nos daria acesso à salvação que era a rua. A cerca, banguela, tinha um espaçamento entre os fios de arame que permitia a uma criança ou jovem não muito alto passar agachando-se – devagar, de um a um, claro. Mas naquele momento, moleques jogavam-se pela abertura como se fossem mísseis ou torpedos, pouco se importando com os resultados. No empurra-empurra desesperado – alguns, mais sensíveis, gritavam de terror – muitos tentavam passar ao mesmo tempo, embolando-se e lanhando-se nos arames da cerca.

Na minha vez, a pressa e um baita empurrão que levei fizeram minha camiseta ganhar um belo rombo naqueles arames...

Como disse, foi a única vez em minha vida que vi um fantasma, ou demônio, ou um alienígena que seja, pois como entender um diabo que, dentre o universo de coisas passíveis de entreter um espírito, se preste a arrancar tamarindos? Doravante e até a adolescência, jamais entrei novamente naquele sítio sozinho. E, mesmo acompanhado, evitava aquela casa mal-assombrada e aquele pé de tamarindo como o cramunhão evita a cruz!

Anos depois, infelizmente o sítio foi vendido. O comprador foi um jogador de futebol do Flamengo, o Luiz Alberto, que murou o sítio e o transformou num tipo de complexo esportivo, alugando quadras para peladeiros de fim de semana e fazendo festas para seus amigos.

Seu Pedro não ficou desamparado: Sua casinha e parte do terreno lhe foram concedidas, justificadamente pelos serviços prestados. E, neste momento em que escrevo, o espaço foi novamente vendido, e agora um enorme condomínio de apartamentos populares se ergue naquele lugar, já prontos para a habitação. Os novos moradores provavelmente jamais saberão de tudo o que já aconteceu naquele terreno em que habitam...

*** *** *** ***
Um parágrafo para acrescentar um causo sobre aquele lugar. A fama de mal-assombrado do tal sítio era de conhecimento corrente de boa parte da população do local. Durante a noite, a maior parte da rua que fazia frente ao sítio mergulhava na escuridão, pois a iluminação pública não chegava até ali. Em frente a este sítio, cabe dizer, havia outro sítio menor, o Cariri, este murado. Ou seja: Por um bom trajeto, aquele que ali passasse de noite teria de um lado as muitas e sombrias árvores do sítio do seu Pedro, e do outro, um inoportunamente longo e frio muro. Nenhuma casa alcançável, nenhuma vida, nenhum refúgio ou lâmpada de 60 watts. Era apavorante!

Certa noite, aproveitando-se da fama do lugar, numa época em que não havia muita coisa pra se fazer, um indivíduo – que hoje é um seríssimo pastor evangélico, o Gilson – subiu numa das mangueiras do sítio que margeavam a rua e, lá de cima, na mais profunda escuridão, balançava os galhos e emitia sinistros gritos, a cada alma desafortunada que por ali passasse. Muita coragem embolada com muita safadeza do então jovem Gilson! Já na rua, era tanta correria que aquele chão ficou compactado, de tanta patada de medroso em fuga!

Fonte:
Sammis Reachers. Renato Cascão e Sammy Maluco: uma dupla do balacobaco. São Gonçalo/RJ: Ed. do Autor, 2021.
Livro enviado pelo autor.

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) 17


Na voz do vento, há um açoite
que assusta pelos seus ritos...
Parece os gritos da noite
querendo ouvir os meus gritos!
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Só por saber quem tu és,
eu não me sinto indeciso;
ouço o pisar de teus pés
em todo canto que piso!
= = = = = = = = =

Se te acalma um vento brando,
assim que a tarde declina,
à noite, volta assustando
nas dobras de cada esquina!
= = = = = = = = =

Depois que o galo desperta,
abre o bico e canta um hino...
A aurora, é uma porta aberta,
na estrada do meu destino!
= = = = = = = = =

Daquele sonho, da infância,
guardo o instante mais tristonho;
Tu me acenando à distância,
dizendo adeus ao meu sonho!
= = = = = = = = =

Se a infância foi tão sofrida,
e a caminhada tão dura...
Faze dos tombos da vida
teu pedestal de ternura!!!
= = = = = = = = =

De manhã cedo, bem cedo,
ouço os pobres passarinhos,
e não entendo o segredo
da alegria de seus ninhos!
= = = = = = = = =

Na luta, o mais destemido,
não é quem grita: vitória...
E quem premia o vencido
dando-lhe o troféu da glória!
= = = = = = = = =

Despertador de alvoradas,
o velho sino que chora,
tange as mesmas badaladas
das primaveras de outrora!
= = = = = = = = =

Juntei meus sonhos de amores,
com meus bruxos de retalhos,
que agora, são refletores
dos meus cabelos grisalhos!
= = = = = = = = =

Se o destino que nos guia,
aceitasse o que eu pedisse,
punha mais luz e alegria
no entardecer da velhice!
= = = = = = = = =

A criança diz com calma,
à bonequinha inocente:
– Sei que você não tem alma,
mas vive na alma da gente!
= = = = = = = = =

Nas ruínas da flor da idade,
sobre os meus pés, pelo chão,
vi, pegadas de saudade
e rastros de solidão!
= = = = = = = = =

Na tapera abandonada,
que um dia, já foi tão bela,
eu vejo uma rede armada,
mas sem ninguém, dentro dela!
= = = = = = = = =

Quando a onda nasce e cresce,
se esparrama em minha aldeia,
com bilros de espuma tece
lençóis de rendas na areia!
= = = = = = = = =

Aquela luz andarilha,
que brilhou com tanto alarde,
é a mesma luz que ainda brilha
nas sombras do fim da tarde!
= = = = = = = = =

É tarde!... E, essa voz que grita,
é a voz triste e amargurada,
de alguém que teve a desdita
da noite inteira acordada!
= = = = = = = = =

Noite fria, chuva fina,
na vidraça, a nostalgia,
faz das gotas de neblina
o pranto da noite fria!
= = = = = = = = =

Qualquer pedra, entre os cascalhos,
bruta ou do jeito que for,
nas mãos dos cinzéis e malhos,
vira um poema de amor!
= = = = = = = = =

No banco da velha praça,
o tempo, em falsa promessa,
quieto, finge que não passa;
mas como passou depressa!
= = = = = = = = =

Dorme um pouco, encurta o passo,
te aquieta, velhice ingrata;
na fronte, já falta espaço
para guardar tanta prata!...
= = = = = = = = =

Comparo a sombra alongada,
ao ciclo dessa distância,
que se arrasta pela estrada
e me separa da infância!
= = = = = = = = =

Teus caprichosos festejos
da vitória falsa e vã,
jamais serão meus desejos
nas vitórias do amanhã!
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O que tu tens, por riqueza,
meu lar, tem de precisão;
no teu, sobra pão na mesa,
no meu, amor pelo chão!
= = = = = = = = =

Vela erguida, mastro torto,
e o jangadeiro a vogar;
o pensamento, no porto,
mas a esperança no mar!

Fonte:
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.
Livro enviado pelo trovador.

Carlos Leite Ribeiro (Marchas Populares de Lisboa) Bairro da Mouraria


Urbe antiga, povoada pelo mouros escorraçados pela conquista cristã da cidade. A Mouraria é um labirinto de ruas que sobem da Praça do Martim Moniz em direção ao Castelo de São Jorge. Tão estreitas que, por vezes, o sol apenas consegue espreitar com esforço.

Tão antigo como a nacionalidade, o bairro da Mouraria, após a conquista de Lisboa, em 1147, por D. Afonso Henriques, foi o local escolhido para albergar os mouros que se mantiveram na cidade. Era um território próprio que formava um núcleo populacional afastado dos cristãos. Mas antes da vitória dos cruzados, toda aquela zona era formada por hortas e terras de cultivo. Os mouros dedicavam-se ao fabrico de azeite e à olaria, ofícios de que restam ainda alguns vestígios, como os velhos lagares.

No reinado de D. Manuel l, com a expulsão dos mouros e dos judeus, uma parte do bairro alojou populações cristãs, formando-se assim uma Mouraria a que podemos chamar aristocrática, onde se incluem o Coleginho – o primeiro colégio jesuíta do mundo - a Igreja de São Lourenço e o Palácio da Rosa. O bairro ganhou má fama quando os marginais e as prostitutas passaram a ser frequentadores assíduos. Como, em regra, uns e outros se dedicavam ao fado, acabou por nascer a fama de que a Mouraria, o fado “canalha”, as cenas de facada e malandragem estavam ligadas por uma espécie de “cordão umbilical”.

Não é possível falar da Mouraria e da Rua do Capelão sem recordar a Severa, célebre fadista que ali morou e morreu com apenas 26 anos de idade. O labirinto de ruas que compunha a parte baixa da Mouraria desapareceu na primeira metade do século XX, dando lugar ao espaço que é hoje o Largo de Martins Moniz. Com elas desapareceram, a antiga Igreja Paroquial, o Palácio do Marquês do Alegrete e o respectivo Arco.

O Grupo Desportivo da Mouraria, fundado em 1 de Maio de 1936, e que se transformou numa das mais populares e castiças coletividades de Lisboa, organiza a marcha da Mouraria. Neste grupo, em tempos chamado os "Leões da Mouraria", pratica-se luta greco-romana, ginástica, boxe, futebol e tênis de mesa. A coletividade continua a ter como principais objetivos promover o desporto e a cultura. E, neste último caso, o expoente máximo são as sessões na famosa “Catedral do Fado Vadio”.
 
MARCHA DA MOURARIA
(Boêmia e Fadista)

Letra de Ester Jesus Correia
Música de José Manuel Jesus


“Em todos os bairros de Lisboa,
O amanhecer
É fonte da nossa inspiração,
Mas Mouraria
Tu és o verso
Sempre perfeito da nossa canção.

Da guia até às olarias
Gente boa,
Um bairro que acorda a sorrir
És mouraria
És de Lisboa
És sempre dança
E a noite a cair.

Salta a fogueira
Dança a marcha e canta o fado,
Convida um beijo
É noite de Santo António.
Tenho um desejo
De acender um balão, pois então!
E de fazer amor
Sempre a teu lado.

Salta a fogueira
Dança a marcha e canta o fado,
Convida um beijo
É noite de Santo António.
Tenho o desejo
De acender um balão, pois então!
No meio do arraial.

Janelas abertas pra ver
A marcha passar,
As quadras com um sabro bairrista
Saem dos cravos
Dos mangericos
Feitas de sonho, grito de um fadista.

A boêmia é sina de viver
Na mouraria,
Lisboa de voz sentida e quente
É uma chama
É um alento
É madrugada
De um povo que sente”.
 
Fonte:
Este trabalho teve apoio de EBAHL – Equipamento dos Bairros Históricos de Lisboa F.P.
http://www.caestamosnos.org/autores/autores_c/Carlos_Leite_Ribeiro-anexos/TP/marchas_populares/marchas_populares.htm

XXII Jogos Florais de Curitiba (Prazo: 31 de maio de 2023)


Âmbito Nacional/Internacional (demais países de língua portuguesa).


Categoria Veterano: SORRISO
Categoria Novo Trovador: ALEGRIA

Enviar para: concursosubtcuritiba@gmail.com
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Âmbito Estadual (Paraná)

Categoria Veterano: SORRISO
Categoria Novo Trovador: ALEGRIA

Enviar para: jersonbrito.pvh@gmail.com
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Âmbito Estudantil

Categoria Ensino Fundamental e Médio: ALEGRIA

Enviar para: madalenaferrantepizzatto@gmail.com
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02 (duas) trovas líricas/filosóficas

A palavra tema não precisa constar do corpo da trova.

Considera-se Novo Trovador aquele que não obteve até a divulgação deste regulamento 03 (três) classificações entre os 5 (cinco) primeiros colocados em concursos de trova oficiais da em âmbito Nacional.
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CONCURSO PARALELO (aberto a todos mesmo participando dos anteriores)

Tema único: DENTISTA

Sem distinção de âmbitos ou categorias Novo Trovador e Veterano.

Poderão se inscrever nesta categoria odontólogos e estudantes de odontologia.

Encaminhar para: concursosubtcuritiba@gmail.com

02 (duas) trovas líricas/filosóficas.

A palavra tema deverá obrigatoriamente constar do corpo da trova.

COMO ENVIAR O EMAIL
O inscrito deverá enviar no corpo do e-mail: as trovas, bem como, o concurso, âmbito e a categoria pela qual concorre o trovador, além do  nome e endereço completo, telefones e e-mail. NÃO SERÃO ACEITOS ANEXOS.

No assunto deve constar: XXII Jogos Florais de Curitiba.

Maiores informações pelos e-mails:
 ubtctba@gmail.com ; 
sec.apodonto@gmail.com

domingo, 1 de janeiro de 2023

Ano Novo em Versos


 Vai ano velho, de vez,
leve o mal e o duvidoso,
que o Ano Novo em rapidez,
há de ser mais generoso!
VÂNIA ENNES
Curitiba/PR

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CAROLINA RAMOS
Santos/SP


Ano Novo

Os sinos sacodem a noite silente!
Apitos, sirenes, febris, a anunciar
que parte o Ano Velho, tristonho e doente,
e  nova esperança começa a brilhar!

Em meio à alegria, que explode em espuma,
transborda de taças e rola no chão,
rasteja a tristeza, fiapos de bruma,
estranha entre risos confete e rojão!

É a mesma tristeza que rima com prece
e aquele que a sente é  incapaz de a entender!
Tristeza que às vezes, receio parece,
receio de tudo que é inútil prever...

Mas, pulsam ao peito, no fundo... bem fundo,
reservas de Amor, e de Fé e Confiança
- um eco escapado aos gemidos do mundo –
e mesmo sofrida... renasce a Esperança!!!
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O Ano Novo sempre faz
renovar nossa vontade,
de ver a bendita Paz
reinando na humanidade.
REINALDO AGUIAR
Natal/RN, 1921 – 2010

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FRANCISCO MACEDO
Natal/RN, 1948 – 2012


Ano Novo

O Ano Novo vem vindo
no grande trem das mudanças,
vem trazendo os seus vagões
lotados de esperanças,
mas eu só creio em conquista,
se Deus for o Maquinista
desta bem-aventurança!
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Que o ano novo lhes traga,
ó meus irmãos Trovadores,
aquela mais alta vaga
no pódio dos vencedores!
JOÃO FREIRE FILHO
Rio de Janeiro/RJ, 1941 – 2012

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VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR

Transitório

Trezentos e sessenta e cinco dias,
meu calendário, foi seu tempo exato.
Agora é estranho, quando então constato:
- É um bloco velho, já sem serventias.

Mas eu o estimo. As datas foram guias...
Cada lembrete compôs um retrato
do cotidiano que se fez, de fato,
de altos e baixos, sombras e alegrias.

Releio as notas... Dói-me concordar:
- Dever cumprido! Ceda o seu lugar
para o que chega e estreia no cenário.

Tão companheiro, em toda a minha lida
de um ano inteiro... Para mim, tem vida!
– Adeus, meu velho amigo Calendário…
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Mais um ano se inicia,
e o tempo a gente é que faz;
quem quiser ter alegria,
plante a semente da paz.
DJALMA MOTA
Caicó/RN

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ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/RN, 1951 – 2013, Natal/RN


Ano Novo

Hoje eu pedi para o povo
em preces e em orações,
muita paz neste Ano Novo,
muito amor nos corações!
E fiz pra Deus uma carta
pedindo uma mesa farta
para o faminto comer;
mandei essa carta em nome
daquele que passa fome...
E que não sabe escrever!
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Vem chegando mais um ano
e com ele uma esperança:
Planeta sem nenhum dano,
nem maus-tratos co’a criança!
ESTER FIGUEIREDO
Barra do Piraí/RJ

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DARLY O. BARROS
São Francisco do Sul/SC, 1941 - 2021
, São Paulo/SP

Balanço

Outro ano finda! É tempo de balanço,
de contabilizar o acumulado
de erros e acertos – para tanto, os lanço,
dispondo-os em colunas, lado a lado.

Sobre o montante, então, o olhar relanço,
para exultar , ao ver  que o resultado
atesta um expressivo e claro avanço,
em relação a acertos do passado.

“Não há estratégia alguma!”, diz meu peito,
é a resultante do que eu tenho feito
de tempos para cá: reaplicar

os dividendos de um investimento
que me garante mais que cem por cento
sobre o meu patrimônio: o verbo amar...
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Que o Ano Novo nos dê,
à maneira que puder,
o Bem que eu quero a você
e o Bem que você me quer!
ALCY RIBEIRO SOUTO MAIOR
Rio de Janeiro/RJ, 1920 - 2006

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THALMA TAVARES
São Simão/SP


No Ano Novo

Ano que vem quero esquecer as dores,
quero vestir a roupa colorida,
a que me faz sorrir dos dissabores,
para enfrentar com mais humor a vida.

Eu quero repensar os meus valores,
se os tenho respeitado na medida
em que suporto a dor dos sofredores
pungindo mais minha alma dolorida.

Eu quero abrir meu peito à humanidade,
mudar meu egoísmo em caridade
e transformar-me assim no Homem Novo.

E espero que o bom Deus, nosso Senhor,
transforme este meu sonho em Paz e Amor,
em trabalho e mais pão para o meu povo.
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Rogo ao ano que inicia,
Paz, Luz, Amor, como embalo,
ao raiar do novo dia
ao som do cantar do galo.
VANDA ALVES
Curitiba/PR

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HÉLIO ALEXANDRE
Natal/RN


Um Mundo Menos Aflito

Que o novo ano sorria,
que o amor não se desgaste,
toda tristeza se afaste
e se aproxime alegria;
espero que a fantasia
se torne realidade
para que a fraternidade
substitua o conflito,
e um mundo menos aflito
encontre a felicidade.
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Este ano, já moribundo,
chora por não ser capaz
de ao menos puxar o mundo
para mais perto da paz!
JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

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VITOR RONALDO COSTA
Natal/RN, 1945 – 2015, Brasília/DF


Ano novo, vida nova,
assim diz velho refrão,
mas a vida ensina e prova
que em qualquer situação,
só o amor constrói o bem,
tornando feliz quem tem
afeto no coração.
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Do Natal ao Ano Novo
a folga é pouca... O ideal
é deixar de folga o povo
do Ano Novo até o Natal...
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR