quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) 17


Na voz do vento, há um açoite
que assusta pelos seus ritos...
Parece os gritos da noite
querendo ouvir os meus gritos!
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Só por saber quem tu és,
eu não me sinto indeciso;
ouço o pisar de teus pés
em todo canto que piso!
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Se te acalma um vento brando,
assim que a tarde declina,
à noite, volta assustando
nas dobras de cada esquina!
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Depois que o galo desperta,
abre o bico e canta um hino...
A aurora, é uma porta aberta,
na estrada do meu destino!
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Daquele sonho, da infância,
guardo o instante mais tristonho;
Tu me acenando à distância,
dizendo adeus ao meu sonho!
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Se a infância foi tão sofrida,
e a caminhada tão dura...
Faze dos tombos da vida
teu pedestal de ternura!!!
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De manhã cedo, bem cedo,
ouço os pobres passarinhos,
e não entendo o segredo
da alegria de seus ninhos!
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Na luta, o mais destemido,
não é quem grita: vitória...
E quem premia o vencido
dando-lhe o troféu da glória!
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Despertador de alvoradas,
o velho sino que chora,
tange as mesmas badaladas
das primaveras de outrora!
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Juntei meus sonhos de amores,
com meus bruxos de retalhos,
que agora, são refletores
dos meus cabelos grisalhos!
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Se o destino que nos guia,
aceitasse o que eu pedisse,
punha mais luz e alegria
no entardecer da velhice!
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A criança diz com calma,
à bonequinha inocente:
– Sei que você não tem alma,
mas vive na alma da gente!
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Nas ruínas da flor da idade,
sobre os meus pés, pelo chão,
vi, pegadas de saudade
e rastros de solidão!
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Na tapera abandonada,
que um dia, já foi tão bela,
eu vejo uma rede armada,
mas sem ninguém, dentro dela!
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Quando a onda nasce e cresce,
se esparrama em minha aldeia,
com bilros de espuma tece
lençóis de rendas na areia!
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Aquela luz andarilha,
que brilhou com tanto alarde,
é a mesma luz que ainda brilha
nas sombras do fim da tarde!
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É tarde!... E, essa voz que grita,
é a voz triste e amargurada,
de alguém que teve a desdita
da noite inteira acordada!
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Noite fria, chuva fina,
na vidraça, a nostalgia,
faz das gotas de neblina
o pranto da noite fria!
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Qualquer pedra, entre os cascalhos,
bruta ou do jeito que for,
nas mãos dos cinzéis e malhos,
vira um poema de amor!
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No banco da velha praça,
o tempo, em falsa promessa,
quieto, finge que não passa;
mas como passou depressa!
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Dorme um pouco, encurta o passo,
te aquieta, velhice ingrata;
na fronte, já falta espaço
para guardar tanta prata!...
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Comparo a sombra alongada,
ao ciclo dessa distância,
que se arrasta pela estrada
e me separa da infância!
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Teus caprichosos festejos
da vitória falsa e vã,
jamais serão meus desejos
nas vitórias do amanhã!
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O que tu tens, por riqueza,
meu lar, tem de precisão;
no teu, sobra pão na mesa,
no meu, amor pelo chão!
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Vela erguida, mastro torto,
e o jangadeiro a vogar;
o pensamento, no porto,
mas a esperança no mar!

Fonte:
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.
Livro enviado pelo trovador.

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